O Ventura quer três Salazares

Em mais uma entrevista televisiva (são já mais de 523 desde janeiro deste ano), o líder do Chega, André Ventura, disse que serão precisos três Salazares para acabar com a podridão que vigora neste país.

No dia seguinte, interpelado pelos jornalistas, explicou que aquela foi apenas uma expressão, que até a sua avó já costumava dizer.

Ficámos, portanto, a saber, que os sentimentos fascistóides são usuais na família Ventura, pelo menos, há três gerações.

Para eles, um Salazar nunca é suficiente.

Três seria a conta certa!

Três Pides/DGS. Três prisões de Caxias, três Tarrafais, três Fortes de Peniche, três vezes mais analfabetos, três vezes mais mortos nas guerras coloniais, três vezes mais versos do Afonso Lopes Vieira, três vezes mais beatas de cabeça tapada a beijar a mão dos patriarcas, três vezes mais ballet rose, com meninas sentadas ao colo de deputados da União Nacional, três vezes mais Tenreiros com as suas bilhas de gás Cidla, três vezes mais Marchuetas (que o Ventura nem sabe quem foi), três vezes mais Américos Tomás a cortar fitas, três vezes mais jornais, filmes e livros censurados, três vezes mais mulheres a morrer, vítimas de abortos clandestinos, três vezes mais trabalhadores sem direito à reforma, três vezes mais crianças a aprender os rios de Moçambique, três vezes mais… três vezes mais…

Apetecia dizer que, em vez de três Salazares, o que nós precisaríamos para acabar com o Ventura era, talvez, outro 25 de Abril!

A avó do Ventura queria dois Salazares

O André Ventura é um cómico.

Melhor: o André Ventura é um palhaço.

Dizem os dicionários que palhaço é um actor que tem a intenção de divertir o público e basta ver Ventura, quer no Parlamento, quer agora na campanha eleitoral, para perceber que é essa a sua intenção.

Ao se pôr aos saltinhos, quando alguém da comitiva diz para se porem todos aos saltos, quando fala aos jornalistas, a desdizer o que o seu cabeça de lista acabou de dizer, ao escutar, com aquele ar contristado, o depoimento de um imigrante, voltando-lhe logo as costas – em tudo, Ventura tenta fazer palhaçada.

Mas a maior de todas foi quando se referiu à avó.

Não conheço a avozinha do Ventura, nem sei se a senhora ainda será viva. Caso esteja viva, seria bom que algum jornalista procurasse entrevistá-la para obter a sua confirmação sobre as afirmações do seu neto. Disse o Ventura que a avó costumava dizer que “isto só ia lá com dois Salazares”.

Coim aquele ar sorridente que ele gosta de afivelar, lambendo as beiças com frequência, como se estivesse permanentemente com sede, Ventura concluiu, dizendo que, agora, já não eram precisos dois Salazares porque havia um Ventura.

Ficámos, então, a saber que o Ventura acha que vale por dois Salazares. Portanto, se o Botas esteve no Poder 36 anos, teríamos de aturar o Ventura 72 anos!

Ventura, sem qualquer ternura/ merda, merda, merda pura

André, quer queiras, quer não/ terás de voltar para o Algueirão…

A melancolia do Mel

MEL é a sigla de Movimento Europa e Liberdade.

Trata-se de um grupo de senhores que se afirmam de Direita e que se juntam para pensar Portugal.

É sempre bonito pensar Portugal…

A coisa é organizada por um tipo chamado Marrão, e no palco desfilaram os líderes do PSD, do CDS, da Iniciativa Liberal e até do Chega.

No entanto, para a comunicação social, a estrela do MEL foi Passos Coelho, agora com novo look: cabeça rapada, deixando ver um crânio de pepino, e barba de cinco dias.

Rui Rio foi o último a discursar, como que em apoteose, mas é como se estivesse a fazer o seu elogio fúnebre.

Coelho vai ser o salvador da Direita. Ele, que inventou o Ventura, espera calmamente pela hecatombe eleitoral do PSD para regressar, cheio de glória, e liderar uma imensa coligação, onde caberão todos (caberão, cabrão…) – incluindo aquele senhor que, no MEL, disse que o Estado Novo resolveu o problema do analfabetismo e baixou a taxa de mortalidade infantil.

Cuidem-se, que tempos tenebrosos se aproximam…

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Foi Salazar que inventou os swap

Como toda a gente sabe, tudo o que está a acontecer a Portugal, desde o desemprego í  má colheita de cerejas da Gardunha, é culpa do Sócrtes.

Mas os swap, não.

Descobriram agora que, já em 2004, o Citibank tentou impingir swap ao governo de Santana Lopes.

Mas também não foi Santana Lopes o inventor dos swap.

O inventor dos swap foi Salazar, que aceitou o ouro que os nazis roubaram aos judeus, em troca de divisas.

E isso foi um swap do caraças!

O melhor povo do mundo

Gaspar é um ministro sádico.

Primeiro, informa que nos vai ao bolso, com um enorme aumento de impostos; depois, passa-nos a mão pelo pelo, dizendo que somos o melhor povo do mundo.

O seu homónimo rei mago, ofereceu mirra a Jesus; Gaspar, o ministro, oferece-nos uma porra!

Ele quer que fiquemos mais pobres.

Ao ouvi-lo, veio-me í  memória aquela cantiga reaccionária da Amália, que dizia assim: “A alegria da pobreza/ está nesta grande riqueza/ de dar, e ficar contente”.

Pobres mas honrados.

Cheira a Salazar.

Gaspar é sádico.

Fode-nos e depois dá-nos beijinho…

Salazar branco ou tinto?

O Público de hoje dedica duas páginas í  história do possível lançamento de um vinho de marca Salazar.

Claro que a ideia é um completo disparate.

É como se os alemães lançassem uma salsicha de marca Hitler, os chilenos escolhessem Pinochet para marca de um cabernet sauvignon, os espanhóis fabricassem um queijo de marca Franco ou os italianos produzissem pizzas Mussolini.

Mas o presidente da câmara de Santa Comba Dão não percebe a razão da polémica.

Do alto da sua elevada cultura, diz que nunca sentiu “pinga de curiosidade” pelo ditador e que só recentemente leu alguma coisa sobre ele, por dever de ofício!

E acrescenta, douto: «mas passa pela cabeça de alguém que eu queira vender a ideologia? Eu quero é vender o vinho!»

Nisto, estamos de acordo porque Lourenço, apesar de ter sido eleito pelo PSD (ou por isso mesmo…), não deve ter um grama de ideologia naquela cabeça!

Salazar era uma gaja!

Na quarta-feira í  noite, na TVI 24, no programa Prova dos 9, foi revelado este grande segredo: Salazar, afinal, era uma mulher!

No dito programa, Santana Lopes exaltava as «virtudes da resistência, paciência e abnegação do povo português».

Perante esta exaltação nacionalista, o bloquista Fernando Rosas comentou: «parece o Salazar a falar…»

E o Sr. Lopes contra-atacou, exclamando: «Salazar é a tua tia!»

Ora, com esta afirmação, o Sr. Lopes revela quatro coisas: a primeira é que Salazar é tia de Fernando Rosas, a segunda, é que Salazar ainda está vivo, a terceira, não interessa, e a quarta, é que Salazar, esse grande ditador, afinal, era uma gaja!

Esta revelação muda a História da Europa Ocidental.

Se Salazar, afinal, era um gaja, quem nos garante que Hitler não terá sido transexual?

É fácil rimar com Vitor Gaspar

O inefável director de O Sol, José António Saraiva, no seu editorial de ontem, escreve sobre Vitor Gaspar e, a propósito do ministro das Finanças, recorda Salazar.

Também Salazar adoptou medidas duras para endireitar as Finanças e foi muito contestado. Por três vezes se demitiu e por três vezes foi reconduzido, sempre com mais poderes.

Até que chegou a Presidente do Conselho.

Gaspar também é contestado. Pela Oposição, o que é natural, mas também por alguns sectores da coligação, que o acham demasiado liberal.

Parece que o Cavaco também não vai muito í  bola com o Gaspar.

Pudera! O tipo cortou-lhe a reforma, aumentou-lhe o imposto e até lhe quer sacar os subsídios!

Claro que Belém desmente, Passos Coelho diz que não perde nem um minuto com essas especulações, mas toda a gente sabe que não há fumo sem fogo.

E Gaspar?

Gaspar passa incólume, entre os pingos da chuva, exibe o seu peculiar sorriso, esfrega as mãos e, no seu modo pausado de falar, vai afirmando que é assim, cortando salários, eliminando subsídios, aumentando impostos, encarecendo a saúde e os transportes, obliterando feriados, tirando dias de férias, empobrecendo, secando e entristecendo os portugueses, que é assim que vamos voltar aos mercados, erguendo-nos das cinzas, com um novo fí´lego, mostrando ao Mundo que somos capazes!

Pobres mas honrados!

Mas onde é que eu já ouvi isto?

De facto, Gaspar rima mesmo com Salazar…

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“A Breve e Assombrosa Vida de Oscar Wao”, de Junot Diaz (2007)

Junot Diaz é um jovem escritor, natural da República Dominicana (nasceu em 1968) e este romance é o seu primeiro trabalho de fí´lego, e logo ganhou o Prémio Pulitzer de 2008.

—O romance conta a história da vida, breve, de Oscar, um dominicano obeso e virgem, que não consegue cumprir a tradição machista dos nascidos em Santo Domingo. Tímido e envergonhado pela sua obesidade, Oscar mantém-se afastado das raparigas e embrenhado nos heróis da ficção científica e da banda desenhada.

Paralelamente, Diaz aproveita para nos transmitir o medo, a repressão, o arbítrio da ditadura de Trujillo, El Jefe, que dominou a República Dominicana entre 1930 e 1961. Trujillo era assim uma espécie de Salazar das Caraíbas e a sua ditadura fez com que muitos dominicanos emigrassem para os Estados Unidos.

A propósito de Trujillo, diz o autor:

«Perguntem a qualquer um dos vosso familiares mais velhos e eles dir-vos-ão: o Trujillo pode ter sido um Ditador, mas era um Ditador dominicano, o que é um outro modo de dizer que era o Principal Bellaco do País. Acreditava que, na República Dominicana, todas as ratas eram, literalmente, suas. É um facto bem documentado que, na República Dominicana do Trujillo, se uma pessoa pertencesse a uma dada classe e deixasse uma filha jeitosa perto do El Jefe, numa semana já ela estava a mamar o coiso dele como uma qualquer profissional e não haveria nada que se pudesse fazer acerca disso!»

Esta era a grande diferença entre Trujillo e Salazar, já que o nosso ditador foi muito mais discreto com as mulheres, e se alguma lhe mamou o coiso, é coisa que desconhecemos…

Livro interessante, mas não muito…

Não se importa de repetir?

Cavaco Silva, referindo-se ao Estado Novo:

“Eu e a minha mulher com certeza que não pensávamos bem do regime”.

Não pensavam bem?…

Tipo: eu e a minha mulher achávamos que o Exmo. Sr. Dr. Salazar era pouco simpático?

Ou tipo: eu e a minha mulher achávamos que aquilo dos presos políticos serem torturados era um pouco incómodo?

O facto do Alegre ter decidido atacar o Cavaco, dizendo, de certo modo, que ele colaborou com o antigo regime, não foi muito elegante, mas a resposta do Cavaco é, no mínimo, medíocre.

É o presidente que temos…