A cabeça de Zidane

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Os franceses têm uma longa tradição de cabeças que ficam na História.

Maria Antonieta, por exemplo, perdeu a cabeça, literalmente, por causa da revolução.

Zidane perdeu a cabeça, figuradamente, por causa da reacção.

Especialistas em leitura de movimentos labiais, disseram que Materasi, o jogador italiano que levou a cabeçada de Zidane, terá insultado o jogador francês, dizendo: “não passas de um filho de uma puta terrorista”.

Trata-se de uma frase sem sentido.

Se a mãe de Zidane fosse prostituta, nunca seria terrorista.

Seria um contra-senso.

Uma prostituta que se preze não anda agora a fazer explodir os clientes.

Portanto, esta explicação não me convence.

Outras explicações possíveis:

1. Exaustão: o capitão francês estava exausto; precisava de encostar a cabeça um pouco e procurou o peito de Materazzi que, aproveitando-se desse facto, impulsionou o seu tórax em direcção a Zidane, dando a ideia (falsa) de que ele o estava a cabecear;

2. Assédio: durante todo o jogo, Zidane tentou arranjar uma desculpa para se encostar a Materazzi, nomeadamente na marcação dos cantos; no entanto, o árbitro sempre se opí´s, talvez por ciúme. O jogador francês, já perto do final do jogo, aproveitou uma distracção do árbitro e encostou-se a Materasi, mas com força demais…

3. Alucinação: ao cabo de 110 minutos de jogo, e por efeito do calor e do cansaço, Zidane devia estar com alucinações e pensou que Materazzi era a bola.

Consequentemente, cabeceou-o!

4. A mãe de Zidane, afinal, é mesmo terrorista e o francês não gostou de ouvir a verdade.

Seja como for, Zidane já pediu desculpa í s criancinhas que estavam a ver o jogo. Foi um mau exemplo.

Sobretudo porque o italiano nem sequer ficou aleijado…

Sabores estranhos

Que é feito da velha pasta dentífrica com sabor a pasta dentífrica?

E do velhinho iogurte com sabor a leite azedo?

E das bolachas com sabor a Maria ou Torrada?

Agora, todos os sabores têm que ser arrevesados.

Tenho uma pasta dentífrica com o mirífico sabor de “hortelã e chocolate”. Quando acabo de lavar os dentes, sinto uma necessidade imperiosa de bochechar com Betadine ou, melhor ainda, beber um golo de whisky e rematar com um cigarrinho.

Qualquer sabor é melhor do que aquele horrível “hortelã e chocolate”.

No que respeita aos iogurtes, já não há respeito. É difícil encontrar um iogurte de leite ou, no mínimo, um iogurte com apenas um sabor. Quase todos exibem, no rótulo, orgulhosamente, uma mistura espantosa de sabores: “morangos e cereais”, “framboesa e melancia”, “toranja e marmelada”…

Para já não falar no sabor a aloé vera, esse cacto miraculoso, que também podemos encontrar, por exemplo, nos detergentes para a roupa…

E os sabores imaginativos já chegaram, também, í s bolachas.

O Público noticiava, ontem, que a Triunfo Proalimentar retirara do mercado duas qualidades de bolachas, por poderem conter pequenas peças metálicas susceptíveis de ameaçar a saúde dos consumidores. Os produtos retirados foram as bolachas com os sabores “frutos do bosque” e “maçã e canela”.

Estão a ver?

“Frutos do bosque” saberá a quê?

E por que não, em vez de “maçã e canela”, “maçã e alumínio”, já que as bolachas continham pequenos pedaços metálicos?

Apesar desta invasão de sabores estranhos, penso que os criativos ainda não ousaram o suficiente.

No sentido de ajudar os criativos a encontrar sabores novos para os seus produtos, proponho, desde já, os seguintes: “contraplacado e baunilha”, “fezes e caramelo”, “laranja e nicotina”, “salsaparrilha e melancolia”, “insónia e chocolate”, “pêssego e eficácia”.

“Six Feet Under” – 3ª série

sixfeet3.jpgOra aqui está uma excelente série da HBO e, talvez, uma das mais bizarras, curiosas e interessantes.

Quem se lembraria de nos contar a história de uma família que explora uma agência funerária?

Lembrou-se um tal Alan Ball que, não satisfeito com a singularidade da ideia, decidiu criar uma galeria de personagens notável: o pai e fundador da agência, já falecido, mas que aparece, por vezes, sempre muito divertido, dando conselhos aos filhos; a mãe, Ruth, uma aparente puritana, ávida de amor, mas com os afectos ligeiramente descoordenados (to say the least); Nate, o filho mais velho, que acabou por ficar a dirigir a agência, por morte do pai, mas tem coisas suficientes que o ralem, nomeadamente, um romance muito conturbado com a Brenda, que tem um irmão com psicose maníaco-depressiva e dois pais psicanalistas e completamente doidos, sendo que Nate acaba por engravidar a Lisa, que mais tarde se suicida; David, o filho mais novo, homossexual assumido, que vive maritalmente com um ex-polícia, mas ambos precisam de um conselheiro matrimonial porque as coisas não correm bem; Claire, a filha acabada de sair da adolescência, completamente fucked up mas que, se calhar, é a que tem as ideias mais “normais” – e mais uma série de figuras ímpares, todas elas especiais.

Nesta terceira série, entra em cena Arthur, um estagiário funerário (se assim se pode chamar), obsessivo e estranhíssimo.

Six Feet é uma daquelas séries que vicia, pelo menos, até esta 3ª série, já que li algures que, as séries subsequentes não terão tido tanto sucesso. Espero para ver.

“O Livro das Ilusões”, de Paul Auster

livrodasilusoes.jpgEste livro editado em 2002, foge, talvez, ao paradigma das histórias de Auster. Ou talvez não.

O livro conta-nos a história de David Zimmer, que é o narrador. Trata-se de um professor universitário que, após a morte da mulher e dos dois filhos, num acidente de aviação, cai numa depressão profunda e no alcoolismo. No auge do desespero, vê, acidentalmente, na televisão, um filme mudo de Hector Mann, um actor menor dos tempos do cinema mudo que, nos anos 20, desaparecera sem deixar rasto. O filme fá-lo sorrir, pela primeira vez em muitos meses e Zimmer decide saber mais sobre Hector. Entrega-se a esta tarefa, embrenha-se nela de tal modo que, de certo modo, consegue vencer a depressão e o alcoolismo. No final, depois de ter conseguido ver todos os filmes de Hector, de ter vasculhado bibliotecas e cinematecas, nos EUA e na Europa, publica um livro sobre a vida e obra desse obscuro actor.

A escrita desse livro fez com que Zimmer renascesse e voltasse ao trabalho. O projecto seguinte, será a tradução de “Memórias do Túmulo”, de Chateaubriand. É então que recebe uma carta, aparentemente escrita pela mulher de Hector, que o convida a visitá-los num rancho perdido no Novo México.

Incrédulo, Zimmer começa por pensar que a carta é uma brincadeira mas, algum tempo depois, é visitado por Alma, uma jovem que se apresenta como filha da actriz dos últimos filmes realizados por Hector, e que nunca ninguém ainda vira. Alma implora-lhe que visite Hector, no tal rancho, e que o faça rapidamente, pois o homem está moribundo e deixou escrito que, assim que morresse, a sua mulher deveria destruir todos os filmes que, entretanto, tinha realizado.

Hector, afinal, guardava um segredo terrível, que envolvia o encobrimento de um assassínio, e fora por isso que desaparecera de circulação. E, assim, este livro de Auster deixa de ser a história de Zimmer, para se tornar a história de Hector – mas também a história de Frieda, a mulher do actor, e de Alma, que acaba por se envolver com Zimmer.

Claro que, como sempre, o acaso assume a importância fundamental na vida das pessoas, como Auster tanto gosta. No entanto, o livro parece-me, como direi, mais folhetinesco, do que os restantes que já li e não me cheira tanto a Auster, talvez porque a grande cidade (Nova Iorque, sobretudo) e as suas ruas, os seus encontros e desencontros, não está presente.

Ficámos no quarto

No jogo de consolação, Portugal perdeu 1-3 com a Alemanha.

Mais uma vez, a selecção precisou de rematar não-sei-quantas-vezes para, finalmente, marcar um golo. Scolari, desta vez, não embirrou, e optou pelo Nuno Gomes, em vez do Postiga. E o avançado do Benfica marcou um belo golo. É natural que se pergunte o que Nuno Gomes teria conseguido fazer, se tivesse sido opção mais vezes.

Portugal marcou apenas 7 golos neste Mundial. A Alemanha marcou 14. A Itália e a França, que ainda vão jogar a final, marcaram 11 e 8, respectivamente.

Parece-me que é exactamente aqui que reside a diferença.

É que o futebol é para marcar golos.

Mas, enfim, ficámos no quarto.

í€ chegada a Lisboa, a selecção era aguardada por milhares de portugueses, quer no aeroporto, quer no Estádio Nacional.

Também lá estava Roberto Leal, esse expoente da música.

Emocionados, todos entoaram o hino nacional.

Depois, cantaram “Uma casa portuguesa”.

Só por isso, a Federação Portuguesa de Futebol, merecia que a selecção tivesse perdido todos os jogos!

As três televisões generalistas, consideraram que o regresso da selecção tinha o mesmo peso que o enterro da irmã Lúcia, e transmitiram o acontecimento, em directo.

O que aconteceria se, por absurdo, a selecção ganhasse a taça?

Feriado nacional, no mínimo!

Mas, enfim, ficámos no quarto.

E o quarto é um sítio onde se fazem coisas bem agradáveis.

Feitos í  mão

A Dalila já tem a sua loja on-line!

Chama-se Handmade e está neste sítio.

Podem encontrar coisas muito giras para oferecer aos amigos ou a vocês próprios: anéis, colares e outra bijuteria e, também, os deliciosos bonecos quadrados.

Todos e cada um dos objectos são únicos, porque feitos í  mão, pela própria.

Toca a visitar.

Os ossos de Afonso Henriques

D. Afonso Henriques era um homenzarrão com 2 metros de altura ou um enfezado caga-tacos que mal podia com a própria espada?

O Fundador terá morrido aos 76 anos, como dizem alguns, ou já depois dos 90, como dizem outros?

Terá mesmo partido uma perna, passando a deslocar-se sempre aos ombros de lacaios, ou preferiu esse meio de transporte porque não passava de um grande preguiçoso?

Foi para responder a estas e outras perguntas que a antropóloga e bióloga da Universidade de Coimbra, Eugénia Cunha, pediu autorização ao IPPAR (Instituto Português do Património Arquitectónico) para estudar os ossos do primeiro rei português, depositados na igreja do Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra.

O pedido foi feito em Julho do ano passado e a autorização foi dada há poucas semanas. Eugénia Cunha arranjou patrocínios privados para alugar um laser tridimensional de alta precisão, único na Europa, e que só estaria disponível ontem. Depois, a máquina regressará a Granada, para seguir viagem para o México. Com essa máquina, seria possível reconstituir, por exemplo, as feições do nosso Afonso.

Estava já tudo a postos, as gruas e os andaimes, e a pedra do túmulo já arredada, quando chegou alguém a dizer que a coisa tinha que ser cancelada porque ninguém tinha avisado a ministra da Cultura.

E sem o aval da ministra da Cultura, ninguém pode mexer nos ossos do Afonso Henriques.

Parece-me correcto.

Para os portugueses, é fundamental que Afonso Henriques continue a ser aquele tipo indomável, que deu uma chapada na mãe, que enfrentou a Santa Sé e que, do alto dos seus dois metros, dava espadeirada nos mouros.

A nossa auto-estima, depois da derrota com a França, exige que assim seja!

Imaginem que Eugénia Cunha descobria, por exemplo, que, afinal, o nosso primeiro rei era mesmo um lingrinhas, que só conseguiu derrotar os mouros com a ajuda do árbitro!

Desmancha-prazeres

Os americanos (quem mais?) estão a testar uma espécie de vacina que bloqueia, a nível cerebral, a sensação de prazer provocada pela nicotina.

Os primeiros ensaios efectuados são assustadores.

Parece que resulta.

Quer dizer que os fumadores, que caiam na esparrela de tomar a dita vacina, passarão a correr o risco de cancro e doenças cardiovasculares provocadas pelo tabaco, sem sentirem prazer ao fumá-lo.

Parece-me óbvio o perigo do sucesso de uma vacina destas.

Se for bem sucedida, outras vacinas similares poderão surgir, como, por exemplo, uma vacina para evitar o prazer de uma cervejinha bem gelada, para embotar o prazer de uma bica bem tirada, para obliterar o prazer de um bom whisky e – quem sabe – uma vacina que permita o orgasmo sem prazer.

Não vem longe a sociedade certinha e sossegadinha dos desmancha-prazeres…

A culpa é-nos alheia

Afinal, a culpa foi do árbitro!

A culpa não foi do Figo, que falhou a cabeçada, com a baliza í  mercê.

A culpa não foi do Maniche, que não tinha a pontaria afinada.

A culpa não foi do Pauleta, que fez figura de corpo presente.

Nem do Ricardo Carvalho, que rasteirou o Henry.

Nem do Cristiano, que “dribula, dribula, mas não mete góis”.

Muito menos do Deco, que não jogou nada.

Nem sequer do Scolari que, mesmo a perder, não muda nada na sua estratégia, não arrisca nada.

Afinal, a culpa foi do árbitro, “a vergonha da América Latina”, disse Scolari.

Muito gostam os portugueses de atirar as culpas para cima de alguém: o granizo e a geada, o preço do petróleo, a conjuntura internacional, tudo serve para nos desculpabilizar.

Depois do golo da França, parecia que estava a rever o Portugal-Grécia do Europeu de há dois anos. Quantas vezes a selecção rematou í  baliza francesa na segunda parte do jogo? Sete vezes? Deviam ter sido três vezes sete!

Mas parece que não.

Parece que, mesmo que tivessem sido trezentos remates, Portugal nunca ganharia o jogo porque o árbitro não iria deixar. Haveria de arranjar maneira de anular todos os golos, de marcar foras-de-jogo inexistentes, de fazer vista grossa a todos os penáltis ou de inventar mais penáltis contra Portugal, só para que um país periférico e pequenino, como este, não pudesse chegar í  final.

Não me lixem!

Portugal perdeu porque a França marcou um golo e Portugal não marcou golo nenhum.

A culpa, portanto, é da equipa, treinador incluído.

E não faz mal nenhum admiti-lo.

Afinal, foi apenas um jogo de futebol…