“A Mais Breve História de Israel e da Palestina”, de Michael Scott-Baumann (2021)

Scott-Baumann é mestre pela School of Oriental and African Studies de Londres e trabalhou como voluntário para o Israeli Committee Against House Demolitions, tendo realizado trabalho de campo na Cisjordânia. Não sei se este currículo será prova de independência, mas, ao ler o livro, pareceu-me que sim.

De um modo conciso e muito claro, o autor descreve os principais acontecimentos, as guerras, os acordos, o papel da Grã-Bretanha, dos Estados Unidos e da ONU nesta guerra sem fim, começando pelas origens do conflito (a Segunda Guerra Mundial e o Mandato britânico) e indo por ali fora até aos dias de hoje. E, apesar do livro ter sido editado em 2021, o autor acrescentou um epílogo para falar do ataque do Hamas de 7 de outubro de 2023 e da retaliação israelita.

Se já tinha uma opinião formada sobre este conflito, a leitura do livro reforçou-a: Israel está a proceder ao paulatino extermínio dos palestinianos e Netanyahu é um dos piores líderes israelitas dos últimos tempos.

Muitos dos acontecimentos descritos no livro são bem conhecidos, mas assim lidos, cronologicamente, dão uma ideia muito mais firme do conflito. Mas também coisas que desconhecia, como esta:

“Netanyahu sabia que podia desafiar o presidente norte-americano (Obama) e não pagar qualquer preço político, devido à força do lobby de Israel nos Estados Unidos, constituído, sobretudo, por judeus e pelos muito mais numerosos cristãos evangélicos (muitos destes últimos creem que a segunda vinda de Cristo só acontecerá quando todos os judeus tiverem regressado à Terra de Israel – isto é, à terra bíblica, que incluía a Judeia e a Samaria).”

Se Trump for reeleito em novembro, a vida dos palestinianos só poderá piorar…

Coisas da democracia

Três notícias na edição de hoje de o Público, fazem-nos pensar um pouco sobre o valor das democracias.

Em Portugal, a nova secretária de estado do Tesouro foi demitida depois de ter recebido meio milhão de euros de indemnização por ter sido despedida da TAP.

Faltavam-lhe dois anos de contrato, tal como a Fernando Santos, o selecionador nacional de futebol que, no entanto, recebeu 3,5 milhões de indemnização.

Percebe-se a diferença: Santos ganhou um campeonato da Europa, enquanto Alexandra Reis, a secretária de Estado, não ganhou coisa nenhuma – a não ser a tal indemnização.

Nos Estados Unidos, o congressista republicano George Santos admitiu que mentiu sobre a sua formação académica e o seu histórico profissional durante a campanha para as eleições intercalares de novembro.

Santos é adepto de Trump e afirmou que não é criminoso; acrescentou: “o meu pecado foi ter enfeitado o meu currículo. Peço desculpa. Fazemos coisas estúpidas na vida”. Mesmo assim, pretende tomar posse como congressista.

Em Israel, o Parlamento aprovou duas leis que poderão permitir que os políticos passem a ter um poder quase absoluto e em que as mulheres, homossexuais, estrangeiros, ou até judeus não ortodoxos, possam perder direitos.

Um dessas alterações torna possível que políticos condenados por crimes graves como corrupção, possam ser ministros.

São coisas da democracia – o pior regime político, mas o único que é aceitável…

Líderes do outro mundo

Hugo Chavez, Robert Mugabe, Ariel Sharon… são líderes do outro mundo.

Chavez está em Cuba há semanas, lutando contra um cancro da próstata que lhe mina as entranhas.

Por este motivo, não compareceu na cerimónia de tomada de posse de mais um mandato para a presidência da República da Venezuela.

Estará em coma? Quem sabe! Mas isso não o impede de ser o Presidente!

Também Robert Mugabe continua sendo o Presidente do Zimbabwe, apesar dos seus 88 anos.

Rijo que se farta, Mugabe conseguiu que os partidos alterassem a Constituição do país, de modo a que ele possa permanecer no cargo por mais 10 anos.

Aos 98 anos, Mugabe continuará a ser Presidente do Zimbabwe, mesmo que esteja em coma!

Em coma está Ariel Sharon, ex-primeiro-ministro de Israel – e já lá vão 7 anos!

Com 84 anos, Sharon manifestou alguns sinais de actividade cerebral.

Seguindo o exemplo dos seus colegas, não tarda que Sharon esteja a governar Israel…

Netanyahu telefona a Passos?

Notícia do Expresso on line:

“Netanyahu telefona a Passos para justificar ofensiva de Israel”.
Fiquei preocupado.
Será que o primeiro-ministro israelita estava com medo que Passos Coelho apoiasse o Hamas?
Será que nós ainda vamos ter que pagar mais algum imposto pelo apoio de Passos a Israel?
Fui ler a notícia, que dizia:

«O primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, recebeu hoje um telefonema do seu homólogo israelita, Benjamin Netanyahu, sobre a ofensiva que Israel está a levar a cabo, desde quarta-feira, contra a Faixa de Gaza.

Na sua página oficial do Facebook, Netanyahu revela o telefonema adiantando que comunicou a Passos Coelho que “nenhum país do mundo pode tolerar que a sua população viva sob a ameaça constante de mísseis”.»

Fiquei surpreendido.

Então Netanyahu precisa assim tanto do acordo de Passos para mandar palestinianos pelos ares?

Fui à página de Benjamin Netanyahu, no Facebook e li o seguinte, postado ontem:

«I talked today with German Chancellor Angela Merkel, Italian Prime Minister Mario Monti, the Greek Prime Minister Antonis Samaras and the Prime Minister of the Czech Republic Petr Nečas,. In the course of conversation with Chancellor Merkel I said that no country in the world would have agreed to a situation where its population lives under the perpetual threat of missiles

Last night I talked with the President of the United States Barack Obama for the second time since operation Pillar of Defense began.»

Pareceu-me adequado.

O primeiro-ministro israelita falou com Barak Obama, Angela Merkel, Mario Monti, Antoni Samaras e Petr Necas, por esta ordem e disse-lhes que “nenhum país no mundo pode concordar com uma situação em que a sua população viva sob a perpétua ameaça de mísseis”.

Mas espera lá… isto é o que o Expresso disse que Netanyhu disse a Passos…

Procurei melhor na página do primeiro-ministro israelita e lá está mais um post, de hoje mesmo:

«Today as well,I will continue to speak with world leaders. I appreciate the understanding that they are showing for Israel’s right to defend itself. In my talks with the leaders, I emphasize the effort Israel is making to avoid hitting civilians, and this at a time when Hamas and the [other] terrorist organizations are making every effort to hit civilian targets in Israel. »

Nem uma referência ao Passos Coelho, caramba!

Estes israelitas são uns ingratos!

O que o nosso governo os tem apoiado, toda a política externa desenvolvida pelo nosso querido ministro dos Estrangeiros, o chorudo apoio financeiro ao esforço de guerra e, depois, nem uma palavrinha!

O gajo fala no presidente americano, na chanceler alemãs, nos primeiro-ministros da Itália, da Grécia e da República Checa – até um checo chamado Necas! – e nada sobre o nosso Pedro Passos Coelho!

Não percebo é como é que o Expresso diz que o Netanyahu se refere ao Passos no Facebook e, afinal, não está lá nada!

Das duas uma: ou o jornalista do Expresso não foi ao Facebook confirmar, ou acreditou naquilo que o gabinete do Passos lhe transmitiu.

De qualquer forma, de certeza que o Passos apoiou a ofensiva das tropas israelitas, caso contrário elas nunca teriam avançado, não acham?…