Espeta-lhe essa alheira no coração!

Fui surpreendido por este título do Diário de Notícias de hoje:

«Passos Coelho não recebeu facas mas sim alheiras»

Mas afinal, o que vem ser esta conversa de objectos cortantes e enchidos?

Em traços largos: um empresário de Lamego, Júlio Marinheira, farto de esperar financiamento para um empreendimento hoteleiro, decidiu escrever uma carta a Passos Coelho, a expor a situação.

Segundo notícia da SIC, essa carta, dirigida ao primeiro-ministro, acabou por chegar ao Ministério da Economia e, dentro do envelope, vinha uma faca!

O DN foi investigar e falou com a segurança de São Bento.

E que lhe disseram?

«Uma dessas fontes conta que “de vez em quando, têm sido recebidas algumas encomendas, mas que não têm nada de ameaçador, como alheiras e alguns produtos de gastronomia regional”».

Ora isto é muito grave!

Uma faca destinada a Passos Coelho, para que ele corte os pulsos, por exemplo, é compreensível… agora, quem são os cabrões que lhe estão a enviar alheiras, pá?

Cambada de vendidos!

 

Milagres

Telejornal da Sic:

Um homem, numa igreja, em Espanha, deu um tiro na cabeça de uma mulher grávida em fim de tempo. Inopinadamente. A seguir, meteu o cano da pistola na boca e suicidou-se.

A emergência médica chegou, confirmou o óbito da grávida, fez uma cesariana e o bebé nasceu, saudável.

A jornalista, dando voz aos crentes que estavam na igreja e que assistiram à cena, diz que todos concordaram que se tratou de um milagre.

O que foi milagre – a morte da mãe ou o nascimento do filho?

Deus estava distraído, no momento em que o homem deu o tiro na cabeça da grávida e depois, para compensar, ajudou os médicos a salvarem a criança?

Notícia seguinte:

Na Austrália, um ultra-leve chocou contra uma roda gigante de um feira. Os dois ocupantes da aeronave e duas crianças de 9 e 11 anos ficaram encarcerados e o salvamento de todos demorou horas.

Novamente, a jornalista (não posso afirmar se foi a mesma), diz que houve milagre.

Se calhar, Deus estava ocupado a salvar estas quatro pessoas na Austrália, distraiu-se e, quando deu por isso, já o louco tinha morto a grávida e Nosso Senhor só foi a tempo de salvar a criança…

Mas milagre a sério é esta outra notícia:

Em Portugal, cerca de 500 médicos já mortos, continuam a figurar nos registos oficiais e alguns deles ainda passam receitas!

Isto sim, é um milagre do caraças!

De Balocas até Valpaços

O telejornal da Sic está a transformar-se, a pouco e pouco, num excelente programa humorístico.

Depois da história do roubo do Pilinhas, hoje tivemos direito a uma excelente reportagem sobre dois padres.

O primeiro padre é de Balocas, uma localidade do concelho de Seia.

Pois o senhor prior recusou-se a dizer missa durante as festas da aldeia, porque as mesmas eram abrilhantadas por um artista pimba, chamado Gabriel (?), acompanhado por duas bailarinas, “duas putas”, na opinião do pároco.

O segundo padre é o de Valpaços, que se recusou a dar a hóstia a uma menina, porque ela usava um decote que ele considerou indecoroso.

A repórter entrevista a menina à porta da igreja. A moça, com ar cândido, responde com os olhos postos no chão e exibe o tal decote, que deixa entrever dois milímetros dos seus seios púberes.

E, com os ésses sibilantes da beira, explica:

“O xenhor prior levantou a hóstia ainda maij alta e eu, como não chegava lá, voltei para o banco!”.

Coitadinha!…

Com a hóstia tão alta, como podia ela abocanhá-la?!

Xenhor! Por que obrigaich ach môchas a tão durach provachões?…

E a moça acrescentou que, depois, ao ver que ela olhava para ele, o eclesiástico exclamou, alto e bom som:

“Não me olhech com eches olhoch!”

Impagável!

Estas reportagens da Sic fazem mais mal à nossa dívida soberana do que o governo de Passos Coelho!

O revólver e o pilinhas

De palito na mão, franze o sobrolho, com ar entendido e explica que o homem estava sentado na esplanada quando o outro apareceu e deu-lhe um tiro de raspão na cabeça. E não lhe deu logo outro tiro porque a arma se encravou.

“Não sei se era uma pistola ou era um revólver, mas parece-me que era uma pistola, porque um revólver não encrava!” concluiu, triunfante.

Tudo se passou em Mação. Um agente da GNR, de folga, estava sentado numa esplanada, com amigos, quando outro homem, com cerca de 80 anos, ex-agente da autoridade, surgiu e disparou três tiros, atingindo o GNR.

O corajoso repórter, explicou-nos que os dois homens tinham problemas antigos por resolver e que o baleado, depois do segundo tiro, fugiu e, quando levou o terceiro tiro, caiu num descampado (a imagem mostra-nos um baldio com tranquilas ovelhas pastando…). Foi aí que foi assistido.

Claro que este acontecimento em Mação, não se compara com a catástrofe ocorrida em Oliveira de Azeméis: roubaram o Pilinhas!

O Pilinhas é uma estátua de bronze, de 1930, representando uma criança, de pilinha alçada, no cimo de um paralelepípedo, que é uma fonte. Estava há 80 anos num jardim de Oliveira de Azeméis. Estava, mas já não está, por alguém roubou o Pilinhas.

Como disse o Presidente da Câmara, as autoridades têm que fazer alguma coisa, caso contrário, começará a desaparecer o nosso património.

Hoje, o Pilinhas de Oliveira de Azeméis, amanhã, o Mosteiro dos Jerónimos!

Estas foram duas intrépidas reportagens que passaram no telejornal da Sic de hoje.

I rest my case!

O mundo não nos importa

Tony de Matos, cançonetista afamado do século passado, tinha uma cantiga que rezava assim: “Que falem, não nos interessa/ O mundo não nos importa/ O nosso mundo começa/ Cá dentro da nossa porta”.

Também aos jornais televisivos, o mundo não os importa. Só temos direito a notícias cá da paróquia; do estrangeiro, quase nada. E também não podemos propriamente chamar notícias àquilo, partindo do princípio que “notícia” significa “novidade”.

Ontem, por exemplo, o jornal da noite da Sic abriu com a não-notícia, veiculada pelo semanário Sol, segundo a qual Sócrates recebeu um sms de Vara, informando-o de que Moura Guedes ia deixar de apresentar o jornal da TVI, minutos antes da notícia sair na comunicação social – o que quer dizer que Sócrates mentiu ao Parlamento, uma vez que disse que tinha tido conhecimento do facto através da comunicação social.

Grande notícia de abertura, não?

Seguiram-se, depois, não-notícias sobre as medidas de austeridade, uma vez que não há nenhuma novidade neste campo, mais algumas especulações sobre a tentativa de compra da PT pela Telefónica, qualquer coisa da visita de Sócrates ao Brasil e ligação a Madrid, onde uma enviada especial está há vários dias a debitar não-notícias sobre Mourinho, que ainda não chegou, mas está quase a chegar à capital espanhola. Houve também uma ligação directa à Covilhã, onde um jornalista com nome de medicamento (Nuno Luz – Tuneluz), debitou mais uma série de não-notícias sobre a selecção.

E cerca de 50 minutos depois do seu início, finalmente, notícias internacionais, no jornal da Sic: um parágrafo sobre o atentado maoista na Índia, que já vai em 90 mortos, umas linhas sobre outro atentado, mas no Paquistão, uma coisa a fugir sobre a maior catástrofe ambiental dos Estados Unidos e um fait-divers sobre o corte, por engano, da linha telefónica do primeiro-ministro grego – 3 minutos de notícias internacionais! Três míseros minutos!

Nada sobre a tensão entre as duas Coreias, que pode desencadear uma nova guerra, nada sobre os conflitos na Jamaica, que está à beira de uma guerra civil, nada sobre as relações entre o Brasil e o Irão, que estão a irritar a diplomacia norte-americana. Nada!

Uma vergonha de um jornal, uma vergonha editorial.

Portugal não passa de uma paróquia e tem os jornalistas que merece…

Serrano & Pelicano

Reinaldo Serrano é aquele repórter da SIC com uma obesidade que o integra na lista de prioridades para ser vacinado contra o H1N1 e que possui, também, um bigode que já ninguém usa, a não ser ele.

Vejo-o de vez em quando, nos telejornais da Sic, sobretudo na altura das eleições.

Vi-o, há uns anos, a levar uns encontrões valentes, durante uma “arruada” qualquer. Quase submerso pelos manifestantes, agarrava o microfone como se fosse uma bóia de salvação e ia debitando informações, enquanto submergia.

Tenho reparado nele, de quando em vez e, nestas três campanhas eleitorais, com mais insistência.

Nas autárquicas, foi destacado para seguir a campanha do PS. Cada reportagem sua é um poema falhado – falhado porque quer parecer um poema, mas é apenas um texto cheio de lugares comuns e jogos de palavras. Como uma redacção de um daqueles putos bons a português, que ganham prémios no Liceu e cujos pais dizem: “o meu filho, quando crescer, há-de ser escritor”.

E, depois, não passam de repórteres da Sic…

Um exemplo: “O quarto poder é um quarto. Com vista sobre a cidade que já não o é; sobre as ruas que já o foram; sobre as casas que deixaram de o ser.”

Lindo, não é?…

O problema é que Serrano escreve este tipo de texto quer seja sobre a importância da comunicação social (o quarto poder), quer seja sobre uma arruada do PS no Cacém. O tom é sempre o mesmo…

Ontem, Reinaldo Serrano tentou perguntar a Mário Soares, o que é que ele achava do facto de Helena Roseta concorrer com António Costa.

O octogenário Soares começou por se espantar: “Você por aqui, outra vez? Não esteve comigo esta manhã? Ah, foi ontem, no Cacém!… Então, diga lá…”

E Reinaldo fez as perguntas.

E Soares mandou-o passear: “Você diga lá a quem o manda fazer essas  perguntas que não me obriga a dizer o que você quer que eu diga!…”

Tudo com bonomia, tudo muito civilizado.

E Serrano, igualmente bochechas, sorrindo também, encaixou e foi entrevistar Almeida Santos.

Ganda Serrano!

Quanto ao Pelicano – é o operador de imagem. Não tem culpa nenhuma disto. Apenas aparece no título deste texto do mesmo modo como Serrano escreve os textos – por associação: Serrano & Pelicano…