“The Tourist”, de von Donnersmarck

Um filme com dois dos actores mais famosos da actualidade tinha a obrigação de ter mais qualidade.

No entanto, quando a história não ajuda e o realizador é banal, não se pode esperar que as estrelas façam milagres.

Florian Maria Georg Christian Graf Henckel von Donnersmarck, alemão de 38 anos, tem um nome muito maior que a sua carreira, que inclui algumas curtas metragens e um filme, intitulado The Lives of Others (2006), muito credenciado (não vi).

Neste The Tourist, limita-se a apontar a câmara. Salvam-se os planos aéreos da bela Veneza, o percurso de táxi marítimo, do aeroporto até à Praça de São Marcos, os canais e os palácios, as cúpulas e as ilhas.

Angelina Jolie faz de Angelina Jolie e, por vezes, de Gina Lollobrígida. Nunca desfaz aquele ar seráfico, de beleza tão inatingível que acaba por parecer artificial. Em grande parte do filme, não parece uma mulher verdadeira, mas uma espécie de boneca insuflável de luxo.

Jonnhy Depp aprendeu a ter aquele ar meio tímido, de intelectual-que-engata-todas-porque-elas-têm-pena-do-seu-ar-triste e, também ele, não consegue sair do estereótipo.

A história é banal e o filme não merece o tempo que se perde com ele.

“Public Enemies”, de Michael Mann

Johnny Depp é um actor sui-generis, capaz de encarnar personagens tão estranhas como o Eduardo Mãos-de-Tesoura ou o pirata das Caraíbas e, nos intervalos, vestir-se de John Dillinger e ser um duro clássico, ao estilo dos gangsters de Chicago.

Os norte-americanos, como não têm heróis com mais de 200 anos, do tipo da Deuladeu Martins, Joana d’Arc, D. Quixote ou Ivanhoe – para citar apenas quatro -, fazem filmes sobre bandidos que, nas décadas de 30-40, assombraram as ruas de Chicago.

Michael Mann é um realizador excessivo e gosta dos planos rodopiantes, com a câmara a rodar em volta do actor e, depois, a subir, até se obter um plano aéreo, mas esses truques não substituem a caracterização das personagens. É por isso que não se percebe muito bem que tipo de pessoa era Dillinger, a não ser que desprezava o futuro e que vivia só para o dia-a-dia. Por que se tornou gansgter, por que escolheu assaltar bancos, em vez de ter uma vida honesta, de simples empregado do McDonalds? Dillinger não tem densidade, como personagem.

Mas enfim – se eu quisesse densidade (e chatice!…) – tinha alugado um filme europeu…