O espião obeso

Enquanto a Mata Hari se despia para obter informações, o espião português veste-se, de fato e gravata e armazena números de telemóvel.

Enquanto o James Bond se esfalfa, salta, rola no chão, trepa, corre e sua as estopinhas, o espião português senta-se í  mesa com os seus contactos e enfarda.

Por isso, o espião português é gordo.

Além disso, o espião português é conhecido de todos e até tem página no Facebook.

No fundo, ele não espia porra nenhuma – limita-se a ter uma lista de nomes de pessoas e a dar a entender que sabe umas coisas sobre elas.

Todos nós sabemos coisas sobre algumas pessoas.

Todos nós, no fundo, somos um pouco espiões.

No entanto, o espião português ganha um ordenado por fazer o que todos nós fazemos.

E é gordo.

Quase de certeza, é hipertenso e tem o colesterol alto.

Se ainda não é, vai ser diabético.

Morrerá precocemente.

É dura, a vida de um espião…

Mesmo sendo português…

“The Girl With The Dragon Tattoo” (2011), de David Fincher

—Fincher conseguiu uma excelente adaptação do livro de Stieg Larsson. Li “Os Homens que Odeiam as Mulheres” em agosto de 2009 e ontem, ao ver o filme, recordei tudo o que li e pareceu-me que nada de importante ficou de fora.

The Girl With The Dragon Tattoo” é filmado a um ritmo alucinante, sem momentos de quebra. O ritmo é logo marcado pelo genérico, que nos dá muitas informações sobre a história, que só quem já leu o livro reconhece, e pelo tema musical que acompanha essa sucessão de imagem – a excelente “Imigrant Son”, dos Led Zeppelin, numa versão superior de Trent Reznor e Karen O.

E depois, a fotografia de Jeff Cronenweth, é cinzenta, quase a preto e branco, o que vai muito bem com a história e com a luz própria da Suécia, durante o Inverno.

Como já é público, Stieg Larsson morreu pouco depois de ter assinado o contrato para publicar a sua trilogia Millenium. Grande fumador, regressava í  redacção da sua revista, a Fox, quando deparou com o elevador avariado. Decidiu subir os sete andares e morreu, pouco depois de chegar lá acima.

Se estivesse vivo, era bem capaz de aprovar a escolha de Rooney Mara para interpretar o papel de Lisbeth Salander, a verdadeira heroína desta história.

Mara pegou bem na personagem e, para quem leu o livro, é uma Lisbeth convincente.

Quanto a Daniel Craig, também não tem grande dificuldade em personificar o jornalista/investigador Mikael Blomkvist.

Mas o principal culpado do excelente resultado final deste filme é David Fincher.

Desta vez, tenho que aplaudir quem decidiu traduzir “The Girl with the Dragon Tattoo” por “Os Homens que Odeiam as Mulheres”, que é a tradução correcta do título original do livro, que é “Man Som Hatar Kvinnor”.

O ílvaro e os feriados

O ílvaro vivia no Canadá, que é um daqueles países que não existe.

Por isso, para ele, coisas como a restauração da independência ou a implantação da República, não devem ter qualquer tipo de significado.

Aliás: devem ter o mesmo significado que a Ascenção da Nossa Senhora e o Corpo de Deus, que são os dois feriados de que a Igreja católica abdica.

Portanto, um Estado laico aceita negociar com uma determinada religião esta história dos feriados e essa facção religiosa tem o desplante de impor condições: só aceitamos que nos retirem dois feriados se vocês também tirarem dois feriados dos vossos.

Patético!

Vai daí, o ílvaro pensa: não podemos acabar com o 25 de Abril porque o Otelo era mesmo capaz de fazer outro, não podemos acabar com o 1 de Maio porque o Carvalho da Silva voltava a liderar a CGTP e nunca mais largava o osso, o 10 de Junho tem que ficar porque já foi da Raça, é do Camões, de Portugal e das Comunidades, e chateava muita gente se acabasse.

Logo, restavam esses dois feriados menores, em que se celebra, só, o facto de Portugal ser independente e o facto de vivermos numa República.

E, deixem-se de mariquices – estes dois pontos são os mais importantes da nossa identidade: sermos independentes e sermos republicanos.

Sendo assim, o ílvaro é um palerma!

A quem é que ele quer enganar?

Será que ele acredita que é com mais quatro dias de trabalho que a economia de Portugal vai disparar?

Ingénuo?

Não – populista.

Desprezível…

 

“Em Casa – Breve História da Vida Privada” (2010), de Bill Bryson

Se Bill Bryson não existisse, tinha que ser inventado. Não conheço nenhum outro autor como ele. Para além dos livros de viagens, Bryson consegue escrever sobre coisas que mais ninguém se dá ao “incómodo” de escrever. São trivialidades, curiosidades históricas, pormenores que talvez tenham mudado a história e o mundo; por exemplo, foi graças í  leitura deste livro que me apercebi da importância do desenvolvimento da anestesia na história da humanidade.

Bryson aproveita qualquer coisa para falar de uma coisa qualquer e aplica esta técnica em todos os seus livros. Pode aproveitar um passeio pelas montanhas norte-americanas para nos falar de botas de sola de borracha ou contar episódios da sua infância e, a propósito, falar de quem inventou o abre-cápsulas.

Dele, já li, sempre com muito gosto, Made in America (1994), onde aprendi, por exemplo, que foi na América que foi “inventado” o chop suey, as french fries e muita da comida “italiana”, Crónicas de Uma Pequena Ilha (1995), uma colecção de crónicas sobre o Reino Unido, Por Aqui e Por Ali (1997), a descrição bem humorada de uma caminhada de mais de três mil quilómetros pelos Apalaches norte-americanos, Notas sobre um País Grande (1998), uma série de crónicas sobre os States, Breve História de Quase Tudo (2003), cujo título diz tudo sobre quase nada e A Vida e as Aventuras do Rapaz Relâmpago (2006), onde, a propósito da sua infância, nos fala da invenção do frigorífico e da televisão, da banda desenhada e dos gelados, da Grande Guerra e do algodão doce.

—Neste At Home – A Short History of Private Life, a propósito da casa onde vive, em Inglaterra, Bryson vai-nos contando, divisão a divisão, como surgiram as várias dependências de uma habitação, como se desenvolveram as lareiras, as roupas, a iluminação, os estuques, os revestimentos, os jardins, a relação entre os senhores e os criados, a alimentação, as pragas, os animais domésticos e muitos etc.

O que mais me impressiona nos livros de Bryson é a quantidade de pormenores “insignificantes” que não encontraríamos em mais lado nenhum, fruto, certamente, de uma pesquisa incessante e, diria, obsessiva.

Os exemplos sucedem-se. O que serão, por exemplo, os rotten boroughs?

“Os rotten boroughs eram aqueles (círculos eleitorais) em que um membro do Parlamento podia ser eleito por um pequeno número de pessoas, como acontecia em Bute, na Escócia, onde apenas um residente em catorze mil tinha o direito de votar, pelo que, obviamente, poderia eleger-se a si próprio.”

E de onde vem o nome da banda rock Jethro Tull, cujo primeiro êxito foi “Living in the Past?”

Bryson revela: “Os agricultores também beneficiaram de um novo aparelho com rodas inventado, por volta de 1700, por Jethro Tull, um agricultor e pensador agrícola de Berkshire”.

A curiosidade de Bryson leva-o a coscuvilhar estatísticas, em busca de informações de que mais nenhum autor se lembraria. A propósito das escadas e dos acidentes e elas podem provocar, escreve: “Não surpreende que descer uma escada seja muito mais arriscado que subir. Quase 90% de todas as lesões ocorrem durante a descida. A probabilidade de sofrer uma queda grave é de 57 % em lanços direitos de escadas, mas apenas de 37% em escadas com algum desvio. Os patamares também de obedecer a uma determinada dimensão – o comprimento de um degrau mais o comprimento de um passo é considerado o correcto – para não quebrarem o ritmo do utilizador da escada. O ritmo interrompido é considerado o prelúdio para uma queda”.

A pouca importância que a Medicina tinha na vida das pessoas dos séculos passados, devido ao pouco que tinha para oferecer í s pessoas, está bem patente neste exemplo, que Bryson nos conta:

“Sem grande surpresa, por vezes as pessoas, levadas pela dor e por uma cautela natural em relação aos médicos, experimentavam remédios extremos em casa. Gouverneur Morris, um dos signatários da Declaração de Independência, matou-se ao forçar uma barba de baleia pelo pénis acima, para tentar limpar um bloqueio urinário.”

A propósito dos hábitos de higiene, Bryson explica que, até há bem pouco tempo, a lavagem de todo o corpo não era uma técnica muito apreciada:

“Lavar as mãos muito, os pés pouco e a cabeça nunca, era um provérbio inglês comum. A rainha Isabel, numa citação  muito referida, tomava banho sempre uma vez por mês, ‘quer ela precise ou não’. Em 1653, John Evelyn, o cronista, registou a decisão hesitante de lavar o cabelo anualmente. Robert Hooke, o cientista, lavava os pés com frequência (porque o tranquilizava), mas parece não ter passado muito tempo húmido acima dos tornozelos. No diário que manteve durante nove anos e meio, Samuel Pepys só refere uma vez que a esposa tenha tomado banho. Em França, o rei Luis XIII ficou sem tomar banho quase até ao sétimo aniversário, em 1608.”

E chega de citações. Bryson enche-nos destas pequenas informações e mantem-nos agarrados í  leitura de mais este livro, ao longo das suas mais de 500 páginas.

 

Chora, Cavaquinho, chora!…

O que passou pela cabeça de Cavaco Silva?

Mesmo que só ganhasse os 1300 da Caixa Geral de Aposentações, não lhe chegava?

O homem, porventura, paga renda no Palácio de Belém, gasta gasolina com o carro do Estado, paga telemóvel, água, luz e refeições?

Não paga.

Então, os 1300 são limpos!

Se, ainda por cima, receber mais 7 ou 8 mil do Banco de Portugal, onde é que a criatura gasta o dinheiro?

Vinho? Gajas? Jogo? Pastéis de nata?

Há muito tempo que defendo que, com aquela cara, Cavaco deve ser obstipado. Crónico.

Mas parece-me exagerado que estoire 10 mil euros de reforma em laxantes…

A menos que a esposa, a D. Maria, seja uma gastadora compulsiva. As aparências iludem… por baixo daquela capa de simplicidade, de senhora professora reformada com a iniquidade de 800 euros, pode esconder-se uma louca por sapatos, como a Imelda, ou uma doida por presépios (parece que sim…), ao ponto de estoirar a reforma toda do pobre homem.

Em qualquer caso, estados fodidos!

Champí´ de polvo

O inefável Diário de Notícias informa que começou ontem, no Porto, o julgamento do século.

Trata-se do caso do facínora que, em fevereiro do ano passado, teve a ousadia de entrar, de rompante, no Pingo Doce, da Praça Afonso V, na Invicta, e tentar roubar uma embalagem de champí´ e outra de polvo.

Felizmente, o sevandija não conseguiu efectivar o seu hediondo crime, graças í  rápida e eficaz actuação do segurança, que conseguiu apanhá-lo em flagrante.

Por esse motivo, o benemérito holandês Alexandre Soares do Santos, pí´de reaver uma embalagem de champí´ e outra de polvo, evitando um desfalque de 25 euros e 66 centimos.

A notícia não explica que estranhas e sórdidas cenas o miserável pretenderia executar com polvo e champí´, mas podemos imaginar algo de sexualmente sinistro…

O palerma do advogado do criminoso, ainda teve a ousadia de dizer que os tribunais portugueses estão atulhados com processos destes, verdadeiras bagatelas, e protestou pelo facto do Pingo Doce não ter desistido do processo.

Vê-se mesmo que este advogado não faz compras no Pingo Doce e não percebe que é graças a esta atitude que eles têm “os preços sempre baixos”…

 

Yankees maquiavélicos!

Afinal, a Cristina Kirchner não tinha cancro da tiróide!

A Argentina respirou de alívio e os médicos ficaram muito mal na fotografia: a presidente foi operada, tiraram-lhe a tiróide, suspeitando que ela tinha um cancro e, depois, a anatomia patológica veio revelar que era apenas um inocente bócio colóide, que não precisaria de cirurgia.

Sem tiróide, a pobre da Cristina lá terá que tomar medicação substitutiva para toda a vida!…

E lá se vai a teoria do Hugo Chávez, segundo a qual, os States teriam desenvolvido uma qualquer tecnologia capaz de induzir cancro nos dirigentes da América Latina.

A menos que…

A menos que a trama dos EUA seja ainda mais pérfida: desenvolveram uma tecnologia que induz nos dirigentes da América Latina a ideia de que têm cancro – e afinal, não têm!

Se assim é, Fidel de Castro foi operado ao cólon e afastou-se do Poder, desnecessariamente.

Do mesmo modo, o próprio Chávez ficou sem próstata e levou com quimioterapia e radioterapia sem necessidade nenhuma, só para os yankes se rirem da sua calvície induzida.

Motherfuckers!

O cavaleiro do pastel de nata

í“ ílvaro, pá! então tu comparas o pastel de nata ao McDonald’s?

Tu queres obrigar a malta a comer pastéis de nata com batatas fritas e ketchup?

Estás a gozar com a malta, ílvaro!

O raça do canadiano!

O que é que te deu na cabeça para propores a exportação de pastéis de nata como solução para a crise?

O que se segue?

O pastel de bacalhau, as tripas, a açorda?

És mesmo um papa-açorda, ílvaro!

Agora que deixaste de usar óculos, parece que ainda estás a ver pior as coisas…

Mereces que te polvilhem a careca com canela e te dêem uma grande dentada nessa cabeça doida!

“A Breve e Assombrosa Vida de Oscar Wao”, de Junot Diaz (2007)

Junot Diaz é um jovem escritor, natural da República Dominicana (nasceu em 1968) e este romance é o seu primeiro trabalho de fí´lego, e logo ganhou o Prémio Pulitzer de 2008.

—O romance conta a história da vida, breve, de Oscar, um dominicano obeso e virgem, que não consegue cumprir a tradição machista dos nascidos em Santo Domingo. Tímido e envergonhado pela sua obesidade, Oscar mantém-se afastado das raparigas e embrenhado nos heróis da ficção científica e da banda desenhada.

Paralelamente, Diaz aproveita para nos transmitir o medo, a repressão, o arbítrio da ditadura de Trujillo, El Jefe, que dominou a República Dominicana entre 1930 e 1961. Trujillo era assim uma espécie de Salazar das Caraíbas e a sua ditadura fez com que muitos dominicanos emigrassem para os Estados Unidos.

A propósito de Trujillo, diz o autor:

«Perguntem a qualquer um dos vosso familiares mais velhos e eles dir-vos-ão: o Trujillo pode ter sido um Ditador, mas era um Ditador dominicano, o que é um outro modo de dizer que era o Principal Bellaco do País. Acreditava que, na República Dominicana, todas as ratas eram, literalmente, suas. É um facto bem documentado que, na República Dominicana do Trujillo, se uma pessoa pertencesse a uma dada classe e deixasse uma filha jeitosa perto do El Jefe, numa semana já ela estava a mamar o coiso dele como uma qualquer profissional e não haveria nada que se pudesse fazer acerca disso!»

Esta era a grande diferença entre Trujillo e Salazar, já que o nosso ditador foi muito mais discreto com as mulheres, e se alguma lhe mamou o coiso, é coisa que desconhecemos…

Livro interessante, mas não muito…

Mistérios da actualidade

Passos Coelho apregoou, durante a campanha eleitoral, que não iria fazer como os anteriores governantes e que não iríamos assistir í s nomeações para cargos públicos dos amigos do Partido.

Viu-se nos casos da Caixa Geral de Depósitos e da EDP e viu-se, mais uma vez, nas íguas de Portugal. O Governo acabou de nomear para a administração das íguas, Manuel Frexes, actual presidente da Câmara do Fundão, pelo PSD e ílvaro Castelo-Branco, vice-presidente da Câmara do Porto, pelo CDS.

Entretanto, o Banco de Portugal contradiz o Gaspar das Finanças, dizendo que vão ser precisas mais medidas de austeridade.

O mesmo Banco de Portugal decidiu manter os subsídios de férias e de Natal dos seus funcionários, bem como dos seus reformados, entre os quais se conta Cavaco Silva.

Finalmente, Eduardo Catroga, o tal que elaborou o programa do actual Governo e que está reformado, recebendo uma pensão de 9600 euros mensais, foi nomeado presidente do Conselho de Supervisão da EDP, com o salário de 45 mil euros por mês.

Peço desculpa mas, nisto tudo, há alguma coisa que me escapa.