Estamos em plena “silly season“. A época em que os jornalistas, í falta de notícias, descobrem motivos patetas para encher os jornais.
Claro que o facto de Israel estar a destruir o pouco que resta do sul do Líbano, já nem é notícia.
Aliás, até esta nova escalada da guerra israelo-árabe parece saída de uma revista cor-de-rosa, e só não o é porque os mortos são bem reais.
Um comando muçulmano qualquer raptou um soldado israelita e o Estado judeu respondeu como se esse soldado fosse o Messias, bombardeando a faixa de Gaza e, depois, o sul do Líbano. Daí, a guerrilha do Hezbollah, apoiada pelo Irão, ou talvez não, atacou Haifa, em Israel. A sequência dos acontecimentos tem pouca importância. As declarações dos vários líderes, de Washington a Paris, soam a repetições. Quantas vezes já ouvimos as mesmas coisas?
Toda esta desgraça é tão banal, que já nem faz as primeiras páginas dos jornais.
O Público de hoje, por exemplo, enche a primeira página com uma foto de uma ilha paradisíaca e titula: “Vanuatu lidera índice planeta feliz”.
O que será isto do “índice planeta feliz”?
Fui ler a notícia, que enche as páginas 28 e 29 do jornal.
Parece que é uma coisa inventada pelo New Economic Foundation, uma organização independente, sediada no Reino Unido, “que diz procurar, nomeadamente através da realização de estudos, promover soluções inovadoras que desafiam a forma como habitualmente se pensa o social, a economia e o ambiente”.
Cheira a tanga, claro.
Portanto, esta New Economic Foundation inventou o “índice planeta feliz“, a partir de três indicadores: esperança de vida, percepção, por parte dos cidadãos, de “satisfação com a vida” e “pegada ecológica”. Este último indicador merece uma explicação mais aprofundada: trata-se de “um conceito que exprime a área produtiva equivalente de terra e mar necessária para produzir os recursos utilizados e para assimilar os resíduos gerados por uma dada unidade de população”.
Tanga definitiva.
Ora, a partir destes três indicadores, a tal Fundação elaborou um ranking, que é liderado por Vanuatu, o minúsculo país do Pacífico Sul, com 203 mil habitantes, que atingiu a pontuação de 68,2. Em Vanuatu, a esperança de vida é de 69 anos, a satisfação com a vida é de 7,4 e a pegada ecológica é de 1,1 hectares por habitante.
Neste ranking, o Reino Unido ficou no lugar 108 e os EUA, no lugar 150.
Em segundo lugar, ficou a Colí´mbia, seguida da Costa Rica, República Dominicana e Panamá.
Portugal (esperança de vida, 77 anos) ficou em 136º, um lugar abaixo da Guiné-Bissau (esperança de vida, 44 anos) e um lugar acima da Eritreia (esperança de vida, 40 anos).
Que Vanuatu esteja em primeiro lugar, neste índice de planeta feliz, até nem me espanta. Mas a Colí´mbia, em segundo lugar? Será por causa da coca? Não há dúvida que a coca dá uma felicidade do caraças, so they say…
Enfim, que um grupo de tipos, lá no Reino Unido, decidam inventar um ranking destes, estão no seu direito. Não compreendo é como um jornal de referência, como o Público, dê tal destaque a esta grande tanga.
Claro que os senhores da New Economic Foundation, mal acabaram o seu estudo, venderam os luxuosos apartamentos onde viviam, desfizeram-se dos seus plasmas, dvd’s e carros desportivos, roupas de marca, computadores portáteis, telemóveis de terceira geração e ipod’s e foram todos viver para Vanuatu, comendo peixe cru, que pescam í linha.
Robinson Crusoe continua a perseguir uma certa esquerda europeia…