Ir í  bola

Ver futebol sentado no sofá é, desde há muito tempo, um dos meus desportos favoritos.

Mas não há nada que chegue a ver um jogo em directo, sentado nas bancadas do magnífico Estádio da Luz.

Ontem fomos ver o Benfica ganhar ao Paços (só com um ésse) por 4 a 1.

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Ver mais de 30 mil pessoas a agitar os cachecóis vermelhos e a gritar Benfica! Benfica! supera – em muito – o facto de não podermos ver as repetições dos golos…

Além disso, da bancada, parece que o árbitro se engana mais vezes, o que nos permite chamar-lhe vários nomes, entre os quais se destacam o de gatuno, palhaço e Alberto João…

Milagres

Telejornal da Sic:

Um homem, numa igreja, em Espanha, deu um tiro na cabeça de uma mulher grávida em fim de tempo. Inopinadamente. A seguir, meteu o cano da pistola na boca e suicidou-se.

A emergência médica chegou, confirmou o óbito da grávida, fez uma cesariana e o bebé nasceu, saudável.

A jornalista, dando voz aos crentes que estavam na igreja e que assistiram í  cena, diz que todos concordaram que se tratou de um milagre.

O que foi milagre – a morte da mãe ou o nascimento do filho?

Deus estava distraído, no momento em que o homem deu o tiro na cabeça da grávida e depois, para compensar, ajudou os médicos a salvarem a criança?

Notícia seguinte:

Na Austrália, um ultra-leve chocou contra uma roda gigante de um feira. Os dois ocupantes da aeronave e duas crianças de 9 e 11 anos ficaram encarcerados e o salvamento de todos demorou horas.

Novamente, a jornalista (não posso afirmar se foi a mesma), diz que houve milagre.

Se calhar, Deus estava ocupado a salvar estas quatro pessoas na Austrália, distraiu-se e, quando deu por isso, já o louco tinha morto a grávida e Nosso Senhor só foi a tempo de salvar a criança…

Mas milagre a sério é esta outra notícia:

Em Portugal, cerca de 500 médicos já mortos, continuam a figurar nos registos oficiais e alguns deles ainda passam receitas!

Isto sim, é um milagre do caraças!

Quinzena de Dança de Almada

—A Companhia de Dança de Almada organiza a 19ª Quinzena de Dança, que decorre até 15 de Outubro.

Financiada pelo Ministério da Cultura e pela Câmara de Almada, a Companhia, com a direcção de Maria Franco, tem desenvolvido um trabalho notável e os 19 anos da Quinzena de Dança são prova disso mesmo.

Como é habitual, o programa deste ano engloba apresentações de muitos países. Este ano, estarão presentes bailarinos da Bélgica, Colí´mbia, Croácia, Dinamarca, Espanha, França, Holanda, Hungria, Israel, Itália, Polónia, Reino Unido, República Checa, Suíça e Portugal.

Ontem, fomos assistir ao Programa 3.

Primeiro, de Espanha, “Trio/Ninguno”, com coreografia de Tatiana Clavel e Santi de La Fuente, e interpretação de Eric Chlench, Juana Varela e Santi de La Fuente, com música de Victor Ballester.

Seguiu-se, da Polónia, “Small study about the body”, com coreografia e interpretação de Katarzyna Sitarz.

O espectáculo continuou com “Foulplay”, da italiana Compagnia Zappalí  Danza, com coreografia de Roberto Zappalí  e interpretação de Daniela Bendini, Fernando Roldan Ferrer e Paola Valenti, com música de Chopin.

E, finalmente, de Israel, “White”, com coreografia de Or Marin e interpretação de Or e Stav Marin, com música de Igor Krutogolov, Dave Phillips e Bach.

Todo o espectáculo me agradou, mas tenho que destacar a segunda e terceira peças; “Small study about the body”, pela sua originalidade e “Foulplay” pela capacidade de reinventar os Prelúdios de Chopin.

No próximo dia 1, lá estarei de novo.

Wright under our beards

O simpático sr. Jorge dos Santos, de 68 anos e um sotaque engraçado, era afinal um foragido procurado pelo FBI há 40 anos.

Vivendo tranquilamente numa pequena localidade de Sintra, o sr. Jorge, isto é, George Wright, não era apenas o vizinho prestável, mas sim um tipo condenado a 30 anos de cadeia,nos EUA, nos anos 70 do século passado, depois de ter assaltado um banco, morto um homem, desviado um avião que ia de Miami para Detroit, sequestrado os seus passageiros, conseguindo um resgate de um milhão de dólares.

Mascarado de padre, e com uma arma escondida na Bíblia, Wright conseguiu desviar o avião para a Argélia. Os seus cúmplices fugiram para Paris, onde acabaram por ser presos, mas ele decidiu ir para a Guiné-Bissau. Aí, casou com uma portuguesa e acabou por vir viver para Portugal.

Qual o espanto?

Depois do BPN e do buraco da Madeira, como é possível que ainda nos espantemos por termos bandidos a viver tranquilamente, mesmo debaixo das nossas barbas?

“Midnight in Paris”, de Woody Allen

—E vão 36 filmes do Woody Allen.

Até “Matchpoint” (2005), não falhei nenhum. Desde então, cansei-me um pouco de Woody Allen e só vi “Vicky Cristina Barcelona” (2008) e “Whatever Works” (2009), tendo falhado outros três filmes.

Mas Allen ainda não perdeu o jeito e este “Midnight in Paris” está bem esgalhado.

Ao estilo de “The Purple Rose of Cairo” (1985), o protagonista (Owen Wilson) torna-se personagem da sua própria fantasia.

Em “A Rosa Púrpura do Cairo”, o herói (Jeff Daniels), viu tantas vezes o mesmo filme que acabou por saltar para dentro da tela e contracenar com os personagens.

Em “Midnight in Paris”, o medíocre argumentista Gil Pender (Wilson a fazer de Woody Allen), salta no tempo para os anos 20 parisienses, ao entrar num velho Peugeot, í  meia-noite.

Nesses saltos no tempo, Pender vai conhecer Picasso, Hemingway, Dali, Gertrudes Stein (Kathy Bates), Luis Buí±uel, Man Ray, Cole Porter – enfim, todos os seus heróis e também Adriana (Marion Cotillard), que foi amante de Modgiliani e de Braque e que vive agora com Picasso.

Esta nova realidade, que Pender passa a viver, todas as noites, depois da meia-noite, afasta-o cada vez mais da sua realidade, isto é, da sua fútil noiva e dos seus futuros e execráveis sogros.

Mas Allen leva este “regresso ao passado” mais longe, já que Adriana gostaria de ter vivido na bélle époque e ambos acabam por fazer uma visita a essa era, onde encontram Degas e Gaugin, que gostariam de ter vivido no Renascimento. Para já não falar no detective que, a certa altura, começa a seguir Pender…

Woody Allen está em forma. Novamente.

PS – Há muito tempo que não ia ao cinema e já não me lembrava bem porquê. Hoje confirmei: sentámo-nos numa das salas vazias das Amoreiras í s 13h e começámos a ver o filme í s 13h25, depois de uma chuva de anúncios idiotas, com um som altíssimo!!! Cerca de 50 minutos depois, o filme é cortado í  faca para um intervalo de sete minutos! Porquê?!

Programas da manhã

Programas da manhã das televisões.

Não vejo, felizmente.

Diariamente, no restaurante onde almoçamos, fico sentado de frente para a televisão muda e leio os rodapés: “grávida dormia com o tio da prima”, “tentou salvar a tia e ficou queimado”, “foi violada por um marreco de raça negra”, “comeu fruta estragada e teve trigémeos”.

Sorrio, encolho os ombros e dedico-me ao almoço, sempre saboroso. Obrigado, Tucha!

Mas há um personagem que me deixa ficar sempre incomodado. Não me lembrava do nome da criatura, mas fui procurar no site da Sic e descobri que se chama Hernani Carvalho.

Diz que é jornalista, penso que já trabalhou na TVI, mas agora está na Sic… e é um especialista!…

Caramba, que especialista do caraças!

Enquanto devoro o almoço, vou deitando o rabo do olho para o televisor e vejo o homem a gesticular, sempre de cenho cerrado. Ele parece ser assertivo, ter a certeza de tudo e ter uma palavra definitiva para dizer sobre tudo, desde o caso da moça violada quando regressava a casa, até ao tipo que disparou a espingarda sem querer e matou o amigo.

Hoje, de férias, “apanhei” o tal Hernani ao vivo, isto é, com som, cá em casa, mais uma vez, enquanto almoçava, um excelente curry de frango, preparado pela Mila, em honra de um outro que comemos em Tromso, em Junho.

Pois lá estava o Hernani a cagar sentenças, desta vez, sobre a Sónia Frazão, personagem que eu só passei a conhecer depois da dita ter feito explodir o seu próprio apartamento.

Apanhei a coisa a meio, mas o especialista criminal (!) dizia qualquer coisa sobre doença celíaca e neuro-transmissores e tinha um careca ao seu lado, que parece que também era especialista (eles são todos especialistas!…)

Gritei um palavrão e mudei para a RTP-1 e dei com o bispo Manuel Martins, um velhinho muito bem conservado, com as unhas arranjadinhas, o anelinho na mão direita, os ésses sibilantes, perorando sobre o mundo e os seus pecados!

O velhinho estava contra as telenovelas e dizia que não percebia como é que as famílias não faziam uma revolução contra as telenovelas!

Porra!

O Hernani na 3, o bispo na 1… nem fui ver a 4!

Com programas da manhã destes, não admira que a malta continue um pouco estúpida…

Morrer no caminho

Mais um SAP que vai fechar durante a noite, em Vendas Novas .

A população protesta. Faz uma vigília í  porta do Centro de Saúde.

Dizem que Montemor-o-Novo fica muito longe. “Vamos morrer no caminho!”, lamentam.

(Note-se que são cerca de 26 km de distância entre as duas localidades).

Preferiam morrer na sua terra, o que é natural… Sim, porque um venda-novense com um enfarto que vá ao SAP de Venda Nova tem muitas probabilidades de morrer ali mesmo…

Morrer no caminho… é este o destino dos portugueses…

Reforma porno-democrática

—Quem se lembra da Cicciolina?

De seu verdadeiro nome, Anna Elena Staller, Cicciolina foi uma actriz porno muito famosa nos anos 80 e 90 do século passado. Nascida na Hungria, naturalizou-se italiana, no início dos anos 70, ao casar-se com o realizador de filmes pornográficos, com o sugestivo nome de Riccardo Schicchi.

Mais tarde, casou-se com o pintor naif norte-americano, Jeff Koons, em 1991 (é o menino que está por baixo dela na imagem).

Em 1979, Cicciolina decidiu enveredar pela política, ao mesmo tempo que continuava a fazer filmes porno.

Em 1987, foi eleita deputada pelo Partido Radical e durante 5 anos dividiu o seu tempo entre o Parlamento europeu e as pilas de Ron Jeremy, Rocco Siffredi e muitos, muitos outros!

Agora, com 60 anos, Cicciolina reformou-se.

Reformou-se e foi sacar 3 mil euros mensais í  Caixa Nacional de Pensões italiana, pelos seus 5 anos de duro trabalho como deputada.

Depois de ter sido comida das mais variadas maneiras por múltiplos parceiros cinematográficos, Cicciolina decidiu vingar-se comendo os contribuintes italianos.

Mas a dívida soberana da Itália começa a vacilar.

E qualquer dia, a troika vai atacar.

Claro que isso, para a Cicciolina, é canja.

Ela está habituada a despachar três de uma vez…