“Skyfall”, de Sam Mendes

Só em 1981 vi o meu primeiro 007. Foi o For Your Eyes Only, com o Roger Moore, no S. Jorge.

Antes disso, achava que os filmes do 007 eram mais um produto da decadência da sociedade burguesa, que eram uma patetice pegada, inverosímeis e inúteis.

E não é que são mesmo?

E não é que, por serem isso mesmo, os filmes do 007 são bem divertidos?

Depois daquele meu primeiro 007, vi todos os que ficaram para trás, graças ao dvd, e fui ao cinema ver todos os que vieram depois.

Digamos que é assim uma espécie de tradição, como ir à Feira do Livro – um tipo pode não comprar livro nenhum, mas acha piada ao passeio.

Gosto deste 007 interpretado pelo Daniel Craig. É duro à brava, machão quanto baste, raramente sorri, fala pouco e é mais humano, no sentido de que até chora!

E também gostei deste Skyfall.

A clássica cena de abertura, que é sempre uma perseguição, é bem esgalhada, e a cena final é épica, uma espécie de Home Alone para adultos. O argumento é engenhoso, mas não muito complexo (ninguém quer pensar muito, quando vai ver um 007), e Javier Bardem faz um vilão excelente.

Vale a pena.

“Love in Time of the Cholera”, de Mike Newell

Não sei por que razão ainda não li este livro do Garcia Marquez , publicado em 1985 – e nem sequer o tenho. Mas a história tem, toda ela, a assinatura do escritor colombiano.

O filme, de 2007, é escorreito e Javier Bardem faz um excelente papel, ao contrário da menina Giovanna Mezzogiorno que, para além de ter um par de maminhas interessantes, poucos mais atributos tem, nomeadamente na área da representação.

A pobre da Giovanna é pouco convincente como Fermina Urbino, sobretudo quando a personagem já tem uma idade mais avançada, e as camadas de pó-de-arroz também não ajudam.

Pelo contrário, Bardem faz um Florentino Ariza que nos convence, um sonhador que, na impossibilidade de ter a sua primeira amada, vai coleccionando mulheres e anotando essas experiências com minúcia, ultrapassando as seis centenas.

Outra coisa que faz com que o filme não seja tão interessante como poderia ser é o facto de ser falado em inglês: Bardem é espanhol, Giovanna é italiana, a mãe de Florentino é uma actriz brasileira cujo nome me escapa – e todos eles falam um inglês com sotaque colombiano, o que se torna ridículo.

De qualquer modo, e graças à história, é um bom entretenimento.

PS – Afinal, encontrei o livro e descobri que o li em 1989… Tenho que começar a tomar as gotas…

“Vicky Cristina Barcelona”, de Woody Allen

vickycristinaPor que razão teima Woody Allen em fazer um filme todos os anos?

Porque pode.

Allen está velho e chato, repetindo-se, de filme para filme, não tendo nada de novo para mostrar, penso eu.

O último filme de Woody Allen que valeu a pena ver foi “Match Point” (2005) e a sua carreira faz lembrar, de certo modo, a curva de Gauss: vai crescendo, até atingir o seu climax, com “Annie Hall”, “Manhattan” e “Hannah and Her Sisters” e, depois, começa a descer, suavemente, até este “Vicky Cristina Barcelona”, que não é só mau no título…

Trata-se de mais uma história de encontros e desencontros amorosos, desta vez com o “picante” de uma “ménage à trois”, envolvendo dois espanhóis (Javier Bardem e Penélope Cruz).

Mais uma vez, tudo se passa no seio da classe média alta. A menina Vicky (Patricia Clarkson) está a fazer um doutoramento em “Identidade Catalã”. Ãh?! E vai passar um verão em Barcelona, levando a sua amiga Cristina (Scarlet Johansson), que não faz nada na vida. Ambas conhecem um pintor (Javier Bardem), que, amargurado por ter terminado uma relação conflituosa com a sua mulher (Penélope Cruz), convida ambas as americanas para a sua cama.

Depois, há por ali umas cenas que Almodovar não desdenharia e tudo acaba como começou, isto é, sem que nada de importante tenha, de facto, acontecido.

Um bocejo de um realizador cada vez mais de pantufas calçadas…