ER – 9ª série

—Na minha opinião, a 9ª série (2002/03) de Emergency Room é a mais fraca destas nove temporadas. Os argumentistas decidiram dar uma maior ênfase í  vida pessoal dos personagens, em detrimento dos casos clínicos e o resultado é mais uma série telenovelesca, a juntar a tantas outras. Não sei se terá sido devido í  influência de Grey’s Anatomy, mas o que é certo é que a vida pessoal de Carter e Abby, do Dr. Kovacs ou da Dra. Lewis, tem menos interesse do que ver a luta diária para salvar vidas num serviço de urgência de uma grande cidade.

Já tenho em meu poder, para ver, as séries 10 e 11 e espero que os argumentistas tenham percebido que tem pouco interesse mostrar o Dr. Kovacs armado em herói, como médico voluntário, no Congo.

“Uma Questão de Beleza”, de Zadie Smith

—O terceiro romance de Zadie Smith, tal como os dois anteriores, é torrencial. São 500 páginas. E, como aconteceu com “Dentes Brancos” e “O Homem dos Autógrafos”, fico com a sensação que não era preciso escrever tanto. Em todos os romances desta jovem escritora britânica, há muitas páginas que parecem desnecessárias.

A acção de “On Beauty” decorre na Nova Inglaterra, em redor da vida universitária. Howard Belsey é branco e casado com Kiki, uma enfermeira negra e obesa; têm três filhos: um bem comportado Jerome, quase a acabar a universidade, uma reivindicativa Zora, caloira na universidade e Levi, que só pensa em rap e estilos de vida alternativos.

O ódio de estimação de Howard é Monty Kipps, um conservador reaccionário. Entre os dois, há mais do que ódios raciais. Apesar desse antagonismo, Howard não resiste aos encantos de Victoria, a filha mais nova de Monty. Esta relação extra-conjugal mina o casamento de Howard e a sua relação com os seus próprios filhos, pondo em causa, também, o seu lugar na universidade, onde ele dá aulas de interpretação de arte, sendo especialista em Rembrandt

Zadie Smith (que é mais nova que a minha filha!) escreve um romance sobre o amor e a sexualidade de tipos da minha idade. No entanto, repito o que já disse em relação aos outros romances da sua autoria: falta-lhe ainda qualquer coisa (será que lhe falta mais alguns anos de vida?…)

Cada país tem os jornalistas que merece

Que aconteceu de importante na visita de Sócrates í  Venezuela?

Duas coisas:

Primeira: Sócrates fumou no avião.

Segunda: os batedores venezuelanos borrifaram na comitiva que, no regresso aeroporto, esteve presa no trânsito cerca de 3 horas.

Para os jornalistas portugueses, há dois pesos e duas medidas.

Primeiro peso e primeira medida: é proibido fumar nos aviões; Sócrates fumou e quebrou as regras; devia ser punido ou, então, deixar que os jornalistas também fumassem no avião.

Segundo peso e segunda medida: as comitivas devem ter prioridade sobre os cidadãos que regressam a casa, depois de um dia de trabalho? Claro se, da comitiva, fizerem parte os jornalistas.

Os jornalistas que noticiam coisas destas têm os políticos, as leis, os ordenados e o país que merecem.

Reles…

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“Um Pequeno Inconveniente”, de Mark Haddon

—Haddon escreveu o excelente livro “O Estranho Caso do Cão Morto”, que era uma história narrada por uma criança autista. Daí, a curiosidade em ler este novo livro que, também ele, tem como principal personagem uma pessoa com dificuldades na relação com a realidade.

Trata-se de George, um vulgar chefe de família recém-reformado. A sua família é, também ela, uma vulgar família dos nossos dias: a mulher, Jean, cinquentona, redescobriu as delícias da vida sexual post-menopáusica com um ex-colega de trabalho de George; a filha mais velha, Kate, tem um filho pequeno, Jacob, vidrado em homens-aranhas e outros super-heróis e está prestes a casar-se, pela segunda vez, com um tal Ray; o filho mais novo, Jamie, é homossexual e a família ainda não aceitou bem esse facto. Depois, há uma série de pequenos personagens menores, que dão cor í  história.

E a história, no fundo, resume-se a isto: nas vésperas do segundo casamento da filha, George descobre uma mancha na pele da coxa e decide que tem cancro. A partir desse momento, qualquer racionalização é impossível. Para piorar tudo, apanha a sua mulher a ser comida pelo ex-colega de trabalho, na sua própria cama!

A história está muito bem contada, numa escrita escorreita e fácil, sem grandes devaneios filosóficos, mas com uma grande dose de realismo.

Um bom livro para se ler em viagem.

A cavalo, no Pantanal

O dia começou, novamente, í s 5 da manhã, para o nascer do sol na torre do bugio.

A trilha é de cerca de 1 km, sempre suspensa sobre o solo, grande parte sobre água.

No final da trilha, a torre eleva-se a cerca de 25 metros e, lá de cima, uma vista soberba sobre o pantanal. í€ nossa espera, uma família de macacos-prego, que posaram para as fotos, aguardando recompensa, nem que fosse água mineral.

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Passeio de cavalo pelo Pantanal. Duas horas de tranquilidade. No Pantanal, o cavalo andaluz está bem adptado í  vida das fazendas. O pantaneiro e o seu cavalo são inseparáveis.

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Ao fim da tarde, ver o pí´r-do-sol, da torre do bugio.

No cimo da torre, os macacos estavam í  nossa espera. Desta vez, levamos-lhe água mineral. O macaco bebeu da garrafa!

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Por volta das 17h20, o sol começou a descer no horizonte, com uma luz espectacular.

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Os nossos agradecimentos ao guia Roberto, que não nos deixou cair dos cavalos.

Os animais do Pantanal

í€s 5h30, a primeira caminhada do dia. Objectivo: ver animais. Sempre.

Vimos um veado, um tamanduá bandeira, macacos e os habituais pássaros e passarocos.

Omnipresentes são as garças e os gaviões, sobretudo o carcará ou caracara.

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Perto das 8 h, passeio de camioneta até junto a um pequeno rio.

Por volta das 11 horas, pique-nique com um churrasco, sob o olhar atento de um jacaré, que fiscalizou todos os nossos movimentos, aguardando que algo lhe calhasse.

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í€s 15h30, passeio de camioneta de caixa aberta, ao longo da estrada, í  procura de animais. Sempre. Desta vez, tornámos a ver um tamanduá bandeira, mais uma família de macacos, garças muitas, tuituiús, martins-pescador, veados, raposas e alguns araçaris, que são uma espécie de tucanos.

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De Cuiabá ao Pantanal

Visitar Cuiabá, capital do Mato Grosso, cidade com 600 mil habitantes, a mais quente do Brasil. Isto porque fica no vale, bordejado pelos paredões da Chapada.

Parar junto a um desses paredões, chamado Portão do Inferno, para admirar as formações rochosas que fazem lembrar o Bryce Canyon, devido í  sua cor vermelha, embora, aqui, a vegetação seja luxuriante.

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Mais í  frente, um local onde os cuiabanos costumam juntar-se, aos fins de semana, junto í  cachoeira da Salgadeira, mais uma queda de água muito bonita, com a habitual moldura de árvores e plantas e humidade.

A parte velha da cidade tem algum interesse. De resto, Cuiabá não tem nada de especial, a não ser o calor. Vale a pena visitar o Zoo, que só tem animais do Brasil e o mercado, para ver os legumes, os peixes, os temperos e as plantas medicinais.

De Cuiabá ao Pantanal de Poconé são cerca de 2 horas de carro, sendo que a parte final é na estrada Transpantaneira, que é de terra batida, em bom estado, atravessando as terras alagadas do Pantanal.

O Araras Eco Lodge tem tudo o que é preciso. O primeiro passeio, de 4,5 km, ao longo da Transpantaneira e na quinta, o Ronco do Bugio.

Araras, periquitos, soco-boi, garças, pica-paus, gaviões, jacarés, cavalos, capivaras, gansos, porcos, galos e galinhas, além de um gato siamês com os olhos muito azuis deram as boas-vindas.

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Depois do jantar, focagem nocturna de animais. Duas raposas tímidas, alguns jacarés, alguns coelhos fugidios, um pequeno veado, uma coruja e um tamanduá, banqueteando-se com um formigueiro.

Foi cerca de hora e meia de solavancos para tão pouca recompensa. O melhor de tudo foi a visão do céu com milhões de estrelas e com a via láctea bem visível.

Chapada dos Guimarães

Um acidente grave ocorreu na semana passada, junto a uma cascata conhecida como véu da noiva. Um grande bloco de rocha destacou-se lá de cima e atingiu, cá em baixo, seis pessoas que tomavam banho na cachoeira. Uma delas morreu. Em consequência, o Parque Nacional foi fechado.

Em vez do roteiro previsto, visitam-se outros lugares: uma caminhada pelos arredores da Pousada, passando por uma enorme caverna, depois por um percurso ladeado de rochas com formações curiosas (a máquina de costura, o cavalo de Tróia) e, finalmente, até í  cachoeira do Éden, onde também se toma banho.

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Almoço no Morro dos Ventos, um restaurante com uma vista espectacular.

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Comida excelente: dois tipos de peixe: pacu e pintado, acompanhados de arroz com feijão, mandioca, farofa de banana e salada.

A cidade de Chapada dos Guimarães tem cerca de 10 mil habitantes. Tranquila.

Lá perto fica o centro geodésico da América do Sul, embora também haja um em Cuiabá.

A vista é, também deslumbrante, vendo-se todo o vale imenso que se estende depois dos paredões da Chapada.

Apetece ficar aqui.

Os nossos agradecimentos ao guia Hélio, que sabia tudo sobre pássaros, plantas, répteis, peixes, mamíferos, geologia e tudo, para além de nos ter iniciado nas maravilhas do remo e da flutuação.