Las Vegas, 14 de Maio

E aqui vamos, a caminho de Las Vegas, para mais 530 km, neste domingo em que, nos States, se celebra o Dia da Mãe. A televisão está cheia de referências a este dia, não só na publicidade, mas também nos noticiários: o tempo que vai fazer no dia da mãe, sugestões de passeios para levar a mãezinha, prendas para a mamã, sítios onde levar a mammy a papar. A coisa é tão esmagadora que, quem já não tem mãe, deve sentir-se excluído desta sociedade sorridente, que coloca a família em primeiro lugar e que, no seio dessa mesma família, comete os maiores crimes.

De tal modo a coisa é avassaladora, que li num jornal regional que já um grupo de jovens mulheres, cuja mãe lhes morreu quando eram miúdas, e que pretende formar um grupo de auto-ajuda para quem já não tem mãe! Only in América!…

Fizemos a única paragem do percurso de hoje, logo a seguir a Kingman. Comprámos mantimentos. Entre Seligman e Kingman, existe um troço de estrada que ainda pertence í  velha Route 66, que ligava Chicago a Santa Mónica, na Califórnia; tinha cerca de 4 mil quilómetros.

í€s 11h30, passámos do Arizona para o Nevada, atravessando o Colorado river, mais uma vez. Rodeado de deserto por todos os lados, o rio forma uma faixa de verde, que contrasta com o castanho dominante. Faz lembrar o Nilo.

No Nevada, o jogo é legal, portanto, logo do lado de lá do Colorado, já se vêem os casinos de Laughlin. Diz-se que os profissionais preferem esta cidade a Las Vegas porque, aqui, não há a distracção dos shows dos grandes casinos.

Para definir Las Vegas, teríamos que inventar novos adjectivos, mais poderosos que louca, esmagadora, frenética, enorme, histérica ou agorafóbica.

Chegámos por volta das 2 da tarde, com um calor abrasador, sufocante, daqueles que torna difícil o acto de respirar. Fomos almoçar ao Excalibur , que faz lembrar um castelo medieval da Walt Disney. Por coincidência, foi também aqui que jantámos, há dez anos.

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Depois de um bom almoço, tentámos ir ver o New York, New York, mas perdemo-nos, na imensidão do casino; virámos í  direita, em vez de virar í  esquerda, aquilo parece tudo igual, com as slot machines e as mesas de jogo por todo o lado e, quando saímos para a rua, estávamos no sítio errado. O calor era esmagador e não tínhamos água! Depois de algumas voltas, começámos a perceber a coisa e lá demos com a Strip. Pudemos, então, chegar junto do New York, New York, cuja fachada imita os principais edifícios de Manhattan (o Chrysler, o Empire State), a estátua da Liberdade, a ponte de Brooklyn e, como se não bastasse esta loucura toda, ainda existe uma montanha russa, que passa em frente do casino.

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Caminhámos um pouco pela Strip, fotografando o MGM e o Paris e fomos descansar um pouco.

E, í  noite, ganhámos 300 dólares nas slots do Circus Circus! Desta é que não estávamos í  espera!

Começámos por ficar especados mais de meia hora, em pé, junto ao Treasure Island, í  espera que começasse o show do casino. Em meia hora, centenas de pessoas juntaram-se para ver umas meninas pouco vestidas (as sereias) a desafiarem os piratas. Eles estão num galeão; elas, noutro. Tudo isto, num pequeno lago, em frente ao casino. Elas dançam, provocadoras, eles dão uns tiros de canhão, há umas explosões valentes, mas elas têm o vento do seu lado e o galeão dos piratas vai ao fundo. Quinze minutos de efeitos especiais ao vivo, tudo para chamar clientes para o casino. O espectáculo repete-se quatro vezes por dia!

Em seguida, passámos pelo The Venitian, que é o maior hotel-casino da actualidade, com seis mil quatros. É espantoso como estes malucos construíram uma pequena cidade, í  imagem de Veneza; está lá tudo: a Praça de S. Marcos, a ponte de Rialto, os canais, as gí´ndolas! Como dizem aqui: é igual a Veneza, mas mais limpo…

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Depois, foi a vez do Belaggio, outro casino recente, com um lobby todo florido e, í  frente, um show de música de efeitos de água. Mais í  frente, o Paris, com a torre Eiffel e o Arco do Triunfo.

Rumámos então a downtown Las Vegas, até í  Fremont Street. Foi aqui, no Golden Nugget, que ficámos uma noite, há 10 anos.

Chegámos a tempo de ver show de música e luzes animadas, que decorre, a certas horas, no tecto da rua. Este a que assistimos, transborda de patriotismo, com bandeiras, tambores, águias, stars and stripes e música inflamada.

Descemos, depois, a rua, fotografando os néons feéricos e vendo os vários cromos que actuam por ali: um cabeludo a tocar saxofone e um grupo de rock com um guitarrista para aí com 12 anos.

E regressámos ao Circus Circus, já perto das 10 da noite. Tínhamos apenas comido um hot dog, king size, a meias, antes do passeio. Por isso, fomos comer mais qualquer coisa e, depois, gastar algumas moedas nas slots.

Começámos hesitantes, com 10 dólares cada um, nas máquinas de 25 cêntimos. Trocámos mais uma nota de 5 dólares, mas aquilo não estava a dar grande gozo. í€s tantas, com 2 fichas de um dólar, ganhámos 250 dólares e, logo a seguir, mais 50! Assim, sem mais nem menos! Fomos trocar a massa í  Caixa e pirámo-nos para o quarto.

Percebo perfeitamente como isto se pode transformar num vício. Ora, se com cerca de 40 dólares, em menos de duas horas, já tens 300, por que não tentar transformar esses 300 em 1000?

Claro que ganhar 300 dólares nas slots não deve ser nada de especial mas, para nós, que fomos meter umas moedas, apenas pelo gozo de o fazer na capital mundial do jogo, este prémio teve um sabor especial.

Fomos para a cama já depois da meia-noite…

Lake Powell, Monument Valley, Grand Canyon, 13 de Maio

Deixámos o Bryce Canyon e vamos ao caminho do Grand Canyon. Serão 480 km. Pelo caminho, haveremos de tomar um avião para sobrevoar os canyons.

De manhã, depois do pequeno-almoço, ainda tirei umas fotos a uns carros abandonados, perdidos entre os arbustos.

Passámos junto ao Zion National Park, onde foram rodados muitos westerns. As montanhas erodidas e os arbustos rasteiros, fazem lembrar, de facto, as paisagens dos filmes de cowboys.

Paragem para chi-chi em Kanab, numa loja chamada Denny”™s Wigwam, onde comprámos mais alguns souvenirs e tirámos fotos no backyard, que está transformado numa minúscula cidade de cowboys: o saloon, a prisão, os banhos públicos, uma caravana – tudo isto fez parte dos cenários de diversas cobóiadas.

Acabámos de entrar no Arizona e voltámos a atrasar uma hora nos nossos relógios.

Um pouco mais í  frente, parámos junto ao Glen Canyon Dam. Nos anos 60, acabou a construção desta grande barragem no rio Colorado, da qual resultou o Powell Lake, o segundo maior lago artificial dos States. Passeámos sobre a ponte, podendo ver o estreito rio Colorado, no fundo do canyon, de um lado, e a barragem e o lago, do outro lado.

Parámos em Page, uma pequena cidade junto ao Glen Canyon Dam, que surgiu em 1957, na dependência da barragem. Não é mais que uma rua, mas tem 18 hotéis e um supermercado do tamanho de um Jumbo, e ainda um campo de golfe, o que não deixa de ser estranho, já que estamos em pleno deserto.

Preparamo-nos psicologicamente para o passeio de avião e a visita ao Monument Valley, na companhia dos navajos.

Quando as emoções são muitas, umas sobrepõem-se í s outras e, no fim, é difícil de dizer o que mais nos entusiasmou.

Ora bem: depois de comermos a nossa sandes, em Page, fomos até ao aeródromo e calhou-nos um Cessna de 10 lugares.

Que posso mais dizer, senão que foi um voo espectacular, por cima do Glen Canyon e do Lake Powell, até ao Monument Valley. Não houve muitos solavancos e o panorama era soberbo.

Ao longo do voo, um senhor com voz tranquila, ia debitando informações nos auscultadores, sobre uma música do fundo, vagamente mexicana.

Lá em baixo, o Lago Powell desenhava-se, como um puzzle, entre as rochas do canyon.

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Aterrámos no Monument Valley e, í  nossa espera, estava um navajo pouco falador, com uma carrinha de caixa aberta. Entrámos e o índio arrancou, a uma velocidade alucinante.

Já sabíamos que o Monument Valley faz parte da reserva dos navajos e que são eles que exploram a coisa, no que respeita ao turismo. O que nós não sabíamos é que os índios decidiram vingar-se dos caras-pálidas desta maneira: metem-nos naquelas carrinhas e abanam-nos, ao longo do vale. No fim da viagem, tinha o estí´mago na testa e a tiróide no tornozelo, tal foram os saltos que a carrinha deu, ao longo da viagem. Atravessámos o vale a grande velocidade, envoltos em poeira, já que a estrada era de terra batida e os saltos eram tantos, que não era possível fotografar coisa nenhuma.

Monument Valley ganhou este nome porque, aqui, as rochas avermelhadas adquiriam formas tais que parecem estátuas esculpidas por mão humana.

Foi nesta paisagem que foram realizados muitos westerns e basta olhar para estas rochas para nos lembrarmos de John Wayne, Montgomery Cliff e, até Clint Eastwood, embora este tenha filmado mais para os lados de Sevilha…

Então, o navajo levou-nos por ali fora, sempre a abrir e só parou junto a umas bancas de artesanato índio.Compreendi-te: first business, then pleasure

Ficámos ali cerca de meia hora, a comprar colares e pulseiras e só depois é que arrancámos para a visita propriamente dita. Parámos, primeiro, no John Ford Point, assim chamado porque foi ali que o referido realizador filmou muitas cenas. O índio deu-nos 10 minutos para fotografarmos As Três Irmãs, um conjunto de três rochas, em forma de chaminé, e que aparecem em 345 filmes de cowboys. Noutra direcção, outro spot ideal para filmes. E lá estava um cowboy, de camisa vermelha e chapéu branco, montado num cavalo, também branco, posando no horizonte, fazendo-se í  fotografia.

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E voltámos í  corrida louca.

Nova paragem, para vermos outras duas formações rochosas, a que chamam chaleiras. Mais umas fotos e ala que se faz tarde. E o navajo acelerou, em direcção ao aeródromo! O Monument Valley estava visto, na opinião do péle-vermelha – e quem éramos nós para discutir!

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Ainda ficámos por ali mais algum tempo, a admirar as rochas e regressámos ao avião.

Rumámos, então, para o Grand Canyon. Foi quase uma hora de voo, com alguma turbulência. A aproximação aérea ao Grand Canyon é um espectáculo. Depois de quilómetros de planalto, abre-se uma brecha na crosta terrestre. Primeiro, é mesmo só uma brecha mas, de repente, abre-se uma garganta e, no fundo, o Colorado, uma fita estreita, que duvidamos que seja o culpadodaquilo tudo.

Aterrámos sem sobressaltos, quatro horas depois de termos partido de Page.

E partimos para uma caminhada de 4,6 km, ao longo do South Rim do Grande Canyon. Pudemos recordar o que já tínhamos visto em 1996.

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E, finalmente, chegámos ao Quality Inn e saímos logo para jantar.

Estávamos esfomeados. Durante todo o dia, comemos, cada um, cinco bolachas e uma barrita de cereais.

Escolhemos um restaurante chamado Spaghetti Western. A decoração era dominada por motivos do Oeste, a comida e a música de fundo, era italiana; os empregados, eram mexicanos. Ok, estamos nos States…

Comemos um bife óptimo, precedido por uma garden salad, e regado com Budweiser. Fixe.

Bryce Canyon, 12 de Maio

E ás 8 da manhã, partimos, em direcção ao Bryce Canyon. Serão 483 km.

A média de idades da população do Utah é de 26 anos, o que quer dizer que os mórmons fazem muitos filhos (ou morrem muito novos?). Nas ruas, pudemos ver muitas famílias com 3 e 4 criancinhas pequenas. Os mórmons são os Santos do íšltimo Dia e, como são os escolhidos (eles, e não os Jeovás), irão para junto do Lord. Aí, terão que converter os seus antecessores, aqueles que viveram antes de Joseph Smith e que, por isso, não tiveram a oportunidade de conhecer a Verdade. É por esta razão que os mórmons estudam a genealogia e têm, na sua biblioteca, registos das gerações anteriores. É uma boa desculpa para construírem uma base de dados gigantesca.

Continuamos a atravessar o imenso deserto do Utah, um Estado com cerca de 500 por 400 km e custa a crer que isto era um deserto, transformado num vale verdejante, graças í s abelhinhas mórmons e aos seus sistemas de irrigação.

Por volta da uma da tarde, entrámos no Bryce Canyon National Park. E as rochas vermelhas parecem dar as boas vindas, formando uma espécie de portão de entrada.

Um pouco í  frente, duas rochas esculpidas pela erosão, são comparadas ao saleiro e ao pimenteiro.

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O Bryce Canyon já está no papo! No papo e nas pernas, já que descemos até ao fundo (cerca de mil metros) e, claro está, depois subimos. Ao todo, foram cerca de 5,5 km de caminhada por um trilho que desce, a partir do Sunrise Point, até ao fundo do canyon, segue depois durante algumas centenas de metros e torna a subir, até ao Sunset Point.

Que posso dizer do Bryce Canyon, a não ser que é algo de único, com as suas rochas avermelhadas, de formas estranhas, tudo fruto da erosão provocada pela chuva, pelos ventos e pelo gelo. O Bryce não é um verdadeiro canyon, já que não passa aqui nenhum rio. Todo este conjunto de rochas estranhas, faziam parte, tal como as Badlands, do fundo de um mar interior que, entretanto, desapareceu. A erosão fez o resto.

Vimos o Bryce Canyon de diversos pontos e, depois, iniciámos a descida, que acabou por ser pior que a subida, por ser mais íngreme. O trilho está desenhado em caracol, proporcionando excelentes escorregadelas e formidáveis tombos.

Quando se chega ao fundo do canyon e se olha para cima, o espectáculo das colunas rochosas, erguendo-se para o céu, o contraste entre o ocre da rocha e o azul do céu, os pinheiros descomunais, que nascem nos sítios mais incríveis e crescem por ali acima, o cheiro, o silêncio, tudo isso nos maravilha.

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O almoço foi no Ruby”™s Inn, uma estalagem aqui instalada desde 1912. Foi caro demais para a qualidade. A noite vai ser no Bryce View Inn, que fica do outro lado da estrada, e que é um conjunto de quartos, alinhados em dois andares, ao estilo dos móteis de estrada.

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Salt Lake City, 11 de Maio

Saímos de West Yellowstone, em direcção a Salt Lake City.

í€s 6h30 da matina, estávamos junto a um McDonald’s, com temperatura negativa. As ruas estavam desertas e, ao fundo, os lobos uivavam, talvez porque esteja lua cheia, talvez porque soubessem que nunca tínhamos ouvido lobos a uivar, ao vivo. Foi mais uma experiência nova. Lá ao fundo, da montanha, os lobos uivavam; algures, da cidade, penso que de um pequeno parque onde devem estar lobos em cativeiro, estes respondiam.

West Yellowstone fica no Montana, mesmo junto í  fronteira com o Idaho, Estado que vamos atravessar hoje, até ao Utah.

Mais nomes estranhos de cidades norte-americanas. E fico-me só pelos estados que estamos a atravessar.

Na categoria das Cidades com Nomes estranhos Quando Traduzidos para Português: Pé Preto (Blackfoot), Parede Branca (Whitewall), Lago Cotovelo (Elbow Lake), Pássaro Vermelho (Redbird), Ajudante (Helper), Preço (Price), Enche Mais (Fillmore).

No departamento das Cidades com Nomes Próprios que, se fossem portuguesas, poderiam chamar-se Maria, Manuel ou Silva: Pierre, Clarinda, Martin, Harrison, Hugo, Spencer, Magdalena, Rose, O’Neill.

Na secção Cidades com Nomes de Gente Famosa: Tatcher, Séneca, Wellington, Huntington, Cortez

Quanto í s Cidades Que Parecem Estar no Mapa Errado: Montpelier, Norfolk, Gothenburg, Cambridge, Lebanon, Geneva, Manchester, Bristol.

No que respeita í s Cidades com Nomes em Língua Estrangeira: La Sueur, La Junta, Las Almas, Arma, Alcova, Monticello, Mancos.

í€s 10h, parámos junto a Idaho Falls, para descansar meia hora e comer qualquer coisa. E aqui está outra novidade desta viagem: gosto de iogurtes! Ideais para comer a meio da manhã ou da tarde, baratos, fáceis de transportar, í  venda em qualquer convinience store. Quando regressar a Portugal, vou começar a consumir iogurtes. Quem diria?…

Mais uma estrada sempre a direito. São duas faixas para cada lado, separadas por uma faixa larga de terreno, de forma cí´ncava. Se um tipo adormecer ao volante, o que não deve ser difícil, talvez assim tenha menos hipótese de se ir espetar contra outro carro, em sentido contrário.

Lá ao fundo, de um lado e de outro, montanhas. A paisagem é um pouco diferente do South Dakota, em que a pradaria era a perder de vista.

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Salt Lake City está a ser mais uma agradável surpresa.

Claro que só percorremos a zona em redor de Temple Square, mas ficámos espantados com o colorido dos inúmeros canteiros repletos de flores, que bordejam a Praça que, por su bez, fica em frente ao Templo dos mórmons – uma coisa gigantesca, de ganito austero, com a figura dourada do anjo Moroni, no cimo. foi este anjo que apareceu ao profeta Joseph Smith, dizendo-lhe que ele é que ia salvar o mundo. Outra vez…

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Todo o espaço em redor é uma espécie de mundo da fantasia, transmitindo-nos um sentimento de harmonia e paz: os canteiros com flores, diversas fontes a jorrar água e até os semáforos têm sinais sonoros a imitar passarinhos a chilrear! Todo este espaço do Templo, está rodeado por um muro alto, como se, lá dentro, fosse a tal paz e harmonia e, cá fora, o mundo dos pecadores. E, de facto, logo numa das entradas da Praça, do lado e fora, claro, um sem abrigo andrajoso, a pedir. Do lado de dentro, meninas sorridentes oferecem-se para nos fazer uma visita guiada. Declinámos. Preferimos deambular por ali, por nossa conta.

Mas o melhor desta visita ao Mormón World ainda estava para vir. í€s 17h 30 fomos visitar a Beehive House, onde viveu o profeta Brigham Young. Beehive porque os mórmons se comparam í s abelhas de uma colmeia: trabalham muito e em equipa. Aliás, o nickname do Utah é, exactamente, the Beehive State.

Tudo isto nos foi explicado na visita í  casa onde viveu Brigham Young, o segundo profeta mórmon. O primeiro, foi o tal Joseph Smith, que morreu antes de conseguir chegar ao Utah. Pois o tal Brigham, a julgar pela casa, teve uma bela vidinha!… No hall de entrada, fomos recebidos por duas missionárias: uma chinesa, de Hong Kong e uma dinamarquesa. Na hora seguinte, as duas meninas (que se chamavam a si próprias, irmãs), mostraram-nos as diversas divisões da casa, explicando o que cada uma delas representa neste verdadeiro romance que é a história da igreja mórmon.

Brigham tinha 17 mulheres e 56 filhos, mas vivia nesta casa com a terceira mulher e 7 dos filhos, mas as irmãs asseguraram-nos que ele era um bom pai e visitava, com regularidade, as outras mulheres e respectivos filhos. Enfim, um zangão, polinizando as diversas flores… A história foi-nos contada com tanto entusiasmo e joy, que até parecia que as duas missionárias estavam sob o efeito de alguma anfetamina.

Claro que, se pensarmos bem, todas as religiões se baseiam em romances, contados de geração em geração. Se estivéssemos numa sala da Catedral de S. Pedro e duas irmãs nos contassem a história da Nossa Senhora e do menino Jesus a nascer na manjedoura, e a estrela e os reis magos, a gente também diria, está bem, vai falando…

A diferença é que toda a história de Cristo se passou há 2 mil anos, enquanto esta do Joseph Smith e do Brigham, foi há pouco mais de cem anos. É mais fácil acreditar numa treta com 2 mil anos…

Bom, deixemos os mórmons em paz e vamos jantar.

O jantar foi no 10º andar do Joseph Smith Memorial Building, no Roof Top Restaurant: um excelente buffet, com saladas várias, pratos diversos e muitas sobremesas.

Em seguida, e para digerir a comida, fomos a um outro edifício imponente. Nesse edifício, decorria o ensaio do Coro do Tabernáculo, ou coisa que o valha. Um auditório imenso (900 lugares) e, no palco, uma orquestra e um coro. Foi uma espécie de musical religioso.

Hoje percorremos 513 km.

 


Yellowstone National Park, 10 de Maio – III

Mais adiante, parámos junto í s quedas de água do Gibbon river. Um corvo pairava, esperando que nos fí´ssemos embora, para poder apanhar uma embalagem de um chocolate, que alguém deitou para o chão.

Nem dez minutos passaram e nova excitação: alguém avistou uma manada de búfalos. Nova paragem para podermos andar um pouco e ver a manada mais de perto, embora a distância segura. Afinal, ainda existem manadas de búfalos.

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E ainda parámos mais duas vezes, para fotografar grupos de veados, pastando tranquilamente, junto a um creek. Por aqui, chamam-lhes elk. A mim, pareceram-me veados ou antílopes. Nenhum tinha cornos: ou eram fêmeas, ou machos que perderam os cornos.

Acabámos de presenciar mais um fenómeno da Natureza: a erupção de géiser.

O Old Faithful chama-se assim porque, fielmente, salta lá de baixo, com intervalos de 45 a 110 minutos, há milhares de anos. Claro que o cenário está todo montado: em redor do sítio onde o géiser irrompe, uma série de bancos, dispostos em círculo. E, apesar de serem 19 horas e estarmos ainda na época baixa, algumas dezenas de pessoas lá estavam, aguardando o Old Faithful.

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Yellowstone National Park, 10 de Maio – II

Mais um ponto alto, logo a seguir: as cataratas de Yellowstone. Aqui, o rio escavou um canyon de rochas amareladas, que dão o nome ao Parque e, num certo ponto, as suas águas estatelam-se de uma altura de 90 metros. Panorama agreste e espectacular. Chamam-lhes Lower Falls, e avistam-se melhor de um ponto alto, situado em frente, e conhecido como Artist Point, exactamente porque é escolhido por pintores e fotógrafos.

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14h – Almoçámos no Canyon Village e foi uma refeição saborosa: dois hot dogs e uma sopa com tudo lá dentro, acompanhados com uma Miller Lite. Nesta altura do ano, as lojas e restaurantes do Yellowstone ainda não estão todos abertos, até porque algumas estradas do Parque ainda estão fechadas, por causa da neve. Esta store onde parámos só tinha mesmo isto para comer, mas soube que nem ginjas! Em redor da store, montes de neve, com cerca de dois metros de altura, estão agora a começar a derreter.

Rumámos, então, a uma zona chamada Mammoth Hot Springs, que consiste numa série de terraços de pedra calcária que, ao longo dos anos, foi sendo queimada pelas nascentes de água a ferver e de ácidos; esta mistura foi corroendo o calcário e formando uma espécie de terraços de pedra branca e fumegante.

Existe um trilho de madeira, com escadas, que vai descendo pela montanha, de modo a que tenhamos acesso aos vários terraços. Um deles, chamado Canary, está coberto por uma água amarelada. Diz uma inscrição que a água está cheia de termófilos, os tais microrganismos que vivem alegremente em águas a ferver.

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Deixando Mammoth Hot Springs, a caminho do Old Faithfull, deparámos com mais três bisontes enormes, pastando mesmo í  beira da estrada.

Yellowstone National Park, 10 de Maio – I

A caminho do Yellowstone National Park. Noite agradável na cabana do Buffalo Bill, bem quentinha, apesar do frio, lá fora. O pequeno-almoço foi vulgar, mas tivemos direito a torradas.

Hoje vamos visitar o Yellowstone, um Parque Nacional com mais de 100 km de comprimento. Acabámos de passar sobre o Shoshone river e vamos entrar nas montanhas, outra vez.

A primeira paragem foi no Buffalo Bill Reservoir, um grande lago que se formou na dependência de uma barragem.

Mais í  frente, depois de passarmos por um longo troço em obras e atravessarmos uma vasta floresta queimada, avistámos um urso negro, calmamente comendo erva, í  beira da estrada. Para além da neve, outra coisa que infantiliza os adultos, é o avistamento de animais selvagens.

Mal se avistou o urso, toda a gente começou aos gritos.

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Seguiu-se o Yellowstone Lake, o maior lago de montanha dos States. Está a 2 300 metros de altitude e tem 30 por 50 km de extensão. Grande parte do lago ainda está gelada. Nas margens, diversas fumarolas expeliam o seu fumo, com cheiro a enxofre.

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Um pouco mais í  frente, mais excitação: junto í  estrada, três bisontes a pastar e, um pouco mais além, dois ursos grizzly, eventualmente, mãe e filho. Mais uma paragem para fotos; os ursos deram-nos até o prazer de brincarem um pouco sobre a neve e de se porem em pé.

Seguimos, depois, ao longo do Yellowstone river, e ainda vimos dois pelicanos, até chegarmos a um conjunto de fumarolas e vulcões de lama e água a ferver, a sair do solo. Cheirava a Açores.

Big Horn Mountains, Cody, 9 de Maio

Está a nevar, em Lead!

Lead é uma pequena cidade, colina acima, salpicada de pinheiros de natal. Hoje, í s 6 da manhã, estava a nevar!

Devia ter começado a nevar pouco tempo antes. Passada meia hora, o panorama era de bilhete-postal de Natal. Os pinheiros brancos, as pequenas casas cobertas de neve, a colina toda branca. E a neve a cair incessantemente. A neve, embora não seja rara nesta época do ano, também não é assim tão frequente. Foi uma surpresa afradável.

Toda a gente, mesmo os que estão habituados a neve, estava exultante. A neve parece ter este efeito nas pessoas, infantilizando-as.

Hoje, vamos até Cody. Serão cerca de 400 km.

Entrámos no Wyoming. O Wyoming é conhecido como the cowboy’s land. Não chega a ter meio milhão de habitantes. Está a nevar novamente. A paisagem é branca e plana. O alcatrão da estrada faz o contraste.

Fizemos a nossa primeira paragem numa terreola chamada Gillette. O sol já brilha, o que faz com que grandes pedaços de gelo, desabem dos telhados das casas. A temperatura está perto dos zero graus, mas aguenta-se bem. Parámos num McDonald’s, para um hot chocolat e um cookie.

Esta região do Wyoming é muito rica em carvão. As minas de carvão, a céu aberto, negras, contrastam com os campos, brancos, pela neve.

TIP – “to insure promptitude”. Esta é a grande instituição nacional americana. A média da gorjeta é de cerca de 15% do que se paga. Se a refeição custar 10 dólares, pagas dólar e meio de gorja. Os empregados das lojas são taxados por presunção, isto é, pagam IRS, partindo do princípio que deverão receber uma certa quantia em gorjetas, dependendo do emprego que ocupam. Sendo assim, se não dermos gorjeta, estamos a prejudicar os trabalhadores. Por outro lado, em busca de uma boa tip, todos os empregados são extremamente simpáticos, sempre prontos a ajudar.

Não me importava nada de apoiar a instituição da tip, em Portugal, se soubesse que isso implicaria uma mudança de atitude na maioria dos empregados das lojas.

Por aqui, na dita América profunda, não são só os empregados das lojas que parecem muito simpáticos. Toda a gente te cumprimenta, na rua. Há sempre um “how are you today?”, um “can I help you?”, um “have a nice day”, um “where are you from?”. E estas interpelações não soam intrometidas, nem forçadas – parecem genuínas e não sentes que a tua privacidade está a ser ameaçada. Sentes-te em casa.

Em Sheridan – paragem para almoço, antes de entrarmos nas montanhas Big Horn, que se vêem lá ao fundo, cobertas de neve; sobre elas, nuvens pesadas e ameaçadoras.

Parámos num grande espaço, para almoçar. Opções: Taco Bell, McDonald’s e Arby’s. Escolhemos este último porque sim e comemos uma refeição tão rápida que acho que já fiz a digestão.

Mais um momento alto desta viagem: atravessámos as Big Horn Mountains. Um espectáculo! O nome vem daquela espécie de carneiros com cornos muito grandes e retorcidos, espécie quase extinta, actualmente. Só vimos dois ou três, e de fugida. O pico mais alto, ultrapassa os 4 mil metros. A estrada que percorremos, chega aos 3 mil. A nossa passagem esteve em dúvida, tendo em conta o nevão desta manhã mas, felizmente, a estrada estava aberta e a visibilidade era óptima.

Durante cerca de uma hora, rolámos pela montanha, rodeados de pinheiros ponderosa, cobertos de neve e extasiados pela paisagem, agreste e bela. Cada curva da estrada, proporcionava nova imagem, melhor que a anterior. No meio do manto branco e de toda aquela vegetação, aqui e ali, grandes blocos de granito.

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Parámos por duas vezes, para apreciar melhor a paisagem. E, depois, começámos a descer. A neve foi desaparecendo, as árvores começaram a rarear, dando lugar í s rochas nuas. Ainda parámos numa zona chamada Shell Falls, onde um pequeno riacho foi escavando um canyon na montanha, e onde existe uma pequena cascata.

Se pensam que A-dos-Cunhados ou Venda das Raparigas são nomes estranhos para localidades, aqui vão alguns nomes de localidades, aqui, no Wyoming: Gillette, Atomic City, Montpelier, Alcova, Dinossaur, Eureka, Medicine Bow, Ten Sleep.

Se alguma vez vierem a Cody, fiquem nas Buffalo Bill Villages e jantem no Tard Q Restaurant. They’re the best!

Assim que entrámos em Cody, tivemos aquela sensação de déja vu. Cody é uma cidade como as que se vêem nos road movies: uma rua principal, larga, larguíssima, com edifícios de um só piso, semáforos e grandes placas, pendurados nos cruzamentos; ao fundo, a imensa montanha, coberta de neve.

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Visitámos o Museu do Buffalo Bill, durante cerca de hora e meia. É um museu peculiar: uma ala dedicada aos índios, que o Buffalo Bill ajudou a exterminar, outra só para o cowboy, outra para a história natural da região, uma imensa gift shop.

William “Buffalo Bill” Cody talvez tenha sido um dos primeiros americanos a entrar no show business: foi vaqueiro, estafeta do Pony Express, batedor do exército americano, caçador de búfalos, pioneiro do turismo no far-west e ainda teve tempo para montar um espectáculo de circo, em que recriava o tempo em que os cowboys e os índios andavam í  pancada. Viveu 71 anos e dá a sensação que, desde o princípio, soube que se ia transformar numa lenda, tal foi a maneira como geriu a sua vida e deu publicidade aos seus feitos.

O museu acaba por ser bizarro, porque estamos a falar de um tipo que viveu num país que estava a nascer, numa altura em que a vida devia ser difícil, mas que não descobriu nada, não inventou nada, não influenciou a História do mundo mas que, de certeza, é mais conhecido do que, por exemplo, o Vasco da Gama.


Badlands, Black Hills, Mount Rushmore, Lead, 8 de Maio

7h 30 ““ Saímos de Sioux City, em direcção a Lead.

O pequeno-almoço foi mais uma desgraça americana. O Clarion Hotel decidiu oferecer o pequeno-almoço. Então, atirou com uns quantos baggels, que são duros como cornos, e outros quantos muffins, para cima de uma mesa, juntou-lhes café e sumo de laranja de pacote e chamou a isto, pomposamente, continental breakfast!

Vamos em frente.

Serão mais 800 km. Diz-se por aqui: “…this is not the end of the world, but you can see it from here…”

Fizemos a nossa primeira paragem em Mitchell, já no South Dakota. Esta pequena localidade, no meio de lado nenhum, decidiu passar a vir no mapa, usando os seus próprios recursos. Assim, em 1892, os habitantes de Mitchell construíram um palácio em madeira, e decoraram-no com maçarocas de milho. O sucesso foi tão grande, que a coisa foi crescendo. Hoje em dia, o Corn Palace é de tijolo e, lá dentro, tem espaço para a realização de jogos de basquetebol, concertos, festivais. Por fora, toda a decoração é feita com maçarocas de milho. Todos os anos, por altura das colheitas, a decoração é renovada. No topo do palácio, minaretes dão-lhe um toque ainda mais bizarro.

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Este mirabolante Corn Palace fica na Maine Street de Mitchell e está rodeado de pequenas lojas de souvenirs e bares, em edifícios térreos, que fazem lembrar as cidades de cowboys.

A propósito deste show off tão tipicamente americano, sublinhe-se o facto de quase todos os restaurantes, cafés e bares, serem os melhores do mundo em alguma coisa, e anunciarem-no em letras garrafais. Em Sioux City, um restaurante chamava-se Famous Dave. Será que é famoso desde que foi inaugurado ou, começou por ser, simplesmente, Dave Restaurant e, depois, í  medida que foi sendo conhecido, acabou por passar a ser o Famous Dave?

O Aurélio”™s Pizza, em Chicago, tinha “…the most famous pizza in the world“. E todos têm uma qualquer característica que os transforma nos mais populares, ou mais tradicionais, ou, mais simplesmente, os the world”™s best!

Uns convencidos, estes americanos…

Almoçámos no Al”™s Oasis, que fica logo ali ao lado do Missouri. Desta vez, tivemos a oportunidade de degustar uma salad bar, composta por mistela de galinha e massa, acompanhada por saladas diversas. Enfim, comeu-se…

Entretanto, começou a chover. A estrada continua, sempre em frente, através de campos infinitos, verdejantes. Aqui e ali, pequenas quintas, com celeiros. De vez em quando, vacas a pastar. No Dakota do Sul, a população não chega ao milhão de habitantes.

Ao contrário da maior parte das nações, os States não conquistaram as suas terras: compraram-nas. Já conhecia a velha história da compra de Manhattan aos índios, pelo equivalente a 24 dólares. Fiquei agora a saber, que o Presidente Jefferson comprou a Louisiana a Napoleão, por 15 milhões de dólares, o que só prova que Napoleão não era nenhum índio!

Naqueles tempos, a Louisiana era um território extenso, que ia desde o sul dos actuais States, até ao Canadá, incluindo esta região do South Dakota. O Louisiana, era maior que os EUA de então. Jefferson não sabia muito bem o que estava a comprar e Napoleão não sabia muito bem o que estava a vender. A maior parte da região, ainda não tinha sido explorada. Depois da compra, Lewis e Clark organizaram uma expedição, para explorarem estas terras de ninguém. Só depois é que os americanos começaram a matar os índios (como se sabe, os únicos índios bons são os índios mortos; o mesmo acontece com os polícias…)

As Badlands são outra daquelas coisas especiais que vão ficar na nossa memória, como Machu Pichu, Guilin, o Amazonas, o Grand Canyon…

As Badlands são um conjunto de montanhas arenosas, com estratos sedimentares e que se foram formando í  medida que o Oceano foi recuando. Os índios e os pioneiros americanos, chamavam-lhes The Wall e, com efeito, após quilómetros de pradaria, erguem-se estas montanhas, como se fossem uma parede intransponível.

Tivemos sorte com o tempo: o sol abriu por entre as nuvens e até estava calor. Os flocos de nuvens sobre as rochas e a alternância de luz e sombra, conferem diferentes visões destas rochas. Algumas elevam-se, num imenso vale; outras, parecem abrir caminho para baixo. Paisagem lunar.

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Agora, vamos a caminho do Monte Rushmore, enquanto nos divertimos a ver os prairie dogs, de pé, nas patas traseiras, junto í s tocas. São í s dezenas. Mas tão pequenos e tão rápidos, que é impossível fotografá-los.

Entretanto, ganhámos uma hora, porque passámos um paralelo, algures na imensa estrada.

O Monte Rushmore é mais outra daquelas coisas que não lembrava a mais ninguém, senão aos orgulhosos patriotas americanos. Esculpir as cabeças de quatro presidentes (Lincoln, Jefferson, Washington e Roosevelt), no topo de uma montanha, num local praticamente inacessível, deve ter sido tarefa árdua. A obra ficou pronta pouco antes de começar a II Grande Guerra.

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A nossa visita ao Monte Rushmore esteve em risco. Quando chegámos í s Black Hills (assim chamadas porque a densa floresta dá uma cor negra í s montanhas), começou a chover intensamente. No entanto, quando atingimos o topo das montanhas, parou de chover e, apesar de o céu estar plúmbeo, a visibilidade era boa.

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Estava um frio do caraças, a contrastar com o calor das Badlands e o chão estava cheio de pedaços de gelo.

Só mesmo os americanos, para esculpir a capa de um disco dos Deep Purple, no cimo de uma montanha!…

Passámos a noite em Lead (pronunciar Lidz), uma pequena cidade que nos parece curiosa e que foi, no século 19, uma cidade mineira ““ daí que as Black Hills, aqui, assumam o nome de Golden Hills.


Sioux City, South Dakota, 7 de Maio

Partimos í s 7h 30, em direcção a Sioux City (pronunciar “…Su City”). Serão 860 km!

A primeira paragem foi no Welcome Center, í  entrada do Iowa. Percorremos a interestadual 80, acabámos de passar sobre o Mississipi, deixando o Illinois e parámos meia hora neste local agradável. No topo de uma colina verdejante, uma pequena casa de madeira, com uma gift shop, café í  borla (o café é tão mau, que os americanos não se importam de o oferecer…) e as inevitáveis casas de banho. Um sol acolhedor e muitos passarocos a chilrear.

On the road again.

Almoçámos no Pine Cone Restaurant, in the middle of nowhere, algures entre Iowa City e Des Moines. A comida é mesmo bera. Um buffet com frango cozido, que sabia a doença de infância, uma massa embebida num molho com sabor a baunilha, umas fatias de carne desenxabida, um pão doce e seco. A acompanhar, água, que nem cerveja havia! Uma tortura!

í€ nossa volta, americanos do campo, red necks, como os que vemos nos filmes, grandes, loiros, gordos e estranhos.

Em redor do restaurante, dezenas de trucks, que fazem as nossas delícias. Há-os de todas as cores, sempre brilhantes. Dominadores da estrada.

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E continuamos a viagem.

A auto-estrada é uma fita negra a perder de vista, ladeada por campos de milho imensos. O Iowa é um dos maiores produtores de milho do mundo; 90% da produção, destina-se a alimentar o gado e apenas 10% vai para os corn flakes.

A interestadual 88 não tem muito trânsito hoje, talvez por ser domingo. Mesmo assim, os grandes camiões passam constantemente. Só para se ter uma ideia da extensão desta auto-estrada, basta dizer que, estando cada saída numerada, a do Pine Cone Restaurant, era a número 200 e ainda vamos a meio do caminho…

Se os Sioux vivessem em Sioux City, provavelmente morreriam de tédio. É uma cidade morta, num domingo í  tarde. Chegámos por volta das 18h e partimos logo para uma voltinha pela cidade. Em 10 minutos, o principal estava visto: um quarteirão, que eles dizem ser histórico, com edifícios antigos, recuperados e ruas desertas, um Centro de Convenções, dois cinemas gigantescos, os correios e o hotel Clarion, tudo em tijolo escuro. Há dez anos, esta cidade estava viva, pululando de gente, graças a múltiplas lojas de artigos pornográficos. A segurança era pouca mas, pelo menos, havia animação…

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