Coisas da democracia

Três notícias na edição de hoje de o Público, fazem-nos pensar um pouco sobre o valor das democracias.

Em Portugal, a nova secretária de estado do Tesouro foi demitida depois de ter recebido meio milhão de euros de indemnização por ter sido despedida da TAP.

Faltavam-lhe dois anos de contrato, tal como a Fernando Santos, o selecionador nacional de futebol que, no entanto, recebeu 3,5 milhões de indemnização.

Percebe-se a diferença: Santos ganhou um campeonato da Europa, enquanto Alexandra Reis, a secretária de Estado, não ganhou coisa nenhuma – a não ser a tal indemnização.

Nos Estados Unidos, o congressista republicano George Santos admitiu que mentiu sobre a sua formação académica e o seu histórico profissional durante a campanha para as eleições intercalares de novembro.

Santos é adepto de Trump e afirmou que não é criminoso; acrescentou: “o meu pecado foi ter enfeitado o meu currículo. Peço desculpa. Fazemos coisas estúpidas na vida”. Mesmo assim, pretende tomar posse como congressista.

Em Israel, o Parlamento aprovou duas leis que poderão permitir que os políticos passem a ter um poder quase absoluto e em que as mulheres, homossexuais, estrangeiros, ou até judeus não ortodoxos, possam perder direitos.

Um dessas alterações torna possível que políticos condenados por crimes graves como corrupção, possam ser ministros.

São coisas da democracia – o pior regime político, mas o único que é aceitável…

Dias de democracia!

A comunicação social anuncia que hoje atingimos os 17 500 dias em democracia – exactamente o mesmo número de dias que passámos em ditadura.

No que me diz respeito, há muito tempo que os dias em democracia ultrapassaram os dias em ditadura. Com efeito, vivi menos de 8 mil dias em ditadura, mas chegou-me porra!

Os jornais sublinham as diferenças entre o país do tempo da outra senhora, e o país que cresceu após o 25 de abril.

Chamam a atenção, sobretudo, para os números da mortalidade infantil e para os quilómetros de auto-estrada.

A mortalidade infantil era, em 1973, de 44,8 crianças por cada mil nascimentos, enquanto em 2020, foi de 2,4. Estes números merecem ser esmiuçados para serem mais bem compreendidos. Estes números querem dizer que, antes do 25 de abril, morriam cerca de 44 crianças por cada mil que nasciam e que, hoje em dia, morrem “apenas”, menos de três!

Quanto às autoestradas, em 1973, o número de quilómetros era de 66 km, enquanto, em 2020, ultrapassava os 3 mil quilómetros.

A comunicação social destaca, ainda, as alterações nas relações familiares, realçando o facto de, em 1973, um homem que matasse a sua esposa, apanhando-a em pleno adultério, era apenas desterrado para fora da comarca por seis meses, enquanto hoje, pode levar com 25 anos de cadeia. Por outro lado, o adultério praticado pela mulher podia significar oito anos de cadeia, enquanto hoje, deixou de ser crime, evidentemente.

Mas eu destacaria ainda outra coisa: o fim da guerra colonial.

Eu estava na calha para bater com os costados em África e só não fui porque fui conseguindo passar de ano e assim prosseguir o meu curso de Medicina e, quando o terminei, em 1977, já a guerra tinha acabado.

Mesmo assim, não se safei de fazer uma tropa fandanga, com seis semanas de recruta patética nas Caldas, e mais quase ano e meio como médico no Hospital Militar de Évora.

Portanto, viva o 25 de abril carago!

Madeira – farol da Democracia

Na véspera de uma Greve Geral, em que milhares de portugueses irão mostrar a sua indignação perante as medidas de austeridade que nos estão a atirar para a recessão, num momento em que muitos se interrogam sobre o destino da Democracia, numa altura em que o capitalismo selvagem parece estar a tomar conta das nossas vidas – eis que a Madeira, a Pérola do Atlântico, nos mostra o caminho.

Como?

Simples!

Os deputados do PSD na Assembleia madeirense decidiram que um único deputado pode votar pelos restantes 25.

De facto, por que raio é que 25 deputados se hão-de deslocar à Assembleia, quando um único pode fazer o trabalho de todos?

O PSD continua com a maioria absoluta, mas mais curta do antes; com efeito, o PSD tem apenas mais dois deputados do que a soma dos deputados da Oposição. Imagine que, por exemplo, dois ou três deputados do PSD têm outra coisa mais importante para fazer do que ir apanhar secas na Assembleia. O partido fica em minoria e pode perder votações.

Nada disso.

O líder da bancada do PSD vota e o seu voto vale pelos 25 deputados!

É assim mesmo!

Obrigado, Alberto João, pelo exemplo que continuas a dar!

E obrigado pelos 3 milhões que vais gastar no fogo de artifício!

Eu próprio já contribuí para os teus foguetes, com metade do meu subsídio de Natal!

Espero que te rebentem na peida, pá!

Tauromaquia parlamentar

E, de repente, Manuel Pinho virou-se para Bernardino Soares e mimoseou-o com um par de cornos, em plena Assembleia da República.

manuelpinho_cornosSócrates demitiu-o.

Acho mal.

Para já, se a Assembleia costuma ser uma grande tourada, mais cornos, menos cornos, não há-de fazer diferença.

Tive pena foi do Bernardino Soares, coitado. Com aquela carinha de sacristão, nunca devia ter visto ninguém a fazer cornos…

Depois, há os antecedentes: é bom não esquercer que há poucas semanas, o vice-presidente da bancada do PSD mandou um deputado do PS para o caralho.

E nem vale a pena falar das tiradas fantásticas do Alberto João. Elas são tantas, que basta talvez recordar aquela vez que ele chamou filhos da puta aos jornalistas.

E ainda ontem, o presidente da Assembleia Geral do Benfica, Manuel Vilarinho, ao ser questionado sobre a possibilidade das eleições serem impugnadas, respondeu: “estou-me cagando!”.

Portanto, foda-se! que mal faz um simples par de cornos à porra desta democracia de merda!?