“Doubt”, de John Patrick Shanley

duvidaMeryl Streep interpreta o papel de freira chefe, mázona, na Saint Nicholas Church School e foi nomeada pela enésima vez para o óscar de melhor actriz.

Philip Seymour Hoffman é o padre Flynn e foi nomeado para o óscar de melhor actor.

Amy Adams é a freira boazinha, professora de História e Viola Davis é  mãe do único aluno de raça negra – ambas foram nomeadas para o óscar de melhor actriz secundária.

Shanley adaptou para o cinema a peça de teatro que ele próprio escreveu e levou í  cena em 2004 e foi nomeado para o óscar de melhor argumento adaptado.

E apesar destas 5 nomeações, não posso dizer que o filme me tenha tocado.

Será que o padre Flynn é pedófilo, sentou o miúdo negro no colo e o acariciou, enquanto lhe lia a Bíblia?

Who cares?

Claro que a Streep é boa actriz, claro que o Hoffman é capaz de ser bom atrás, mas não chega para prender a minha atenção.

“The Reader”, de Stephen Daldry

leitorLi críticas contraditórias a este filme, que proporcionou a Kate Winslet, este ano, o óscar para melhor actriz. Eu gostei.

Adaptado de uma novela do escritor alemão Der Vorleser, publicado em 1995, “The Reader” começa na Alemanha dos anos 50, contando-nos a história de uma pica-bilhetes trintona que, certo dia, ao ajudar um miúdo de 15 anos que está mal disposto, acaba por o levar para a cama e iniciá-lo.

Assim, na primeira parte do filme, Hanna Schmitz (Kate Winslet), come o rapazinho, Michael (David Kross) dezenas de vezes, antes ou depois de ele lhe ler “A Odisseia”, de Homero, contos de Tchekov ou, até, bandas desenhadas do Tintin.

Só que, entretanto, o grande segredo de Hannah fica exposto e ela desaparece da vida de Michael, para reaparecer muitos anos mais tarde, quando ele já é interpretado por Ralph Fiennes.

Afinal, Hanna tinha sido membro das SS e tinha trabalhado num campo de concentração, tendo sido responsável directa pela morte de centenas de mulheres. E não sabia ler nem escrever.

Dois segredos terríveis, na vida daquela mulher que, no entanto, prefere que se descubra que pertenceu í s SS, do que se saiba que, afinal, é analfabeta. A vergonha de ser iletrada é maior.

O filme expõe a culpa do povo alemão: nenhum alemão desconhecia o que se passava nos campos de concentração; nenhum alemão é inocente.

Claro que este tema não é tão desenvolvido como, por exemplo, no livro “As Benevolentes“, de Jonathan Littell e, por isso, alguns críticos, como o do Guardian, detestaram o filme.

Mas estamos perante isso mesmo: um filme e um filme tem que prestar, sobretudo, entretenimento. Se queres um profundo debate de ideias, lê um livro.

Digo eu, claro.

“The Dutchess”, de Saul Dibb

duquesaNão se pode dizer que o principal interesse deste filme reside nos magníficos chapéus que a Duquesa de Devonshire exibe, mas quase (óscar para melhor guarda-roupa, este ano).

Georgiana Spencer (antepassado da princesa Diana), foi a primeira mulher de William Cavendish, duque de Devonshire e teve uma vida curta e atribulada, tendo morrido aos 49 anos, depois de ter dado í  luz várias filhas, um único filho varão e um bastardo, para além de ter aturado uma menage í  trois e ter, ela própria, dado uma facadinha no casamento, o que, para os anos de 1780, deve ter sido algo de altamente escandaloso.

Ralph Fiennes faz um Duque duro e seco, como deviam ser os duques naqueles tempos; para ele, a mulher apenas existia para o servir e para lhe dar um herdeiro. E, no que respeita a amantes, claro que era suposto ter as que quisesse.

Keira Knightley faz uma Duquesa pouco convincente, que passa pelas verdadeiras violações do marido, pelas infidelidades e pelo affair com Charles James Foxx, com pouco mais do que meia dúzia de lágrimas.

Mas com chapéus formidáveis, de facto…

“Revolutionary Road”, de Sam Mendes

revolutionaryroadUm grande dramalhão, adaptação de um romance de Richard Yates que foi finalista do National Book Award, em 1962.

Realizado por Sam Mendes e protagonizado por Kate Winslet e Leonardo DiCaprio, conta-nos a história de um casal que vê os seus sonhos de uma vida fantástica se esfumarem na vidinha de todos os dias.

A acção decorre nos anos 50 e o casal Frank e April Wheeler parecem formar o casal perfeito: ele, empregado de escritório, numa firma conceituada, ela, uma dedicada dona de casa e mãe de dois filhos.

No entanto, April não está satisfeita com a rotina do dia-a-dia e acha que Frank pode e deve aspirar a voos mais altos.

De súbito, decidem largar tudo e ir viver para Paris. Mas uma promoção inesperada, na firma de Frank e a gravidez ainda mais inesperada de April, desencadeiam a tragédia final.

Por vezes um pouco dramático de mais, dá a sensação que a adaptação cinematográfica deixa algumas coisas importantes de fora.

A realização não tem surpresas e os actores são bons (já se sabia…)

“Rachel Getting Married”, de Jonathan Demme

rachelgetsmarriedPartindo do princípio que a Rachel (Rosemarie DeWitt) nos convidou para o seu casamento, é muito indelicado, da parte da sua irmã Kym (Anne Hataway), querer ser sempre o centro das atenções.

Mas é isso que acontece: Rachel pode estar a casar-se, o marido pode até ser de raça negra, alguns dos convidados podem até ser um pouco exóticos, Rachel até está grávida e tudo e, no entanto, é Kym que atrai todas as atenções.

Kym é um toxicodependente em reabilitação; há 9 meses que está limpa, mas a coisa não está segura. Aos 17 anos, levava o seu irmão mais novo no carro e, estando completamente pedrada, teve um acidente. O carro caiu a um lago e o irmão morreu afogado.

Kym nunca mais se recompí´s.

Jonathan Demme faz um filme em jeito de reportagem, com a câmara ao ombro – o que já se vai tornando cada vez mais comum e é quase como se fosse um vídeo doméstico do casamento de Rachel. Aliás, algumas cenas são mesmo tão chatas como um casamento a sério porque nos limitamos a ver os convidados a dançar ao som de várias músicas, sem que nada de especial aconteça.

E acaba no fim…

“Changeling”, de Clint Eastwood

changelingAo contrário de Woody Allen, Clint Eastwood está a ficar cada vez melhor com a idade.

Quem se lembra de Eastwood como realizador e actor de “Bronco Billy” (1980), para já não falar dos cromos que ele compí´s para os western spaguetti?

Há já alguns anos que Eastwood se tornou num dos realizadores mais “clássicos”, no sentido clássico do termo, passe a redundância.

Em “Changeling”, conta-se a história verídica de uma mãe solteira (Angelina Jolie) cujo filho, de cerca de 9 anos, foi raptado por um psicopata, posteriormente acusado e condenado í  morte pelo assassínio de diversas crianças.

A polícia de Los Angeles, que naqueles anos 30 do século passado, tinha fama de corrupta, incapaz de encontrar a criança, e estando sob o foco da comunicação social, arranja um outro rapaz e tenta convencer a mulher a aceitá-lo como sendo o seu filho. Como ela se recusa, interna-a num asilo psiquiátrico, considerando-a paranóica.

O filme, sempre num registo documental, contido, mostra-nos como os direitos das mulheres eram praticamente inexistentes naqueles tempos, mesmo numa sociedade aparentemente tão liberal como a norte-americana.

Vale a pena ver.

“Slumdog Millionaire”, de Danny Boyle

slumdogAs férias também dão para isto: ver filmes em atraso.

“Slumdog Millionaire” ganhou 8 óscares, entre os quais, os óscares para melhor filme e para melhor realizador.

Parece-me correcto. Este é, de facto, o filme feito para ganhar óscares. Todos os anos há, pelo menos, um assim.

Como dizia o meu tio Zé, é “bonito e faz chorar – próprio para grávidas e pupilos do exército”.

E o filme de Boyle é, de facto, uma sucessão de clichés: desde os bairros de lata de Mombay aos estúdios televisivos da Índia, passando pela história das crianças ceguinhas valerem mais dinheiro como pedintes, do irmão envolvido na máfia dos construtores civis, de toda uma nação estar suspensa do resultado de um concurso televisivo, etc, etc.

Enfim, o esquema narrativo até tem alguma originalidade: explicar cada resposta certa do concurso, recorrendo í  história do rapaz.

Mas os clichés são tantos que dão a volta, isto é, temos que os aceitar como estrutura própria do filme e dizer que, ok, vê-se com agrado, em casa, em dvd, parando, de vez em quando, para um “refill” do whisky, com as pernas esticadas em cima do tamborete, porque estamos de férias. Mas, em verdade vos digo que, se o tivesse ido ver ao cinema, tinha ficado chateado pelo tempo perdido.

E não é que o rapaz, no fim, ganha o concurso e  fica com a miúda?…

“Vicky Cristina Barcelona”, de Woody Allen

vickycristinaPor que razão teima Woody Allen em fazer um filme todos os anos?

Porque pode.

Allen está velho e chato, repetindo-se, de filme para filme, não tendo nada de novo para mostrar, penso eu.

O último filme de Woody Allen que valeu a pena ver foi “Match Point” (2005) e a sua carreira faz lembrar, de certo modo, a curva de Gauss: vai crescendo, até atingir o seu climax, com “Annie Hall”, “Manhattan” e “Hannah and Her Sisters” e, depois, começa a descer, suavemente, até este “Vicky Cristina Barcelona”, que não é só mau no título…

Trata-se de mais uma história de encontros e desencontros amorosos, desta vez com o “picante” de uma “ménage í  trois”, envolvendo dois espanhóis (Javier Bardem e Penélope Cruz).

Mais uma vez, tudo se passa no seio da classe média alta. A menina Vicky (Patricia Clarkson) está a fazer um doutoramento em “Identidade Catalã”. íƒh?! E vai passar um verão em Barcelona, levando a sua amiga Cristina (Scarlet Johansson), que não faz nada na vida. Ambas conhecem um pintor (Javier Bardem), que, amargurado por ter terminado uma relação conflituosa com a sua mulher (Penélope Cruz), convida ambas as americanas para a sua cama.

Depois, há por ali umas cenas que Almodovar não desdenharia e tudo acaba como começou, isto é, sem que nada de importante tenha, de facto, acontecido.

Um bocejo de um realizador cada vez mais de pantufas calçadas…

“The Hoax”, de Lasse Hallstrom

hoaxO Diário de Notícias e o Público ofereceram uma série de dvd nas últimas semanas.

Cada vez mais, os jornais e revistas tentam captar mais compradores, não através das notícias e reportagens que publicam, mas graças aos brindes.

O DN, por exemplo, oferece, agora, aos domingos, utensílios de cozinha!

Adiante.

O que fazer com estes dvd oferecidos? Guardá-los para uma noite de chuva ou vê-los.

Este “The Hoax”, é uma seca.

Richard Gere interpreta o papel de Clifford Irving que, em 1971, tentou ludibriar a McGraw-Hill e a Life, garantindo que tinha em seu poder a autobiografia de Howard Hughes, o famoso milionário obsessivo-compulsivo que, nos últimos anos da sua vida se fechou em casa, nunca mais aparecendo em público.

Claro que era tudo mentira.

O filme até podia ser interessante mas as personagens de Irving e do seu amigo e co-autor da burla (Alfredo Molina) não têm substância e a história é contada aos repelões, nunca conseguindo agarrar o espectador.

“Monster’s Ball” de Marc Forster

monstersballGosto destes filmes americanos, com o ritmo lento das grandes planícies e as histórias aparentemente simples de pessoas muito perturbadas.

Billy Bob Thornton faz o papel de Hank, um guarda prisional que trabalha no corredor da morte.

O filho de Hank (Heath Ledger) também lá trabalha, mas não tem estí´mago para aquilo. Um dia vomita, ao transportar um condenado para a cadeira eléctrica e o pai humilha-o, em frente aos outros guardas.

O rapaz suicida-se, com um tiro no peito, sentado no sofá da sala, entre o pai e o aví´ (Peter Boyle), também ele guarda prisional, já reformado, com uma bronquite crónica dependente de oxigénio, racista até í  quinta casa.

Halle Berry é Letícia, a mulher do condenado que é frito na cadeira eléctrica. Tem um filho com cerca de 8 anos, mas que pesa mais de 80 quilos e está sempre a comer chocolates. Morre atropelado e, depois disso, Letícia e Hank conhecem-se e acabam por viver juntos.

Ela ganhou um óscar, talvez pelo modo muito competente como o seu corpo serpenteia em cima do de Billy Bob, ou pela expressão de felicidade/sofrimento que ostenta, quando ele lhe faz um minete demorado e, pelos vistos, muito gratificante.

Depois disso, ele vai comprar gelado de chocolate.

Parece-me apropriado…