Mar encrespado

Miguel Relvas não convidou Mário Crespo para correspondente da RTP em Washington.

Aliás, nem podia, porque Crespo é funcionário da Sic e o governo não interfere com a RTP que, aliás, vai ser privatizada e seria demasiado escandaloso Miguel Relvas arranjar um tacho na RTP ao jornalista que mais bateu no Sócrates e que mais fretes fez ao PSD/CDS, um pouco antes da mesma RTP ser privatizada.

Podia dar a ideia de que o governo PSD/CDS estava a pagar um favor ao Crespo, coisa impensável, porque Relvas é puro como a Divina Graça e Crespo nunca seria capaz de fazer o que andou a criticar este tempo todo.

Felizmente, nada disso se passou.

Parece que, afinal, Relvas apenas sondou Crespo – o que é algo de completamente diferente!

E Crespo, embora não tenha aceite o convite que, aliás, nunca existiu, já avisou que até acha que tem muito jeito para correspondente em Washington, até fala bem americano e tudo!

De facto, não há dúvida que as moscas mudaram…

“The Tourist”, de von Donnersmarck

—Um filme com dois dos actores mais famosos da actualidade tinha a obrigação de ter mais qualidade.

No entanto, quando a história não ajuda e o realizador é banal, não se pode esperar que as estrelas façam milagres.

Florian Maria Georg Christian Graf Henckel von Donnersmarck, alemão de 38 anos, tem um nome muito maior que a sua carreira, que inclui algumas curtas metragens e um filme, intitulado The Lives of Others (2006), muito credenciado (não vi).

Neste The Tourist, limita-se a apontar a câmara. Salvam-se os planos aéreos da bela Veneza, o percurso de táxi marítimo, do aeroporto até í  Praça de São Marcos, os canais e os palácios, as cúpulas e as ilhas.

Angelina Jolie faz de Angelina Jolie e, por vezes, de Gina Lollobrígida. Nunca desfaz aquele ar seráfico, de beleza tão inatingível que acaba por parecer artificial. Em grande parte do filme, não parece uma mulher verdadeira, mas uma espécie de boneca insuflável de luxo.

Jonnhy Depp aprendeu a ter aquele ar meio tímido, de intelectual-que-engata-todas-porque-elas-têm-pena-do-seu-ar-triste e, também ele, não consegue sair do estereótipo.

A história é banal e o filme não merece o tempo que se perde com ele.

Qual será o rating do Papa?

De pé, no corredor do avião que o transportou para Madrid, Bento 16 falou sobre a crise económica internacional.

Com um grosso cordão de ouro ao pescoço, do qual pendia um crucifixo também de ouro, e com um anel de ouro do tamanho de uma moeda de dois euros mas muito mais espesso, disse coisas tão definitivas como «a dimensão ética não é uma coisa alheia aos problemas económicos, mas uma dimensão interior e fundamental. A economia não funciona só com regras mercantis, mas necessita de uma razão ética para estar ao serviço do homem.»

Que me interessa a mim a opinião de um tipo que nunca produziu nada na vida, que nunca contribuiu para nada, que nunca fez nada?

Que autoridade tem Bento 16 para falar na crise internacional quando, numa curta visita a Espanha, país a braços com a mais alta taxa de desemprego da Europa, faz gastar 50 milhões de euros?

Como é possível que milhares de jovens, incluindo freiras que suspenderam votos de clausura, se manifestem histericamente, agitando bandeirinhas, perante um velho efeminado, vestido com uma saia branca e calçando uns ridículos sapatos vermelhos?

Claro que Deus não existe. Mas, se existisse, estaria agora corado de vergonha!…

—

“Os Portugueses”, de Barry Hatton

—Barry Haton nasceu em Inglaterra, em 1963, mudou-se para Portugal em 1986, tornou-se correspondente da United Press Internacional, em Lisboa, em 1992 e é correspondente da Associated Press, desde 1997, cobrindo toda a actualidade portuguesa.

Trata-se, portanto, de um jornalista estrangeiro que decidiu estudar Portugal e os portugueses e relatar as suas conclusões neste livro, que não deixa de ser curioso.

Achei, sobretudo, que Haton conseguiu fazer um resumo muito bem feito da História do nosso país e que poderia ajudar muitos dos meus compatriotas a conhecer e perceber os acontecimentos históricos que nos marcaram.

Pena é que, aqui e ali, a língua portuguesa traia o jornalista britânico. Pena, também, que ninguém da editora tenha reparado nesses pequenos erros.

Só dois exemplos.

Na página 131: «(Antero de Quental) iniciou uma brilhante digressão que permaneceria como um dos mais famosos discursos da história portuguesa» – não será “dissertação”, em vez de “digressão”?

Na página 171: «dezenas de milhar de pessoas (…) saíram para o aclamar (a Humberto Delgado) num electrificante comício de campanha no Porto» – não será “electrizante” em vez de “electrificante”?

Passando por cima dessas minudências, o livro lê-se muito bem e é um retrato certeiro de nós todos, com recurso a abundantes citações, desde Mark Twain a Fernando Pessoa.

Não se importa de repetir?…

Temos um primeiro-ministro brilhante.

Eu avisei

Na festa do Pontal, Passos Coelho disse esta coisa definitiva:

«Vamos ingressar no coração do plano mais duro das tarefas que temos a realizar»

O QUíŠ?!…

Que raio é que isto quer dizer?

Vamos ingressar no coração do plano mais duro das tarefas?

í“ Sr. Primeiro-Ministro, não se importa de repetir?

Mas Passos Coelho disse mais coisas importantes. Por exemplo:

«Sabemos que quando se começa a querer mudar há dois tipos de atitude: uma mais conservadora, que começa sempre a pí´r problemas; e aqueles que arregaçam as mangas e dizem ‘muito bem’. Isso não se pode fazer de qualquer maneira, esse é o exercício da democracia».

Ora, vamos lá a ver se eu percebo: quando queremos mudar, há dois tipos de atitude, segundo Coelho: uma mais conservadora e a outra… pois, a outra não se percebe qual é.

Mas percebe-se que há pessoas que arregaçam as mangas e dizem ‘muito bem’, mas o nosso Primeiro garante que isso não se pode fazer de qualquer maneira.

E porquê?

Porque esse é o exercício da democracia.

O QU�!

í“ Pedro, não se importa de repetir?

Já vos disse: estamos tramados!…

“True Grit”, de Ethan and Joel Coen

—Mattie Ross (Hailee Steinefeld) é uma serigaita de 14 anos, cheia de pêlo na venta, cujo pai for recentemente assassinado por um malfeitor do pior, Tom Chaney (Josh Brolin), de seu nome.

Mattie não vai permitir que ele fique impune e procura alguém que tenha “true grit” para enfrentar o bandido.

Acaba por contratar o US Marshall, Rooster Cogburn (Jeff Bridges) que, apesar da pála no olho e do alcoolismo, é dos que não desistem da sua presa. A este par, junta-se um Ranger do Texas, LaBoeuf (Matt Damon), que também anda atrás de Chaney, por outros crimes.

E assim se junta este trio improvável no novo western dos irmãos Cohen, “True Grit” (Indomável, em português, vá-se lá saber porquê…)

Realce para as personagens de Mattie e, sobretudo, de Rooster Cogburn.

Depois de ter composto um histórico Dude, em “The Big Lebowski“, Jeff Bridges torna a brilhar num filme dos irmãos Coen.

“A Viúva Grávida”, de Martin Amis

—Ora aqui está outro escritor contemporâneo muito badalado e com o qual não consigo encontrar afinidades.

Dele, ainda só tinha lido “O Cão Amarelo” (2004), que já não me tinha entusiasmado.

Este último livro de Martin Amis, editado no ano passado, diz que é “uma comédia de costumes, um pesadelo. Um livro brilhante, assombroso e gloriosamente arriscado”.

Os adjectivos são próprios de quem quer valorizar o produto que está a vender.

Li “A Viúva Grávida” com alguma dificuldade.

Trata-se de uma história certamente dedicada a outras inteligências – inteligências que percebam e aceitam frases como esta, na página 239: «continuava a coçar o pequeno inchaço avermelhado no lado mais pálido do antebraço, onde, na noite anterior, um mosquito lhe havia inserido a sua seringa. Keith estava no seu estado habitual, que era este. A cada dois minutos, ele conseguia ouvir os céus a relincharem perante a indulgência dele; e nos minutos entre esses, corava alvos suores ao pensar na sulfurosa fossa de alcatrão da sua alma.»

Ufa!

Ainda segundo a contracapa, a acção do romance decorre na década de 1970, num castelo, em Itália. Aí, meia dúzia de jovens interpretam a revolução sexual.

Talvez… mas confesso que quase não dei por nada.

A culpa deve ser minha…

Samantha Fox e o ministro das Finanças

—Quem se lembra da Samantha?

Em 1986, um jogo de strip poker permitia-nos despir a Samantha quase toda. Para ela ficar com as maminhas í  mostra, era preciso estar um bom bocado de volta do computador, até conseguir que ela tirasse a roupa.

Samantha foi um ícone dos anos 80, com o seu grande êxito “Touch Me”, acompanhado do sugestivo subtítulo “I Want Your Body”.

Também participou em alguns filmes pornográficos (não vi nenhum) e gravou seis álbuns (não ouvi nenhum), mas ficou mais conhecida pelos posters que forravam as paredes de muitos adolescentes desse tempo.

Pois a Samantha está viva e de boa saúde. Com 46 anos, foi convidada para actuar na inauguração do Naturewaterpark, perto de Vila Real.

Em entrevista ao DN, quando lhe perguntaram se ainda era um sex symbol, respondeu, toda atrevidota: «claro que sim, não se nota? Tudo no sítio, e espero continuar a ser sex symbol por mais alguns anos. Sinto-me jovem e bonita.»

Assim é que é, Samantha! Alto astral!

—Mas, perguntarão, o que tem a Samantha a ver com o ministro das Finanças, Vitor Gaspar?

Será que eu considero o Gaspar um sex symbol?

Será que eu era capaz de passar horas, em frente ao computador, a tentar despir o ministro, num jogo de strip poker?

Não! De modo nenhum!

Mas Samantha e Gaspar têm algo em comum.

Na citada entrevista, a Samantha diz: «Vou contar-lhe um segredo: os fãs que estão mais próximos do palco, quando o concerto começa, pedem o tema (Touch Me) e fazem o gesto com as mãos de tentarem tocar-me no peito. Mas logo lhes respondo: “Vamos guardar o melhor para o fim”. E no fim não têm direito a nada!»

É nisto que Gaspar é igual a Samantha: promete-nos cortes na despesa e, afinal, atira-nos com mais impostos.

No fim, não temos direito a nada!