“Out of Time”, de Carl Franklin

—Filme de 2003, que se vê com um encolher de ombros. Nada de especial. Denzel Washington é chefe da polícia de uma pequena localidade da Florida; está a separar-se da sua mulher, detective de homicídios (Eva Mendes) e anda enrolado com uma boazona (Saraa Lathan), casada com um tipo que trabalha na morgue.

A boazona traz o chefe pelo beicinho e consegue tudo dele, sobretudo depois de o fazer acreditar que sofre de cancro terminal. Por ela, ele rouba dinheiro de tráfico de droga, apreendido pela polícia, a fim de financiar um tratamento oncológico na Europa.

É claro que a massa desaparece e o chefe fica mal na fotografia – o que se estava mesmo a ver porque, quem manda quecas como a boazona, não pode sofrer de cancro, muito menos terminal.

Enfim, tudo acaba bem para os bons e muito mal para os maus e a gente encolhe os ombros…

“Anywhere I Lay My Head”, de Scarlett Johansson

—Por que razão uma actriz talentosa como Scarlett Johansson grava um disco com versões de canções do Tom Waits?

Porque pode.

Como fã de Waits, comprei, ouvi e não gosto.

Os arranjos, a cargo de David Sitek são pomposos e muito ruidosos. Quase todas as canções têm uma espécie de parede sonora que não nos deixa ouvir muito bem a voz de Scarlett – e, se calhar, é de propósito, porque a menina, provavelmente, não sabe cantar. No texto introdutório do disco, diz-se que Sitek queria que o disco soasse a This Mortal Coil ou Cocteau Twins. Isso talvez ele tenha conseguido, nomeadamente com a voz da Scarlett, que está lá ao fundo, como se estivesse dentro de qualquer coisa metálica, mas o conjunto não é muito estimulante.

Por outro lado, escolher dez canções do Tom Waits também não é fácil e cada um de nós escolheria outras dez, que não fossem estas. De qualquer modo, as canções simples de Waits valem muito pelas histórias que ele conta e, no caso de Scarlett, nem isso se percebe.

Fiasco, acho eu…

Monk – 1ª série

—Finalmente legendada em português, esta série de características únicas: Monk (Tony Shalhoub) é um ex-detective da polícia, obsessivo-compulsivo. Esse seu “defeito” transforma-se em virtude porque é graças í  sua personalidade obsessiva que ele consegue reparar em certos pormenores, que outros desprezam, e acaba por desvendar todos os crimes.

Logo no episódio-piloto ficamos a saber que a mulher de Monk foi assassinada por desconhecidos; o então detective da polícia sente-se, de algum modo, culpabilizado por essa morte e, desde então, a sua neurose agravou-se de tal modo que ele nunca mais voltou ao activo, necessitando da companhia permanente de uma enfermeira, Shorona. Ela ajuda-o, nas suas crises de ansiedade aguda, dá-lhe os toalhetes com que ele limpa as mãos, sempre que alguém o cumprimenta e, de certo modo, acaba por ser a sua empresária, quando ele decide ser uma espécie de consultor da polícia para crimes mais complicados.

Tendo como cenário San Francisco, o que também não é habitual nas séries, Monk já valeu um Emmy e um Golden Globe a Shalhoub, em 2002, ano da primeira série.

Indiana Jones e o reino dos marxistas-leninistas

Escrevi, no meu texto sobre o novo filme do Indy que, em 1981, “os meus amigos-intelectuais-de-esquerda torceram o nariz a tanto divertimento e acharam que o filme era mais um panfleto publicitário do imperialismo norte-americano”.

Referia-me ao “Raiders of the Lost Arch”, no qual, Indy defrontava e derrotava um exército de nazis, que tentavam sacar a Arca da Aliança.

Neste quarto filme, o vilão é uma militar soviética, interpretada por Cate Blachett, que estuda fenómenos para-normais e que acredita que as caveiras de cristal têm um poder extra-terrestre.

Os comunistas de São Petersburgo não gostaram. Apesar de poder haver alguma coisa que se perde na tradução, aqui estão excertos de um comunicado dos marxistas-leninistas, guardiões da Verdade:

O filme de Indiana Jones tem por objectivo «criar na juventude moderna uma ideia deturpada da política externa soviética da URSS nos anos 50 do século XX. (…) Vincamos decididamente a nossa profunda indignação face í  estreia na Rússia do filme-provocação, resíduo da guerra fria, pasquim nojento. (…) O filme apresenta, de forma caricatural e feia, as acções dos soldados soviéticos e dos nossos serviços secretos, que são cínica e cruelmente liquidados pelo super-herói americano Indiana Jones. Semelhantes invencionices formam, na nova geração de russos disposições (?) decadentes, falta de confiança no poderio do seu país e adoração pelos Estado Unidos. (…) Lançamos um apelo aos espectadores para assobiar o filme durante a estreia nas salas de cinema de São Petersburgo e enviar cartas de protesto aos fantoches do imperialismo Harrison Ford e Cate Blanchett».

Tudo isto soaria a anedota se não fosse verdade. Spielberg pensou que, ao escolher os soviéticos para maus da fita, não iria causar grandes danos – de facto, hoje em dia, quem defende o regime soviético?

Enganou-se. Saudosistas há muitos. Saudosistas que levam a sério um simples filme de aventuras e vêem nele algo de politicamente influente para a sua própria juventude…

Para a próxima, Spielberg terá que inventar uma raça de vilões, ou trazê-los de outro planeta…

Lagartas na sopa

Notícia do DN de ontem:

«Câmara (da Batalha) anunciou inquérito e vai contratar nutricionista para acompanhar alimentação nas escolas».

Tudo isto porque foram «encontradas formigas e uma lagarta em duas sopas».

Aplausos para a Câmara da Batalha.

Boa ideia, a de contratarem nutricionista.

Toda a gente que percebe de alimentação sabe que, para que uma sopa fique bem nutritiva, sobretudo na idade escolar, são necessárias duas lagartas.

A nutricionista contratada pela Câmara há-de resolver esta lacuna, certamente…

“Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull”, de Steven Spielberg

—Quando se estreou o primeiro filme do Indiana Jones, eu e a Mila tínhamos 28 anos e Harrison Ford, 38. Fomos os três ao Mundial. Eu e a Mila rejubilámos. Há muito tempo que não nos divertíamos tanto a ver um filme.

Quando “Raiders of the Lost Arch” se estreou, em 1981, os meus amigos-intelectuais-de-esquerda torceram o nariz a tanto divertimento e acharam que o filme era mais um panfleto publicitário do imperialismo norte-americano. Se existisse um arqueólogo aventureiro como Indiana Jones, nunca poderia ser americano, que são todos uns toscos – teria que ser europeu. Mesmo os críticos de cinema – muitos dos quais, agora, consideram a trilogia de Indiana Jones como um clássico do cinema de aventuras – na altura, quando o filme se estreou, não lhe deram grande importância e criticaram-no com alguma dureza.

Para mim, Indiana Jones foi o primeiro herói de carne e osso que conheci “pessoalmente”. Antes dele, só James Bond, com quem travei conhecimento já na fase de Roger Moore, vendo, depois, em vídeo, os filmes com Sean Connery. E antes, ainda, só os heróis dos anos 30-40 (Tarzan, por exemplo), vistos a preto e branco, na televisão, nas sessões de cinema de domingo í  tarde.

Por tudo isto – e por muito mais – não estava í  espera que o quarto filme da saga Indy me trouxesse tanta emoção como “Os Salteadores”. Estou com 55 anos, o Harrison Ford está com 65 anos, muita água correu debaixo das pontes, estamos todos mais velhos e mais cínicos e, no que respeita ao cinema de aventura, o próprio Indiana, Spielberg e Lucas, abriram caminho a tantos produtos e subprodutos, que ninguém estava í  espera que este “Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal” fosse algo de extraordinário.

O que já foi, não torna a ser.

E, no entanto, é um excelente filme de aventuras. As duas horas e picos que dura, passam sem darmos por isso.

E, afinal, o que distingue Indy dos outros filmes de aventuras?

As personagens têm substância, têm densidade, têm história – não são simples bonecos mal esboçados.

Existe um verdadeiro argumento, com diálogos longos e complexos, e não uma simples historiazinha mal escrita, que se limita a unir as diversas cenas de acção.

Além disso, o argumento tem credibilidade: no caso deste filme, a guerra fria, a bomba atómica, o interesse pelos dirigentes soviéticos dos anos 50 pelos fenómenos para-normais e parapsicologia, o dealbar do rock (duas das cenas mais divertidas do filme têm, como música de fundo, rock’n’roll de 1957), as linhas de Nasca e o estranho hábito das tribos índias locais, de amarrarem um pano í  volta do crânio das crianças, o que fazia com o mesmo crescesse para trás, em direcção í  nuca, etc.

Os efeitos especiais existem mas servem a história, e não o inverso, que é o que acontece na maior parte dos filmes de aventura, nomeadamente, na maior parte das adaptações cinematográficas de heróis de banda desenhada.

A constante referência a outros tipos de filmes de aventuras: a cena de pancadaria no bar, remete-nos para as coboiadas, o filho de Indiana e a militar soviética, esgrimindo em pé, cada um em cima do seu jipe, remetem-nos para os filmes de capa e espada, e, ainda, o filho de Indy, saltando de liana em liana, remete-nos para os filmes de Tarzan.

Os cenários credíveis. Mesmo que quase tudo tenha sido filmado num “plateau”, o que vemos, em fundo, existe e “reconhecemos” o Amazonas, as cataratas de Iguaçu, algo parecido com Machu Pichu ou o deserto do Nevada.

Resumindo: gostei do 4º Indiana; não me espantou, mas também não estava í  espera que o fizesse; não me desiludiu e, confesso que não me espantaria se o fizesse.

Spielberg: por mim, podes fazer outro, que eu vou ver…

PS – O Público gostou deste texto e publicou parte dele na secção “blogues em papel”. É a segunda vez que o Público cita o Coiso, nesta secção. Isto é bom, ou mau? Tenho dúvidas… um jornal citar blogues parece-me estranho… ou será só falta de hábito?…

Seis coisas que eu li

Primeira: Pedro Passos Coelho (quem?) é candidato a presidente do PSD. Resolveu visitar a Madeira. Foi recebido pelo presidente da Assembleia Legislativa, coisa que não aconteceu com Mário Soares e Jorge Sampaio, no tempo em que eram Presidentes da República.

Passos Coelho defendeu mais poderes para as regiões autónomas.

Por mim, podes dar-lhe a independência, já!

Segunda: Obama hesita em declarar-se vencedor, ao mesmo tempo que Hillary não desiste da corrida.

…E nós com pena de não podermos votar nas eleições norte-americanas. Ao tempo que Obama já tinha ganho!

Terceira: Berlusconi decidiu resolver o problema do lixo, em Nápoles, impondo a lei marcial, isto é, tudo o que diga respeito í  recolha e ao tratamento do lixo, passa a ser um assunto militar.

Involuntariamente, Berlusconi pí´s a tropa no seu devido lugar: a mexer no lixo…

Quarta: na ífrica do Sul, o povo escorraça imigrantes de Moçambique e Zimbabwe. Vários mortos registados.

O racismo não tem a ver, apenas, com a cor da pele…

Quinta: um estudo publicado no New England mostra que a decisão de deixar de fumar é contagiosa, isto é, ao deixar de fumar, eu influenciei mais alguém a fazer o mesmo.

Nada de novo. Se eu começar a andar com as calças arregaçadas e isso for considerado “cool”, daqui a pouco tempo, muitos palermas andarão com as calças arregaçadas. Essa é uma das tragédias da espécie humana…

Sexta: Manchester United é o novo campeão da Europa, em futebol. Mais importante, para os jornais, o facto de vários portugueses terem participado na final da Champions. O Público cronometrou e titula: «a bola esteve 4,03 minutos nos pés dos portugueses». Sabendo que jogaram três portugueses, Ronaldo, R. Carvalho e Nani, dá pouco mais de um minuto a cada um. E Ronaldo ainda falhou um penálti… esta coisa de atribuir a possessão de uma equipa de futebol da dimensão do United a um portuguesinho como Cristiano Ronaldo, é típico da nossa saloiice.

Vejam como o «Chelsea de Mourinho», passou a ser «o Chelsea de Ricardo Carvalho», sem que o Abramovich tenha sido, sequer, ouvido …

9 meses sem fumar

Serve apenas para assinalar a data.

O cigarro é algo do passado e, hoje em dia, raramente me lembro da sua existência. Ansiedade? Nada. Engordar? Apenas um mísero quilo que, muito provavelmente, engordaria na mesma. Saudades? Nem isso.

Posso agora afirmar: é possível e nunca é tarde, mesmo depois de quase 40 anos de vício.