Desapareceu de sua casa este idoso, com idade cronológica de 84 anos, embora aparente muito mais.
Sofre de desmemoriação, não se recordando, por exemplo, que foi o responsável pelo numerus clausus nas Faculdades de Medicina, pelo fim da agricultura e das pescas, por grande parte do cimento e do alcatrão e por muitas outras patifarias.
Se alguém tiver o azar de o encontrar, deixe-o estar sossegado. Ninguém sente a sua falta!
Ontem, participou na Academia de Formação Política das Mulheres Sociais-Democratas, através de videoconferência.
O facto de as mulheres sociais-democratas considerarem ser importante, para a sua Academia de Formação Política, convidar um tipo como Cavaco só demonstra a pobreza pedagógica da referida Academia – uma vez que considerar o ex-presidente como sendo social-democrata é um erro de palmatória.
Mas enfim…
O homem que nos azucrinou o juízo durante 20 anos falou e, com aquele seu esgar de quem está permanentemente obstipado, disse, entre outras coisas, que Portugal está “numa situação de democracia amordaçada”, por culpa do governo.
Uma democracia tão amordaçada que, no entanto, deixa o Cavaco continuar a falar e a abrir telejornais!
Ainda está para ser feita a análise de como este povo aguentou aquela criatura dez anos como primeiro-ministro e mais dez anos como presidente…
À noite, Jerónimo de Sousa, que festejava o centenário do PCP, questionado sobre estas afirmações de Cavaco, disse: “Cavaco Silva está velho!”
Foi simpático, o Jerónimo. Devia ter acrescentado, está velho e delirante!
Cavaco Silva fez saber que está triste com o resultado do PSD nas eleições legislativas.
Habituado a maiorias absolutas, não consegue digerir os 28% de Rui Rio – e faz questão de o dizer publicamente, o que equivale a uma facada nas costas do actual líder do PSD.
A criatura foi comparada a um eucalipto, que tudo seca à sua volta. Ainda hoje, quando o vejo na televisão, não consigo tirar essa imagem da cabeça. Cavaco faz mesmo lembrar um eucalipto – hoje em dia, um eucalipto velho, seco, depauperado e com uma azia do camandro!
Deve ser difícil para ele ver um socialista ocupar o seu lugar durante tantos anos. No entanto, apesar de se afirmar triste, no fundo, Aníbal deve sentir uma pontinha de felicidade por assistir à derrota de Rio, de quem não gosta especialmente.
De quem ele gosta, pelos vistos, é da Maria Luís Albuquerque, aquela especialista em swaps.
Nesta sua afirmação pública de tristeza, Cavaco lembra o nome de Maria Luís, dizendo que ela é “uma das mulheres com maior capacidade de intervenção que conheci”.
Será que a Dona Maria Cavaco Silva teve conhecimento destas afirmações?
Marcelo Rebelo de Sousa veio distender o ambiente nacional.
Enquanto ele estiver em Belém, estaremos a salvo de populistas idiotas.
O homem comenta todos os acontecimentos, tem uma opinião sobre tudo e mais alguma coisa, quase sempre uma opinião razoável e com bom senso.
O expoente do seu bom senso revelou-se recentemente, numa decisão que passou quase despercebida: indicou o nome de Aníbal Cavaco Silva para representar Portugal no funeral do antigo presidente norte-americano George Bush.
Quem melhor que Cavaco para nos representar num funeral?
Com aquela rosto triste e fechado, com aquele ar desgraçado de quem recebe uma pensão que não dá para as despesas, com aquela verdadeira cara de cu à paisana, Cavaco está bem em funerais.
O problema de ter boa memória é que, por vezes, lembro-me de coisas que já devia ter esquecido.
Lembro-me, por exemplo, de Cavaco Silva ter ficado muito indignado quando um candidato à Presidência (Defensor de Moura, quem se lembra dele?) o acusou de favorecer as Câmaras do PSD.
“A casa de Albufeira do ex-PR foi reavaliada pelas Finanças em 2015. Valor patrimonial quase duplicou face ao da caderneta predial em 2009. Os dados fornecidos per Cavaco não eram verdadeiros”.
Por este andar, Cavaco vai ter que nascer quatro vezes para ser mais honesto que ele próprio!
Um grupo de amigos decide agradecer-lhe publicamente pelos 20 anos que esteve a tomar conta de nós, como primeiro-ministro e como presidente.
A recepção dos amigos aconteceu na cavalariça do Pestana Palace.
Na cavalariça?… compreende-se…
Entre os amigos presentes, contavam-se muitos banqueiros: Fernando Faria de Oliveira, ex-presidente da CGD e actual presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB), Vítor Bento, que esteve à frente do Novo Banco, Fernando Ulrich, presidente executivo do BPI, Paulo Teixeira Pinto, ex-presidente do Millennium BCP, Norberto Rosa, actualmente consultor do conselho de administração do Banco de Portugal, mas ex administrador e ex-vice-presidente da comissão executiva da Caixa e ex-vice-presidente do BPN.
Compreende-se…
No final do almoço de bacalhau com batatas, Cavaco discursou.
E disse, por exemplo:
“Há muita coisa que não se sabe [da forma como exerceu a Presidência] porque tomei a decisão de manter muita coisa reservada por convicção de que essa era a melhor forma de manter o superior interesse nacional.”
Portanto, para Cavaco, o superior interesse da nação implica esconder coisas, não divulgar coisas…
O homem acha que, sem ele, Portugal tinha sido outro país – e tem toda a razão.
Convencido da sua importância na História de Portugal, acrescentou:
“Em que outro tempo teria sido mais útil para o meu país a minha experiência como primeiro-ministro, o meu conhecimento de economia e finanças, o meu conhecimento das instituições europeias? Não consigo ver outro e portanto foi o tempo certo para ter sido Presidente da República”.
Por acaso, eu vejo outro tempo em que Cavaco podia ter sido o homem certo no lugar certo: o tempo da Outra Senhora, por exemplo.
Quem se lembra, hoje, do presidente Craveiro Lopes?
Quem se vai lembrar, daqui a 50 anos, do presidente Cavaco Silva?
Sempre convencido, Cavaco avisou que ainda tem uma palavra a dizer.