“The Reader”, de Stephen Daldry

leitorLi críticas contraditórias a este filme, que proporcionou a Kate Winslet, este ano, o óscar para melhor actriz. Eu gostei.

Adaptado de uma novela do escritor alemão Der Vorleser, publicado em 1995, “The Reader” começa na Alemanha dos anos 50, contando-nos a história de uma pica-bilhetes trintona que, certo dia, ao ajudar um miúdo de 15 anos que está mal disposto, acaba por o levar para a cama e iniciá-lo.

Assim, na primeira parte do filme, Hanna Schmitz (Kate Winslet), come o rapazinho, Michael (David Kross) dezenas de vezes, antes ou depois de ele lhe ler “A Odisseia”, de Homero, contos de Tchekov ou, até, bandas desenhadas do Tintin.

Só que, entretanto, o grande segredo de Hannah fica exposto e ela desaparece da vida de Michael, para reaparecer muitos anos mais tarde, quando ele já é interpretado por Ralph Fiennes.

Afinal, Hanna tinha sido membro das SS e tinha trabalhado num campo de concentração, tendo sido responsável directa pela morte de centenas de mulheres. E não sabia ler nem escrever.

Dois segredos terríveis, na vida daquela mulher que, no entanto, prefere que se descubra que pertenceu í s SS, do que se saiba que, afinal, é analfabeta. A vergonha de ser iletrada é maior.

O filme expõe a culpa do povo alemão: nenhum alemão desconhecia o que se passava nos campos de concentração; nenhum alemão é inocente.

Claro que este tema não é tão desenvolvido como, por exemplo, no livro “As Benevolentes“, de Jonathan Littell e, por isso, alguns críticos, como o do Guardian, detestaram o filme.

Mas estamos perante isso mesmo: um filme e um filme tem que prestar, sobretudo, entretenimento. Se queres um profundo debate de ideias, lê um livro.

Digo eu, claro.

“The Dutchess”, de Saul Dibb

duquesaNão se pode dizer que o principal interesse deste filme reside nos magníficos chapéus que a Duquesa de Devonshire exibe, mas quase (óscar para melhor guarda-roupa, este ano).

Georgiana Spencer (antepassado da princesa Diana), foi a primeira mulher de William Cavendish, duque de Devonshire e teve uma vida curta e atribulada, tendo morrido aos 49 anos, depois de ter dado í  luz várias filhas, um único filho varão e um bastardo, para além de ter aturado uma menage í  trois e ter, ela própria, dado uma facadinha no casamento, o que, para os anos de 1780, deve ter sido algo de altamente escandaloso.

Ralph Fiennes faz um Duque duro e seco, como deviam ser os duques naqueles tempos; para ele, a mulher apenas existia para o servir e para lhe dar um herdeiro. E, no que respeita a amantes, claro que era suposto ter as que quisesse.

Keira Knightley faz uma Duquesa pouco convincente, que passa pelas verdadeiras violações do marido, pelas infidelidades e pelo affair com Charles James Foxx, com pouco mais do que meia dúzia de lágrimas.

Mas com chapéus formidáveis, de facto…

“Gran Torino”, de Clint Eastwood

grantorinoClint Eastwood é Walt Kowalski, um americano de origem polaca que andou na guerra da Coreia e, agora, vive num bairro dos subúrbios, rodeado de emigrantes.

Logo na casa ao lado, vive uma família de vietnamitas; o barbeiro, é um italo-americano; logo ao virar da esquina, afro-americanos aos magotes.

Walt é viúvo, dá-se mal com os filhos, tem um feitio intratável, passa o dia a beber cerveja e a fumar cigarros e está doente. Tem a voz rouca e grave, tosse e cospe sangue. Vai ao médico, mas até o seu velho médico se foi embora, sendo substituído por uma jovem médica de origem asiática.

Walt trabalhou muitos anos na Ford e tem um velho Ford Gran Torino, em excelente estado de conservação.

Um gangue de adolescentes de origem asiática convence um dos vizinhos de Walt a iniciar-se no mundo dos gangues, roubando-lhe o carro.

O adolescente tenta, mas não consegue e, na sequência desse episódio, nasce uma amizade entre o velho Walt e o jovem asiático.

Mais um grande filme do Clint Eastwood, que é como vinho do Porto – quanto mais velho, mais valioso.

“Revolutionary Road”, de Sam Mendes

revolutionaryroadUm grande dramalhão, adaptação de um romance de Richard Yates que foi finalista do National Book Award, em 1962.

Realizado por Sam Mendes e protagonizado por Kate Winslet e Leonardo DiCaprio, conta-nos a história de um casal que vê os seus sonhos de uma vida fantástica se esfumarem na vidinha de todos os dias.

A acção decorre nos anos 50 e o casal Frank e April Wheeler parecem formar o casal perfeito: ele, empregado de escritório, numa firma conceituada, ela, uma dedicada dona de casa e mãe de dois filhos.

No entanto, April não está satisfeita com a rotina do dia-a-dia e acha que Frank pode e deve aspirar a voos mais altos.

De súbito, decidem largar tudo e ir viver para Paris. Mas uma promoção inesperada, na firma de Frank e a gravidez ainda mais inesperada de April, desencadeiam a tragédia final.

Por vezes um pouco dramático de mais, dá a sensação que a adaptação cinematográfica deixa algumas coisas importantes de fora.

A realização não tem surpresas e os actores são bons (já se sabia…)

“Rachel Getting Married”, de Jonathan Demme

rachelgetsmarriedPartindo do princípio que a Rachel (Rosemarie DeWitt) nos convidou para o seu casamento, é muito indelicado, da parte da sua irmã Kym (Anne Hataway), querer ser sempre o centro das atenções.

Mas é isso que acontece: Rachel pode estar a casar-se, o marido pode até ser de raça negra, alguns dos convidados podem até ser um pouco exóticos, Rachel até está grávida e tudo e, no entanto, é Kym que atrai todas as atenções.

Kym é um toxicodependente em reabilitação; há 9 meses que está limpa, mas a coisa não está segura. Aos 17 anos, levava o seu irmão mais novo no carro e, estando completamente pedrada, teve um acidente. O carro caiu a um lago e o irmão morreu afogado.

Kym nunca mais se recompí´s.

Jonathan Demme faz um filme em jeito de reportagem, com a câmara ao ombro – o que já se vai tornando cada vez mais comum e é quase como se fosse um vídeo doméstico do casamento de Rachel. Aliás, algumas cenas são mesmo tão chatas como um casamento a sério porque nos limitamos a ver os convidados a dançar ao som de várias músicas, sem que nada de especial aconteça.

E acaba no fim…

“Changeling”, de Clint Eastwood

changelingAo contrário de Woody Allen, Clint Eastwood está a ficar cada vez melhor com a idade.

Quem se lembra de Eastwood como realizador e actor de “Bronco Billy” (1980), para já não falar dos cromos que ele compí´s para os western spaguetti?

Há já alguns anos que Eastwood se tornou num dos realizadores mais “clássicos”, no sentido clássico do termo, passe a redundância.

Em “Changeling”, conta-se a história verídica de uma mãe solteira (Angelina Jolie) cujo filho, de cerca de 9 anos, foi raptado por um psicopata, posteriormente acusado e condenado í  morte pelo assassínio de diversas crianças.

A polícia de Los Angeles, que naqueles anos 30 do século passado, tinha fama de corrupta, incapaz de encontrar a criança, e estando sob o foco da comunicação social, arranja um outro rapaz e tenta convencer a mulher a aceitá-lo como sendo o seu filho. Como ela se recusa, interna-a num asilo psiquiátrico, considerando-a paranóica.

O filme, sempre num registo documental, contido, mostra-nos como os direitos das mulheres eram praticamente inexistentes naqueles tempos, mesmo numa sociedade aparentemente tão liberal como a norte-americana.

Vale a pena ver.

“Slumdog Millionaire”, de Danny Boyle

slumdogAs férias também dão para isto: ver filmes em atraso.

“Slumdog Millionaire” ganhou 8 óscares, entre os quais, os óscares para melhor filme e para melhor realizador.

Parece-me correcto. Este é, de facto, o filme feito para ganhar óscares. Todos os anos há, pelo menos, um assim.

Como dizia o meu tio Zé, é “bonito e faz chorar – próprio para grávidas e pupilos do exército”.

E o filme de Boyle é, de facto, uma sucessão de clichés: desde os bairros de lata de Mombay aos estúdios televisivos da Índia, passando pela história das crianças ceguinhas valerem mais dinheiro como pedintes, do irmão envolvido na máfia dos construtores civis, de toda uma nação estar suspensa do resultado de um concurso televisivo, etc, etc.

Enfim, o esquema narrativo até tem alguma originalidade: explicar cada resposta certa do concurso, recorrendo í  história do rapaz.

Mas os clichés são tantos que dão a volta, isto é, temos que os aceitar como estrutura própria do filme e dizer que, ok, vê-se com agrado, em casa, em dvd, parando, de vez em quando, para um “refill” do whisky, com as pernas esticadas em cima do tamborete, porque estamos de férias. Mas, em verdade vos digo que, se o tivesse ido ver ao cinema, tinha ficado chateado pelo tempo perdido.

E não é que o rapaz, no fim, ganha o concurso e  fica com a miúda?…

“Vicky Cristina Barcelona”, de Woody Allen

vickycristinaPor que razão teima Woody Allen em fazer um filme todos os anos?

Porque pode.

Allen está velho e chato, repetindo-se, de filme para filme, não tendo nada de novo para mostrar, penso eu.

O último filme de Woody Allen que valeu a pena ver foi “Match Point” (2005) e a sua carreira faz lembrar, de certo modo, a curva de Gauss: vai crescendo, até atingir o seu climax, com “Annie Hall”, “Manhattan” e “Hannah and Her Sisters” e, depois, começa a descer, suavemente, até este “Vicky Cristina Barcelona”, que não é só mau no título…

Trata-se de mais uma história de encontros e desencontros amorosos, desta vez com o “picante” de uma “ménage í  trois”, envolvendo dois espanhóis (Javier Bardem e Penélope Cruz).

Mais uma vez, tudo se passa no seio da classe média alta. A menina Vicky (Patricia Clarkson) está a fazer um doutoramento em “Identidade Catalã”. íƒh?! E vai passar um verão em Barcelona, levando a sua amiga Cristina (Scarlet Johansson), que não faz nada na vida. Ambas conhecem um pintor (Javier Bardem), que, amargurado por ter terminado uma relação conflituosa com a sua mulher (Penélope Cruz), convida ambas as americanas para a sua cama.

Depois, há por ali umas cenas que Almodovar não desdenharia e tudo acaba como começou, isto é, sem que nada de importante tenha, de facto, acontecido.

Um bocejo de um realizador cada vez mais de pantufas calçadas…

The Shield – séries 4,5 e 6

E com estas três temporadas, de 2005 a 2007, termina a série que mais polícias corruptos a televisão mostrou, até hoje. Aliás, a frase que serve de subtítulo í  série é: “The road to justice is twisted”.

A série mantém a mesma realização “nervosa”, ao longo das seis temporadas, com uma câmara sempre em andamento, captando os intervenientes por trás de uma porta, por baixo de uma mesa, através da folhagem de um arbusto. Os principais intérpretes andam sempre num frenesim, entre a esquadra e os bairros sociais de Farmington; os bandidos são maus, mas os polícias ainda conseguem ser piores!

O “strike team” liderado por Vic Mackey (Michael Chiklis) tenta tudo para ocultar as trafulhices que foi fazendo ao longo dos anos, mas enterra-se cada vez mais.

shield4Na 4ª temporada, entra em cena Glenn Close, interpretando o papel de Monica Rawling, a nova chefe da esquadra de Farmington, substituindo David Aceveda, que se dedica í  política, e até parece que Vic Mackey tem uma nova oportunidade.

No entanto, Rawling acaba por ser posta em causa e é afastada, cedendo o lugar, finalmente, í  detective Claudette Wyms (C. C. H. Pounder) que, desde o início da série ansiava por dirigir a esquadra.

shield5Na 5ª temporada, surge o tenente Jon Kavanaugh (Forest Whitaker), encarregado de investigar as actividades do “strike team” e que, í s tantas, fica completamente obcecado pelo objectivo de prender Vic Mackey, acabando por actuar como ele, forjando provas.

É nesta temporada que Shane (Walton Goggins) não resistindo í  pressão da investigação, mata Curtis Lemansky,  o colega do “strike team”, receando que ele conte tudo a Kavanaugh.

shield6A 6ª temporada é a mais curta – aliás, é um desdobramento da 5ª temporada, decidida devido ao êxito da série ou í  greve dos argumentistas.

O “strike team” está resumido a Vic e a Ronnie Gardocki (David Rees Snell), cada vez mais entalados e Shane anda í  deriva, tentando orientar-se sozinho. Na esquadra, o detective Wagenbach (Jay Karnes), tenta fazer a diferença, mas acaba sempre por ser gozado pelos colegas, por ser tão ingénuo.

No final, Vic Mackey, no próprio dia que seria presente a uma Junta que o deveria expulsar da polícia, descobre documentos que comprometem juizes, políticos e outros “big shots” e mostra-os a Aceveda (Benito Martinez), pedindo o seu apoio.

O político e o polícia corruptos, condenados a entenderem-se…

The Shield – série 3

shield3De certo modo, “The Shield” é uma série precursora de “The Wire”.

Em “The Shield”, cuja acção decorre em Los Angeles, também os polícias estão cheios de defeitos, a começar pelo chefe da esquadra, o latino Aceveda, com grandes ambições políticas e a acabar na Strike Team, liderada por Vic Mackey.

Os quatro membros desta equipa especial também não são meninos do coro: roubaram uma boa maquia de dinheiro í  mafia arménia, mas estão tramados porque as notas estavam marcadas e, ao longo desta 3ª temporada (2004), tentam enganar os superiores hierárquicos, ao mesmo tempo que tentam apanhar os arménios, antes que eles os apanhem.

Dutch e Claudette, os dois detectives da esquadra, apesar de alguns sucessos, também têm as suas falhas e uma delas quase custa a vida a uma polícia a trabalhar “undercover”.

É uma série nervosa, filmada com a câmara ao ombro, sempre em andamento e que não tem uma única cena tranquila.

O lider da srike team, Vic Mackey (Michael Chiklis) ganhou o Emmy e o Globo de Ouro em 2002; a série ganhou o Globo de Ouro em 2003.