546 incêndios?

Os incêndios de Verão aí estão, finalmente!

Já começava a ficar preocupado. Seria um fracasso abrir-se a época de incêndios e, depois, os bombeiros não terem nada para fazer.

A primeira onda de calor, em Julho, resultou apenas nuns fogachos sem categoria nenhuma. Mas agora, com a entrada de Agosto em cena, os incêndios vingaram. É natural: há mais piqueniques nas matas, mais foguetórios nas aldeias, com a chegada dos emigrantes, mais condutores, nas estradas, a atirarem com beatas acesas para as bermas…

Enfim, a normalidade regressou e o país já está a arder, como convém.

Também é verdade que os telejornais andaram ocupados com os bombardeamentos no Líbano e não tinham repórteres que chegassem para tanta coisa: um do lado de Israel, outro do lado do Líbano, outro a acompanhar os saldos, metade da redacção de férias – não sobrava ninguém para os incêndios.

Mas agora, que a guerra do Médio Oriente já vai no 26º dia, ou coisa que o valha, a malta já perdeu a conta aos rockets do Hezbollah e aos civis que Israel já matou e é preciso outra coisa para animar a malta.

Venham de lá os incêndios, então.

Mas também escusavam de abusar.

Li no jornal que anteontem se bateu o recorde do número de incêndios: foram 546 ocorrências!

546 fogos num só dia?

Cheira-me que as autoridades, sempre que apanham um tipo a acender um cigarro, contam como ocorrência.

Hoje, os fumadores – amanhã, os carecas?

A história conta-se resumidamente.

Uma empresa irlandesa, a Dotcom Directories, publicou um anúncio de emprego que dizia: “se for fumador, não se incomode em responder”.

A eurodeputada irlandesa, Catherine Stihler, do Partido Trabalhista, interrogou a Comissão Europeia: não estaríamos perante um caso de discriminação?

A Comissão Europeia respondeu, através da voz do Comissário do Emprego e Assuntos Sociais, o checo Vladimir Spidla: “a legislação anti-discriminação europeia proíbe a discriminação no emprego e noutras áreas com base na raça ou etnia, numa deficiência, na idade, na orientação sexual, na religião ou crenças”.

Assim sendo, recusar um emprego a um fumador “não parece enquadrar-se em nenhuma das situações acima mencionadas”, acrescenta o checo.

O director da Dotcom, Philip Tobin, justifica-se, dizendo: “mesmo que as pessoas façam uma pausa para fumar, quando voltam ao seu lugar, tresandam a tabaco”. E acrescenta que “fumar é idiota”, pelo que se as pessoas o fazem é porque “não têm o nível de inteligência” que é pretendido para a sua empresa.

Isto quer dizer que pessoas como, digamos, Freud, Sartre, Malraux, Brel, Bogart, ou mesmo Vasco Pulido Valente (para não falar em mim próprio), nunca poderiam trabalhar na Dotcom Directories. E ainda bem, porque o tal senhor Tobin deve ser um idiota chapado.

O que me preocupa é o facto de a Comissão Europeia adoptar uma atitude deste tipo. Portanto, se ser fumador não é característico de uma determinada raça, orientação sexual ou crença religiosa, não é discriminatório recusar-se um emprego a um fumador.

Isto quer dizer que a porta está aberta a recusar emprego a gordos, carecas, tipos com piercing, grávidas, tipos tatuados, gajos demasiado altos, sujeitos baixinhos e por aí fora.

Esta atitude da Comissão Europeia é mais uma prova de que existe, mesmo, uma campanha histérica anti-tabagismo, que está a assumir uma dimensão deveras preocupante.

Como fumador, aceito as restrições cada vez maiores, impostas aos fumadores e acho adequado que se proíba o fumo nos locais públicos, incluindo restaurantes. Não me custa nada vir cá fora fumar um cigarro, no final da refeição, de modo a não incomodar o resto das pessoas e também não fumo no meu local de trabalho – aliás, nem fumo na minha própria casa, se estão presentes pessoas a quem o fumo incomoda. Agora, não poder candidatar-me a um emprego porque sou fumador, começa a cheirar a hiper-nipo-nazi-fascismo!

Small Faces – “The Essential Collection”

smallfaces.jpgQuem se lembra dos Small Faces, uma banda de segunda linha da cena pop britânica da segunda metade dos anos sessenta?

Os Small Faces duraram um curto período (1965-1968), mas deixaram algumas marcas: canções como “Itchycoo Park” e “Lazy Sunday” e, sobretudo, o álbum conceptual “Ogden’ Nut Gone Flake”, uma espécie de Sgt Pepper’s dos pequeninos, e que teve a novidade de o LP ser distribuído dentro de uma lata redonda.

Do quarteto, destacava-se Steve Marriott (guitarra), cuja voz era inconfundível. Os outros três eram: Ronnie Lane (baixo e voz), Kenney Jones (bateria) e Jimmy Winston (órgão; depois substituído por Ian McLagan.

O som dos Small Faces era marcado pela voz “negra” de Marriott, pela preferência pelo rythm & blues, pelas letras jocosas e pelo psicadelismo, tão em voga na época. A banda inseria-se no movimento “mod” (cujo expoente máximo eram The Who), que se opunham aos rockers de blusão de cabedal. Digamos que eram, portanto, uma espécie de betinhos da cena pop britânica…

Pelos vistos, os Small Faces foram das muitas bandas britânicas que foram completamente lixadas pelas companhias discográficas, vendo os seus discos venderem í  fartazana, apesar de continuarem a receber apenas uma espécie de avença semanal (cerca de 20 libras).

Marriott foi o primeiro a fartar-se do sistema e, em 1968, abandonou a banda, formando os Humble Pie, com Peter Frampton. Os restantes membros dos Small Faces, recrutaram Ron Wood (hoje nos Rolling Stones) e o piroso Rod Stewart, passando a chamar-se apenas The Faces.

Este duplo CD, que saíu recentemente, reúne os principais êxitos dos Small Faces, retirados dos seus cinco LP: “The Small Faces” (1966), “From the Beginning” (1967), “Small Faces” (1967), “Ogden’s…” (1968) e “There Are But Four Small Faces” (1968).

Cinco discos em três anos. Those were the days…

Queremos mais listas

O Governo publicou a lista dos indivíduos e empresas que devem dinheiro ao fisco.

Está aqui: http://www.e-financas.gov.pt/de/jsp-dgci/main.jsp

Dezasseis cidadãos devem mais de um milhão de euros de IRS: o Sr. Almeida, o Sr. Djumo, o Sr. Campos, O Sr. Pinheiro, o Sr. Palma, o Sr. Teixeira, o Sr. Lopes, o Sr. Silva, a Sra. Rodrigues, o Sr. Marcelino, o Sr. Matos, dois Srs. Vieira, dois Srs. Mendes e a Sra. Mendes.

Se apenas estes dezasseis cidadãos fizessem o favorzinho de pagar o que devem, entrariam nos cofres do Estado mais de 16 milhões de euros.

Mas o Governo não devia ficar por aqui. A publicação de listas deste género poderia mudar a nossa vida.

Proponho que se publiquem, para já, mais as seguintes cinco listas:

– lista dos deputados no activo que já recebem uma reforma

– lista dos ex-ministros que são, agora, administradores de empresas públicas e respectivos ordenados

– lista dos cachets pagos pelos Bancos í s chamadas figuras públicas que aceitam participar nas suas campanhas publicitárias

– lista de todos os portugueses que já participaram num concurso televisivo (suspeito que já só falto eu e mais três ou quatro pessoas)

– lista de todos os jogadores que já foram do Benfica, desde o tempo do Artur Jorge

Referendar a táctica

Depois de levar 3-0 do Sporting, 1-0 do Deportivo da Corunha e 3-1, do AEK, o novo treinador do Benfica – que é engenheiro e tudo! – decidiu mudar de táctica.

Esta semana, um jornal desportivo perguntava: qual a melhor táctica para o Benfica?

É o descalabro!

A táctica do glorioso já é discutida na praça pública!

Acentue-se que não me espanta: nunca gostei do engenheiro. Não se pode confiar num homem que usa a camisola por dentro das calças de fato de treino. Sobretudo quando esse homem é treinador de futebol…

Mas, dada a dimensão do glorioso, talvez não seja má ideia: a táctica da equipa podia ser objecto de um referendo nacional. Desse modo, todos os portugueses benfiquistas – correcção: todos os benfiquistas, já que todos os verdadeiros portugueses são benfiquistas – poderiam decidir como gostariam que o seu clube jogasse.

Aliás, podia mesmo fazer-se um referendo semanal, de modo a que se pudesse adoptar a táctica a cada novo adversário.

Pelo menos poupava-se o ordenado de treinador e despedia-se o engenheiro.

O gesto é tudo

Chamei o doente seguinte. Era um cidadão da China e vinha acompanhado por um cidadão do Bangla Desh.

A ideia era a seguinte: o cidadão da China queixava-se em inglês e o cidadão do Bangla Desh traduzia para português; eu observaria o cidadão da China e, depois, faria a minha prescrição, em português; seguidamente, o cidadão do Bangla Desh traduziria para inglês, de modo a que o cidadão da China percebesse.

Acontece, no entanto, que o inglês do cidadão da China era tão mau que o cidadão do Bangla Desh tinha muita dificuldade em percebê-lo.

Acresce que o português do cidadão do Bangla Desh era, também, tão mau, que eu não entendia nada do que ele me dizia.

Ficámo-nos pelos gestos.

O doente chinês apontou para a garganta e fez um esgar internacional de dor. Com uma espátula, vi-lhe a garganta e fiz uma careta internacional para “isto está feio”.

Enquanto isto, o cidadão do Bangla Desh sorria-se, também internacionalmente.

Depois, foi só passar a receita e explicar como se toma o antibiótico, com o gesto internacional para “de 12 em 12 horas”.

Palavras para quê?…

Guerra no Médio Oriente – Teste de respostas múltiplas

1. Neste conflito, Israel luta contra:

A – O Hezbollah
B – O Líbano
C – O Irão e a Síria
D – Os palestinianos
E – Todas as anteriores

2. Por que razão a Al-Qaeda ainda não realizou nenhuma acção de retaliação contra Israel, desde que este conflito começou?

A – Porque o Hezbollah é xiita e a Al-Qaeda é sunita
B – Porque a Al-Qaeda odeia os xiitas tanto como os sionistas
C – Porque está í  espera de uma trégua para relançar o conflito
D – Porque os atentados no Iraque lhe estão a ocupar o tempo todo
E – Todas as anteriores

3. Por que motivo Bush não convence os seus aliados israelitas a suspenderem os bombardeamentos?

A – Porque lhe dá jeito que Israel gaste os mísseis Patriot todos, de modo a poder vender-lhe versões mais modernas
B – Porque Israel lhe está a fazer o favor de atacar um aliado do Irão, sem que os EUA se metam no assunto
C – Porque Bush pensa mesmo que Israel tem todo o direito de bombardear o sul do Líbano
D – Porque Bush ainda não percebeu muito bem onde raio fica o Líbano
E – Todas as anteriores

4. Não será um exagero destruir vilas e aldeias e matar centenas de civis por causa de dois soldados raptados?

A – Sim, mas se Israel não reagisse, o Hezbollah era muito capaz de raptar mais três ou quatro soldados
B – Não, porque a vida de dois soldados israelitas tem um valor incalculável
C – Sim, mas os civis libaneses são avisados que vão ser bombardeados e só morrem porque querem
D – Sim, bem… não, quer dizer, que importância tem isso?
E – Todas as anteriores

5. Qual o papel da União Europeia neste conflito?

A – Nenhum
B – Papel de parva
C – A União quê?
D – Esta pergunta não faz sentido
E – Todas as anteriores

A correcção deste teste será feita pelo Sr. Koffi Anan ou, no seu impedimento, pelo general Loureiro dos Santos, já que o Nuno Rogeiro deve estar de férias.

Cavaco – o fim de um mito

cavaco_duvidas.jpg

Longe vão os tempos em que o primeiro-ministro Cavaco Silva afirmava, convicto, que nunca se enganava e raramente tinha dúvidas.

Essas duas características – juntamente com o facto de nunca ler jornais – constituíam os super-poderes de Cavaco.

Foram esses super-poderes que convenceram o povo e que o levaram a eleger Cavaco como Presidente de todos os portugueses.

E agora, a propósito de uma coisa de nada, de uma colecção de arte moderna ou lá o que é, uma verdadeira mariquice, eis que Cavaco tem dúvidas!

Diz o Presidente: “o diploma suscita dúvidas, principalmente no que refere í  distribuição de poderes entre o Estado e o coleccionador” (Joe Berardo).

Ora, se Cavaco tem dúvidas numa questão tão comezinha, o que acontecerá, por exemplo, quando Portugal tiver que tomar uma decisão mais importante, como, por exemplo, declarar guerra ao Hezbollah ou demitir Laurentino Dias por não acreditar na inocência de Nuno Assis, no caso do dopping?

Pior: se Cavaco já tem dúvidas, não tarda nada, está-se a enganar!

Dias negros esperam a nossa querida nação!

Uma reforma Alegre

A rádio portuguesa está mais pobre: Manuel Alegre reformou-se.

O conhecido deputado do PS e ex-candidato í  Presidência da República passou í  reforma, depois de ter sido director de não-sei-o-quê, na RDP, há não-sei-quantos-anos, durante um período que não chegou aos doze meses.

O seu reconhecido e admirado trabalho na referida área, foi agora recompensado com uma reforma de três mil e tal euros.

Alegre até ficou espantado. Dizem que já nem se lembrava que tinha trabalhado na RDP. Decidiu acumular a reforma com o ordenado de deputado e, sendo assim, apenas receberá um terço da sua reforma.

Não me quero comparar com o deputado-poeta, mas a verdade é que trabalhei na RTP, entre Maio de 1974 e Dezembro de 1977, como jornalista. Claro que nunca cheguei a director de não-sei-o-quê, mas fui, durante alguns meses, chefe da edição da noite. Coisas da Revolução…

Portanto, se menos de um ano de trabalho na RDP, valem uma reforma de três mil euros, eu devo ter direito a uma reforma principesca pelos dois anos e meio de trabalho na RTP.

Vou já meter os papéis na próxima segunda-feira.

Sopranos – 4ª série

sopranos4.jpgA família Soprano continua a fazer-nos companhia aos serões, agora com a 4ª série, de 2002.

Esta série termina com a separação de Tony e Carmela, depois de ela ter descoberto que o marido andava enrolado com a ucraniana perneta. Pelo meio, Corrado livra-se da prisão, depois de o seu julgamento ter sido anulado, graças í s ameaças que os capangas fizeram a um dos jurados; Christopher passa três semanas numa clínica de desintoxicação, depois de, completamente pedrado, se ter sentado em cima do caniche de Adriana, asfixiando-o; Adriana começa a colaborar, timidamente, com o FBI; Tony passa-se da cabeça e mata Ralph, esquartejando-o em seguida; e mais, e mais…

Aparentemente livre dos ataques de pânico, Tony desiste da psicoterapia e começa a pensar em voos mais altos, iniciando jogos de bastidores para eliminar a concorrência de Nova Iorque. Parece que, por aquelas paragens, a corrupção de alguns autarcas também é corrente, e todos – mafiosos, autarcas e sindicatos – lucram com um enorme negócio de construção civil, em Newark.

Mas a 4ª série termina com Tony em baixo, novamente: aceita abandonar o lar, desiste da compra da casa da praia e quase que volta a telefonar í  Dra. Melfi, marcando nova consulta.

A qualidade da série mantém-se alta e a caracterização das personagens faz com que, í s tantas, um tipo até tenha pena do pobre Tony Soprano – o que ele sua para dar uma boa vida í  mulher e aos filhos, e como é incompreendido!