“The Mule”, de Clint Eastwood (2018)

Devo ter falhado poucos filmes do, e com o, velho Clint Eastwood. Segundo os meus registos, vi 36 filmes de e com o antigo mayor de Carmel. Não vi The Snipper e acho que nunca o irei ver.

Enfim, Clint está velhote (tem 88 anos), é um republicano empedernido e, de vez em quando, demasiado à direita para o meu gosto – mas que é um autor/actor do caraças, lá isso é!…

Desde os tempos em que fazia de cowboy nos western spaguetti do Sergio Leone, como The Good, The Bad and the Ugly, com aquele célebre trielo com o sol a pino e a música inconfundível de Morricone.

(Chiça, que até pareço um crítico de cinema – só me faltam alguns adjectivos e umas quantas frases indecifráveis!).

Fui hoje ver o último filme realizado e protagonizado pelo velho Clint.

E chamo-lhe novamente velho porque, para além do homem ter 88 anos, interpreta o papel de um tipo com 90 anos! Portanto, bastou-lhe “act naturally”, como cantava o Ringo Starr.

Este The Mule, baseado numa história verdadeira, conta a aventura de um horticultor de 90 anos que, vendo-se na falência, cede à tentação de arranjar dinheiro fácil, transportando droga entre o Texas e Chicago. Quem ia suspeitar de um velhote, conduzindo uma camioneta de caixa aberta?

Durante cerca de um dúzia de viagens, Earl vai transportando cada vez maiores quantidades de cocaína, proveniente do México.

Earl esteve na guerra da Coreia e, embora muito popular e divertido junto das associações de horticultores e dos clubes de veteranos de guerra, é mal-visto pelos membros da sua família. A ex-mulher não lhe perdoa o abandono e a filha nem sequer lhe fala. Resta-lhe uma neta que, apesar de tudo, sente alguma ternura por ele.

No final, Earl vai ter que decidir entre entregar mais de 300 quilos de coca ou acompanhar os últimos dias de vida da ex-mulher, que sofre de cancro.

A história está bem contada, sem rodriguinhos nem cenas desnecessárias, Eastwood percorre todo o filme com aquele seu ar seco e de poucas falas e gostámos muito.

Recomendo.

“Changeling”, de Clint Eastwood

changelingAo contrário de Woody Allen, Clint Eastwood está a ficar cada vez melhor com a idade.

Quem se lembra de Eastwood como realizador e actor de “Bronco Billy” (1980), para já não falar dos cromos que ele compôs para os western spaguetti?

Há já alguns anos que Eastwood se tornou num dos realizadores mais “clássicos”, no sentido clássico do termo, passe a redundância.

Em “Changeling”, conta-se a história verídica de uma mãe solteira (Angelina Jolie) cujo filho, de cerca de 9 anos, foi raptado por um psicopata, posteriormente acusado e condenado à morte pelo assassínio de diversas crianças.

A polícia de Los Angeles, que naqueles anos 30 do século passado, tinha fama de corrupta, incapaz de encontrar a criança, e estando sob o foco da comunicação social, arranja um outro rapaz e tenta convencer a mulher a aceitá-lo como sendo o seu filho. Como ela se recusa, interna-a num asilo psiquiátrico, considerando-a paranóica.

O filme, sempre num registo documental, contido, mostra-nos como os direitos das mulheres eram praticamente inexistentes naqueles tempos, mesmo numa sociedade aparentemente tão liberal como a norte-americana.

Vale a pena ver.