O milagre das Glock

Conta a lenda que o dono de uma empresa avícola, de nome Manuel Gonçalves das Neves, aceitou exportar para a Guiné-Bissau, umas quantas pistolas Glock e respectivas munições, gamadas à PSP por João Paulino e António Laranjinha, especialistas na matéria.

Preparando-se para enviar para a Guiné um carregamento de ovos produzidos pelas galinhas da sua empresa, foi abordado pela Judiciária, que o terá interrogado:

“Manuel, que levais aí, senhor?”

“São ovos, senhor polícia, são ovos!…” – exclamou Manuel.

Foram ver e eram mesmo ovos!

Só que, entre os ovos, estavam também carregadores e munições para as Glock fanadas.

E o empresário foi preso, o que foi uma injustiça, já que ele pretendia, apenas, ajudar os guineenses a defenderem-se.

Forbrydelsen, 3ª temporada

Forbrydelsen é uma série televisiva dinamarquesa, criada por Soren Sveistrup e que já vai na 4ª temporada.

forbrydelsenA 3ª temporada passou recentemente no AXN Black, gravei-a e tenho estado a ver, à velocidade de um episódio por noite, para fazer render o peixe, porque a vontade é ver os episódios todos de seguida.

Nunca pensei que pudesse gostar de uma série policial dinamarquesa, depois de todas as séries norte-americanas que já papei.

A principal personagem é uma desconcertante Sarah Lund (interpretada por Sofie Grabol), inspectora da polícia de Copenhaga; desconcertante porque é a perfeita anti-heroína. Surge sempre com os cabelos desgrenhados, sem maquilhagem, de jeans e faz os dez episódios da temporada com duas ou três camisolas de lã. Tem uma vida particular destroçada, mora num apartamento minúsculo, desarrumado, desconfortável, escuro e quase sem mobília. Acho que nunca a vi rir.

As histórias de Forbrydelsen são complexas, envolvendo, para além de assassínios e/ou raptos e/ou violações, uma intrincada teia política com relações também complicadas com empresas e empresários.

Num momento em que o Cavaco se farta de apelar ao compromisso entre os principais partidos políticos, dando, como exemplo, a maior parte das democracias europeias, é curioso ver, neste série, como é que os três ou quatro principais partidos dinamarqueses se chantageiam, subornam, aldrabam, para conseguir alianças pré e post-eleitorais. E como são perigosas as relações entre alguns elementos desses partidos e os grandes empresários e como, por vezes, as suas acções roçam a criminalidade.

Para complicar tudo isto, as tensão sociais também são abordadas pela série, com inclusão, por exemplo, do fenómeno da imigração.

Sarah Lund move-se no meio desta teia complicada com aparente dificuldade; não se socorre de alta tecnologia, tipo CSI, para chegar onde quer. Vai andando, de pista em pista, socorrendo-se da sua intuição e de ser capaz de estar atenta a pequenos pormenores que passam despercebidos a outros.

Aconselho.

A crise chega a todos

O Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) mostra que a crise também se faz sentir nas forças da ordem.

De facto, a PSP, a GNR, a PJ e o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, em conjunto, realizaram, em 2011, apenas 71 898 detenções – menos 16 280 do que em 2010.

No que respeita à emancipação feminina, também neste capítulo pouco se evoluiu. Segundo o RASI, apenas 11,5% dos detidos em 2011 eram do sexo feminino, enquanto 88,5% eram homens.

Não há dúvida que as autoridades têm que fazer um esforço para prender mais mulheres.

Cumprindo o conselho do primeiro-ministro, 2 481 portugueses decidiram ser presos no estrangeiro, poupando, assim, muitos milhares de euros ao erário público nacional.

Também as buscas diminuíram em 2011, em relação ao ano anterior – 9 172 e 10 156, respectivamente. O RASI não revela as razões desta diminuição, mas pode estar relacionada com o corte de horas extraordinárias aos agentes da lei, que assim tiveram menos tempo para andar à procurar dos bandidos.

Mas o mais preocupante, sem dúvida, é a diminuição do número de detenções.

Notem que em 2011, a média diária de detenções foi apenas de 196.

Já viram quantos anos vão ser precisos para prender todos os ladrões portugueses?

Champô de polvo

O inefável Diário de Notícias informa que começou ontem, no Porto, o julgamento do século.

Trata-se do caso do facínora que, em fevereiro do ano passado, teve a ousadia de entrar, de rompante, no Pingo Doce, da Praça Afonso V, na Invicta, e tentar roubar uma embalagem de champô e outra de polvo.

Felizmente, o sevandija não conseguiu efectivar o seu hediondo crime, graças à rápida e eficaz actuação do segurança, que conseguiu apanhá-lo em flagrante.

Por esse motivo, o benemérito holandês Alexandre Soares do Santos, pôde reaver uma embalagem de champô e outra de polvo, evitando um desfalque de 25 euros e 66 centimos.

A notícia não explica que estranhas e sórdidas cenas o miserável pretenderia executar com polvo e champô, mas podemos imaginar algo de sexualmente sinistro…

O palerma do advogado do criminoso, ainda teve a ousadia de dizer que os tribunais portugueses estão atulhados com processos destes, verdadeiras bagatelas, e protestou pelo facto do Pingo Doce não ter desistido do processo.

Vê-se mesmo que este advogado não faz compras no Pingo Doce e não percebe que é graças a esta atitude que eles têm “os preços sempre baixos”…

 

O estranho caso do cofre da GNR

A notícia saiu hoje, no Diário de Notícias, mais ou menos escondida, na página 22, por baixo de “Bombeiros ameaçam deixar de combater fogos” e ao lado de “Discussão entre surdos-mudos acaba à facada”.

O título é: “Desapareceu cofre da GNR”.

E um tipo interroga-se: mas que raio se passa neste país? Surdos-mudos acabam uma discussão à facada, os bombeiros ameaçam deixar de apagar os fogos e a GNR é roubada?

Parece que sim…

Foi na GNR de Quarteira.

Diz a notícia: «o desaparecimento do cofre foi detetado logo às primeiras horas da manhã de ontem, na altura em que num militar ia efetuar o depósito no banco. A pequena caixa de segurança encontrava-se arrumada no interior de um armário, numa zona de acesso restrito a militares».

Segundo a notícia, o comando da GNR desconfia de um dos guardas. Genial!

No entanto, diz o tenente-coronel Luis Sequeira, “se as investigações nos derem indícios de furto praticado por alguém externo, vamos participar ao Ministério Público e damos início a um outro tipo de investigação.”

Quer dizer: a GNR de Quarteira admite a possibilidade de alguém ter entrado, sorrateiramente, nas suas instalações e ter furtado o cofre.

Ora, se a própria GNR admite poder ser assaltada, estamos feitos!

Ditosa Pátria que tão valorosos soldados tem como guardiões!

“Castle” – 3ª temporada

Richard Castle (Nathan Fillion) é um escritor de livros policiais de grande êxito popular que começa a colaborar com a polícia, depois de alguns casos de homicídio se parecerem muito com os argumentos dos seus livros.

Fica adstrito a uma equipa de detectives chefiada por Kate Beckett (Stana Katic), que acaba por inspirar a Castle a personagem de Niki Heat, nova heroína dos seus romances.

Esta é a base para a série Castle, da ABC, estreada em 2009, e criada pelo argumentista Andrew W. Marlowe (nome de detective…).

Um dos atractivos da série é a tensão erótica entre Castle e Beckett, que faz lembrar, um pouco, a que existia entre Bruce Willis e Cybill Shepherd, na série Moonlighting.

Apesar de ser um grande canastrão, ou talvez por isso mesmo, Castle acaba sempre por dar uma sugestão que leva à descoberta do assassino.

É uma série ligeira, sem grandes pretensões e que dispõe bem, sem aleijar a inteligência.

Dexter – 4 temporada (2009)

Dexter é uma das minhas séries preferidas, mas deve ser vista com parcimónia.

São 12 episódios mas, se os virmos à razão de um por dia, 12 dias seguidos, arriscamos uma depressão reactiva nas semanas seguintes.

Durante o dia, Dexter Morgan é o especialista em sangue na Miami Police mas, durante a noite, é um serial killer muito especial, que só mata e esquarteja os bad guys.

Michael C. Hall compõe um psicopata perfeito e a sua performance, por si só, faz com que valha a pena ver a série. Mas os argumentos também são muito bons e as personagens secundárias, muito ricas.

Nesta 4ª temporada, para além de despachar um bandido por episódio, Dexter ainda tem que se preocupar com um perigoso psicopata, conhecido por Trinity, e superiormente composto por John Lithgow.

O último episódio desta temporada é devastador e, embora goste muito da série, e embora já tenha a 5ª temporada pronta para ser vista, tenho que descansar um pouco do clima pesado que Dexter impõe.

Milagres

Telejornal da Sic:

Um homem, numa igreja, em Espanha, deu um tiro na cabeça de uma mulher grávida em fim de tempo. Inopinadamente. A seguir, meteu o cano da pistola na boca e suicidou-se.

A emergência médica chegou, confirmou o óbito da grávida, fez uma cesariana e o bebé nasceu, saudável.

A jornalista, dando voz aos crentes que estavam na igreja e que assistiram à cena, diz que todos concordaram que se tratou de um milagre.

O que foi milagre – a morte da mãe ou o nascimento do filho?

Deus estava distraído, no momento em que o homem deu o tiro na cabeça da grávida e depois, para compensar, ajudou os médicos a salvarem a criança?

Notícia seguinte:

Na Austrália, um ultra-leve chocou contra uma roda gigante de um feira. Os dois ocupantes da aeronave e duas crianças de 9 e 11 anos ficaram encarcerados e o salvamento de todos demorou horas.

Novamente, a jornalista (não posso afirmar se foi a mesma), diz que houve milagre.

Se calhar, Deus estava ocupado a salvar estas quatro pessoas na Austrália, distraiu-se e, quando deu por isso, já o louco tinha morto a grávida e Nosso Senhor só foi a tempo de salvar a criança…

Mas milagre a sério é esta outra notícia:

Em Portugal, cerca de 500 médicos já mortos, continuam a figurar nos registos oficiais e alguns deles ainda passam receitas!

Isto sim, é um milagre do caraças!

Wright under our beards

O simpático sr. Jorge dos Santos, de 68 anos e um sotaque engraçado, era afinal um foragido procurado pelo FBI há 40 anos.

Vivendo tranquilamente numa pequena localidade de Sintra, o sr. Jorge, isto é, George Wright, não era apenas o vizinho prestável, mas sim um tipo condenado a 30 anos de cadeia,nos EUA, nos anos 70 do século passado, depois de ter assaltado um banco, morto um homem, desviado um avião que ia de Miami para Detroit, sequestrado os seus passageiros, conseguindo um resgate de um milhão de dólares.

Mascarado de padre, e com uma arma escondida na Bíblia, Wright conseguiu desviar o avião para a Argélia. Os seus cúmplices fugiram para Paris, onde acabaram por ser presos, mas ele decidiu ir para a Guiné-Bissau. Aí, casou com uma portuguesa e acabou por vir viver para Portugal.

Qual o espanto?

Depois do BPN e do buraco da Madeira, como é possível que ainda nos espantemos por termos bandidos a viver tranquilamente, mesmo debaixo das nossas barbas?

Meia cerveja, dois figos e um tiro no homem do talho

O Diário de Notícias continua a brindar-nos com verdadeiras pérolas do jornalismo de costumes.

Desta vez, socorro-me de uma notícia de ontem, da autoria de J.B. (presumo que seja o correspondente do DN em Guimarães) e que, bem ao estilo de um Rex Stout ou de um Dashiell Hammett, escreve:

«Entrou na mercearia, pediu uma cerveja, comeu dois figos e dirigiu-se ao talho contíguo onde disparou sobre o proprietário, seu antigo patrão.»

Qualquer boa história policial podia começar assim.

Não sabemos o nome do homem que disparou sobre o dono do talho, assim como não sabemos o nome do homem do talho. Mas sabemos – isso sim! – o nome do dono da mercearia, onde o tipo que disparou pediu a cerveja e comeu os dois figos!

É o Sr. José Silva.

Ei-lo que diz:

«Ele veio aqui beber uma cerveja, até me pediu dois figos para comer, e depois só disse ‘vou ali ao meu antigo patrão’, até deixou a cerveja a meio… Parece que ele toma medicamentos e, misturado com a cerveja, aquilo é como uma droga”.

Ah! grande José Silva!

Tu é que sabes!

Tomar medicamentos com cerveja “é como uma droga”! – sempre ouvi dizer!

Aspirina como Coca-Cola?

Droga!

Amoxicilina com Super-Bock?

Droga!

Ben-u-ron com Sagres?

Super-droga!

Vai daí, o homem drogado com medicamentos, meia cerveja e dois figos, toca de ir ao talho do antigo patrão e espetar-lhe com um tiro num braço.

São três colunas de notícia e ficamos sem saber: os nomes do agressor e da vítima, as motivações para a agressão, quantos tiros foram disparados, que tipo de arma foi usada, quando ocorreu toda esta tragédia.

Mas ficámos a saber que tudo se passou na Rua da Rainha, em Guimarães e que o talho se chama – espanto! – Talho Rainha!

Obrigado J. B.!

Obrigado Diário de Notícias!