A vaca, o burro e o Papa

A um mês do Natal, o Papa Ratzinger lança o livro “A Infância de Jesus”, em nove línguas e em cinquenta países.

Não tenciono comprar.

Muito menos ler.

No entanto, chamou-me a atenção o destaque que o Diário de Notícias dá ao acontecimento, enchendo uma página com um texto mais ou menos hermético sobre o livro.

Tão hermético que contém frases absolutamente incompreensíveis, como esta: «apesar de falar de um menino e da sua infância, está cheio de questões teológicas e difíceis de empreender».

Um livro sobre a infância de Jesus está cheio de questões teológicas? Que disparate!

E, ainda por cima, coisas “difíceis de empreender”! Empreender o quê?

Mas o mais importante de tudo isto é que o Papa determina que a vaca e o burro se mantenham no presépio, apesar de acreditar que eles não estiveram lá (onde?).

De facto – e segundo a notícia – «o teólogo Ratzinger lembra que os evangelhos não falam de animais mas explica que a iconografia cristã preencheu esse espaço com as figuras do burro e da vaca, que são popularmente ali representadas.»

E o Papa determina: «nenhuma representação do presépio renunciará à vaca e ao burro».

Mais nada!

Podia ser um gorila e uma zebra, ou um caracol e uma mosca, ou um morcego e uma tartaruga, mas o povo escolheu um burro e uma vaca e, apesar de não terem existido, é imperioso que se mantenham no presépio.

Faz-me lembrar a história do homem que estava a fazer o gesto de atirar alguma coisa para o chão. Quando lhe perguntaram o que fazia, disse estar a dar milho aos pombos. Milho? Mas não vejo nenhum milho, disseram. Pois não, respondeu o homem – também não há aqui nenhum pombo!…

Alucinações verdadeiras e falsas

A religião católica deu mais um passo no estudo das alucinações, estabelecendo um conjunto de regras que permite distinguir as verdadeiras das falsas.

Suponhamos, por exemplo, que eu tenho um surto místico e começo a ter visões.

Pode muito bem acontecer.

Como saberei eu se essas visões são verdadeiras ou falsas?

Simples – consulto o guia criado durante o papado de Paulo VI e agora, finalmente, tornado público por Ratzinger.

E esse guia diz, claramente, que, no caso de um de nós começar a ver a Virgem Maria ou outra qualquer divindade do universo católico (se virmos Maomé, não vale), devemos “manter o silêncio e não chamar a atenção de jornalistas ou outros fiéis”. Seremos, depois, submetidos a consultas de psiquiatria e psicologia, mas terão que ser escolhidos uns especialistas católicos e outros ateus, para haver isenção de opiniões.

Esses especialistas têm que confirmar que não sofremos de nenhuma patologia histérica (como, por exemplo, discutirmos o serviço público da RTP – certificar palavras de Passos Coelho, que disse que “não razão para histeria”, na discussão da eventual privatização da televisão pública).

Será avaliado o nosso nível de instrução e teremos que entregar a uma comissão diocesana os nossos computadores, para se verificar que não fizemos buscas sobre outras aparições, que queiramos copiar. Finalmente, será averiguado se não ganharemos alguma coisa, sob o ponto de vista económico, com o início de peregrinações ao local onde eventualmente tivemos as visões.

Se passarmos neste exigente teste, seremos ainda interrogados por exorcistas e especialistas em demónios (que profissão do caraças!).

Só depois, o bispo diocesano poderá tomar uma decisão, com a ajuda do Vaticano.

Garanto-vos: se algum dia vir a Nossa Senhora, não me vou meter num sarilho destes. Mando-a dar uma volta ao bilhar grande e sigo em frente, sem dizer nada a ninguém!

Safa!

A senhora Merkel e o prepúcio

Para que serve o prepúcio?

Que importância tem o prepúcio?

E o que é que a Sra. Merkel tem a ver com isto?

Pelos vistos, o prepúcio tem tal importância na Alemanha que a própria Sra. Merkel teve se referir, publicamente, a ele.

Tudo começou quando um tribunal de Colónia proibiu a circuncisão de menores, na sequência de uma operação a um miúdo de 4 anos, que correu mal.

Os judeus ficaram muito zangados com isto.

Para eles, o prepúcio tem que ser retirado à nascença.

A polémica subiu de tom e a Sra. Merkel acabou por ter que manifestar a sua opinião e disse: «não quero que a Alemanha se torne o único país do mundo onde os judeus não podem praticar os seus ritos. Nesse caso, tornar-nos-íamos uma nação ridícula».

Por outras palavras, manter o prepúcio torna os alemães ridículos.

Confesso que me custa a perceber por que razão, tanto os judeus, como os muçulmanos, têm tanta aversão a esse bocado de pele que, a mim, me faz tanta falta!

E agora, de repente, tive um pressentimento medonho: será que, de entre as novas medidas de austeridade que nos vão ser impostas, a Sra. Merkel decide obrigar-nos, a nós, portugueses, a desfazermo-nos dos nossos prepúcios?

Estou preocupado!…

A globalização dos taliban

No Paquistão, os taliban que controlam as regiões do noroeste do país, estão a impedir a vacinação das suas crianças contra a poliomielite.

Na Alemanha, um tribunal de Colónia considerou que o direito à integridade física das crianças é mais importante do que práticas religiosas e proibiu a circuncisão. O gabinete de Angela Merkel já criticou a decisão do tribunal, dizendo que ela limita a liberdade religiosa.

O taliban estão em toda a parte!

Torgal versus Passos

Não gosto de bispos.

Acho-os supérfluos. Vestem mal. E não se importam de ser tratados por Dom.

D. Januário Torgal é (ou foi) o bispo das Forças Armadas.

Primeira incongruência: por que carga de água umas forças armadas de um país laico precisa de um bispo?

Adiante.

Há três ou quatro dias, Januário disse que Portugal «não tem governo. (…) E no fim ainda aparece um senhor, que pelos vistos ocupa as funções de primeiro-ministro, dizendo um obrigado à profunda resignação de um povo dócil e tão bem amestrado que até merecia estar no jardim zoológico. Conclusão: parecia que estava a ouvir o discurso de uma certa pessoa há 50 anos.»

O raça do bispo!

A comparar o Passos Coelho com o Salazar!…

Logo no dia a seguir, o Correio da Manhã revelava que o bispo ganhava 4500 euros de reforma e tinha direito a gabinete de apoio, carro, motorista, secretária e telemóvel.

Januário foi aos arames.

Hoje, disse ao jornal i que está a ser vítima de um “linchamento público” e que só ganha “pouco mais de 2500 euros” por mês e que abdicou daquelas regalias todas.

E acrescentou: «depois de uma vida inteira a trabalhar, praticamente metade do que ganho vai para o Estado, que depois não sabe gerir esse dinheiro: vai para espiões e para empresas privadas».

Januário, posso fazer-te uma pergunta?

Por que raio foste para bispo, pá?

Quem quer cheirar os pastorinhos?

Será inaugurado amanhã, “O Milagre de Fátima” – um espaço que recria as aparições da virgem aos três pastorinhos, recorrendo a hologramas, sons e – pasme-se! – odores!…

Isso mesmo, odores!

Já acho bizarro haver pessoas que queiram ver e ouvir a recriação das alucinações dos pastorinhos.

Mas estranho mesmo é pagar um bilhete para cheirar as aparições.

Uma vez que a cena envolveu três pastores, será que se sente o cheiro das caganitas das ovelhas?

Acrescente-se que “O Milagre de Fátima” custou um milhão de euros!

Anda a malta a dar sacos de arroz e bolachas ao Banco Alimentar e os padrecas a esbanjar um milhão de euros com disneylandias marianas!

Há feriados e feriados…

O Estado português e a Santa Sé chegaram finalmente a acordo: dois feriados religiosos ficarão suspensos até 2018.

Quer dizer que, durante 5 anos, ficaremos sem todos os Santos e Deus ficará sem Corpo.

Em 2018, os Santos regressarão.

Todos.

E Deus recuperará o seu corpo.

Quanto à República e à Restauração da Independência, perdem definitivamente o direito aos respectivos feriados.

Os feriados civis perdem em relação aos religiosos.

Não admira – os Santos e Deus tiveram a ajuda do Papa…

Mas onde raio estão tantos católicos?

A Universidade Católica fez um estudo que concluiu que o número de católicos está a descer, em Portugal.

Nada de espantoso.

Segundo o dito estudo, citado pelo Público, 8 em cada 10 portugueses são católicos e cerca de 45% dos portugueses vai à missa com regularidade.

Torço o nariz.

Da minha família mais chegada, pelo menos 12 elementos não são católicos.

Não conheço ninguém que vá à missa com regularidade – e conheço muita gente!

E, se mesmo assim, o número de católicos está a descer, isso quer dizer que, antes (em 1999), ainda eram mais do que 8 em cada 10 portugueses?!

Cheira-me que este estudo foi feito aos domingos de manhã, à porta das igrejas, à saída da missa…

“O Evangelho de Fogo” (2008), de Michel Faber

Michel Faber é um escritor nascido na Holanda, criado na Austrália e residente na Escócia.

Autor de sete romances, dele, só tinha lido “Debaixo da Pele” (2000), e achei-o surpreendente, uma história original e inquietante.

Mas este “O Evangelho de Fogo” é uma desilusão.

Conta a história de Theo Griepenkerl, um modesto académico que, por mero acaso, descobre, numa museu iraquiano, uns manuscritos que são, afinal, o quinto evangelho – ainda por cima, escrito por uma testemunha ocular, alguém que, de facto, conviveu com Cristo.

Trata-se de uma excelente ideia mas, na minha opinião, Faber não conseguiu (ou não quis) desenvolvê-la completamente.

Milagres

Telejornal da Sic:

Um homem, numa igreja, em Espanha, deu um tiro na cabeça de uma mulher grávida em fim de tempo. Inopinadamente. A seguir, meteu o cano da pistola na boca e suicidou-se.

A emergência médica chegou, confirmou o óbito da grávida, fez uma cesariana e o bebé nasceu, saudável.

A jornalista, dando voz aos crentes que estavam na igreja e que assistiram à cena, diz que todos concordaram que se tratou de um milagre.

O que foi milagre – a morte da mãe ou o nascimento do filho?

Deus estava distraído, no momento em que o homem deu o tiro na cabeça da grávida e depois, para compensar, ajudou os médicos a salvarem a criança?

Notícia seguinte:

Na Austrália, um ultra-leve chocou contra uma roda gigante de um feira. Os dois ocupantes da aeronave e duas crianças de 9 e 11 anos ficaram encarcerados e o salvamento de todos demorou horas.

Novamente, a jornalista (não posso afirmar se foi a mesma), diz que houve milagre.

Se calhar, Deus estava ocupado a salvar estas quatro pessoas na Austrália, distraiu-se e, quando deu por isso, já o louco tinha morto a grávida e Nosso Senhor só foi a tempo de salvar a criança…

Mas milagre a sério é esta outra notícia:

Em Portugal, cerca de 500 médicos já mortos, continuam a figurar nos registos oficiais e alguns deles ainda passam receitas!

Isto sim, é um milagre do caraças!