Uma história que pode ser lida de várias maneiras: uma aventura extraordinária, um sonho maravilhoso, uma parábola da passagem para a idade adulta.
De qualquer modo, uma grande história – a história de um jovem, filho do dono de um Zoo na Índia, que emigra para o Canadá, com a família e com todos os animais do Zoo.
Acontece o naufrágio e o jovem sobrevive num salva-vidas, com uma zebra, uma hiena, um orangotango e o tigre Richard Parker.
Acho que a adaptação ao cinema é notável.
Ang Lee ganhou o óscar pela realização e o filme ganhou outro óscar pelos efeitos visuais que, de facto, são muito bons.
Não bastava à pobre da Precious ser negra e gorda. Tinha que ser, também, muito feia, mal encarada, analfabeta, pobre e – cereja no topo do bolo – maltratada pela mãe e violada pelo pai.
Sinceramente, não me senti tocado pela personagem; nem incomodado, nem revoltado, nem solidário, nem nada.
Precious não tem substância e por mais verdadeira que possa ser a história, a mim não me convenceu.
A mãe de Precious tem os defeitos todos, o pai só aparece para violar a filha, a professora boazinha que ensina Precious a ler é lésbica, a primeira filha de Precious é mongolóide. Para evitar transformar isto tudo num grande dramalhão, o realizador tentou fazer um filme despojado, para parecer mais verdadeiro.
Comigo não pegou.
Por razões que não compreendo, Mo’Nique, que interpreta o papel de Precious, ganhou o óscar para melhor actriz secundária (quem será a actriz principal neste filme, em que Precious ocupa todo o écran?)
Um sessentão rezingão e mulherengo, Remy, está na fase terminal de um cancro, num quarto de um hospital de Montréal. A sua ex-mulher pede ajuda ao filho de ambos, um jovem homem de negócios com pouco em comum com o pai.
O filho é um tipo ambicioso e rígido, cumpridor das regras do jogo; o pai é um ex-esquerdista, que foi adepto de todas as modas políticas, que bebeu, fumou e fodeu sem grande tino. Aparentemente, pouco têm a dizer um ao outro, mas a aproximação da morte do pai, faz com que ambos acabem por se aproximar também.
Para além de diálogos muito divertidos e inteligentes, o filme mostra-nos o aparente caos em que vivem os hospitais do Canadá. Nunca imaginei que pudesse ser assim tão parecido com os hospitais portugueses. Sempre pensei que o Canadá, como país inventado que é, tivesse um bom serviço de saúde.
O filme faz também uma feroz crítica aos sindicatos, aos quais é preciso subornar para se obter o que se devia ter direito.
Finalmente, o filme faz um apelo indirecto à eutanásia, já que Remy acaba por morrer com uma overdose de heróina, ministrada por uma das suas amigas.
O filme ganhou o óscar por melhor filme estrangeiro em 2004.
Se eu disser que “Milk” não me aqueceu nem arrefeceu, posso ser acusado de homofobia, mas não é o caso.
Por qualquer razão, que não tem a ver com preconceitos, o filme não me tocou, como outros filmes sobre grupos específicos da sociedade, que são marginalizados.
Notável, de facto, a interpretação de Sean Penn, que lhe valeu, este ano, o óscar para melhor actor. O filme ganhou, ainda, o óscar para melhor argumento original e não se percebe bem porquê, uma vez que se “limita” a contar uma história verídica: a luta de Harvey Milk pela igualdade de direitos dos homossexuais.
A luta dos homossexuais norte-americanos pode ter sido (e ainda ser) uma luta digna da nossa solidariedade mas, neste filme, os poderosos inimigos dos gay são de tal modo caricaturados que o filme não conseguiu convencer-me.
Meryl Streep interpreta o papel de freira chefe, mázona, na Saint Nicholas Church School e foi nomeada pela enésima vez para o óscar de melhor actriz.
Philip Seymour Hoffman é o padre Flynn e foi nomeado para o óscar de melhor actor.
Amy Adams é a freira boazinha, professora de História e Viola Davis é mãe do único aluno de raça negra – ambas foram nomeadas para o óscar de melhor actriz secundária.
Shanley adaptou para o cinema a peça de teatro que ele próprio escreveu e levou à cena em 2004 e foi nomeado para o óscar de melhor argumento adaptado.
E apesar destas 5 nomeações, não posso dizer que o filme me tenha tocado.
Será que o padre Flynn é pedófilo, sentou o miúdo negro no colo e o acariciou, enquanto lhe lia a Bíblia?
Who cares?
Claro que a Streep é boa actriz, claro que o Hoffman é capaz de ser bom atrás, mas não chega para prender a minha atenção.
Li críticas contraditórias a este filme, que proporcionou a Kate Winslet, este ano, o óscar para melhor actriz. Eu gostei.
Adaptado de uma novela do escritor alemão Der Vorleser, publicado em 1995, “The Reader” começa na Alemanha dos anos 50, contando-nos a história de uma pica-bilhetes trintona que, certo dia, ao ajudar um miúdo de 15 anos que está mal disposto, acaba por o levar para a cama e iniciá-lo.
Assim, na primeira parte do filme, Hanna Schmitz (Kate Winslet), come o rapazinho, Michael (David Kross) dezenas de vezes, antes ou depois de ele lhe ler “A Odisseia”, de Homero, contos de Tchekov ou, até, bandas desenhadas do Tintin.
Só que, entretanto, o grande segredo de Hannah fica exposto e ela desaparece da vida de Michael, para reaparecer muitos anos mais tarde, quando ele já é interpretado por Ralph Fiennes.
Afinal, Hanna tinha sido membro das SS e tinha trabalhado num campo de concentração, tendo sido responsável directa pela morte de centenas de mulheres. E não sabia ler nem escrever.
Dois segredos terríveis, na vida daquela mulher que, no entanto, prefere que se descubra que pertenceu às SS, do que se saiba que, afinal, é analfabeta. A vergonha de ser iletrada é maior.
O filme expõe a culpa do povo alemão: nenhum alemão desconhecia o que se passava nos campos de concentração; nenhum alemão é inocente.
Claro que este tema não é tão desenvolvido como, por exemplo, no livro “As Benevolentes“, de Jonathan Littell e, por isso, alguns críticos, como o do Guardian, detestaram o filme.
Mas estamos perante isso mesmo: um filme e um filme tem que prestar, sobretudo, entretenimento. Se queres um profundo debate de ideias, lê um livro.
Não se pode dizer que o principal interesse deste filme reside nos magníficos chapéus que a Duquesa de Devonshire exibe, mas quase (óscar para melhor guarda-roupa, este ano).
Georgiana Spencer (antepassado da princesa Diana), foi a primeira mulher de William Cavendish, duque de Devonshire e teve uma vida curta e atribulada, tendo morrido aos 49 anos, depois de ter dado à luz várias filhas, um único filho varão e um bastardo, para além de ter aturado uma menage à trois e ter, ela própria, dado uma facadinha no casamento, o que, para os anos de 1780, deve ter sido algo de altamente escandaloso.
Ralph Fiennes faz um Duque duro e seco, como deviam ser os duques naqueles tempos; para ele, a mulher apenas existia para o servir e para lhe dar um herdeiro. E, no que respeita a amantes, claro que era suposto ter as que quisesse.
Keira Knightley faz uma Duquesa pouco convincente, que passa pelas verdadeiras violações do marido, pelas infidelidades e pelo affair com Charles James Foxx, com pouco mais do que meia dúzia de lágrimas.
Em 1921, Scott Fitzgerald (1896-1940) publicou um conto intitulado “The Curiou Case of Benjamin Button”, que serviu de inspiração a Eric Roth e Robin Swicord para escreverem o argumento deste filme.
A história é conhecida. Benjamin (Brad Pitt) nasce velho, um bebé cheio de rugas e artroses e vai rejuvenescendo ao longo da vida, acabando por morrer jovem. Pelo caminho, acontecem-lhe muitas coisas, incluindo uma namorada (Cate Blanchett), que vai envelhecendo, à medida que ele fica cada vez mais jovem e pujante.
O tempo é o principal personagem desta história, a começar pelo relojoeiro cego que constrói um relógio cujos ponteiros andam para trás, e continuando pelo fluir do tempo, com as duas guerras mundiais, os anos 60 e os Beatles e, finalmente, os dias de hoje, marcados pelo Katrina, que inunda New Orleans, onde a maior parte da história se passa, embora Benjamin também ande pela Rússia, por Paris e pelos oceanos, a bordo de um rebocador, cujo comandante, na impossibilidade de ser artista, se tatuou a si próprio.
Há muitas histórias, dentro da história de Benjamin Button e, por muito convencional que o filme possa ser, sabe sempre bem ver e ouvir uma história bem contada.
E, no que respeita a óscares, o dos efeitos visuais e o da caracterização, pelo menos, não vão escapar.