“Património”, de Philip Roth

—Em 1991, Roth publicou este comovente livro que narra os últimos tempos da vida do pai do escritor. Como está explícito no subtítulo, esta é “uma história verdadeira” e Roth “limita-se” a descrever como foi a vida do seu pai, desde que ficou sozinho, após a morte súbita da mulher (e mãe de Roth) e depois de lhe ter sido diagnosticado um tumor cerebral, que lhe foi limitando a autonomia.

Embora provenha de uma família religiosa judaica, Roth escreve com um ateu. A vida é assim mesmo, a morte também; não há compensações ou castigos, conforme nos portamos melhor, aos olhos de um deus que, achamos nós, os ateus, não existe. Portanto, a vida, a doença, a sobrevivência, a luta diária e a morte, são tudo coisas que acontecem a todos os seres vivos, judeus, católicos, muçulmanos, ateus.

O livro não é, como poderia ser, uma ladainha tristonha ou uma verborreia encomiástica. É um texto simples, no qual transparece a admiração de Roth pelo seu pai, o seu amor genuíno, adulto, maduro. Um excelente testemunho que o pai de Roth gostaria de ler, penso eu…

Que banho (checo) de bola!

Os que sabem o significado de “banho checo”, perceberão o que quero dizer.

O banho checo é mais ordinarote que o banho turco.

E foi isso que aconteceu. A selecção não jogou tão bem, o Ricardo e os centrais andaram um bocado aos papéis nos cantos e nos cruzamentos, mas a vitória acabou por ser mais dilatada do que contra a Turquia e, aparentemente, foi mais fácil vencer os checos.

Scolari fez um bom trabalho, nestas duas semanas e, também por isso, conseguiu um belo contrato com o Chelsea. Não há dúvida que conseguiu formar uma equipa – e a prova disso foi o terceiro golo contra a República Checa, um golo que só se consegue quando existe equipa.

Venha de lá a Suíça!

O raça do Cavaco!

Quem se lembra do Dia da Raça?

O Presidente Cavaco lembra-se, pelos vistos. Interrogado, pelos jornalistas, sobre a greve dos camionistas, resolveu dizer: «hoje eu tenho que sublinhar, acima de tudo, a raça, o dia da raça, o dia de Portugal, de Camões e das comunidades portuguesas».

O Dia da Raça calhava a 10 de Junho, no tempo da Outra Senhora e ninguém sabia que Raça era festejada: os pastores alemães, os serra da estrela, as charolesas, as barrosãs, os cocker spaniel?

A minha avozinha, que talvez deus tenha, quando se referia a alguém que a impressionava de algum modo, porque se portava muito bem ou porque se portava muito mal, costumava dizer: «o raça da rapariga só faz disparates!» ou «o raça do rapaz só tira boas notas!»

Deve ser nesta categoria que se inclui o «raça do Cavaco»!

Que banho (turco) de bola!

Dou a mão í  palmatória: a selecção jogou bem, correu do princípio ao fim e mereceu ganhar í  Turquia. Apenas fiquei irritado durante cerca de 10 minutos, depois do golo de Pepe, porque me pareceu que a equipa ia defender o resultado, ao bom estilo Scolari, em vez de procurar marcar um segundo golo. Mas, enfim, o Ronaldo lá meteu a terceira, o Moutinho teve um passe de mestre e o Meireles marcou.

Afinal, não houve banhos turcos, Portugal é que deu um banho í  Turquia e o cabeça-de-turco até foi um brasileiro com nome de mexicano.

Esta dos brasileiros naturalizados para jogar futebol, é algo que se está a generalizar. Além do Deco e do Pepe, em Portugal, temos, só neste Europeu, um Aurélio na Turquia, um Kuranyi na Alemanha, um Guerreiro na Polónia e um Senna na Espanha. Todos brasileiros.

E o fenómeno não é só brasileiro. A lista que o Público hoje traz é bem curiosa. Há um albanês (Gercaliu) e um croata (Vastic) na selecção da íustria, um australiano (Simunic), na Croácia, um suíço (Neuville), na Alemanha e um argentino (Camoranesi), na Itália.

Mas, se quisermos ir mais longe, temos um nascido em França (Petit) e outro no Congo (Bosingwa), na selecção portuguesa; um nascido na Bósnia (Jakupovic), um na Costa do Marfim (Djourou), um na Jugoslávia (Bhrami), um em Cabo Verde (Fernandes) e um na Colí´mbia (Vonlanthen), na selecção suíça; na selecção turca, temos dois nascidos na Alemanha (Balta e Altintop), um na França (Erdinç) e outro na Inglaterra (Kazim); na selecção austríaca, ainda temos um nascido na Hungria (Garics) e outro na Alemanha (Arnic); a Croácia tem um nascido na Suíça (Rakitc) e três na Alemanha (Robert e Niko Kovac e Klansnic); a própria Alemanha tem três jogadores nascidos na Polónia (Trochowski, Klose e Podolski) ; Perrotta, da selecção italiana, nasceu em Inglaterra; Vyntra, da Grécia, nasceu na República Checa; Linderoth, da Suécia, nasceu em França; e, finalmente, a selecção francesa conta com dois nascidos no Congo (Makelele e Mandanda), um nos Camarões (Boumsong) e dois no Senegal (Patrick Vieira e Evra).

Portanto, Pepe é português e o resto é conversa!

Aliás, o facto de a Turquia participar no Europeu também é muito discutível – a menos que todos os seus jogadores tivessem nascido para cá do Bósforo. Se nasceram para lá do Estreito, deviam jogar numa competição asiática qualquer.

Europeus ou asiáticos, os turcos não tiveram outro remédio senão atirar a toalha (turca) ao chão e renderem-se.

E agora, é a vez de arrasar os checos!

Obama sabe a pouco

Está bem, o facto de os democratas norte-americanos terem escolhido um candidato negro, é um avanço. Mas contra quem concorreu Obama? Contra uma mulher… Ora, escolher entre uma gaja e um preto, que raio de escolha é essa? Um americano que se preze, por muito democrata que seja, vê-se entre a espada e a parede e tem que escolher o preto. A gaja, nunca!

Agora, imaginem que Obama era uma gaja!

Ou melhor: que Obama era uma gaja lésbica.

Ou melhor ainda: gaja, lésbica, preta retinta e agnóstica.

Isso, sim – seria radical!

A escolha de Obama não é nada de especial.

No fundo, Obama não passa de um John Kennedy bronzeado

“Consolers of the Lonely”, dos Raconteurs

—Que disco bem esgalhado! Com mais duas ou três bandas destas eu poderia pensar que estava de volta a 1968-1970, que era outra vez um teen-ager e que estava a reviver um dos melhores períodos da música rock.

O rapazinho dos White Stripes, Jack White III (voz e teclas em geral) e mais uns amigos – Jack L.J. Lawrence (baixo, banjo, voz), Brendan Benson (sing, string, ring, ding, dong – literalmente) e Patrick Keeler (percurssão) – juntaram-se para este segundo disco que é um gozo, do princípio ao fim.

O disco faz-me lembrar o “Sgt Pepper’s”, dos Beatles por três razões: pelo som rock tipo anos 60, pelo título (“Consolers of the Lonely”, enquanto o Sgt. Pepper´s era a Lonely Heart’s Club Band) e pela capa, que mostra os quatro rapazes com um bombo ao fundo, muito semelhante ao que está, em primeiro plano, na capa do álbum dos Beatles.

De resto, a sonoridade do disco tem mais a ver com outras bandas dos anos 60/70, nomeadamente Led Zeppelin, Fleetwood Mac, do tempo do Peter Green, Ten Years After, Blind Faith e outros que tais.

Há faixas que valem a pena ouvir várias vezes; por exemplo, “The Switch and the Spur”, que me faz lembrar a música do western-spaghetti “The Good, the Bad and the Ugly”; “Many Shades of Black”, que poderia ser uma coisa dos Blood, Sweat and Tears, com os metais e tudo; “Five on the Five”, que é uma faixa Led Zeppelin, chapada, incluindo a voz do rapazinho e, sobretudo, os solos de guitarra, um dos quais parece mesmo roubado do Plant; e mais, e mais.

Toca a ouvir!

PSD aposta nas novas gerações

—Foi com surpresa que soube que as eleições, no PSD, tinham sido ganhas pela líder da Juventude Social-democrata, a Manuela Ferreira Leite. Não estava nada í  espera que os militantes do PSD tivessem a coragem de escolher uma quase desconhecida para liderar o partido na sua luta contra Sócrates, já no próximo ano.

Fizeram bem em romper com o passado. Quem é que aturava mais o Pedro Passos Coelho, dirigente nacional desde a pré-primária ou o Pedro Santana Lopes, que já foi presidente de quase tudo, do Sporting í  Câmara de Lisboa?

Ao menos com a Manuela, que nunca teve um cargo público, vai ser tudo novo.

A miúda parece ter jeito.

Logo depois de conhecidos os resultados, e depois de dar um grande abraço a outro puto que vai ter muito futuro no partido, o Pacheco Pereira, Manuela virou-se para os seus apoiantes e fez um discurso completamente vazio de ideias, repleto de lugares comuns e de conversa fiada, como se já fosse uma política com longa experiência.

Quero, portanto, dar os meus parabéns aos militantes do PSD pela coragem em escolherem uma desconhecida para os comandar. Se todos os partidos fossem como o PSD, o país seria, no mínimo, mais divertido.

“Frank”, de Amy Winehouse

—Mea culpa! Ouvi hoje, pela primeira vez, o disco de estreia de Amy Winehouse, publicado há 5 anos.

Porquê?

Porque gosto muito pouco de unanimismos e ao ver, constantemente, referências a esta Amy, por razões outras, que não as musicais, achei que ela não devia passar de mais um fenómeno publicitário, como muitos outros que por aí andam e com os quais não vale a pena perder tempo.

De qualquer modo, de quando em vez, sentia curiosidade em saber o que raio esta Amy teria de tão especial. Seria só o facto de ter «voz de preta», de ter umas pernas de alicate e vestir-se í  anos 50, de ter uma cabeleira estranha e de estar sempre encharcada em álcool e drogas?

Confesso que o pedacinho da sua actuação bêbada no roquemrio, que as televisões transmitiram funcionou como gatilho e hoje, finalmente, comprei “Frank”, o disco de estreia desta miúda que, na altura, tinha 20 anos e que, de facto, tem uma voz do caraças, lembrando Sarah Vaughan ou Billie Holiday. Para além disso, as canções têm, quase todas, um swing que “já não se usa” e que soa muito bem, apesar de uma ou outra piroseira que, apesar disso, soa muito melhor que a maior parte da merda que anda por aí.

Sinceramente, fico espantado como Amy Winehouse consegue arrastar multidões. As suas canções deveriam ser para uma minoria – a menos que as multidões sejam arrastadas por outras razões, relacionadas com os escândalos, o mau comportamento, as drogas e o álcool, as transgressões, que tanto agradam aos adolescentes.

É quase impossível não comparar Winehouse a Janis Joplin, quanto mais não seja, pelos excessos. No entanto, penso que Joplin estava mais de acordo com a sua época; ela cantava rythm & blues e rock puro e duro, numa altura em que muitos o faziam. Agora, esta Amy, ousa cantar coisas que estão completamente fora do actual “mainstream”.

Está visto, a Winehouse ganhou um fã cinquentão…