Conto de Natal

Era uma noite fria de Dezembro e a neve caía em espessos flocos sobre os camelos e os seus ocupantes.

Eram três reis que se diziam magos e que vinham em busca do Menino para lhes ofertarem desemprego, miséria e recessão.

Chamavam-lhes troika e eles não se importavam com o insulto.

Por cima do estábulo, uma estrela cadente parou o seu percurso e fixou-se no firmamento.

Lá dentro, Pedro e Maria Luis, abençoados pelo olhar vazio de Aníbal, admiravam o menino, acabado de dar í  luz.

Chamaram-lhe Orçamento e nasceu para nos lixar em 2014…

Boa ideia, Francisco!

O Papa Francisco anda a maravilhar o mundo ocidental com as suas atitudes, os seus gestos e as suas palavras.

Afinal, é fácil maravilhar o mundo ocidental: basta dizer e fazer coisas óbvias, que qualquer pessoa de bom senso diz e faz – mas, ditas e feitas pelo Papa, têm outra força.

E, ainda por cima, o Papa até gosta de futebol, como o comum dos mortais! Tão querido!

O que é certo é que, em meia dúzia de meses, o homem já conseguiu seduzir dirigentes, jornalistas e massas e até já foi considerado a Figura do Ano pela Time.

Agora, que é Natal, Francisco disse mais umas coisas.

Disse, por exemplo, que “…Con la comida que se tira se podría alimentar a todas las personas que padecen hambre en el mundo”.

Isto é, para quem não pesca espanhol, que, com os restos de comida que se deitam fora, se poderia dar de comer a quem tem fome.

E esta?!

E eu que nunca tinha pensado nisto, caramba!

Grande ideia, Francisco!

Já agora, dá pernas a essa ideia e põe os padres de todas as paróquias a recolher os restos de comida, em vez de andarem a fazer festinhas nas criancinhas.

Depois, os padres levam esses restos aos bispos, que os fazem chegar aos missionários espalhados pelo mundo e estes, por sua vez, distribuem a comida por quem tem fome.

Isso é que era uma coisa bem feita, Francisco!

Talvez assim, finalmente, a tua igreja fizesse algo de útil!

Exercícios cerebrais

A revista Notícias Magazine, publicou um artigo intitulado “Como ter uma super memória”.

Nesse artigo, fala-se de Ramón Campayo, um espanhol de 48 anos que é o único homem no mundo a conseguir memorizar 23 200 palavras, ouvindo-as apenas uma vez, e reproduzindo-as, depois, pela mesma ordem; além disso, o tipo decora cem números em 50 segundos.

Gostaria de saber qual é o interesse de memorizar 23 mil palavras e 1oo números, mas adiante.

Claro que o homem escreveu um livro.

Até aqui, nada de novo…

Pois se o Ronaldo e o Beckham também escreveram um!

Nesse livro, o Campayo ensina 10 exercícios para o cérebro.

São eles:

1º Lave os dentes com a mão não dominante; 2º Tome banho de luz apagada; 3º Mude o caminho para o trabalho; 4º Use o relógio no outro pulso; 5º Reconstitua um momento da sua infância; 6º Aprenda de cor uma música nova; 7º Comece a pintar; 8º Jogue xadrez; 9º Durma bem – pelo menos oito horas por noite; 10º Pratique exercício físico e uma alimentação equilibrada

Depois, quando tiver o intervalo entre os dentes cheios de restos de salada e as axilas e os sovacos enxovalhados, quando tiver faltado ao trabalho dias a fio porque não encontra o caminho, quando não conseguir dizer a que horas anda, quando desatar a chorar por reconstituir aquele momento em que o seu pai o proibiu de brincar com o seu brinquedo favorito, quando passar o dia a trautear uma canção do Dino Meira e a pintar paredes enquanto joga xadrez antes de dormir oito horas seguidas e quando praticar exercício equilibrado e alimentação física, poderá, finalmente decorar 23 mil palavras e cem números e perguntar PARA QUíŠ, PORRA?!

Merkolândia

Merkel e Sarkozy entenderam-se.

Falava-se em Merkozy.

Quando Hollande foi eleito, houve quem sonhasse que ele iria fazer frente í  Merkel.

Engano, claro.

Depois de uma reunião em Paris, Merkel disse: “com esta nova etapa da nossa relação, queremos fazer avançar a Europa e fazer dela o continente mais forte do mundo”.

Uma nova etapa na relação entre Merkel e Hollande?

Hollande é tenrinho demais para Merkel.

Merkel já o papou…

merkel e hollande

“Filho de Deus”, de Cormac McCarthy (1973)

Conheci este autor norte-americano através do surpreendente A Estrada (2006), um dos livros que mais me marcou nos últimos anos.

cormac mccarthyLogo no ano seguinte, em 2007, Cormac McCarthy foi muito falado a propósito do filme dos irmãos Coen, No Country for Old Men, baseado no seu livro homónimo, Este País Não é Para Velhos (2005).

Fui em busca de mais livros seus.

McCarthy, vencedor do National Book Award e do Pullitzer, nasceu em 1933, em Rhode Island, mas vive há muitos anos no Texas e alguns dos seus livros têm esta zona dos States como pano de fundo.

É o caso de Suttree e de Child of God, este último baseado em factos verídicos.

O livro conta-nos a história de Lester Ballard, um solitário camponês que, afastado das suas terras, e sofrendo de graves perturbações psicóticas, inicia uma série de crimes hediondos, incluindo, por exemplo, profanação de cadáveres.

Um pequeno excerto:

filho de deus«Você não é da polícia, disse o rapaz.

Isso é cá comigo, disse Ballard. O que é que vocês os dois estão a fazer aqui?

Estávamos só aqui sentados, disse a rapariga. Tinha preso ao ombro um enfeite de folhagens de gaze com duas rosas de crepe púrpura.

Estavam-se a preparar para foder, não estavam? Observou a cara deles.

É melhor ter cuidado com a língua, disse o rapaz.

Porquê? És tu que me vais obrigar?

Deita a espingarda e vais ver.

Se estás em pulgas, salta cá para fora, disse Ballard.

O rapaz curvou-se sobre o painel de instrumentos e girou a chave na ignição, fazendo o motor soltar alguns roncos.

Larga isso da mão, disse Ballard.

O motor teimava em não pegar. O rapaz levantara o braço como se fosse dar uma pancada no cano da espingarda quando Ballard lhe deu um tiro no pescoço. Ele caiu de lado sobre o colo da rapariga. Ela juntou as mãos e pí´-las debaixo do queixo. Oh não, disse.

Ballard puxou a alavanca da arma e meteu outro cartucho na câmara. Eu avisei esse estúpido, disse ele. Ou não avisei? Não sei porque é que as pessoas se gostam de fazer surdas.»

Este é o estilo de McCarthy, sincopado, frases curtas, discurso directo e indirecto misturados, o que dá um ritmo muito especial í  narrativa.

Gosto.

Insectos í  mesa

O Diário de Notícias revela na sua edição de hoje que no Curso de Restauração do Instituto Politécnico de Leiria, a professora Patrícia Borges está a ensinar a cozinhar insectos.

Para já, começou com grilos, gafanhotos e besouros porque, como diz a professora, “são os mais aceitáveis”. E acrescenta: “outros, como baratas, por exemplo, podem levar a que as pessoas nem queiram experimentar”.

Não sei porquê, professora Patrícia!

Quem come grilos ou besouros, também há-de comer baratas, melgas ou piolhos, digo eu.

O dono da loja Aki í  Bixo, José Costa, tem uma parceria com o Instituto e fornece-lhe os insectos, já que o produz para a alimentação de répteis e aves.

José Costa não explica porque tem dois erros ortográficos no nome da sua loja, nem explica por que razão ainda não experimentou comer um gafanhoto para amostra, mas afirma que “não me faz confusão. Não tenho qualquer problema em provar”, mas também avisa que “não é aconselhável apanhar insectos e comê-los, porque eles comem o que devem e o que não devem”.

Em resumo: temos que comer os insectos que o José Costa cria e deixar os outros em paz – senão, lá se vai o negócio…

Apenas como informação, aqui ficam os preços: cada gafanhoto custa 22 centimos e os grilos estão a 13 euros a dose (200 a 300 grilos).

O prestimoso DN publica, ainda, uma das receitas da professora Pat, “grilos e gafanhotos fritos em malagueta verde e encarnada, sobre arroz de açafrão com sementes de papoila”.

Reza assim:

«Faça um refogado com a cebola, os alhos e cerca de 3 cl de azeite. Quando a cebola começar a ficar translúcida, adicione o arroz, frite-o e polvilhe com açafrão. Adicione a água ou o caldo quente, tape a panela e deixe cozer em lume brando, cerca de 15 minutos, com uma pitada de flor de sal.

Para os grilos e gafanhotos: numa frigideira coloque as malaguetas e o restante azeite e refogue-as ligeiramente. Adicione os grilos e gafanhotos, limpos de patas e asas e polvilhe-os com flor de sal. Frite-os até ficarem estaladiços.

Disponha o arroz num prato e polvilhe-o com sementes de papoila. Disponha por cima os insectos fritos, com o respectivo molho».

Depois, deite tudo fora e beba o tinto.

Todo.

í“ tio! í“ tio!

Há culturas que idolatram os tios.

Há outras que os fuzilam.

Foi o que aconteceu ao tio de Kim Jong Un, querido líder da Coreia do Norte.

O tio em questão, de seu nome, Jang Song Thaek, em vez de ser um rule model para o sobrinho, não passava, afinal, de “…escumalha humana desprezível”, “…pior do que um cão”, “…um traidor í  nação”, “…carreirista e malandro político”, segundo a televisão norte-coreana.

Para além de tudo isto, Tahek estava “absorvido em actividades irregulares e corruptas e tinha relações impróprias com várias mulheres”.

Esta última acusação é que me deixou mesmo perplexo.

O que serão, na Coreia do Norte, relações impróprias com mulheres?

Ir para a cama com elas, cantando o “Strangers in the night” em vez de A Internacional?

Oferecer-lhes perfumes franceses?

Deixá-las beber Coca Cola?

Imagino o que aconteceria ao tio do Adorado Líder se tivesse relações com homens, mesmo que fossem próprias!

 

Ladrão que rouba a ladrão…

Notícia do DN de hoje:

«Um homem de 59 anos assaltou por sete vezes no espaço de apenas um mês a mesma caixa de esmolas da Capela do Senhor dos Aflitos, em Valença, de onde levava dinheiro para tabaco ou bebidas».

Este delicioso parágrafo diz-nos várias coisas:

1º – que alguém contou quantas vezes o homem gamou a caixa das esmolas

2º – que, se o homem estava aflito por dinheiro, foi ao sítio certo: Capela do Senhor dos Aflitos

3º – que, se o homem gastasse o dinheiro roubado em feijão verde ou peixe ou pão, talvez não fosse notícia

Perante este desaforo, o que aconteceu?

«A GNR montou uma operação de vigilância no local e na última vez apanhou-o em flagrante, durante a madrugada»

Nunca visitei esta Capela mas, pelo que conheço das capelas de Portugal, deve ter lugar para o altar, a caixa das esmolas, o ladrão e, no máximo, dois GNR’s, desde que não tenham o abdómen muito proeminente.

Pergunto: onde se terão escondido as autoridades para surpreenderem o larápio?

A notícia prossegue:

«Fontes da paróquia contactadas pelo DN estimaram o montante destes furtos em “algumas dezenas de euros”, admitindo a necessidade de reforçar a segurança, mas sem adiantarem mais pormenores»

Reforçar a segurança?

Três GNR’s em vez de dois?

E ainda bem que “não adiantaram mais pormenores”. Não queremos que futuros ladrões conheçam os planos de segurança que vão ser implementados na Capela do Senhor dos Aflitos!

Mas isto levanta uma questão bíblica: será que os responsáveis pela Capela declaram IVA pelas esmolas? Não estarão eles a fugir ao fisco e, no fundo, a roubar o Estado?

Sendo assim, o ladrão terá cem anos de perdão, ou não?…

PS – Obrigado, correspondente do DN em Viana do Castelo, por mais uma notícia formidável!

Pedido

Sr. Ministro da Saúde, Paulo Macedo:

Eu, Artur Couto e Santos, médico do Serviço Nacional de Saúde há mais de 30 anos, ao saber que Paulo Gomes, depois de se ter demitido após a manifestação em que os polícias subiram a escadaria do Parlamento, foi nomeado oficial de ligação na embaixada em Paris, cargo que nem sequer existia, auferindo 12 mil euros mensais, cerca do triplo do que ganhava, venho, por este meio, apresentar a minha demissão…

Aceito qualquer outro cargo com o triplo do ordenado.

Bem haja…