Big Horn Mountains, Cody, 9 de Maio

Está a nevar, em Lead!

Lead é uma pequena cidade, colina acima, salpicada de pinheiros de natal. Hoje, às 6 da manhã, estava a nevar!

Devia ter começado a nevar pouco tempo antes. Passada meia hora, o panorama era de bilhete-postal de Natal. Os pinheiros brancos, as pequenas casas cobertas de neve, a colina toda branca. E a neve a cair incessantemente. A neve, embora não seja rara nesta época do ano, também não é assim tão frequente. Foi uma surpresa afradável.

Toda a gente, mesmo os que estão habituados a neve, estava exultante. A neve parece ter este efeito nas pessoas, infantilizando-as.

Hoje, vamos até Cody. Serão cerca de 400 km.

Entrámos no Wyoming. O Wyoming é conhecido como the cowboy’s land. Não chega a ter meio milhão de habitantes. Está a nevar novamente. A paisagem é branca e plana. O alcatrão da estrada faz o contraste.

Fizemos a nossa primeira paragem numa terreola chamada Gillette. O sol já brilha, o que faz com que grandes pedaços de gelo, desabem dos telhados das casas. A temperatura está perto dos zero graus, mas aguenta-se bem. Parámos num McDonald’s, para um hot chocolat e um cookie.

Esta região do Wyoming é muito rica em carvão. As minas de carvão, a céu aberto, negras, contrastam com os campos, brancos, pela neve.

TIP – “to insure promptitude”. Esta é a grande instituição nacional americana. A média da gorjeta é de cerca de 15% do que se paga. Se a refeição custar 10 dólares, pagas dólar e meio de gorja. Os empregados das lojas são taxados por presunção, isto é, pagam IRS, partindo do princípio que deverão receber uma certa quantia em gorjetas, dependendo do emprego que ocupam. Sendo assim, se não dermos gorjeta, estamos a prejudicar os trabalhadores. Por outro lado, em busca de uma boa tip, todos os empregados são extremamente simpáticos, sempre prontos a ajudar.

Não me importava nada de apoiar a instituição da tip, em Portugal, se soubesse que isso implicaria uma mudança de atitude na maioria dos empregados das lojas.

Por aqui, na dita América profunda, não são só os empregados das lojas que parecem muito simpáticos. Toda a gente te cumprimenta, na rua. Há sempre um “how are you today?”, um “can I help you?”, um “have a nice day”, um “where are you from?”. E estas interpelações não soam intrometidas, nem forçadas – parecem genuínas e não sentes que a tua privacidade está a ser ameaçada. Sentes-te em casa.

Em Sheridan – paragem para almoço, antes de entrarmos nas montanhas Big Horn, que se vêem lá ao fundo, cobertas de neve; sobre elas, nuvens pesadas e ameaçadoras.

Parámos num grande espaço, para almoçar. Opções: Taco Bell, McDonald’s e Arby’s. Escolhemos este último porque sim e comemos uma refeição tão rápida que acho que já fiz a digestão.

Mais um momento alto desta viagem: atravessámos as Big Horn Mountains. Um espectáculo! O nome vem daquela espécie de carneiros com cornos muito grandes e retorcidos, espécie quase extinta, actualmente. Só vimos dois ou três, e de fugida. O pico mais alto, ultrapassa os 4 mil metros. A estrada que percorremos, chega aos 3 mil. A nossa passagem esteve em dúvida, tendo em conta o nevão desta manhã mas, felizmente, a estrada estava aberta e a visibilidade era óptima.

Durante cerca de uma hora, rolámos pela montanha, rodeados de pinheiros ponderosa, cobertos de neve e extasiados pela paisagem, agreste e bela. Cada curva da estrada, proporcionava nova imagem, melhor que a anterior. No meio do manto branco e de toda aquela vegetação, aqui e ali, grandes blocos de granito.

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Parámos por duas vezes, para apreciar melhor a paisagem. E, depois, começámos a descer. A neve foi desaparecendo, as árvores começaram a rarear, dando lugar às rochas nuas. Ainda parámos numa zona chamada Shell Falls, onde um pequeno riacho foi escavando um canyon na montanha, e onde existe uma pequena cascata.

Se pensam que A-dos-Cunhados ou Venda das Raparigas são nomes estranhos para localidades, aqui vão alguns nomes de localidades, aqui, no Wyoming: Gillette, Atomic City, Montpelier, Alcova, Dinossaur, Eureka, Medicine Bow, Ten Sleep.

Se alguma vez vierem a Cody, fiquem nas Buffalo Bill Villages e jantem no Tard Q Restaurant. They’re the best!

Assim que entrámos em Cody, tivemos aquela sensação de déja vu. Cody é uma cidade como as que se vêem nos road movies: uma rua principal, larga, larguíssima, com edifícios de um só piso, semáforos e grandes placas, pendurados nos cruzamentos; ao fundo, a imensa montanha, coberta de neve.

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Visitámos o Museu do Buffalo Bill, durante cerca de hora e meia. É um museu peculiar: uma ala dedicada aos índios, que o Buffalo Bill ajudou a exterminar, outra só para o cowboy, outra para a história natural da região, uma imensa gift shop.

William “Buffalo Bill” Cody talvez tenha sido um dos primeiros americanos a entrar no show business: foi vaqueiro, estafeta do Pony Express, batedor do exército americano, caçador de búfalos, pioneiro do turismo no far-west e ainda teve tempo para montar um espectáculo de circo, em que recriava o tempo em que os cowboys e os índios andavam à pancada. Viveu 71 anos e dá a sensação que, desde o princípio, soube que se ia transformar numa lenda, tal foi a maneira como geriu a sua vida e deu publicidade aos seus feitos.

O museu acaba por ser bizarro, porque estamos a falar de um tipo que viveu num país que estava a nascer, numa altura em que a vida devia ser difícil, mas que não descobriu nada, não inventou nada, não influenciou a História do mundo mas que, de certeza, é mais conhecido do que, por exemplo, o Vasco da Gama.


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