Ameaças…

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Ouve lá, ó Sócrates, só falta mesmo dormir com a Valquíria! Não sei o que vês nessa fulana, que tudo o que ela diz, tu fazes, pá!

Liberta-te, homem!

E tu, Cavaco, estás farto do governo? Demite-o!

Quanto a ti, Coelho, vê se te decidides: não apoias as novas medidas de austeridade? Apresenta uma moção de censura!

E tu, Santana, quando é que passas das ameaças í  acção e inventas um novo partido?

País de cães que ladram, mas não mordem…

Morrer em casa

Agora, de repente, os portugueses começaram a descobrir velhotes mortos em casa há semanas ou meses… ou anos!

Somos mesmo um povo de modas, caramba!

Bastou ter-se descoberto aquela velhota, morta há 9 anos, esquecida na sua própria casa e logo os portugas desataram í  procura de mais cadáveres!

Hoje, o jornal da ASIC abriu com mais dois casos: um velhote de 80 anos, morto há umas duas semanas e outro, de 72 anos, morto há cerca de três meses.

E já se fala que, a partir de agora, além do enterro e da cremação, podemos optar por deixar estar.

Morremos e deixamo-nos estar, sossegadinhos, na nossa casinha.

Alguém nos há-de descobrir.

Eventualmente.

Este país é uma enxabarda!

A população de Enxabarda, concelho do Fundão, boicotou as eleições para a presidência da República.

Segundo a notícia da SIC, os habitantes de Enxabarda exigem a abertura da casa mortuária, cujas obras já estão prontas; no entanto, o empreiteiro não dá a chave da porta da casa mortuária porque a Junta de Freguesia ainda não pagou as obras.

Acresce que o sr. prior já disse que, na igreja, não quer mais mortos porque está muito frio, segundo afirmaram alguns habitantes de Enxabarda.

Um país que tem uma terra chamada Enxabarda, cuja população boicota as eleições presidenciais porque não tem a casa mortuária aberta, merece mesmo ter Cavaco como presidente mais 5 anos!

Meia cerveja, dois figos e um tiro no homem do talho

O Diário de Notícias continua a brindar-nos com verdadeiras pérolas do jornalismo de costumes.

Desta vez, socorro-me de uma notícia de ontem, da autoria de J.B. (presumo que seja o correspondente do DN em Guimarães) e que, bem ao estilo de um Rex Stout ou de um Dashiell Hammett, escreve:

«Entrou na mercearia, pediu uma cerveja, comeu dois figos e dirigiu-se ao talho contíguo onde disparou sobre o proprietário, seu antigo patrão.»

Qualquer boa história policial podia começar assim.

Não sabemos o nome do homem que disparou sobre o dono do talho, assim como não sabemos o nome do homem do talho. Mas sabemos – isso sim! – o nome do dono da mercearia, onde o tipo que disparou pediu a cerveja e comeu os dois figos!

É o Sr. José Silva.

Ei-lo que diz:

«Ele veio aqui beber uma cerveja, até me pediu dois figos para comer, e depois só disse ‘vou ali ao meu antigo patrão’, até deixou a cerveja a meio… Parece que ele toma medicamentos e, misturado com a cerveja, aquilo é como uma droga”.

Ah! grande José Silva!

Tu é que sabes!

Tomar medicamentos com cerveja “é como uma droga”! – sempre ouvi dizer!

Aspirina como Coca-Cola?

Droga!

Amoxicilina com Super-Bock?

Droga!

Ben-u-ron com Sagres?

Super-droga!

Vai daí, o homem drogado com medicamentos, meia cerveja e dois figos, toca de ir ao talho do antigo patrão e espetar-lhe com um tiro num braço.

São três colunas de notícia e ficamos sem saber: os nomes do agressor e da vítima, as motivações para a agressão, quantos tiros foram disparados, que tipo de arma foi usada, quando ocorreu toda esta tragédia.

Mas ficámos a saber que tudo se passou na Rua da Rainha, em Guimarães e que o talho se chama – espanto! – Talho Rainha!

Obrigado J. B.!

Obrigado Diário de Notícias!

Ai a caridadezinha!…

Os pobrezinhos voltaram a estar na moda.

Na verdade, junto de uma certa classe alta, muito ligada í  igreja católica, os pobrezinhos sempre estiveram na moda, sobretudo na quadra natalícia.

Mas agora, com a malfadada crise, toda a gente quer mostrar que ajuda os pobrezinhos.

Desde as várias instituições, há muito presentes na sociedade, como o Banco Alimentar, a Cáritas, a AMI, as Misericórdias, muitas outras se juntaram a esta onda de solidariedade. É o caso da Ajuda de Berço, presente nos átrios dos grandes centros comerciais, da EDP, que anda a recolher roupa, livros e brinquedos, e dos restaurantes, que agora guardam as sobras para os pobrezinhos, com o alto patrocínio do Aníbal de Boliqueime e Senhora.

E as escolas, preocupadas com as crianças pobrezinhas, cheias de fome, decidiram manter os refeitórios das escolas abertos, durante as férias de natal, para lhes poderem dar uma refeição quente.

Numa escola de Setúbal, segundo conta o DN, o refeitório esteve ontem aberto, esperando por 50 crianças esgalgadas de fome. Havia lasanha para todos.

Não apareceu ninguém.

Nem um puto pobrezinho e esganado de fome apareceu!

Agora, as sobras destes carenciados deverão ser distribuídas pelos pobres envergonhados da classe média, os quais, por sua vez, hão-de guardar as sobras para os da classe média-alta, e as sobras destes serão distribuídas pelos ricalhaços, sendo que as sobras destes serão dadas, finalmente, aos pobrezinhos, assim fechando o círculo da caridadezinha que se instalou neste país com cheiro a sacristia.

Mas havemos de acabar com os pobres, porra!

KAOS

Caos é a palavra mais ouvida nos noticiários e mais lida nos jornais.

Se o Orçamento não for aprovado, será o caos. Se o Orçamento for aprovado, com as medidas de austeridade draconianas, o caos será.

Com o corte nos vencimentos, muitos médicos, que já estavam para se reformar antecipadamente, vão mesmo fazê-lo, passando-se para a iniciativa privada – será o caos na Saúde.

Os polícias, gê-éne-érres, guarda prisionais e demais, com o corte nos vencimentos e o congelamento das promoções, preparam-se para aderir í  greve geral do dia 24 de novembro – será o caos na Segurança.

Os juízes, para além de levarem uma ripada de 10% nos salários, ficam também sem subsídio de residência e vão passar a viver ao relento – será o caos na Justiça.

Os professores não precisam de fazer mais nada porque, na Educação, já temos o caos.

O caos nas Finanças, o caos na Economia, o caos no Emprego, o caos, o caos, o caos.

Quem se lembra do KAOS?

Temos que chamar Maxwell Smart e a sua inseparável agente 99!