Albânia – o farol fundido

George Bush visitou a Albânia e foi recebido por multidões delirantes. Tenho provas. Vi fotografias de Bush a ser abraçado por albaneses sorridentes e exultantes. Vi reportagens em que jovens albanesas, com ar perfeitamente normal, diziam “Bush is the best president of the world”. A sério!

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, como dizia o Luiz Vaz.

Lembram-se quando a Albânia era apelidada de “o farol do comunismo na Europa?”

Foi no tempo de um senhor chamado Enver Hodja.

Eu lembro-me.

Maria José Morgado, Pacheco Pereira, Durão Barroso e Garcia Pereira, por exemplo, também se devem lembrar.

Mas os albaneses de hoje já se esqueceram de Hodja e da treta do farol. O que eles querem é que a América de Bush continue a investir no país e que patrocine a independência do Kosovo.

No entanto, no melhor pano cai a nódoa. Então não é que, no meio dos abraços e das saudações, algum albanês anti-Bush fanou o relógio ao George!

As imagens estão no YouTube (procurem em “Pres Bush stollen watch in Albania”).

Segundo os jornais, o relógio era um simples Timex, de 50 dólares.

Os albaneses são uns totós!

Ota era melhor…

Então, afinal, parece que já não vai ser na Ota. Agora, Alcochete é que é.

Acho mal.

Ota ficava melhor, como aeroporto internacional – toda a gente é capaz de dizer «Ota», dos francófonos aos anglo-saxónicos, dos árabes aos aborígenes.

Agora, peçam a um inglês para dizer «Alcochete» e vão ver a confusão que vai ser. O tipo terá que dobrar a língua de tal modo, que acaba por preferir aterrar em Madrid.

E depois, há sempre o perigo dos americanos olharem para o nome (Al Cochete) e pensarem que é algum aeroporto da Al Qaeda.

Invasão í  vista.

“Por Aqui e Por Ali”, de Bill Bryson

bryson_walk.jpgInvejo o Bill Bryson, a quem pagam para viajar. Depois, ele “só” tem que escrever um livro sobre isso.

Este chama-se “A Walk in the Woods” mas, mais uma vez, o responsável pela edição portuguesa achou o título pateta e decidiu chamar-lhe “Por aqui e Por Ali”.

Bryson publicou o livro em 1997 e nele conta as suas caminhadas pelo trilho dos Apalaches, que vai desde a Geórgia ao Maine, atravessando as Carolinas, a Virgínia, a Pensilvânia, um pouco de Nova Iorque, e depois o Massachussets, o New Hampshire e Vermont. São mais de 3300 km, dos quais Bryson “apenas” percorreu 1400, por vezes sozinho, outras vezes acompanhado pelo seu amigo Katz.

Sempre com muito humor e com preocupações ambientais quanto baste, sem entrar em histerias, Bryson vai-nos descrevendo as suas longas caminhadas por uma das maiores florestas do planeta, ao longo das montanhas dos Apalaches (mais de 350 picos com mais de 1500 metros de altitude). O Trilho dos Apalaches é o mais antigo e longo do mundo, e ficou concluído em 1937.

Um daqueles livros que sabe bem ler com companhia. E um tipo fica logo com vontade de tentar percorrer, pelo menos, uma parte desse trilho.

“It was 40 years ago today”

sgtpeppers.jpg…Sgt Pepper taught the band to play”

Fez ontem 40 anos que os Beatles editaram o álbum que mudou a história da música pop-rock.

O primeiro álbum dito conceptual, com uma espécie de elo de ligação entre as várias faixas, com uma certa coerência entre as músicas, e não apenas um conjunto de canções coleccionadas num mesmo disco; o primeiro álbum de música pop-rock com a ajuda de orquestra sinfónica (“A Day in the Life”) e de truques de gravação, como pí´r a fita a girar ao contrário (“Being for the Benefit of Mr. Kite!”); o primeiro disco a ter uma capa com algum cuidado “artístico”. Enfim, digam o que disserem os detractores dos Beatles, fez-se história com este disco.

Naquela altura, em 1967, eu tinha apenas 14 anos e vivia em Portugal. O disco quase me passou despercebido. Só cerca de um ano depois comecei a ouvir e a conhecer algumas das faixas deste álbum. E, então, já os Beatles tinham lançado o duplo branco, que sempre foi (e continua a ser) o meu preferido.

Em Fevereiro de 1969, consegui finalmente juntar o dinheiro suficiente para comprar o duplo branco. Vinha numerado e tudo – é o número 510204. Ainda ali está, embora já nem tenha pick-up (alguém sabe o que é um pick-up, ou um gira-discos?).

Quanto ao “Sgt Pepper’s”, só o comprei (o vinil, bem entendido), aos 25 anos e o cd, quando já ia nos 34 anos!

Seja como for, “Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band” continua a ser, 40 anos, depois, um disco que se ouve, do princípio ao fim, com a mesma emoção – enfim, com uma emoção temperada pelos anos. Aos 15 anos, ouvir os Beatles a debitarem “Good Morning! Good Morning!”, com galos a cantarem, ao fundo, ou escutar a voz algo metálica de Lennon, a cantar “Lucy in the Sky with Diamonds”, sabendo que ele se estava referir a LSD (sobretudo porque não se sabia muito bem o que era isso de drogas alucinogénicas…), bom, essa emoção, claro que já não existe, porque já não tenho 15 anos.

E isto também não é nostalgia. Não tenho saudades dos meus 15 anos. Sinto-me muito bem com 54 anos e poder estar “alive and kicking”, 40 anos depois (o mesmo já não podem dizer Lennon e Harrison…).

“Six Feet Under” – 5ª série

setepalmos5.jpgAssim terminou uma das melhores séries de televisão desta nova vaga que tem inundado o mercado nos últimos anos. E terminou bem, antes que a fórmula se esgotasse.

Durante 5 anos fomos seguindo as vidas da família Fisher e do seu negócio muito particular de “funeral directors”. Nate não chega a ver a sua filha Willa, que Brenda dá í  luz antes do tempo, porque tem um novo AVC, pouco depois de ter dado uma facada no matrimónio com Maggie, filha de George, o bipolar que casou com Ruth, mãe de Nate.

Só este pedaço dava para uma série completa. Mas ainda há David, cuja relação com Keith se vai desenvolvendo, ao ponto de ambos adoptarem dois irmãos negros, rebeldes e sempre desprezados. E há Claire, que vai amadurecendo, ultrapassando a sua relação quase doentia com Bill, irmão de Brenda, outro bipolar e acaba por aceitar um emprego em New York, depois de se relacionar com Ted, um conservador republicano, o oposto de si própria.

E Ruth, que não desiste de encontrar alguém que tome o lugar do Sr. Fisher, morto logo no primeiro episódio. Depois de renegar George, por não estar para aturar mais um maluco, ainda tenta voltar a um antigo namorado, mas é nesse mesmo dia que o seu filho morre, sem que ela esteja presente.

E Brenda, cujos pais, ambos psicoterapeutas, a marcaram de forma indelével, ao ponto de ela continuar a fantasiar uma relação incestuosa com o irmão.

E poderia continuar a dar exemplos, já que a riqueza desta série é imensa; para além disso, os actores são excelentes, a realização competente e a fotografia muito acima da média.

Terei saudades desta série.

Ria de Aveiro

Dois dias na Pousada da Ria, podem proporcionar passeios e visitas agradáveis.

Para chegar í  Reserva Natural das Dunas de S. Jacinto, caminha-se por um trilho com cerca de 5 km.

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Depois, são as dunas e o Atlântico.

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A cerca de 2 km de Ovar, fica Valega, que tem uma igreja toda forrada de azulejos.

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Aveiro é uma cidade simpática, í  qual os canais dão um toque de originalidade.

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Os moliceiros ainda existem mas, para vê-los, é preciso sair de Aveiro e ir, por exemplo, a Torreira.

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í€ noite, com a lua cheia, a Ria de Aveiro tem outro encanto.

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“Amor & Etc”, de Julian Barnes

amoretct.jpgEditado em 2000, este livro de Julian Barnes está escrito em forma de entrevista. Os vários personagens vão-nos dando depoimentos, como se estivessem a ser entrevistados e, cada nova entrada, faz avançar a história.

Basicamente, a trama centra-se em Gillian e nos dois homens da sua vida: Stuart, o primeiro marido, e Oliver, o segundo.

Em tempos, estas três pessoas foram grandes amigos. Gillian e Stuart casaram-se ainda jovens e, passado pouco tempo, Gillian e Olivier começaram a entender-se. Stuart saiu de cena, foi viver para longe e voltou a casar. Gillian e Olivier tiveram duas filhas e o seu casamento entrou na pasmaceira. Stuart divorciou-se e regressou e voltou a entender-se com Gillian.

Uma história banal, que já todos ouvimos contar mas, neste caso, apresentada de um modo diferente.

Parece que este livro é uma espécie de sequela de um outro, de Barnes, intitulado “Love & Cª”.

Talvez seja melhor lê-lo, para entender melhor este. No entanto, pareceu-me um livro aparentemente superficial mas que, no fundo, retrata os sentimentos de muita gente banal, de muita gente verdadeira (conheço alguma dessa gente).

Pode ler-se aos solavancos, sem grande concentração.

“Fracture”, de Gregory Hoblit

ruptura.jpgBom filme de suspense que nos conta a história de um engenheiro aeronáutico que, ao descobrir que a mulher tem um amante, decide matá-la, pondo em prática um plano quase perfeito.

Depois de preso, prescinde de advogado, assumindo a sua própria defesa. Por sua vez, o Ministério Público tem, como advogado de acusação, um jovem ambicioso, nas vésperas de se mudar para uma grande firma de advogados e que encara este último caso como favas contadas.

O assassino é interpretado por Anthony Hopkins, que, cada vez mais, faz dele próprio, isto é, de Hannibal Lecter, com pequenas alterações.

A história é contada de modo escorreito e, para além do excelente Hopkins, também Ryan Gosling faz um advogado muito convincente.

No final, confirma-se que não há crimes perfeitos. Mas quase…

Acrescente-se que, mais uma vez, o tradutor achou que “Fractura” era um péssimo título e resolveu chamar ao filme, “Ruptura”. Claro!

País de anedota

O que se passa em Portugal?

Que acontecimentos importantes ditam o nosso futuro, como nação?

Em primeiro lugar, temos o caso gravíssimo do professor que foi alvo de processo disciplinar por dizer uma graça sobre a licenciatura do Sócrates.

O professor, Fernando Charrua, é daqueles que não dá aulas e está requisitado na DREN. Segundo umas versões, terá dito que somos um país de bananas, governado por um filho da puta de um primeiro-ministro; segundo outras versões, terá dito a um colega que, caso precisasse de um doutoramento, que lho mandasse por fax, nem que fosse falso.

Em qualquer dos casos, penso que o Charrua se estava a insultar a si próprio: ou porque, sendo português, se estava a considerar banana, ou porque insinuou que aceitaria um doutoramento enviado por fax, mesmo falso.

Enfim, o colega, que deve ser um amigo da onça, foi fazer queixa í  Directora da DREN que, sendo das que são mais papistas que o papa, instaurou um processo disciplinar ao Charrua.

Deve ser por isto que Portugal está na cauda da Europa porque, de facto, isto é mesmo um assunto de merda.

Mais acontecimentos importantes.

O ministro das Obras Públicas, Mário Lino, disse que “fazer um aeroporto na margem Sul seria um projecto megalómano e faraónico, porque, além das questões ambientais, não há gente, não há hospitais, não há escolas, não há hotéis, não há comércio”. Enfim, queria Lino dizer que “aquilo é um deserto”!

Ai que mentira!

Todos nós sabemos – até pelas anedotas de alentejanos, de que tanto gostamos – que a margem sul do Tejo é a margem certa!

Eu, que vivo na margem sul, eu, que vivo no tal deserto, estou sinceramente farto destas multidões. Só aqui em Almada, hotéis são… são… olhem, se calhar até nem há hotéis em Almada, mas, se tivéssemos um aeroporto, claro que teríamos hotéis. E que falta fazem hotéis em Almada, Laranjeiro, Feijó, Amora! Proponho, já, a construção de um hotel ali, junto ao bairro do Picapau Amarelo!

O ministro veio logo a seguir pedir desculpa por ter dito aquilo que muita gente pensa e justificou-se: as suas palavras foram tiradas do contexto.

Não acho bem que ele tenha pedido desculpa.

Um aeroporto na margem sul seria, certamente, um projecto faraónico. E as pirâmides, senhor ministro, não estão lá, na margem sul do Cairo? Não são agora candidatas a um das sete novas maravilhas do mundo? Toca mas é a construir um aeroporto em Palmela e outro em Azeitão!

Como vêem, mais um assunto importantíssimo para o futuro da nação.

Isto para já não falar no senhor Lopes.

Santana Lopes não perde uma oportunidade: sempre que ouve um membro do governo dizer ou fazer alguma alarvidade, vem logo a terreiro dizer outra pior, porque não quer o seu lugar tomado.

Então, Lopes disse que a actual direcção do PSD é estalinista e mesmo nazi, por não deixar que membros do partido, que sejam arguidos em processos, possam ser candidatos í s autarquias.

Pior: o Sr. Lopes, logo no dia seguinte, acrescentou isto: “retiro o que disse. (…) Não gostei de ler o que disse. Os políticos têm que dar o exemplo de boa educação.”

O Sr. Lopes não gostou de ler o que disse?

Só para terminar: Fernando Negrão, um dos 12 candidatos í  Câmara de Lisboa (!!!), diz, hoje, ao Expresso, que “António Costa não é vaca sagrada”.

Será que vai gostar de ler o que disse?

Digam lá se este país não é mesmo um fartar de rir?…