Chicago, 6 de Maio

A primeira visita foi í  Sears Tower, que é o edifício mais alto da América (442 metros) e o terceiro mais alto o mundo (depois do Taipe 101, em Taiwan e das Petronas Towers, em Kuala Lumpur).

Chegámos 10 minutos antes da hora de abertura (9 horas). Fomos dos primeiros a subir. São 103 andares e, lá de cima, o panorama é soberbo – uma verdadeira vista área, como já acontecia nas Twin Towers.

Acresce que toda a área de Chicago e arredores é completamente plana, pelo que se vêem estradas a perder de vista, que parecem ir até ao infinito.

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Do lado leste, é o Lago Michigan que domina; tão extenso que não lhe vês o fim (500×200 km). Parece um Oceano. Olhando para baixo, vemos os braços do Chicago River, apertados entre os arranha-céus, que ocupam todo o espaço disponível, até í  margem do rio que, em alguns casos, é formada pelos próprios edifícios.

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De regresso ao nível do mar, começámos a percorrer as ruas, em direcção í  Michigan Avenue. Uma das características mais marcantes da cidade é o comboio, cuja linha passa toda sobre as ruas, ao nível do 2º ou 3º piso dos prédios, em alguns casos, mesmo junto í s janelas. As linhas estão alcandoradas numa estrutura de ferro que já viu melhores dias e todo o conjunto parece estar pronto a desmoronar-se a qualquer momento. Nos pontos em que a linha passa para o outro lado do rio, vemos, de cima para baixo, o comboio, a ponte com os carros e, finalmente, o rio, o que não deixa de ser pouco habitual.

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Chegados í  Michigan Avenue, entrámos no Starbucks, para beber um terço do tal café small e comer um plain baggel, aproveitando para descansar um pouco as pernas. Subimos, então, o pedaço da Michigan a que chamam The Magnificent Mile. E porquê magnificent? Porque estão lá todas as lojas de marca, e porque toda a avenida está bordejada de flores, sobretudo túlipas, das mais variadas cores. Cada canteiro é patrocinado por um hotel ou por uma loja, que se responsabiliza pela manutenção do mesmo – e são verdadeiros arranjos florais ao ar livre, com a combinação das várias túlipas com arbustos.

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í€ medida que a manhã avançava, a Michigan ia-se enchendo de pessoas, quase todas com um copo na mão, que é outra característica dos americanos. Em cada esquina, um negro pedia change. Mas tudo muito ordenado, como se até os sem abrigo se regessem por algum código de conduta, imposto pela municipalidade. Não sentimos insegurança em lado algum.

O Navy Pier é mais uma daquelas adaptações de um antigo molhe. Ao longo da margem do Lago Michigan, uma série de restaurantes, uma roda gigante, minigolfe e outras atracções. A animação era muita, sobretudo í  custa de uma espécie de festa, em honra da Polónia. Por todo o lado, polacos exibindo bandeirinhas, cachecóis e t-shirts, brancas e vermelhas.

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Eram quase 2 da tarde e já estávamos com fome. Foi então que nos sentámos na esplanada do Dock Street Café. As ementas dos restaurantes americanos têm algo em comum com as dos restaurantes chineses. Não percebemos nada, em nenhumas delas. Nas ementas chinesas, não percebemos porque aquilo está escrito em mandarim; nas americanas, porque os tipos inventam descrições mirabolantes para pratos ridiculamente estúpidos. Enfim, depois de estudarmos atentamente a ementa, optámos por um cuban roll e um schrimp po’ boy. O tal cubano, era um conjunto de fatias de carne inominável (peru? porco? vaca? camelo?), cobertas com cebola e tomate, tudo enfiado num french roll e acompanhado por french fries. Os camarões do pobre rapaz (po’ boy), eram fritos e cobertos cm qualquer coisa, e encaixados, também, num french roll e acompanhados, claro, por french fries. Cozinha francesa, portanto…

Enfim, uma refeição tipicamente americana. Não admira que estes gajos continuem a perder guerras…

Já a arrotar a cebola, continuámos a caminhada, percorrendo, depois, mais uma parte da Michigan e o Grand Park, que é o Central Park cá do sítio. É uma extensão imensa de relvados e árvores carregadas de flores lilases, cor-de-rosa, brancas. Ao nosso lado esquerdo, o azul límpido do lago; ao nosso lado direito, os arranha-céus alinhados, a reflectirem-se uns nos outros.

A meio do jardim, a enorme Buckingham Foutain, jorrando hectolitros de água a várias alturas, e formando arco-íris.

Continuando para baixo, chegámos í  parte do jardim, onde ficam o Planetário e o Oceanário. Desse ponto, vê-se todo o skyline de Chicago.

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Arrastámo-nos, então, de regresso ao hotel, que estava mais longe do que imaginámos. O pedómetro marcava 22 km! Eram 18h30, tinham passado 10 horas. Mal conseguíamos mexer as pernas e, no estí´mago, ainda resfolegava o cuban roll!

Pequeno dicionário familiar de expressões exclusivas

ígua mineral, da fonte hidrotermal – espécie de cantilena infantil, que pode ser usada em qualquer momento

A autoridade foge da chuva – expressão que pode ser usada, sempre que se avista um agente da autoridade

Azerbeijante – adjectivo superlativo (Ex: “que calor azerbeijante!”)

Chambote kaná! – saudação em estrangeiro; é percebida pelos falantes de todas as línguas

Cunanas – refere-se a homem indeciso, mole, sem iniciativa; o mesmo que “coninha de sabão”

Falta-lhe uma redezinha – expressão que deve ser usada sempre que, em qualquer circunstância, falte algo ao conjunto

Nesta casa, só de ferro! – exclamação que deve ser utilizada, sempre que se parte ou estraga alguma coisa, lá em casa.

O pequeno cubo azul – diz-se de algo que não pertence ao contexto

O homem dos cenários – diz-se de alguém que está fora do contexto

Perliquiteques – o mesmo que “sericócu tapete” e “triquelariques”

Sericócu tapete – mulher cheia de salamaleques

Trique-lariques – o mesmo que “sericócu tapete”, com a vantagem de poder ser usada para homens, também

Um pequeno lápis – frase que deve ser usada em vez de “um pequeno lapso”

1º de Maio, 120 anos depois

Foi em Chicago, há 120 anos, que milhares de trabalhadores saíram í s ruas, protestando contra as condições de trabalho e exigindo um horário de trabalho de 8 horas, em vez das 13 horas diárias a que eram obrigados.

Nesse dia, começou uma greve geral, que haveria de ter consequências trágicas. Três dias depois, uma concentração de manifestantes foi reprimida pela polícia, na Praça Haymarket. No meio da polícia, uma bomba rebenta e morrem alguns agentes. A polícia abriu fogo sobre os manifestantes, matando e ferindo dezenas deles. Vários militantes anarquistas foram presos e quatro deles foram executados, a 11 de Novembro de 1887.

Três anos depois, um Congresso Socialista, em Paris, criou o Dia Mundial do Trabalhador, em homenagem aos operários de Chicago.

No entanto, só em 1919 o senado francês declara o dia 1 de Maio como feriado nacional, depois de ratificar o horário de trabalho de 8 horas. No ano seguinte, a União Soviética adopta também o 1º de Maio, como Dia do Trabalhador e feriado nacional, no que é seguida por muitos países. Em Portugal, o primeiro 1º de Maio só foi celebrado em 1974, como toda a gente devia saber.

Ironicamente, nos EUA, o 1º de Maio não é feriado. O Labour Day é celebrado no dia 1 de Setembro…

O primeiro disco da banda Chicago Transity Authority contem uma faixa intitulada Prologue, August 29, 1968, a qual foi gravada durante uma manifestação que ocorreu na Convenção do Partido Democrático. Manifestantes negros gritavam: “God give us the blood to keep going”; nessa altura, a polícia tenta dispersar os manifestantes, que cantam, então: “The whole world’s watching”.

Também em 1886, todo o mundo estava a olhar para os operários de Chicago, sem o saber.

Portanto, para comemorar o 1º de Maio, hoje decidi comprar um disco dos Chicago.

Fiz mal…

Chicago 18

Chicago 18

Chicago Transity Authority iniciaram-se em 1969, com um duplo álbum que fez furor, por várias razões: não era habitual, naqueles tempos, uma banda iniciar-se logo com um duplo-álbum, assim como não era habitual, as bandas terem seis ou sete elementos, juntarem sopros í s guitarras e darem um tom “jazístico” ao rock (outro exemplo foram os Blood, Sweat & Tears).

Também neste caso, a culpa foi dos Beatles.

Segundo reza a história, Walter Parazaider (nasceu em 1945), Lee Loughnane (1946) e James Pankow (1947), todos estudantes de música, encontravam-se com músicos autodidactas, como o guitarrista Terry Kath (1946-1978) e o baterista Danny Seraphine (1948) nos bares de Chicago e tocavam de tudo, desde R&B até música irlandesa. Até que os Beatles lançaram o álbum Revolver e, no tema “Got to get you into my life”, utilizaram uma secção de metais. A partir daí, aquele grupo de músicos de Chicago, arranjou mais dois elementos (um deles, o piroso Peter Cetera) e formaram os Chicago Transity Authority, com uma forte secção de metais a apoiar as guitarras e com a particularidade de terem três vocalistas.

Ora, com a tesão própria dos vinte anos, os seus três primeiros discos foram todos duplos. E esgotaram-se. A partir daí, Cetera tomou conta da ocorrência e passou a ser o líder da banda, para além de se tornar o principal vocalista e compositor. Uma desgraça. Depois de Chicago III, todos os restantes álbuns da banda têm sido dominados por vozinhas em falsete, arranjos para elevador de hotel de luxo, melodias melosas e bocejantes. E, no entanto, dizem as estatísticas que, depois dos Beach Boys, os Chicago são a banda norte-americana com mais discos vendidos.

chicago18.jpgA única curiosidade deste Chicago 18 (editado em 1986) reside no facto da banda ter pegado numa poderosa canção rock, “25 or 6 to 4” e fazer dela uma merda absoluta. É que um tipo não se admirava se fosse qualquer outro grupo piroso a fazer uma versão pateta da canção… agora, ser a banda a estragar o que ela própria fez, 15 anos antes, não tem desculpa.

Aliás, todo o disco é inaudível. Como diria o Paulo Fernando: “este disco é intocável – mas, felizmente, não é inquebrável!”

Ortografia multicultural

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1º erro: “Comersial”, em vez de Comercial

2º erro: “Renuvação”, em vez de Renovação

3º erro: “Cabelereiro”, em vez de Cabeleireiro

4º erro: “ás”, em vez de í s (duas vezes).

Mas, enfim… quem quiser fazer tranças, tisagens (?) e desfrisagens (?), não se deve preocupar muito com a ortografia…

Reformados e mal pagos

Sócrates anunciou que as reformas passarão a estar indexadas í  esperança de vida. Acho mal.

Vejamos os seguintes exemplos:

Sujeito A – obeso, fumador, hipertenso, diabético, com o colesterol elevado; reforma-se aos 65 anos, depois de 40 ano de descontos, e morre seis meses depois com um enfarto. Resultado: o Estado fica a ganhar – sacou 40 anos de descontos a este tipo e pagou-lhe a reforma durante seis meses.

Sujeito B – magro, nunca fumou, nunca bebeu, nunca cometeu excessos, nunca mandou uma boa queca; reforma-se aos 65 anos, após 40 anos de descontos e morre aos 108 anos, completamente totó, a fazer chi-chi na fralda, totalmente dependente da ajuda dos outros, internado num Lar da Segurança Social desde os 80 anos. Resultado: o Estado foi ludibriado – recebeu 40 anos de descontos deste tipo e teve que lhe pagar a reforma durante 43 anos, o lar e os cuidados continuados durante 26 anos.

Está na cara que a idade da reforma devia ser indexada, não í  esperança de vida média, mas í  esperança de vida de cada pessoa!

Por exemplo, o meu caso: fumador, hipertenso desde os 35 anos, com antecedentes familiares de morte súbita. Não acham que 30 anos de descontos chegavam?

Reformo-me para o ano que vem!

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Frida Kahlo, Vida e Obra – Exposição no CCB

Frida Kahlo, filha de uma mexicana e de um alemão, nasceu no México, em 1907 e toda a sua obra está marcada pelos acontecimentos dramáticos da sua vida. Vítima de poliomielite infantil, aos 6 anos, ficou com a perna direita defeituosa, mais delgada e curta que a perna esquerda; aliás, o membro inferior direito acabaria por ser amputado. Aos 18 anos, foi vítima de um acidente brutal: o autocarro onde viajava foi abalroado por um eléctrico; Frida foi trespassada por um varão metálico, sofrendo danos irreversíveis na coluna vertebral. Tudo isto fez com que passasse longos períodos na cama, quer em casa, quer no hospital, sendo submetida a diversas cirurgias e tendo usado, por várias vezes, coletes de gesso, para estabilizar a coluna. A sua vida sentimental também parece ter sido muito conturbada, tendo sido casada, por duas vezes, com Rivera, o famoso muralista mexicano, cerca de 20 anos mais velho do que ela.

frida.jpgAs obras de Frida reflectem estas e outras vicissitudes da sua vida de um modo muito particular, incluindo o facto de ter abortado por três vezes.

As suas pinturas são perturbadas e perturbadoras e, não sendo surrealistas, como ela própria disse várias vezes, um observador isento não pode deixar de pensar que a artista sofria de graves perturbações psiquiátricas (se calhar, digo isto porque sou médico…)

Claro que, agora, a Frida Kahlo está na moda, sobretudo depois do filme de Julie Taymor (2002), com Selma Hayek, que nos mostrou uma Frida heróica no seu sofrimento, uma mulher emancipada, dominadora, remetendo a figura de Diego de Rivera para um segundo plano. E, quando um artista está na moda, de repente, tudo o que produziu passa a ser obra determinante na História de Arte.

De qualquer modo, algumas das pinturas de Frida Kahlo não me deixaram indiferente, nomeadamente, “A Coluna Partida”, aqui reproduzida e, por exemplo, “Hospital Henry Ford”, que ela pintou em Detroit, após mais um dos seus abortos. Mas tocaram-me mais por representarem algo de penoso na vida da pintora, do que propriamente pela obra em si mesma.

Frida morreu em 1954, aos 47 anos.

Ressuscitem-se os mortos

José Alberto Pereira Coelho candidatou-se í  presidência do PSD. A sua candidatura não foi aceite, por duas razões:

Primeira: não conseguiu reunir as 1500 assinaturas de militantes efectivos, com as quotas em dia;

Segunda: dois dos subscritores da sua candidatura, já faleceram.

Apesar disto, o conselho jurisdicional do PSD, concedeu a Pereira Coelho, 72 horas para regularizar a situação.

Assim, sendo, Coelho terá que fazer duas coisas:

Primeira: pagar as quotas dos subscritores com quotas em atraso

Segunda: ressuscitar os dois militantes falecidos.

Antes com Sida do que com camisa

Palavras do vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa e bispo de Bragança, D. António Montes Moreira: “Num contexto deste matrimónio (heterossexual e monogâmico), em que algum ou os dois (membros do casal) estão infectados (com HIV), a utilização do preservativo é um claro caso do chamado mal menor.”

Portanto, se és católico e queres ter relações sexuais com preservativo, a fim de evitares uma gravidez não desejada, terás que cumprir as seguintes regras:

– seres heterossexual

– seres monogâmico

– seres seropositivo para o HIV

Só agora percebo por que razão a Igreja condena o uso da camisinha. É claro que o que a hierarquia católica pretende é que, primeiro, a malta se infecte com o HIV para, depois, já poder usar a camisa í  vontade…