O espião que vendia azeite

Gil, Carvalhão Gil.

É o nome do nosso espião apanhado em flagrante delito.

Afinal, parece que foi em flagrante delitro – já que o espião afirma que só estava a vender azeite ao russo.

Numa esplanada de Roma, o nosso espião não veio do frio nem tinha licença para matar; pura e simplesmente estava sentado junto ao um colega russo e foram ambos apanhados com a boca na botija.

Dizem os jornais que Gil, Carvalhão Gil, vendia segredos da Nato aos russos por 10 mil euros.

Alega o nosso espião que não – apenas vendia azeite, para ultrapassar o embargo russo aos produtos europeus. E até pedia recibo.

Eis o espião português domesticado, que até pede recibo pelos segredos que vende ao inimigo.

Com espiões destes, os nosso Serviços Secretos não passam de secretos… de porco preto…

“Lição de Anatomia”, de Philip Roth (1983)

The Anatony Lesson é o terceiro dos quatro livros que Roth escreveu tendo Nathan Zuckerman como principal personagem.

licao de anatomiaZuckerman é um escritor judeu que alcançou a notoriedade e a fortuna com um livro (Carnovsky), no qual zurze a comunidade judaica, sobretudo pela sua hipocrisia no que respeita ao sexo.

No fundo, Zuckerman é Roth e Carnovsky é O Complexo de Portnoy. Só que Zuckerman é ainda mais excessivo e agresivo que Roth. Está com 40 anos, teve dois casamentos falhados, tem várias namoradas mas uma dor cervical, com irradiação para os ombros, impede-o de escrever.

A dor crónica está a dar cabo da vida de Zuckerman; até para ter relações, o pobre do homem tem que ficar deitado no chão, com a cabeça apoiada num livro, enquanto a namorada faz todo o trabalho.

Cito a página 18: “O coito, o felatio, e o cunilingus eram práticas que Zuckerman aguentava mais ou menos sem dor, desde que estivesse de barriga para cima e com a cabeça apoiada no dicionário de sinónimos.”

A páginas tantas, Zuckerman – que já consultou todos os médicos e similares e que já está dependente de analgésicos opióides, álcool e marijuana – decide que quer tirar o curso de medicina. No fundo, pensa que só assim conseguirá resolver a sua dor, mas também porque chega í  conclusão que a profissão médica tem muito mais significado do que a de escritor.

Cito a página 100: “(Os médicos) têm cinquenta conversas sérias por dia com pessoas carentes. De manhã í  noite, são bombardeadas por histórias, e nenhuma é inventada por eles. Histórias í  espera de uma conclusão fiável, definitiva e útil. Histórias com um propósito claro e prático: cure-me. Ouvem com atenção todos os pormenores e depois entram em acção.”

Iconoclasta como sempre Roth, através de Zuckerman, zurze nas religiões. Zuckerman, depois de ter consultado diversos médicos, sem resultado, estava quase a virar-se para a religião, em busca de um milagre.

Cito a página 130: “a astrologia está mesmo aí ao virar da esquina. Pior ainda, o cristianismo. Rende-te í  sede da magia médica e serás levado ao limite extremo da loucura humana, í  mais absurda de todas as quimeras concebidas pela humanidade em sofrimento – aos Evangelhos, í  almofada do nosso mais destacado dolorologista, o curandeiro vudu, Dr. Jesus Cristo.”

Para terminar, um das muitas citações possíveis, em que Zuckerman começa a falar e nunca mais se cala, num discurso torrencial que me fez lembrar algumas tiradas de Henry Miller que, aliás, é citado no livro.

Cito a página 173: “Se há coisa que não suporto é a hipocrisia. A dissimulação. A negação das nossas piças. A disparidade da vida tal como a vivi na rua, que era cheia de sexo e punhetas e sempre a pensar em cona, e as pessoas que dizem que não deve ser assim. Como conseguir o que queríamos – essa era a questão. Essa era a única questão. Essa era a maior questão que existia. Continua a ser. É assustadora por ser tão grande – e no entanto quem disser isso é um monstro.”

Não é dos melhores livros de Roth, mas vale a pena ler, sobretudo para quem, como eu, gosto muito deste escritor norte-americano, nascido em 1933 em Newark e que, infelizmente, já anunciou publicamente que fechou a loja e não vai publicar mais nada.

Outros livros de Philip Roth: “…Goodbye, Columbus“…, “…Némesis“…, “…A Humilhação“…, “…O Complexo de Portnoy“…, “…Indignação“…, “…O Fantasma Sai de Cena“…, “…O Animal Moribundo“…, “…Património“…, “…Todo-o-Mundo“…, “…Pastoral Americana“…, “…A Conspiração Contra a América“…, “…Casei com um Comunista“….

Irrevogabilidades e incompatibilidades

Em julho de 2013, Paulo Portas apresentou a sua demissão do Governo, em ruptura total com Passos Coelho. Parece que não gostou da nomeação de Maria Luis Albuquerque para o cargo da ministra das Finanças.

E disse que essa decisão era irrevogável.

Não foi, como se sabe.

Portas continuou no Governo e lá continuaria se não tivesse sido apeado por aquilo a que ele apelidou de geringonça.

Agora, com aquele ar digno de quem leva a República muito a sério, despediu-se da Assembleia da República e vai trabalhar para a Mota-Engil.

Vai ser colega do Jorge Coelho que, depois de ter sido ministro do Equipamento, aceitou o cargo de CEO na dita empresa.

Nada de incompatibilidades.

Coincidências.

Portas, enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros, fez seis viagens í  América Latina; chamou-lhes diplomacia económica. A Mota-Engil fez parte de todas as comitivas.

Agora, a Mota-Engil criou o cargo de consultor para a América Latina e convidou Paulo Portas.

Nada de incompatibilidades.

Coincidências.

Simples coincidências…

Afinal, Portas faz o que todos fazemos: trata da vidinha dele.

Pena que faça de conta que é diferente…

Quem protege as lombrigas?

A Ordem dos Advogados aponta várias fragilidades aos projectos de decretos-lei destinados a aumentar a protecção dos animais, diz o Público.

O projecto do PS visa mudar o estatuto dos animais de companhia, de modo a que alcancem um estatuto jurídico intermédio, algures entre os objectos e as pessoas. Porque, neste momento, em termos jurídicos, um cão ou um gato não passa de uma coisa.

Ora, as advogadas encarregadas de elaborarem um parecer, Alexandra Reis Moreira e Sónia Cristóvão, dizem que “as evidências científicas apontam que, até em matéria de faculdades cognitivas, as capacidades de um cão ou um gato têm sido suplantadas por porcos”.

Portanto, por que razão a lei só abrange os animais de companhia?

No entanto, as advogadas também criticam o projecto do PAN, por alargar a protecção dos animais até aos invertebrados – e dizem, no seu parecer, “animais como as moscas ou vermes receberiam tutela penal contra maus tratos físicos”.

Por outras palavras: seria o fim da indústria dos mata-moscas e dos desparasitantes!

Da próxima vez que eu apanhasse a minha neta a coçar o rabiosque, teria que a repreender e dizer: querida, deixa lá as lombrigas em paz!

Da importância das vacas na política nacional

As vacas sempre ocuparam um lugar central na política nacional.

No tempo das vacas gordas, ninguém se lembra delas; vamos comendo e bebendo í  fartazana, até que se esgota a mama e as vacas emagrecem.

Depois, no tempo das vacas magras, temos saudades dos bifes e mantemo-nos a ervas.

Não somos indianos, mas a vaca, para nós, é sagrada.

No futebol, quando a bola não entra, é vaca.

A nossa colega, que se deixou engordar, passa a vaca.

Quando viajamos a meias, fazemos uma vaquinha.

A vaca está em todo o lado.

Até o nosso político mais duradouro, tem uma grande admiração pela vaca.

A começar pelo apelido, já que Cavaco tem uma sonoridade semelhante í  vaca.

E foi ele que disse, nos Açores, que tinha admirado o sorriso das vacas.

Se calhar, o homem tinha comido queijo “a vaca que ri” ao pequeno almoço e deixou-se influenciar.

Ora, se as vacas sorriem, por que não podem voar?

António Costa acredita que as vacas podem voar.

A oposição faz o trocadilho e diz que, se o António Gosta tanto vacas, passa a António Bosta.

Assunção Cristas diz que foi ministra da Agricultura e que viu muitas vacas e atesta que as vacas não voam.

Se calhar, Sãozinha, elas só voam quando estás de Costas…

Não querendo avacalhar mais o discurso, direi que uma vaca pode voar se lhe der na gana – basta querer.

E contra o querer, nada há a fazer!

Nem que a vaca tussa!

vacas

Eu gosto muito da minha escola

As escolas privadas que recebem subsídios do Estado decidiram pedir aos seus alunos que elaborassem uma redacção subordinada ao título em epígrafe, afim de atirarem com ela í  cabeça dura do António Costa, que está a tentar empurrar as criancinhas para a escola pública, expondo-as ao buling, í s drogas, ao sexo e aos esquerdistas.

De todas as redacções que os meninos fizeram, escolheram esta, da autoria da Constança, 12 anos.

“Eu gosto muito da minha escola.

Foi lá que aprendi a ler, a escrever e a rezar.
Os professores são todos muito bonzinhos, têm muita paciência para nós mas o pai disse-me que vão todos para a rua porque aquele primeiro-ministro monhé quer fechar a nossa escola. Também não percebo como deixaram um homem tão escuro chegar a primeiro-ministro. A mamã diz que a culpa é toda dos comunistas, que são aqueles que antigamente nos comiam a nós, criancinhas. que horror! Nem quero acreditar que existissem pessoas capazes de nos comer, embora eu, no outro dia, quando levei uma saia muito curta para a escola, ouvi o professor de geografia dizer que me comia toda… se calhar é comunista e é muito bem feita que seja despedido, mas os outros não, coitadinhos. O pai também diz que a culpa não é só do António Costa, mas também do tal comunista Jerónimo e da Catarina Martins, que é a chefe de um partido chamado Bloco de Esquerda, que é um nome muito estranho porque se é bloco não devia ser partido. Se o António, o Jerónimo e a Catarina conseguirem fechar a minha escola, o que vai ser das aulas de equitação, do ioga, da flauta e da culinária? A mamã já disse que não vai ter dinheiro para pagar esses luxos porque ou é isso ou o cruzeiro í s Bahamas e a manutenção do jipe. Mas também diz que o Dr. Pedro Passos Coelho nos vai salvar a todos, derrotar os esquerdistas e conseguir que continuemos a receber o dinheiro do Estado, porque os nossos pais têm o direito de escolher onde querem que os seus filhos aprendam a ler, a escrever e a rezar, como muito bem disse o nosso Patriarca de Lisboa. Que Deus nos ajude!”

Inaugurar coisa nenhuma!

António Costa convidou Passos Coelho para a inauguração do túnel do Marão.

Coelho declinou e disse que nunca esteve numa obra de inauguração enquanto liderou o Governo. “Nem de estradas, nem de auto-estradas, nem de pontes, nem de coisa nenhuma”. (sic)

Vamos lá a contas: só no ano passado, e segundo o pasquim Observador, que só não limpa o rabo ao Coelho porque não existe em papel:

Em Maio, Coelho inaugurou coisa nenhuma no Quartel dos Bombeiros Voluntários de Alijó.

Em Julho, inaugurou coisa nenhuma nos Edifícios Centrais do Parque Tecnológico de í“bidos.

Em Agosto, inaugurou coisa nenhuma na ponte da foz do rio Dão.

E ainda: em 2014, em Março, inaugurou a coisa nenhuma da sede da Políca Judiciária.

Em Setembro desse ano, inaugurou a coisa nenhuma do quartel da GNR de Estremoz e, em Setembro, a coisa nenhuma do hospital privado de Vila do Conde.

E não é preciso escavar mais.

O homem não inaugurou coisa nenhuma porque coisa nenhuma tem importância para ele.

Dou-te mais seis meses de vida política, pá…

passos pensa

 

Dos buracos no asfalto ao glifosato – idiosincrasias portuguesas

Noticia o Público que “uma brigada de funcionários da Câmara de Vila Franca de Xira que se encontrava a tapar alguns buracos da Estrada de Alfarrobeira, que liga Alverca a Vialonga, foram abordados por uma patrulha da PSP, que emitiu um auto de contra-ordenação e uma notificação para pagamento de uma multa de 600 euros.”

Ora essa! Porquê?!

Porque “a Polícia assegura que a brigada do serviço de obras não cumpriu as normas de sinalização e de salvaguarda da sua própria segurança e da segurança dos automobilistas que ali circulavam”.

Por outras palavras: eles que deixassem a estrada com buracos, que assim ficaria muito mais segura!

A explicação desta atitude idiota da polícia é dada por outra notícia, esta do Expresso, segundo a qual, foi detectado glicofosato em portugueses.

De facto, um estudo efectuado pela Plataforma Transgénicos Fora, detectou níveis elevados de glicofosato, o herbicida mais usado em Portugal, na urina de 26 pessoas do Grande Porto.

Este herbicida é considerado “carcinogéneo provável para o ser humano pela OMS”, mas também não deve ser muito bom para a saúde mental.

Ora, sabendo nós que o nossos polícias comem muitas saladas afim de se manterem em forma e, desse modo, apanharem os ladrões, é natural que estejam cheios de herbicida e comecem a bater mal da mona, multando operários que se limitam a tapar buracos no asfalto!