Os 60 anos de casados dos Cavaco e a importância de dormir sem cuecas

O Diário de Notícias é uma instituição nacional. Foi fundado em 1864, o que quer dizer que noticiou a queda da monarquia, o início da Grande Guerra, o golpe militar do 26 de maio de 1926 e o nascimento do Estado Novo, a segunda Grande Guerra e por aí fora.

O Diário de Notícias passou por muitas fases, assim como a sua revista dominical, a Notícias Magazine.

Folheio esta revista todos os domingos, com um fastio monumental, e depressa a atiro para a reciclagem, não conseguindo encontrar-lhe nenhum motivo de interesse.

Mas eis que, na edição de hoje, encontro dois artigos que me prendem a atenção.

Na capa, uma foto de dois jovens noivos: Maria e Aníbal Cavaco Silva. A revista assinala os 60 anos do seu matrimónio e fico a saber que “não sabemos qual de nós se apaixonou primeiro”. Sentados na sua casa, Cavaco e Maria, respondem a inúmeras perguntas, preenchendo 16 páginas da revista. Dezasseis páginas por extenso.

Cavaco diz, por exemplo que “a decisão de casar foi a decisão mais acertada” da vida dele e Maria adianta que “recorda um rapaz muito desportista, muito inteligente, muito empenhado”. E fico a pensar que tenho dificuldade em imaginar Cavaco desportista, embora não me custa a imaginá-lo empenhado…

Ultrapassadas essas 16 páginas, avanço na revista, ainda não refeito do choque das afirmações do emérito casal, e deparo com o artigo da página 52, com o sugestivo título “Dormir sem cuecas. Falemos das vantagens”.

Nunca tinha lido nada sobre este cadente tema. Ainda por cima, durmo sem cuecas desde que me lembro. O que vale é que existem especialistas que percebem destas coisas.

Por exemplo, a ginecologista Cláudia Vinagre esclarece que “tanto o excesso de calor como de frio prejudicam o sono, pelo que ter roupa de cama confortável e adequada à temperatura ambiente é essencial”.

Ainda bem que há pessoas que estudam estas coisas e chegam a conclusões tão brilhantes, caso contrário, uma pessoa até podia, inadvertidamente, dormir de sobretudo no verão ou em pelota no inverno.

A dermatologista Alexandra Osório é mais ousada e acrescenta que “dormir sem roupa e acompanhado permite que o toque de pele com pele estimule a produção de oxitocina, que é precursora de outras hormonas do bem-estar”. E chegámos à malandrice. Contrariando a opinião da sua colega Vinagre, a dermatologista atira com a roupa ao chão e preconiza que durmamos todos nus, para produzirmos oxitocina. Já cheira a hormonas.

Mas vai ficar pior porque o psicólogo e sexólogo Fernando Mesquita afirma que “ao não usar pijama ou roupa interior durante o sono, existe uma maior ventilação da zona genital que poderá ajudar a prevenir algumas infeções fúngicas como é o caso da candidíase”.

Portanto, todos nus é que é bom: não só produzimos hormonas, como ainda prevenimos infeções fúngicas.

Penso que a Notícias Magazine poderia ter aproveitado para fazer algumas perguntas ao casal Cavaco, baseadas neste artigo. Dezasseis páginas e nem uma pergunta sobre como se veste o casal Cavaco na cama.

Imagino Aníbal e Maria, nus, na cama, a fabricar oxitocina e a combater os fungos. Que inspirador!

Deputado liberal nu, em teletrabalho

Uma notícia do DN de hoje deixou-me receoso.

O deputado canadiano William Amos pertence ao Partido Liberal e representa o distrito de Pontiac (Quebec), desde 2015. Há alguns dias, Amos apareceu todo nu numa reunião parlamentar online. Nessa altura, desculpou-se dizendo que a câmara do computador se tinha ligado acidentalmente.

A coisa passou.

Mas agora, o incidente foi mais grave.

William Amos foi apanhado a urinar quando participava nos trabalhos online da Câmara dos Comuns. Muito atrapalhado, o deputado disse que a sessão não era pública e que, quando estava a fazer xi-xi, não sabia que a câmara estava ligada.

Estes liberais!

Espero bem que o deputado Cotrim Figueiredo, da Iniciativa Liberal, não se lembre de fazer o mesmo por cá, argumentando que o seu Partido defende a liberdade individual e ninguém tem nada a ver com isso.

A fugir com o pé para o chinelo

Uma notícia de página inteira na secção Mundo do Diário de Notícias de hoje, esclarece-me que “Betty Batziana é mais caseira. Danae Startou é presença habitual na noite grega”.

O título da notícia diz quase tudo: “Desamor no Olimpo: como a riquíssima Sra. Varoufakis irrita a discreta Sra. Tsipras”.

Vale a pena revelar o nome da jornalista que assina este pedaço de trampa: Helena Tecedeiro.

Betty é o diminutivo da mulher de Tsipras, Peristera Batziana (com um nome destes, também eu preferia um diminutivo).

A jornalista esclarece-nos que Betty é muito discreta, pelo que, “foi assim (em segunda mão) que ficámos a saber como Betty e Alexis se conheceram no liceu, como se apaixonaram e nunca mais se separaram apesar de não terem casado.”

E o texto continua neste tom, relatando banalidades sobre a mulher de Tsipras, comparando-a com a mulher de Varoufakis.

Topem este naco: “Simples, de cara lavada e pouco amiga de cabeleireiros, a morena Betty não podia contrastar mais com a loira Danae”.

Sinceramente, Sr. Director do Diário de Notícias: se quisesse ler merdas destas, tinha comprado a Caras ou a Nova Gente!

O Nobel para Rita, já

Rita Redshoes é uma menina que canta e até já editou alguns discos de música pop, cantada em inglês (daí o apelido, que Sapatos Vermelhos soaria foleiro…)

Não satisfeita com a música, decidiu, também, escrever um livro.

Pior: decidiu publicar um livro!

rita redshoesChama-se “Sonhos de uma Rapariga Quase Normal” (edição Guerra & Paz) e o Diário de Notícias dedica-lhe, hoje, uma página inteira, com chamada de primeira página.

E essa chamada diz: «Passos Coelho pediu a Rita em casamento. E ela disse que sim».

A acompanhar esta frase bombástica, uma foto da menina, ocupando um quarto da primeira página do jornal.

Que se passa, afinal?

Afinal, foi simplesmente um sonho da Ritinha.

Pois a Ritinha lembrou-se de tomar nota dos seus sonhos e, não satisfeita com isso, vertê-los para livro e publicá-los!

Que ideia genial!

Vale a pena transcrever a prosa transcendente do livro da Rita.

«Boa tarde. Peço desculpa por incomodar, mas há coisas na vida inexplicáveis, encontros, certezas… e uma dessas coisas aconteceu-me agora mesmo quando a vi entrar. Rita, aceitas ser minha noiva?, pergunta-lhe o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho. “Sim”, responde-lhe Rita Redshoes. “Eu respondi sim! Sim… e até mesmo no próprio sonho me lembro de ter pensado que estava completamente louca”, escreve a artista, contando o que se passou na noite de 15 para 16 de fevereiro de 2014».

Felizmente, a Rita conta no livro que também sonhou com António Costa, e assim a Oposição não fica zangada…

O artigo não especifica se Rita é suficientemente democrática para ter sonhado, também, com Paulo Portas, Catarina Martins, Jerónimo de Sousa e Garcia Pereira, mas ficamos a saber que sonhou com Pinto da Costa, Obama, Maria Callas e José Rodrigues dos Santos.

Confesso que fiquei com curiosidade, não para saber o conteúdo desses sonhos, para para saber o que levou o Diário de Notícias a publicar isto, ainda por cima, no suplemento Mais Artes.

Depois da biografia em que revela que Portas se demitiu por sms, só faltava a Passos Coelho um livro de uma jovem cantora que confessa que, pelo menos simbolicamente, desejava casar com ele.

Claro que o Freud poderia explicar isto, se valesse a pena.

Não vale.

Títulos

22/2

* “Primeira governadora bissexual quer acabar com corrupção”

E é preciso ser bissexual para isso?

* “Imprensa alemã diz que Maria Luís pediu dureza a Schauble”

Dureza, ao ministro das Finanças alemão?…
Nem com Viagra!…

23/2

* “Rabejador de ouro é dos forcados de Vila Franca”

Rabejador de ouro?
Não me lixem!…

* Nani chorou depois de marcar um golo.

Está explicado porque permite que lhe continuem a chamar Nani…

* “Ex-espião pediu levantamento de segredo de Estado”

Claro que este gajo só podia ser português (e foi para espião porque não sabia fazer mais nada…)

26/2

* “Comerciantes apoiam venda de remédios em bares e quiosques”

– Olhe, por favor, um whisky duplo e um Ben-u-Ron, por favor.
– Para mim, um gin tónico e dois Kompensan…

* “Belmiro e Soares dos Santos juntos à procura de jovens talentosos”

… merceeiros libidinosos…

O Freud explica isso…

Uma leitura de alguns títulos do Diário de Notícias de hoje, permite concluir que Freud continua a fazer muita falta para explicar certas e determinadas coisas…

Vejamos…

Logo na primeira página encontramos estes títulos verdadeiramente freudianos:

“Duarte Lima é frio e «usou o filho», diz o tribunal que o condenou”

E ainda…

“Arábia Saudita: Rei escolhe filho de concubina como sucessor e provoca agitação”

Se lesse estes títulos, Freud diria que Édipo anda por aqui…

Mas há mais títulos que mereciam explicação freudiana:

“Português e ucraniana travam divórcio de 130 milhões”

“Namoro de Costa ao Livre abre a porta a arrufos”

“Bento não é o único no Banco de Portugal a estar fora com um pé dentro”

Mas o cúmulo freudiano é atingido com a notícia sobre a carta que Sócrates enviou à RTP.

Nessa carta, o ex-primeiro ministro desmente informações veiculadas pelos órgãos de comunicação, no que respeita aos 2014-12-02 20.34.54apartamentos onde viveu, em Paris.

Diz, também, que, ao contrário do que foi noticiado, a sua mãe vendeu dois apartamentos no Cacém por 100 mil euros, e não um por 175 mil euros.

E é aqui que entra Freud.

A notícia, como a foto documenta, diz:

“A minha mãe vendeu, na altura com a ajuda do meu irmão, dois apartamentos, e não um, por cem mil euros”, e adianta: “Não houve qualquer inflação de presos”.

Inflação de PRESOS?!

Ó Freud, isto é ou não um verdadeiro acto falhado?…

Ébola ataca jornalistas

Título e chamada de primeira página do Diário de Notícias de hoje:

“Planta de tabaco usada para fazer soro contra ébola – Médico aceitou submeter-se a tratamento experimental e passou a andar pelo próprio pé. Já morreram 887 pessoas”

Mas afinal, em que ficamos?

O tal soro, feito a partir da planta do tabaco, é bom ou mau (como o Banco)?

É bom porque salvou a vida ao médico ou é mau porque já morreram 887 pessoas?

Quem matou tanta gente: o soro ou o ébola?

E o médico, depois de ter tomado o soro milagroso passou a andar pelo próprio pé porque, antes, andava pelo pé de outra pessoa?

Afinal, o soro da planta do tabaco cura a paralisia?

E ainda falam dos professores que deram erros de sintaxe!…

Espeta-lhe essa alheira no coração!

Fui surpreendido por este título do Diário de Notícias de hoje:

«Passos Coelho não recebeu facas mas sim alheiras»

Mas afinal, o que vem ser esta conversa de objectos cortantes e enchidos?

Em traços largos: um empresário de Lamego, Júlio Marinheira, farto de esperar financiamento para um empreendimento hoteleiro, decidiu escrever uma carta a Passos Coelho, a expor a situação.

Segundo notícia da SIC, essa carta, dirigida ao primeiro-ministro, acabou por chegar ao Ministério da Economia e, dentro do envelope, vinha uma faca!

O DN foi investigar e falou com a segurança de São Bento.

E que lhe disseram?

«Uma dessas fontes conta que “de vez em quando, têm sido recebidas algumas encomendas, mas que não têm nada de ameaçador, como alheiras e alguns produtos de gastronomia regional”».

Ora isto é muito grave!

Uma faca destinada a Passos Coelho, para que ele corte os pulsos, por exemplo, é compreensível… agora, quem são os cabrões que lhe estão a enviar alheiras, pá?

Cambada de vendidos!

 

O palhaço do presidente da Junta

Em 21 de Novembro de 2011, a Junta da Freguesia de Silvares «decidiu mudar a fechadura das instalações da autarquia, para impedir que continuassem a ser utilizadas pelo Centro Social», segundo nos conta o Diário de Notícias.

Vai daí, o presidente do Centro Social chamou «”palhaços” aos membros da Junta de Freguesia de Silvares».

Acusado na primeira instância a 90 dias de multa, à razão de 6,20 euros diários, foi ilibado pelo Tribunal da Relação de Guimarães.

Este Tribunal, considerou que chamar palhaços aos membros da autarquia “não excede a grosseria nem a falta de educação”, tratando-se, segundo o DN, de «um mero juízo de valor que não tem aptidão para atingir a honra e a consideração do visado».

O acórdão diz ainda que a palavra “palhaço” é polissémica (toma!) e, «quando isso acontece, o tribunal “não tem de acolher o significado atribuído pelo visado tão-só por se ter considerado ofendido”».

Por outras palavras: palhaço é insulto ou elogio?

Imaginem que o arguido se virava para os autarcas de Silvares e dizia: ó meus grandes malabaristas! Ó meus domadores de leões do caneco! Ó meus ilusionistas do caralho!

Seriam insultos ou elogios?

Se dissermos que um autarca, de Silvares ou de Venda das Raparigas, é um ilusionista do caralho, é mais insultuoso do que se o chamarmos palhaço do camandro?

E não se riam, que isto é muito sério!

O Tribunal de Guimarães acrescenta que “é próprio da vida em sociedade haver alguma conflitualidade entre as pessoas (…) e o Direito não pode intervir sempre que a linguagem utilizada incomoda ou fere a susceptibilidade do visado”.

Tomem lá, palhaçotes!

Ladrão que rouba a ladrão…

Notícia do DN de hoje:

«Um homem de 59 anos assaltou por sete vezes no espaço de apenas um mês a mesma caixa de esmolas da Capela do Senhor dos Aflitos, em Valença, de onde levava dinheiro para tabaco ou bebidas».

Este delicioso parágrafo diz-nos várias coisas:

1º – que alguém contou quantas vezes o homem gamou a caixa das esmolas

2º – que, se o homem estava aflito por dinheiro, foi ao sítio certo: Capela do Senhor dos Aflitos

3º – que, se o homem gastasse o dinheiro roubado em feijão verde ou peixe ou pão, talvez não fosse notícia

Perante este desaforo, o que aconteceu?

«A GNR montou uma operação de vigilância no local e na última vez apanhou-o em flagrante, durante a madrugada»

Nunca visitei esta Capela mas, pelo que conheço das capelas de Portugal, deve ter lugar para o altar, a caixa das esmolas, o ladrão e, no máximo, dois GNR’s, desde que não tenham o abdómen muito proeminente.

Pergunto: onde se terão escondido as autoridades para surpreenderem o larápio?

A notícia prossegue:

«Fontes da paróquia contactadas pelo DN estimaram o montante destes furtos em “algumas dezenas de euros”, admitindo a necessidade de reforçar a segurança, mas sem adiantarem mais pormenores»

Reforçar a segurança?

Três GNR’s em vez de dois?

E ainda bem que “não adiantaram mais pormenores”. Não queremos que futuros ladrões conheçam os planos de segurança que vão ser implementados na Capela do Senhor dos Aflitos!

Mas isto levanta uma questão bíblica: será que os responsáveis pela Capela declaram IVA pelas esmolas? Não estarão eles a fugir ao fisco e, no fundo, a roubar o Estado?

Sendo assim, o ladrão terá cem anos de perdão, ou não?…

PS – Obrigado, correspondente do DN em Viana do Castelo, por mais uma notícia formidável!