“O Caderno Proibido”, de Alba de Céspedes (1952)

Alba de Céspedes nasceu em Roma em 1911, trabalhou como jornalistas na década de 1930, publicou o seu primeiro livro cinco anos depois; foi também nesse ano que foi presa pela primeira vez, devido a actividades antifascistas. Faleceu em Paris em 1997.

“O Caderno Proibido” é um livro surpreendente que nos ajuda a perceber como era o ambiente da pequena-burguesia italiana (e portuguesa também, embora ainda mais pobre, penso eu).

A narradora é uma mãe de família, casada com um homem pouco ambicioso. Entre eles já não atração erótica e é suposto não haver porque já se considerem velhos, apesar de ainda não terem cinquenta anos. Têm uma filha que, a pouco e pouco, está a romper com as convenções e um filho, mais convencional. Valéria – é o nome da narradora – trabalha num escritório porque a família precisa de mais um salário; além disso, encarrega-se de todo o trabalho doméstico.

Certo dia, decide, num impulso, comprar um caderno e nele escrever um diário, que se manterá secreto.

À medida que vai escrevendo o seu diário, sempre às escondidas, Valéria cai-se descobrindo a si própria e questionando as convenções, embora não sinta coragem para as ultrapassar.

Um livro surpreendente, que aconselho.

“História do Novo Nome”, de Elena Ferrante (2012)

Este é o segundo volume da tetralogia L’Amica Geniale, da italiana Elena Ferrante.

história do novo nomeContinua a história de Elena e da sua amiga Lila, duas habitantes de um bairro pobre de Nápoles, cujas vidas, embora sempre ligadas, vão ter percursos muitos díspares.

O primeiro volume (A Amiga Genial), terminava com o casamento de Lila, aos 16 anos, com o dono da charcutaria, enquanto Elena não sabia ainda se haveria, ou não, de continuar os estudos.

Neste segundo volume, enquanto Lila vai caindo em diversos abismos, mantendo sempre a sua altivez, Elena, mais mansa, continua a estudar e, brilhante e disciplinada como é, acaba a licenciatura e até publica um livro.

Embora cada vez mais distantes, as duas amigas continuam unidas.

Ao contrário do que é habitual, não destaco nenhuma passagem do livro, porque todo ele é um conjunto perfeito. Para além da história ser boa, a autora, cujo verdadeiro nome continua uma incógnita, tem uma escrita envolvente.

Na estante, já tenho o terceiro volume, mas vou resistir-lhe e pegar no terceiro calhamaço do Knausgard.

“A Amiga Genial” (2011), de Elena Ferrante

Pouco se sabe de Elena Ferrante, a começar pelo próprio nome, que não deve ser esse.

Sabe-se que nasceu em Nápoles e que é mãe e mais nada. Não dá entrevistas, não se deixa fotografar e, no entanto, é considerada uma das escritores italianas mais importantes da actualidade.

amiga genialEste L’Amica Genial (Relógio de ígua, tradução de Margarida periquito) foi uma agradável surpresa e devorei-o em três tempos.

Trata-se do primeiro volume de uma tetralogia narrada por uma rapariga de um bairro pobre de Nápoles.

Com uma linguagem simples e fluente, vamos conhecendo as histórias de Elena Greco (a narradora), da sua grande amiga e inspiradora, Lila Cerullo, dos seus amigos e das respectivas famílias, do sapateiro, do charcuteiro, do mafioso do costume, do porteiro da Câmara.

Ao contrário dos outros miúdos, Elena vai continuando os estudos, da escola básica para o liceu e, í  medida que vai obtendo mais sucesso escolar, maior é a sua luta interior: por um lado, deseja ardentemente sair do bairro, viver outra vida, mas por outro é ali que estão as suas raízes.

Por outro lado, a sua grande amiga, Lina, que parecia ser mais capaz de romper com a vida do bairro, vai desistindo da escola, adaptando-se.

Como diz a professora de Elena: «A beleza que a Cerullo possuía na mente desde pequena não encontrou saída, Greco, e foi-lhe toda parar í  cara, ao peito, í s coxas e ao cu, lugares onde depressa desaparece, e é como se nunca a tivesse tido».

Não pude deixar de estabelecer um paralelo entre estas histórias e as que vivo, profissionalmente, no meu dia a dia, há 30 anos.

O livro termina com o casamento de Lina, aos 16 anos e espero que o segundo volume saia em breve.

Aconselho vivamente.

Lamber o Papa?

O Papa Francisco caiu no goto.

O culto da personalidade – algo que é contrário ao espírito da proclamada humildade cristã… – tem levado a t-shirts, canecas, crachás, cachecóis, pinturas murais, porta-chaves e tudo o que se possa imaginar, com a imagem do Papa.

Mas agora, graças a Fabio Martino, dono da gelataria Tre Leoni, na Calábria, o Papa vai literalmente cair no goto dos seus admiradores, já que foi inventado um gelado com sabor a Papa (“Gusto Papa”).

E a que é que sabe um Papa?

Depende do Papa, claro.

Suspeito que o anterior Papa Ratzinger deveria ter um sabor amargo.

Pelo contrário, o gelado Francisco sabe a queijo mascarpone e flor de morango.

Portanto, a partir de agora, além de vermos hordas acenando ao Papa, vamos passar a ver multidões lambendo, sorvendo, chupando o Papa.

Deus deve estar exultante!…

Mirem-se no exemplo de Falciano del Massico

Falciano del Massico é uma pequena localidade, a 50 km de Nápoles, com apenas 3700 habitantes, mas sem cemitério.

Como forma de protestar contra esta falha, o presidente da câmara local, Giulio Fava, publicou um decreto municipal que proíbe os munícipes de morrerem.

Leram bem: em Falciano del Massico é proibido morrer.

Só que, esta semana, dois cidadãos resolveram infringir a lei e morreram mesmo.

Fava não sabe o que há-de fazer.

Que castigo se aplica a dois cidadãos que não cumprem a lei, mas que estão falecidos?

Esta singela história mostra bem como há sempre ovelhas negras na melhor das democracias.

Que melhor forma de se protestar contra o facto de não termos um cemitério, se não recusarmos morrer?

E, mesmo assim, tinha que haver dois palermas a furarem o protesto!

Claro que em Portugal, isto seria impossível, já que o ministro Miguel Ervas nunca permitiria que uma comunidade com apenas 3700 habitantes tivesse direito a ter um presidente da Câmara – quanto mais um cemitério!

Reforma porno-democrática

—Quem se lembra da Cicciolina?

De seu verdadeiro nome, Anna Elena Staller, Cicciolina foi uma actriz porno muito famosa nos anos 80 e 90 do século passado. Nascida na Hungria, naturalizou-se italiana, no início dos anos 70, ao casar-se com o realizador de filmes pornográficos, com o sugestivo nome de Riccardo Schicchi.

Mais tarde, casou-se com o pintor naif norte-americano, Jeff Koons, em 1991 (é o menino que está por baixo dela na imagem).

Em 1979, Cicciolina decidiu enveredar pela política, ao mesmo tempo que continuava a fazer filmes porno.

Em 1987, foi eleita deputada pelo Partido Radical e durante 5 anos dividiu o seu tempo entre o Parlamento europeu e as pilas de Ron Jeremy, Rocco Siffredi e muitos, muitos outros!

Agora, com 60 anos, Cicciolina reformou-se.

Reformou-se e foi sacar 3 mil euros mensais í  Caixa Nacional de Pensões italiana, pelos seus 5 anos de duro trabalho como deputada.

Depois de ter sido comida das mais variadas maneiras por múltiplos parceiros cinematográficos, Cicciolina decidiu vingar-se comendo os contribuintes italianos.

Mas a dívida soberana da Itália começa a vacilar.

E qualquer dia, a troika vai atacar.

Claro que isso, para a Cicciolina, é canja.

Ela está habituada a despachar três de uma vez…

Afinal, não somos um país de merda?

Todos os dias há uma surpresa.

Ontem, descobri que era rico.

Hoje descobri que, afinal, Portugal não é um país de merda!

Soube-se hoje que Sílvio Berlusconi, falando ao telefone com um amigo, disse:

«Daqui a uns meses vou-me embora… Vou-me embora deste país de merda que me dá náuseas!»

Portanto, afinal, Itália é que é um país de merda!

Portugal… nem isso…