“A Primeira Mão que Segurou a Minha”, de Maggie O’Farrell (2010)

Maggie O’Farrell (Irlanda do Norte, 1972) escreveu um belo romance, um dos melhores que li ultimamente.

Em capítulos alternados, vai-nos contando duas histórias, aparentemente distintas, mas que, quase no final do livro, se juntam de um modo surpreendente.

Na primeira história, acompanhamos o percurso da jovem Lexie, que abandona a sua terreola e migra para Londres, onde acaba por se tornar jornalista e crítica de arte, com a ajuda de Ines Kent, um editor com larga experiência no ramo. Toda esta história decorre pouco depois do final da segunda guerra mundial.

Na segunda história, passada na actualidade, seguimos a vida de um casal jovem, Ted e Elina. Ela é pintora e acabou de ter um bebé, depois de um parto muito complicado.

Os capítulos são curtos e eficazes, e ambas as histórias vão avançando paulatinamente e, a pouco e pouco, percebemos se elas se vão encontrar.

Muito bom!

“Isto Não É Miami”, de Fernanda Melchor (2013)

Este foi o primeiro livro publicado por esta jovem escritora mexicana (Veracruz, 1982).

Durante alguns anos, a autora recolheu histórias, sobretudo relacionadas com tráfico de droga e violência, passadas em Veracruz, sua terra natal. Parece que este pequeno livro serviu de ensaio para o excelente Tempo de Furacões e também para o romance que se seguiu, Paradaise, que foi mais do mesmo.

Dos vários relatos, destaque para o penúltimo, A Vida Não Vale Nada, que já parece indiciar o estilo da narradora: um texto longo, em discurso directo, sem parágrafos.

Apenas curioso.

“O Bom Mal”, de Samanta Schweblin (2024)

Samantha Schweblin nasceu em Buenos Aires em 1978 e é considerada uma das melhores escritoras das últimas datas da América Latina.

Este pequeno livro de seis contos é perturbador. São histórias estranhas que a pequena explicação que a autora nos dá, no final do livro, não ajuda muito.

A última história, por exemplo, intitulada “O Superior faz uma visita”, fala-nos numa mulher que visita a sua mãe num Lar e que, por um acaso, acaba por ajudar uma outra residente do Lar a abandoná-lo. Leva-a para casa e, pouco depois, surge o filho dessa mulher, que, armado, lhe rouba dinheiro e joias, depois de uma tarde inteira de terror.

Sobre mais esta história perturbadora, a autora diz o seguinte: “conheci o homem (deste conto) numa longa estada em Barcelona. Apesar de nunca nos entendermos, com ele aprendi por fim a levantar pesos sem que me doa a lombar. Parece uma coisa de somenos, mas ficar-lhe-ei sempre grata”.

Está bem…

Chega – que nome pindérico!

Até nisto somos periféricos!

Falo da designação dos partidos de extrema-direita.

Na Alemanha, existe a Alternativa pela Alemanha, em Itália, o partido da Meloni chama-se Irmãos de Itália, em França, há a Reunião Nacional, aqui ao lado, em Espanha, o Vox.

E em Portugal?

Chega…

Que pindérico!

“O Herói Discreto”, de Mário Vargas Llosa (2013)

Se tivesse começado a ler este livro sem saber quem era o autor, teria muito provavelmente, desistido.

Em 2010, Vargas Llosa (1936-2025) ganhou o Prémio Nobel e três anos depois publicou este livro desinspirado e até um pouco descuidado, na minha modesta opinião.

O autor conta-nos duas histórias, em capítulos alternados, histórias essas que, a certa altura, se cruzam de um modo um pouco artificialmente.

O herói discreto que fala o título, é o mestiço Felícito Yanaqué, dono de uma empresa de transportes da cidade de Piura que começa a receber cartas anónimas que o ameaçam se não pagar uma espécie de avença. Este Felícito tem um casamento infeliz com um mulher que dele engravidou por acidente e tem, também, uma amante jovem, a quem montou casa e a quem paga uma mensalidade. Tudo isto é contado menorizando sempre o papel das mulheres: a esposa de Felícito é gorda, feia, beata e há muito tempo que não vai para a cama com ele e Mabel, a amante, é jovem, bonita e, no fundo, uma espécie de prostituta sindicalizada.

A outra história baseia-se no casal Rigoberto e Lucrécia. Ele é um tipo culto, que gosta de boa literatura, música erudita e grandes pintoras, e ela é apenas uma mulher. Têm um filho de 15 anos que, de repente, começa a ter visões, na pessoa de um homem que lhe fala de religião. Há ainda um octogenário Ismael, viúvo e muito rico, que se casa com a criada, só para chatear os dois filhos que lhe querem rapinar a herança.

Em resumo, uma história mal enjorcada, muito machista e que poderia ter sido escrita há muitas décadas – isto, para além de alguns erros de narrativa que não vêm para o caso.

O André Ventura sofre de azia do miocárdio

Ontem à noite, num comício em Faro, André Ventura, o 4º pastorinho de Fátima teve um ataque de azia do miocárdio.

De súbito, sentiu uma dor no esófago provocada certamente por água envenenada por um grupo de ciganos de Faro.

Lançando a mão ao peito, caiu no palco, sendo amparado por alguns dos seus alcoólicos.

Levado para as urgências do Hospital de Faro, esperou horas na urgência até ser atendido.

Finalmente, lá apareceu um médico estrangeiro que lhe deu um Kompensan e um enfermeiro que fez o favor de lhe espetar uma agulha no braço.

Esta manhã, visivelmente alquebrado, Ventura surgiu com o braço quase ao peito e foi logo deitar-se numa cama de um hotel para descansar.

A Senhora de Fátima foi com ele…

A secretária

O chefe da secção estava furioso. Aqueles relatórios eram uma miséria, tudo engatado! Chamou o funcionário mais competente e deixou-se enervar um pouco mais enquanto esperava. Finalmente, o empregado chegou, trémulo, prevendo a tempestade.

– Mas o que é isto, Sousa?! – perguntou o chefe de secção, dando um valente murro na secretária – Estes relatórios estão todos enganados! Nada bate certo!

– Não me diga, sr. Gonçalves… – ripostou, hesitante, o empregado Sousa, aproximando-se do relatório.

– Olha para isto! – berrou o sr. Gonçalves, dando novo murro na secretária. E apontou para os gráficos, para as contas, para tudo o resto que, pelos vistos, não batia certo. – Isto assim não pode continuar tenho de tomar medidas e das duras! – continuou o chefe de secção. E deu mais dois murros na secretária.

De súbito, indignada e cheia de nódoas negras, a secretária levantou-se e encaminhou-se para a porta, dizendo: “É um bom emprego, o ordenado é óptimo, mas estou farta de levar porrada! Boa tarde!”

E saiu.

-in Pão com Manteiga, Rácio Comercial, 4.10.1981

O farol fundido

Luís Montenegro – esse grande político e empresário espinhense – declarou-se farol deste país.

E depois, foi a banhos.

Resultado: molhou o farol e o farol fundiu-se!

Toda a gente sabe que não se deve molhar o farol. já George Constanza chamava-se a atenção para a chamada “shrinkage” do farol, sempre que é mergulhado em água.

E é assim, com um candidato a primeiro-ministro com o farol encolhido que temos que aguentar mais uma semana de campanha eleitoral!…

“Eva”, de Cat Bohannon (2023)

Cat Bohannon (Atlanta, USA, 1979) é um cientista norte-americana, doutorada pela Universidade de Columbia e que com este calhamaço conseguiu mostrar como a evolução da espécie humana está relacionada com a mulher.

O livro, de mais de 500 páginas, está dividido nos seguintes capítulos: O leite, O Útero, A Percepção, As Pernas, As Ferramentas, O Cérebro, A Voz, a Menopausa e O Amor.

Com abundância de notas e de referências a estudos de diversos autores, Bohannon vai-nos guiando desde os primórdios da espécie humana até aos nossos dias, demonstrando quão importante é o contributo da mulher, grande responsável pela perpetuação da espécie.

Aprendemos muitas coisas com este livro:

“As progenitoras das espécies felídeas tendem a roncar e a ofegar; os símios guincham e fazem estalidos com os lábios. A maioria das mulheres da espécie humana prefere embalar os seus bebés e amamenta-los na mama esquerda, o que, por acaso, também permite que o bebé fique alinhado com o lado mais expressivo do nosso rosto”.

Mitos há muitos:

“Por exemplo, a vagina de uma fêmea de rinoceronte é de tal maneira complicada que, para se adaptar a ela, o macho teve de desenvolver um pénis com mais de setenta e cinco centímetros de comprimento e em forma de relâmpago. Há muito tempo, na China, houve quem vislumbrasse esse pénis em forma de relâmpago (ou se calhar assistiu às típicas duas horas e meia de acasalamento por que os rinocerontes têm de passar só para fazer funcionar esses dois malfadados órgãos) e acreditasse erradamente que as proezas físicas dos rinocerontes podiam ser transferidas para os humanos. Os chifres de rinoceronte – adquiridos ilegalmente, secos e moídos até formarem um pó – continuam a render lucros avultados aos caçadores furtivos no mercado negro.”

Outro mito:

“Todas as aves conseguem ver o vermelho. A maioria dos peixes também. Mas os gatos, não, nem os cães, as vacas ou os cavalos, os roedores, as lebres, os elefantes ou os ursos. O vermelho não faz parte dos seus mundos. Nem os touros das festas de Pamplona conseguem realmente ver a capa vermelha do toureiro nem os tradicionais lenços e casacos vermelhos dos corredores de touros que invadem as ruas da cidade como bandos de tarados assassinos de bovinos. Os touros não são agressivos por conseguirem ver a cor vermelha, que as seus olhos se assemelha provavelmente a um castanho-escuro ou até ao preto. Os touros são agressivos porque são tratados como lixo.”

Curiosidades? Muitas:

“Em termos de pressão absoluta, o músculo mais forte do corpo humano é o masséter do maxilar. No que diz respeito à pressão constritiva, o útero é o mais forte. Todavia, quando se trata de músculos que têm força e flexibilidade, o claro vencedor é a língua humana, que tem de rolar e empurrar um bolo de alimentos amassados de um lado para o outro da boca, esmagando melhor os bocados não mastigados antes de os engolir, enquanto se esquiva ao corte e trituração dos dentes em movimento. Quem já mordeu acidentalmente a língua ou a bochecha sabe que a mastigação nem sempre é fácil.”

Implícitas muitas críticas ao modo como o sexismo e a religião influenciam a evolução da espécie – e não só no mundo islâmico ou nas regiões mais pobres de África ou da Índia:

“Onde é que a maioria das mulheres norte-americanas grávidas morre? Nas comunidades pobres, sim, mas sobretudo nas comunidades pobres do Texas, do sul dos Estados Unidos e do Minesota. Em todas estas regiões, o acesso das mulheres aos cuidados de saúde e à educação para a saúde foi drasticamente reduzido nos últimos anos por vias de campanha contra o aborto, políticas educativas em prol da abstinência coimo único método de contracepção e simultaneamente uma série de cortes nos centros de saúde financiados pelo sector público”.

Estas são apenas algumas citações das muitas que poderia fazer destas excelente obra, que aconselho vivamente.

Aqui está um livro que devia ser leitura obrigatória para todos os liberais e políticos de Direita – se acontecesse o caso desses tipos lerem livros…

A Criação do Domingo

No princípio, a semana possuía apenas seis dias, o que era um inconveniente inegável. Por isso, às 24 horas de sábado, deus decidiu criar o domingo.

Adão e Eva ficaram satisfeitíssimos porque tinham o dia livre para crescerem e se multiplicarem, entregando-se ao Pecado Original, sob os olhares reprovadores dos Querubins. Esse foi o primeiro domingo que ficou na História da Humanidade. E, apesar de tudo, deus achou que o domingo fora uma boa invenção.

Com efeito, sem domingos, não haveria a missa de domingo, os passeios de domingo e o Pão com Manteiga. Sem domingo, Fernando Namora não teria escrito o romance “Domingo à Tarde”, a semana inglesa teria de começar na sexta-feira à hora do almoço e os calendários teriam muito menos números vermelhos. Sem domingo, o domingo de Páscoa calharia para aí a um sábado.

Percebendo tudo isso, deus achou que o domingo fora uma boa invenção e sentiu-se até tentado a criar mais domingos ao longo da semana, eliminando dias bem mais aborrecidos. Teríamos então o domingo, a segunda-feira, o segundo domingo, a terça-feira, o terceiro domingo, a quarta-feira e o sábado. Mas isso seria muito confuso e convidaria os homens à boa vida. Por isso deus deixou ficar a semana como ainda está hoje e para mostrar que nem tudo corre bem aos domingos, escolheu esse dia para o Dilúvio.

Talvez digam as Escrituras que Sodoma e Gomorra foram destruídas a um domingo, que as setes pragas do Egipto calharam a um domingo, que Cristóvão Colombo descobriu a América a um domingo e que François Mitterand foi eleito a um domingo.

E é por essas e por outras que o Pão com Manteiga é a um domingo.

  • in Pão com Manteiga, 21.6.1981