Bom dia, Sr. Manuel Acácio: quanto í  física quântica…

Todos os dias, de segunda a sexta, a rádio TSF ocupa duas horas da sua programação, das 10 ao meio-dia, com um Fórum, onde o jornalista Manuel Acácio atende telefonemas de ouvintes sobre os mais diversos temas, desde as transferências no futebol, ao aumento do número de casos de covid 19.

Tenho o cuidado de não ouvir o programa, mas, por vezes, sem querer, tenho o rádio ligado e oiço o Sr. Monteiro, taxista, que nos liga em viagem, a dizer que o governo quer destruir o tecido empresarial português com este aumento de impostos, ou o Sr. Galhardo, reformado, que nos liga de Santarém, a dizer que a nova legislação sobre as barrigas de aluguer é uma desgraça porque tem uma tia que gostaria de engravidar, mas está desempregada, ou ainda o Sr. Joaquim, que nos liga de Vila Pouca de Aguiar e que quer deixar o seu depoimento sobre os novos medicamentos anticancerosos, cujo preço não está regulamentado pelo governo.

Por exemplo, o Sr. Armando, comerciante de Paredes, participou no Fórum sobre fruta normalizada, adopção por casais do mesmo sexo, máquinas de radioterapia que estão fechadas há anos no Hospital de Santa Maria, e aumento do preço dos combustíveis. E isto é paradigmático. Qualquer pessoa pode ligar para o Fórum e dizer as maiores barbaridades sobre qualquer assunto e programa mais democrático não há.

As pessoas não têm o direito?

Claro que têm!

Mas isso é informação?

Duvido.

Mas gostaria de ouvir o Sr. Armando, comerciante de Paredes, dizer qual a sua opinião sobre a radiação de corpo negro, no âmbito da física quântica e o que o governo devia fazer quanto a isso.

The good, the bad and the ugly

No que respeita aos ingleses, temos que os classificar em três categorias principais.

Temos os bons, que são aqueles que inundam o Algarve, enchem os hotéis e os alojamentos locais, as piscinas e os restaurantes, os bares e os campos de golfe.

Podem beber até vomitar, ignorar o uso de máscara e o distanciamento social, mas são tão bonzinhos! Vêm lá de longe, em voos charter, só para salvar o nosso turismo.

God save the good british people!

Mas temos também os ingleses maus, que foram aqueles adeptos do Manchester City e do Chelsea que vieram para o Porto provocar desacatos, andar í  porrada uns com os outros e fazer figuras tristes na Ribeira. Está bem que esgotaram a cerveja e gastaram uns cobres nos bares e restaurantes rascas, mas afugentaram os clientes dos restaurantes bons que, vendo aquela bagunça, preferiram almoçar em casa.

Bad british people!

Finalmente, temos os chefes dos ingleses, o Boris Johnson e colegas. Eles veem the good british people a tostar no Algarve e a gastarem as libras em Portugal, e ficam com inveja; por revenge, decidem enviar para cá the bad british people cometer desacatos, em vez de irem andar í  porrada í  volta de Wembley ““ e, finalmente, colocam Portugal na lista negra, obrigando os seus súbditos a quarentena, se quiserem viajar até cá. E porquê? Por que temos uma dúzia de casos da variante nepalesa. No fundo, o que o governo inglês quer é que os britânicos gastem o dinheiro das férias no seu próprio país.

São the ugly british people.

Temos que acabar com esta dependência pelo turismo britânico.

Portugal não pode ser para inglês ver.

A melancolia do Mel

MEL é a sigla de Movimento Europa e Liberdade.

Trata-se de um grupo de senhores que se afirmam de Direita e que se juntam para pensar Portugal.

É sempre bonito pensar Portugal…

A coisa é organizada por um tipo chamado Marrão, e no palco desfilaram os líderes do PSD, do CDS, da Iniciativa Liberal e até do Chega.

No entanto, para a comunicação social, a estrela do MEL foi Passos Coelho, agora com novo look: cabeça rapada, deixando ver um crânio de pepino, e barba de cinco dias.

Rui Rio foi o último a discursar, como que em apoteose, mas é como se estivesse a fazer o seu elogio fúnebre.

Coelho vai ser o salvador da Direita. Ele, que inventou o Ventura, espera calmamente pela hecatombe eleitoral do PSD para regressar, cheio de glória, e liderar uma imensa coligação, onde caberão todos (caberão, cabrão…) – incluindo aquele senhor que, no MEL, disse que o Estado Novo resolveu o problema do analfabetismo e baixou a taxa de mortalidade infantil.

Cuidem-se, que tempos tenebrosos se aproximam…

—


Acredita! A culpa é do Cabrita!

Todas as instituições têm um bombo da festa.

O bombo deste Governo é o ministro Cabrita.

O combate aos incêndios corre mal?

A culpa é do Cabrita.

O SEF tem inspectores que matam (sem querer) estrangeiros?

A culpa é do Cabrita.

A PSP e a GNR andam í  deriva?

A culpa é do Cabrita.

Os imigrantes vivem amontoados em Odemira?

A culpa é do Cabrita.

O Sporting é campeão?

A culpa é do Cabrita.

Neste caso, é exagero. A culpa deve ser do Rúben Amorim e companhia, mas aquele ajuntamento de milhares de pessoas com camisolas í s riscas, só pode ser culpa do Cabrita, que devia ter proibido o Sporting de ser campeão e arranjar as coisas de maneira a que, este ano, o campeão fosse, por exemplo, o Moreirense.

É que Moreira de Cónegos não chega aos 5 mil habitantes e os festejos seriam, de certeza, mais parcimoniosos, mais de acordo com os tempos pandémicos que vivemos.

Mas Cabrita permitiu que o Sporting fosse campeão e foi o que se viu: milhares de pessoas na rua, sem máscara, sem distanciamento social, gritando, expelindo gotículas de saliva em todas as direcções.

De certeza que, entre aquela multidão, estavam muitos tipos que protestaram contra a Festa do Avante e similares.

Daqui a uns dias, se quisermos saber a que clube pertence determinada pessoa, basta fazer-lhe um teste covid. Se for positivo, é porque é lagarto.

Se António Costa ainda duvidava, depois do que aconteceu ontem já pode avançar com a demissão do Cabrita, sem ficar com problemas de consciência.

E quanto ao facto do Sporting se ter sagrado campeão, 19 anos depois, a 2 dias de se comemorar a aparição da Senhora de Fátima, só pode ter sido milagre…

—

Cuidado com a carteira! Vem aí o padre Teixeira!

Esta semana, o padre António Teixeira foi condenado a uma pena suspensa de quatro anos e meio de prisão.

E que pecados cometeu o padre Teixeira para merecer tal condenação?

Coisa pouca.

O padre foi condenado por ter desviado arte sacra e esmolas da paróquia do Santo Condestável, para comprar carros e custear outras despesas pessoais.

Condenação injusta, claro.

Pois se o padre só auferia 820 euros por mês, como podia ele fazer face í s despesas correntes, nomeadamente, os veículos de que necessitava para se deslocar.

Ao longo de seis anos, o padre Teixeira comprou dezanove carros, entre os quais, um Mercedes de 36 mil euros.

Para além de desviar as esmolas que os crentes deixavam naquela igreja de Campo de Ourique, também vendeu a antiquários um cálice cerimonial adornado com safiras, rubis e esmeraldas e várias imagens do século 17, mobiliário diverso e objectos em prata e marfim, como crucifixos e custódias.

E porque digo que a condenação foi injusta?

Por várias razões: por um lado, o padre estava a aliviar a igreja de todas aquelas riquezas, para que ela ficasse mais pobre, portanto, mais perto de Jesus; por outro, o padre estava a tentar comprovar se é mais fácil um camelo passar por um buraco de agulha, do que um rico entrar nos reinos dos céus ““ e pimba, leva com quatro anos de prisão! Que injustiça!

Barreto – ou como voar da Esquerda para a Direita em 60 anos

António “…Pingo Doce” Barreto é um personagem curioso. Apesar de já ter defendido o que agora ataca e atacado o que agora defende, continua a ser ouvido e entrevistado e a publicar uma crónica todas as semanas.

Nascido em 1942, Barreto foi militante do Partido Comunista entre 1963 e 1970, isto é, entre os 21 e os 28 anos ““ coisas da malta nova.

Em dezembro de 1974, aderiu ao Partido Socialista e, no ano seguinte, foi eleito deputado pelo PS. No primeiro governo constitucional, liderado por Mário Soares, foi ministro do Comércio e Turismo e, depois, ministro da Agricultura e Pescas, tendo sido o responsável pela famosa Lei Barreto, que redefinia a Reforma Agrária.

Tinha, então, 32-33 anos.

Em 1978, com 36 anos, afastou-se do PS e aproximou-se da Aliança Democrática de Sá Carneiro.

Mas regressou ao PS entre 1987 e 1991, tendo sido, novamente, eleito deputado por aquele partido.

Por volta dos 50 anos, abandonou definitivamente o Partido Socialista e foi-se endireitando cada vez mais.

Hoje, com quase 80 anos, Barreto deu uma entrevista ao jornal Nascer do Sol.

São 3 ou 4 páginas de perguntas e respostas e Barreto diz coisas como estas:

– “…A justiça do antigo regime era mais séria do que a de agora”, como se comprova pelos Tribunais Plenários.

– “…A requisição civil em Odemira é um acto de terrorismo político” ““ Osama Bin Laden não diria melhor…

– “…Vamos ter um problema de cor de pele por muitos anos” ““ gostava de saber onde é que o Tó Barreto se bronzeia…

– “…A violência dos EUA sobre brancos é aceitável, a violência sobre negros passou a ser de bradar aos céus” ““ quer dizer que, antes, era aceitável também?… Aos 20 comunista, aos 30, socialista, aos 40, social-democrata, aos 60, conservador-liberal. Agora, que se aproxima dos 80, será que Barreto vai aderir ao Ch#ga?

25 de Abril sempre!

Quando, com 20 anos, comecei a coleccionar, num dossier, recortes do jornal República, não sabia quase nada.

Não sabia, por exemplo, que em breve começaria a colaborar com o jornal, com textos mais ou menos humorísticos, influenciados pelo Mário-Henrique Leiria.

Não sabia, também, que, graças a esses textos, conheceria o ílvaro Guerra e que, depois do 25 de Abril, ele me convidaria para uma experiência como jornalista na RTP, que durou até acabar o curso de Medicina, entre junho de 1974 e dezembro de 1977.

Não sabia, nem poderia imaginar, que, 47 anos depois, ao ler alguns desses recortes ficaria incrédulo: mas que país era aquele?

Ao folhear o grosso dossier repleto de recortes, todos de 1973, tenho dificuldade em escolher um que seja representativo da tristeza de país em que vivíamos.

Podia escolher aquele em que o presidente Américo Tomaz dizia que «é necessário evitar, a todo o custo, o caos em que a civilização ocidental se está precipitando. (…) Temos de nos manter permanentemente em estado de alerta e prontos a imitar Cristo”.

Ou ainda aqueloutro, em que o chefe do governo, Marcello Caetano dizia «pus um travão ao processo de liberalização em Portugal apenas porque o futuro está seriamente ameaçado pela difusão de ideias anarquistas e socialistas».

Acabei por escolher este recorte, também de agosto de 1973. Podemos ler afirmações de Natália Tomaz, esposa do presidente, do próprio presidente e ainda do inefável governador civil de Lisboa, Afonso Marchueta. Poucos se lembram desta gente, nomeadamente, muitos dos democratas formados í  pressa que andam por aí a dar vivas í  liberdade, mas, no fundo, desejam ardentemente que se estabeleçam limites para essa mesma liberdade.

Hoje mesmo, nas declarações de alguns dirigentes partidários, no final das comemorações do 47º aniversário do 25, ouvi palavras semelhantes. Aquele Francisquinho do CDS, por exemplo, afirmou que quer libertar Portugal do jugo socialista, coitado…

—

Fascismo, nunca mais!

O Sócrates já foi vacinado?

Vamos ao que interessa: José Sócrates já foi vacinado?

Sabemos que não faz parte de nenhum grupo de risco, mas com tantos conhecimentos, não terá conseguido uma dosezinha da vacina, mesmo que fosse da AstraZeneca?

Certamente que, se deixassem o procurador Rosário Teixeira investigar, descobriríamos que o amigo Carlos Santos Silva teria importado uma embalagem de vacinas, para Sócrates ser vacinado e vacinar todas as suas testas de ferro.

Aí está mais um crime socrático que não vai a julgamento!

O juiz Ivo Rosa deu ontem uma lição de como se consegue resumir seis mil páginas em três horas. Mas podia ter feito melhor: bastava que dissesse apenas quem vai a julgamento e porquê, em vez de gastar saliva a descrever as centenas de crimes que caíram por terra.

Ricardo Salgado já deve ter sido vacinado, uma vez que faz parte de um grupo prioritário por ter sido banqueiro.

O juiz disse que ele, afinal, não corrompeu ninguém, nem Sócrates, nem Granadeiro, nem Bava.

Se eu fosse ao Salgado, sentia-me injustiçado!

Quem julga aquele juiz que é, para considerar que Salgado não é capaz de corromper ninguém?!

Depois, há a questão das prescrições.

Há quem não perceba isso das prescrições.

Mas é simples: se roubares, fugires ao fisco, sonegares informação, tiveres benefícios ilícitos, em suma, se fores um grande ladrão, mas só fores descoberto passados cinco anos, é como se nada se tivesse passado.

É como se deixasses a vacina do covid passar do prazo de validade.

Deixa de fazer efeito.

Quem fica muito mal nesta fotografia é o juiz Carlos Alexandre.

Ora vejam…

—

Feliz Moedas Oliveira Leite

Rui Rio não teve qualquer dificuldade em escolher os candidatos do PSD í s principais Câmaras do país.

Escolheu pelos nomes.

A Câmara do Porto foi a mais difícil. Não podendo apoiar a recandidatura do seu homónimo, por razões relacionadas com ódios figadais, viu-se um bocado aflito para encontrar um candidato cujo perfil encaixasse nas suas premissas, e que eram, já que não posso ganhar, ao menos que seja feliz.

E foi quando se lembrou do Vladimiro que, apesar do primeiro nome com ressonâncias soviéticas, tem um apelido feliz- exactamente, Feliz.

Portanto, para o Porto, Vladimiro Feliz.

Quanto a Gaia, que tal aquele coleccionador de arte contemporânea que nada tem a ver com futebol, de apelido Oliveira?

Pois não é a oliveira um dos símbolos da paz, quando um dos seus ramos é transportado pelo bico de uma pomba?

Fica então o António Oliveira para a Gaia.

Sintra era outro problema bicudo, já que, pela frente, vai haver um Horta.

Neste caso, foi o rapazinho do CDS que lhe deu a ideia, ao recordá-lo desse grande democrata que dava pelo nome de Jacinto Leite Capelo Rego.

Também tenho um Leite! – exclamou Rio.

E Batista Leite ficou por Sintra.

Quanto a Santana Lopes, Rio ainda tentou Torres Vedras, mas Lopes é um apelido fraco e o Sr. Lopes ficou sem Câmara.

Finalmente, para Lisboa, que tal um Moedas, para atirar í  cara do Medina?

Esse tipo que só tem testa está farto de gastar dinheiro só para ser reeleito – agora até se lembrou de ir testar os lisboetas í  covid, só para garantir votos.

Mas o Moedas vai fazer-lhe frente!

Como se viu na conferência de imprensa de apresentação do candidato, o Moedas estava cheio de pica para avançar.

Não admira, ele é Carlos – vale por dois!…

—

Medidas contra a vaga de frio

68. Decorreu, esta tarde, a reunião com os especialistas.

Perante a vaga de frio que atravessamos, e depois de ouvir os especialistas, o governo aconselha o uso de gorro e luvas e, sempre que possível, as pessoas devem manter-se em casa, embora com o devido distanciamento em relação aos aquecedores, lareiras e escalfetas.

Foram estes os conselhos do primeiro-ministro, que se retirou rapidamente, esfregando as mãos e com os lábios roxos.

O líder da Oposição veio criticar o governo, dizendo que estas medidas pecam por tardias; no fim de verão, era previsível que tivéssemos uma vaga de frio e, portanto, o governo devia, então, ter tomado medidas. Agora, é tarde e vamos continuar a tiritar.

Os partidos mais í  esquerda, embora concordem com o gorro e as luvas, exigem medidas de apoio í  compra de aquecedores e de lenha para todos os operários, camponeses, soldados e marinheiros.

O partido liberal, pelo contrário, não está de acordo com a obrigatoriedade do uso de luvas e gorros e afirma que, se as pessoas quiserem andar de calções e havaianas, estão no seu pleno direito porque o mercado tudo regula.

Finalmente, a extrema-direita exige que acabem com os subsídios para a compra de luvas e gorros para toda aquela malta que não quer trabalhar, incluindo os que vêm de Marrocos.