Pernas completas?

Anúncio publicado no Jornal da Região – Almada.

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1500 euros cada perna, será caro?

Claro que temos que levar em consideração o facto de se tratar de pernas completas, o que quer dizer que, se um tipo só precisar da perna abaixo do joelho, talvez façam um desconto.

Além disso, há sempre a possibilidade de pagar em 6 mensalidades e certamente que os Bancos, que emprestam dinheiro para carros, computadores e viagens, também hão-de emprestar para pernas completas.

Acabou-se o desespero dos amputados.

“Romance & Cigarettes”, de John Turturro

romancecigarros.jpgTurturro (realizador) e os irmãos Coen (produtores executivos), deviam estar com uma grande pedra quando fizeram este estranho filme musical. Isso mesmo, musical.

James “Soprano” Galdolfini é Nick Murder, um operário da construção civil que fuma que nem uma chaminé. Dependente da nicotina, Nick Murder “is murdered by the nicotine”. É casado com uma dona de casa e costureira (Susan Sarandon) e tem três filhas, uma delas adoptada (Aida Turturro) e um pouco atrasada.

Nick engana a mulher com uma prostituta ou vendedora de lingerie erótica (não cheguei a perceber), interpretada por Kate Winslet, que diz mais palavrões por segundo do que o próprio Steve Buscemi, que entra em apenas três cenas, para dizer “fuck” quinhentas vezes.

E o toque final é dado por Christopher Walken, que canta e dança uma deliciosa “Delilah”, com a voz de Tom Jones em fundo.

Boa, também, é a interpretação que Sarandon faz de “Piece of my heart”, de Janis Joplin, acompanhada de um coro de igreja.

E é assim mesmo: em ambiente suburbano decadente, um grupo de americanos românticos canta e dança grandes canções de amor, ao mesmo tempo que se insultam mutuamente.

Filme estranho, entre o divertido e o claramente piroso.

Por que carga de água Turturro e os Coen fizeram um filme destes?

Porque podem.

Cadáveres esquisitos

bodies.jpg“O Corpo Humano como nunca o viu” – é o subtítulo da exposição “Bodies”, patente no Palácio dos Condes do Restelo, na Rua da Escola Politécnica.

Graças a uma técnica que envolve preservação por polimerização, e graças a uma série de chineses que (supõe-se) doaram os seus corpos í  Ciência, podemos ver como somos por dentro.

Para quem tirou o curso de Medicina e apenas teve direito a um bocadinho de cadáver, nas aulas de Anatomia, esta exposição é uma revelação. Ali, bem í  vista, estão estruturas, que só conhecia dos livros do Rouviére: nervos, tendões, músculos, articulações, vísceras.

Muito didáctica, bem documentada, a exposição permite-nos perceber a complexidade do corpo humano e como todas estas estruturas se complementam.

Li alguns comentários menos entusiasmados, criticando o lado “espectacular” da exposição. De facto, não era preciso colocar um cadáver na posição de “O Pensador”, de Rodin, para chamar a atenção para o cérebro – mas a Ciência também pode ser espectacular e, talvez assim, chegue a mais pessoas.

“The Queen”, de Stephen Frears

rainha.jpgO filme é, sobretudo, um show de Helen Mirren, que faz uma rainha muito convincente.

Mas tem mais coisas que valem a pena: a ascensão de Tony Blair (“por favor, trate-me por Tony”), na sua posição quase esquizofrénica de querer, simultaneamente, a “modernidade” e a continuidade daquela família real; o espanto da chamada rainha-mãe e do marido da rainha, perante as manifestações de apoio a Diana, após a sua morte, incapazes de perceber o que se estava a passar; o próprio fenómeno mediático que foi a morte de Diana que, de certo modo, inaugurou uma nova espécie de notícia – a notícia que, embora tenha um facto real como base (a morte da princesa de Gales), é potenciada pela comunicação social, até se transformar em algo autónomo que, no final, já pouco tem com a notícia em si (veja-se o caso do desaparecimento da miúda inglesa, no Algarve).

Filme escorreito e sóbrio, como é habitual nos trabalhos de Frears.

Sexo por votos

Leio, no Sol, que Tânia Derveaux, candidata ao Senado da Bélgica, promete 40 mil relações sexuais a quem votar nela, “numa campanha de protesto contra as promessas eleitorais exageradas”.

Fui í  procura do site da Tânia e está aqui: http://www.nee-antwerpen.be/index-eng.htm.

Afinal, o que a Tânia oferece, em troca dos votos, é um broche (blowjob é isso mesmo, não é?).

Ora aqui está uma ideia que podia animar a campanha pela Câmara de Lisboa.

Cada candidato poderia oferecer, aos seus eleitores, aquilo que sabe fazer melhor. Tania faz broches e vamos supor que os sabe fazer bem. Portanto, é isso que ela oferece aos eleitores, em troca de votos.

Seguindo o exemplo da menina Derveaux:

António Costa podia oferecer combates a incêndios. Sempre que uma dona de casa tivesse a fritadeira a arder, telefonava ao Costa, que mandaria lá a casa uma corporação de bombeiros, só para ela.

Fernando Negrão, com aquele seu ar vagamente sedutor de ex-inspector da Judiciária, oferecia investigações, com aquelas luzes azuis para detectar manchas de esperma e aqueles pincéis tóteis para detectar impressões digitais.

Telmo Correia, assim de repente, não sei se sabe fazer alguma coisa bem feita, mas, pelo seu ar, talvez pudesse oferecer botões de punho ou assim.

A arquitecta Helena Roseta, está-se mesmo a ver, que podia oferecer maquetas para a marquise ou para o anexo, a todos os moradores de Camarate e Chelas que votassem nela.

Manuel Monteiro oferecia discos da Dina, que é aquela cantora com escoliose que, desde o século XVIII, compõe os hinos de todas as agremiações a que Monteiro preside.

Gonçalo da Câmara Pereira também iria para os discos, de fado, claro.

Ruben de Carvalho e Sá Fernandes teriam pouco para oferecer, em troca dos votos, mas talvez se arranjasse uns autocolantes e umas bandeirinhas, ou mesmo umas canetas com a efígie do Che (ainda ontem comprei uns chinelos com a cara do Che estampada; agora, ando com o Che a meus pés…).

Enfim, não seria tão divertido como trocar felacios por votos, mas podia ser que animasse a malta – que é o que faz falta, caramba!

“The Devil Wears Prada”, de David Frankel

diabovesteprada.jpgSe o diabo veste Prada, será que deus veste Boutique da Alcofa?

É esta a grande questão de mais um filme tipo gata borralheira. A menina-que-não-quer-saber-da-moda-para-nada, mas que quer ser uma grande jornalista (Anne Hathaway), arranja emprego como assistente da directora de uma grande revista de moda, a Sra. D. Miranda (Meryl Streep).

A Sra. D. Miranda quase nunca olha ninguém nos olhos, nunca levanta a voz, dá ordens e não tolera que a ponham em causa.

A gata borralheira, a pouco e pouco, aprende a vestir-se com estilo, arranja o cabelo e até fica com a cintura mais fininha: está a subir na vida e na consideração da D. Miranda. Até vai com ela para Paris e para a cama com um D. Juan nova-iorquino. Mas perde o namorado e a dignidade.

Então, desiste do emprego, volta a vestir-se como antigamente e reconquista o namorado.

A D. Miranda escreve-lhe uma carta de recomendação e a gata borralheira arranja emprego como jornalista no New York Mirror.

Se não estivéssemos de férias, o dvd bem podia ter ficado na prateleira do videoclube.

Tantos cães a um osso

Como é possível que um Câmara falida e com dívidas até ao tecto, tenha tanta gente a querer ocupar o cargo de presidente?

O PS não brinca em serviço e avança com a candidatura do nº2 do Governo, aquele senhor moreno que usa camisas e fatos um número abaixo.

Marques Mendes levou várias negas e acabou por ver a coisa preta; vai daí, convidou Negrão, que era vereador da Câmara de Setúbal e o homem aceitou porque, para ele, qualquer cidade serve, desde que tenha emprego.

O PCP avança com Ruben de Carvalho e o Bloco, com Sá Fernandes – escolhas lógicas.

O PPM apresenta o fadista Gonçalo da Câmara Pereira, que tem a vantagem de já ter a Câmara no nome.

O PDN (que é isso?…) concorre com Manuel Monteiro, um homem do Norte para endireitar Lisboa.

O CDS vai decidir hoje quem será o seu candidato, mas tem muita gente disponível: Teresa Caeiro, Luís Nobre Guedes, Telmo Correia e o próprio Paulo Portas que, ontem, ao Telejornal, fez questão de referir estes nomes por ordem alfabética (betinho…)

E ainda há a Helena Roseta que, de repente, está muito preocupada com o estado da capital do país.

E parece que aquele senhor que não gosta de pretos também vai concorrer mas, com esse não me posso meter, porque ainda acabo por ser perseguido por dois calmeirões carecas.

Ai pode, pode…

Posso ouvir, em meia hora, o seguinte: “Vibe Boogie” (Lionel Hampton), “Autoharp” (Hooverphonic), “I Have Not Been to Oxford Town” (David Bowie), “Glorious Pop Song” (Skunk Anansie), “Lonesome Road” (Stan Kenton), “Hurricane Eye” (Paul Simon) e “Suzie Q” (Creedence Clearwater Revival)?

Ai posso – no meu iPod.

Já lá estão 11 107 músicas e ainda tenho 40 gigas livres.

É chegar a casa, ligar aquele pequeno rectângulo branco e deixar que seja ele a escolher aleatoriamente a música que vou ouvir. Agora, por exemplo, o B.B. King está a acabar o seu “Outside Help”, ao vivo, em Kansas City, em 1972 e, já a seguir, os Stones atacam “Thief in the Night”.

Grande invenção, esta!

House – 2ª série

house2.jpgGregory House está mais ácido, nesta 2ª série, mais politicamente incorrecto, mais egocêntrico, mais insuportável, mais zangado com o mundo, mais solitário – pior da perna, literalmente.

Os temas de cada episódio são, nesta 2ª série, ainda mais raros e até um pouco inverosímeis, como o caso do síndrome de Erdheim-Chester que, ainda por cima, está mal apresentado. De facto, este síndroma raríssimo é apresentado, na série, como tendo início súbito, o que é falso e, no fim do episódio, House manda os seus discípulos administrarem o respectivo tratamento, que não existe. Além disso, a situação do doente agrava-se quando lhe é administrado o interferão, que é uma das poucas coisas que, de facto, melhoram a situação destes doentes. Finalmente, o doente em causa é uma criança, enquanto a idade média de aparecimento de Erdheim-Chester é aos 50 anos.

Claro que eu também não sabia nada disto. Os argumentistas de House devem ir ao Livro das Doenças Esquisitas procurar inspiração, o que não tem mal nenhum, já que o interesse da série se centra na personagem do House; os doentes e as suas doenças são meros elementos decorativos.

Acrescente-se que a legendagem tem erros crassos, com frequência irritante; “kidney” é traduzido por fígado, “hipotyroidism” é traduzido por hipertiroidismo e outras barbaridades.

Apesar de tudo isto, House continua a ser uma das melhores séries de tv desta nova vaga norte-americana.