A melancolia do Mel

MEL é a sigla de Movimento Europa e Liberdade.

Trata-se de um grupo de senhores que se afirmam de Direita e que se juntam para pensar Portugal.

É sempre bonito pensar Portugal…

A coisa é organizada por um tipo chamado Marrão, e no palco desfilaram os líderes do PSD, do CDS, da Iniciativa Liberal e até do Chega.

No entanto, para a comunicação social, a estrela do MEL foi Passos Coelho, agora com novo look: cabeça rapada, deixando ver um crânio de pepino, e barba de cinco dias.

Rui Rio foi o último a discursar, como que em apoteose, mas é como se estivesse a fazer o seu elogio fúnebre.

Coelho vai ser o salvador da Direita. Ele, que inventou o Ventura, espera calmamente pela hecatombe eleitoral do PSD para regressar, cheio de glória, e liderar uma imensa coligação, onde caberão todos (caberão, cabrão…) – incluindo aquele senhor que, no MEL, disse que o Estado Novo resolveu o problema do analfabetismo e baixou a taxa de mortalidade infantil.

Cuidem-se, que tempos tenebrosos se aproximam…


Foi Salazar que inventou os swap

Como toda a gente sabe, tudo o que está a acontecer a Portugal, desde o desemprego à má colheita de cerejas da Gardunha, é culpa do Sócrtes.

Mas os swap, não.

Descobriram agora que, já em 2004, o Citibank tentou impingir swap ao governo de Santana Lopes.

Mas também não foi Santana Lopes o inventor dos swap.

O inventor dos swap foi Salazar, que aceitou o ouro que os nazis roubaram aos judeus, em troca de divisas.

E isso foi um swap do caraças!

O melhor povo do mundo

Gaspar é um ministro sádico.

Primeiro, informa que nos vai ao bolso, com um enorme aumento de impostos; depois, passa-nos a mão pelo pelo, dizendo que somos o melhor povo do mundo.

O seu homónimo rei mago, ofereceu mirra a Jesus; Gaspar, o ministro, oferece-nos uma porra!

Ele quer que fiquemos mais pobres.

Ao ouvi-lo, veio-me à memória aquela cantiga reaccionária da Amália, que dizia assim: “A alegria da pobreza/ está nesta grande riqueza/ de dar, e ficar contente”.

Pobres mas honrados.

Cheira a Salazar.

Gaspar é sádico.

Fode-nos e depois dá-nos beijinho…

Salazar branco ou tinto?

O Público de hoje dedica duas páginas à história do possível lançamento de um vinho de marca Salazar.

Claro que a ideia é um completo disparate.

É como se os alemães lançassem uma salsicha de marca Hitler, os chilenos escolhessem Pinochet para marca de um cabernet sauvignon, os espanhóis fabricassem um queijo de marca Franco ou os italianos produzissem pizzas Mussolini.

Mas o presidente da câmara de Santa Comba Dão não percebe a razão da polémica.

Do alto da sua elevada cultura, diz que nunca sentiu “pinga de curiosidade” pelo ditador e que só recentemente leu alguma coisa sobre ele, por dever de ofício!

E acrescenta, douto: «mas passa pela cabeça de alguém que eu queira vender a ideologia? Eu quero é vender o vinho!»

Nisto, estamos de acordo porque Lourenço, apesar de ter sido eleito pelo PSD (ou por isso mesmo…), não deve ter um grama de ideologia naquela cabeça!

Salazar era uma gaja!

Na quarta-feira à noite, na TVI 24, no programa Prova dos 9, foi revelado este grande segredo: Salazar, afinal, era uma mulher!

No dito programa, Santana Lopes exaltava as «virtudes da resistência, paciência e abnegação do povo português».

Perante esta exaltação nacionalista, o bloquista Fernando Rosas comentou: «parece o Salazar a falar…»

E o Sr. Lopes contra-atacou, exclamando: «Salazar é a tua tia!»

Ora, com esta afirmação, o Sr. Lopes revela quatro coisas: a primeira é que Salazar é tia de Fernando Rosas, a segunda, é que Salazar ainda está vivo, a terceira, não interessa, e a quarta, é que Salazar, esse grande ditador, afinal, era uma gaja!

Esta revelação muda a História da Europa Ocidental.

Se Salazar, afinal, era um gaja, quem nos garante que Hitler não terá sido transexual?

É fácil rimar com Vitor Gaspar

O inefável director de O Sol, José António Saraiva, no seu editorial de ontem, escreve sobre Vitor Gaspar e, a propósito do ministro das Finanças, recorda Salazar.

Também Salazar adoptou medidas duras para endireitar as Finanças e foi muito contestado. Por três vezes se demitiu e por três vezes foi reconduzido, sempre com mais poderes.

Até que chegou a Presidente do Conselho.

Gaspar também é contestado. Pela Oposição, o que é natural, mas também por alguns sectores da coligação, que o acham demasiado liberal.

Parece que o Cavaco também não vai muito à bola com o Gaspar.

Pudera! O tipo cortou-lhe a reforma, aumentou-lhe o imposto e até lhe quer sacar os subsídios!

Claro que Belém desmente, Passos Coelho diz que não perde nem um minuto com essas especulações, mas toda a gente sabe que não há fumo sem fogo.

E Gaspar?

Gaspar passa incólume, entre os pingos da chuva, exibe o seu peculiar sorriso, esfrega as mãos e, no seu modo pausado de falar, vai afirmando que é assim, cortando salários, eliminando subsídios, aumentando impostos, encarecendo a saúde e os transportes, obliterando feriados, tirando dias de férias, empobrecendo, secando e entristecendo os portugueses, que é assim que vamos voltar aos mercados, erguendo-nos das cinzas, com um novo fôlego, mostrando ao Mundo que somos capazes!

Pobres mas honrados!

Mas onde é que eu já ouvi isto?

De facto, Gaspar rima mesmo com Salazar…

“A Breve e Assombrosa Vida de Oscar Wao”, de Junot Diaz (2007)

Junot Diaz é um jovem escritor, natural da República Dominicana (nasceu em 1968) e este romance é o seu primeiro trabalho de fôlego, e logo ganhou o Prémio Pulitzer de 2008.

O romance conta a história da vida, breve, de Oscar, um dominicano obeso e virgem, que não consegue cumprir a tradição machista dos nascidos em Santo Domingo. Tímido e envergonhado pela sua obesidade, Oscar mantém-se afastado das raparigas e embrenhado nos heróis da ficção científica e da banda desenhada.

Paralelamente, Diaz aproveita para nos transmitir o medo, a repressão, o arbítrio da ditadura de Trujillo, El Jefe, que dominou a República Dominicana entre 1930 e 1961. Trujillo era assim uma espécie de Salazar das Caraíbas e a sua ditadura fez com que muitos dominicanos emigrassem para os Estados Unidos.

A propósito de Trujillo, diz o autor:

«Perguntem a qualquer um dos vosso familiares mais velhos e eles dir-vos-ão: o Trujillo pode ter sido um Ditador, mas era um Ditador dominicano, o que é um outro modo de dizer que era o Principal Bellaco do País. Acreditava que, na República Dominicana, todas as ratas eram, literalmente, suas. É um facto bem documentado que, na República Dominicana do Trujillo, se uma pessoa pertencesse a uma dada classe e deixasse uma filha jeitosa perto do El Jefe, numa semana já ela estava a mamar o coiso dele como uma qualquer profissional e não haveria nada que se pudesse fazer acerca disso!»

Esta era a grande diferença entre Trujillo e Salazar, já que o nosso ditador foi muito mais discreto com as mulheres, e se alguma lhe mamou o coiso, é coisa que desconhecemos…

Livro interessante, mas não muito…

Não se importa de repetir?

Cavaco Silva, referindo-se ao Estado Novo:

“Eu e a minha mulher com certeza que não pensávamos bem do regime”.

Não pensavam bem?…

Tipo: eu e a minha mulher achávamos que o Exmo. Sr. Dr. Salazar era pouco simpático?

Ou tipo: eu e a minha mulher achávamos que aquilo dos presos políticos serem torturados era um pouco incómodo?

O facto do Alegre ter decidido atacar o Cavaco, dizendo, de certo modo, que ele colaborou com o antigo regime, não foi muito elegante, mas a resposta do Cavaco é, no mínimo, medíocre.

É o presidente que temos…

Morte solidária

Continuando a remexer no baú das minhas recordações, que comecei a juntar com alguma ordem, a partir dos meus 18 anos, encontrei este recorte do Diário de Notícias que é, simultaneamente, delicioso e assustador.

Trata-se de uma pequena notícia sobre uma sessão solene na então Assembleia Nacional, realizada a 28 de Julho de 1971.

Nessa sessão, foi evocada a memória de Augusto de Castro, que foi director do DN durante muitos anos e que falecera dias antes.

O último parágrafo da notícia diz:

«(Augusto de Castro) Quis estar junto de Salazar, o seu amigo de sempre, no dia em que a Nação assinala o primeiro aniversário da sua morte. Maior homenagem não lhe podia prestar».

Por outras palavras, a dedicação à causa salazarista era tanta, que Augusto de Castro, fez um esforço para falecer naquele exacto dia, de modo a poder ir festejar o primeiro aniversário da morte do ditador, sentadinho ao lado dele – presume-se que no Outro Mundo, ou melhor, no Céu, porque Salazar era tão bonzinho que só podia estar no Céu.

À primeira vista, este texto pode parecer inocente, beato e até infantil, mas revela bem a fantasia em que Portugal estava mergulhado: toda uma nação dependente de um homem providencial, que zelou por nós durante 40 anos – e continuava a zelar, lá de cima, do Céu e, agora, tendo por companhia, o director do Diário de Notícias.

Era de ter medo. Muito medo…

300 Salazares

O meu cunhado Fernando, que é advogado, foi convidado a dar a sua opinião profissional sobre alguns casos de violência doméstica, no programa da TVI, “Você na TV”.

Aceitou e safou-se muito bem, explicando o que tinha que explicar, de um modo simples e directo. Não tenho dúvida de que os espectadores perceberam o que ele quiz dizer e ficaram mais esclarecidos.

Eu nunca vejo a TVI, excepto se transmite algum jogo do Benfica. Mas hoje abri uma excepção, para ver o Fernando.

Claro que se pode questionar a participação num programa tão reles, como o do Goucha. Valerá a pena? Não será até imoral participar numa coisa tão abjecta como aquela?

Acho que o Fernando fez bem em aceitar. Pelo menos, ele fez o contraponto ao chorrilho de asneiras que foram os testemunhos dos outros convidados e as parvoíces populistas do Goucha. Pelo menos, o Fernando explicou que a decisão de libertar alguém a meio da pena é tomada por um juiz, não é nada de automático, que é não é por isso que se evita ou se acelera o cometimento de mais um crime, etc. Foi ponderado, esclarecedor e correcto.

No entanto, Fernando, aquilo são pérolas a porcos.

O tio da jovem que foi assassinada pelo ex-marido, apesar de demonstrar grande consternação pela sua perda, não deixou de afirmar que o que o país precisa é de “300 Salazares”!

Por que carga de água o pobre do homem haveria de querer 300 Salazares?

A primeira coisa que um Salazar (e não eram preciso 300) faria era calar o homem – e, de caminho, calava também o Goucha, o que não deixaria de ser uma vantagem…