O referendo grego

O problema central não é o primeiro-ministro grego ter decidido fazer um referendo, mas sim que pergunta fazer nesse referendo.

Papandreu (pronuncia-se mais ou menos assim, mas escreve-se de maneira muito diferente) diz que o referendo não é sobre o euro, mas sim sobre as medidas de austeridade.

Mas também há a possibilidade de Papandreu desistir do referendo, a favor da formação de um governo de coligação entre os socialistas e o partido í  sua direita.

Nesse caso, Papandreu cederia o seu lugar a Papadamus (não tenho bem a certeza se é assim que se pronuncia…)

Fica claro que o problema grego é uma questão de Papas.

Por cá, o nosso Papa-Açorda anda a reboque, ora dizendo que não é preciso renegociar com a troika, ora afirmando que são precisos ajustamentos…

Voltando ao referendo e í  sua pergunta.

Poderá ser, simplesmente: «deve a Grécia manter-se no euro ou deve voltar ao dracma?»

Ou ainda: «deve a Grécia aceitar as medidas impostas pela troika ou deve fazer-lhes um manguito?»

Ou talvez: «deve a Grécia manter-se na Europa ou passar-se para a ísia, que fica já aqui ao lado?»

Ou, finalmente: «deve a Grécia pedir a extradição de Duarte Lima, conceder-lhe a cidadania e nomeá-lo primeiro-ministro e, depois, sair do euro?»

Eu votaria nesta última pergunta.

Crise? Qual crise?!

1. O superintendente-chefe Guedes da Silva, director nacional da Polícia de Segurança Pública, viajou até Luanda, para participar numa reunião da CPLP. E foi em executiva.

O chefe da GNR também.

Segundo o Sindicato da polícia, a viagem da comitiva portuguesa custou 10 mil euros.

2. Cavaco Silva foi í  Cimeira Ibero-Americana, no Paraguai e levou 22 pessoas com ele.

Hoje vi, nos telejornais, uma conferência de imprensa dada na capital paraguaia por Cavaco, Passos Coelho e Paulo Portas. Todos em Asuncion, carago!

Presumo que a Assunção (coincidência…) Esteves ficou a presidir ao país. E quem terá ficado no lugar do primeiro-ministro?

Podíamos ter aproveitado para tomar o Poder!

Mas estava um dia de sol, tão bonito!…

Enfim, foi preciso uma viagem í  América Latina para vermos aqueles três passarões juntos, na mesma conferência de imprensa.

Claro que a minha irritação máxima vai para a pesporrência de Aníbal. Quando questionado sobre o teor das conversas que tem, í s quintas-feiras, com o primeiro-ministro, respondeu que foi ele o inventor da “cooperação estratégica” (que dificuldade que o homem tem a dizer palavras com érres!) e que quando, daqui a muitos anos, foram tornados públicos os registos dessas conversas, então sim, vamos todos perceber o quão iluminado era o nosso querido Presidente! Porque ele sempre nos avisou de tudo o que está a acontecer, e não teve culpa de nada e nunca tem dúvidas e raramente se engana!

3. Os telejornais estão todos doidos com o caso Duarte Lima. A RTP, apesar da crise, apesar da dívida, tem já uma jornalista, enviada especial, lá no Brasil, para nos dizer, em directo, coisas que já sabemos, porque estão escarrapachadas na net.

Que eu saiba, a RTP tem um correspondente no Brasil, um jornalista que vive lá. Será que o tipo não é suficientemente competente para fazer as reportagens sobre este caso? É preciso mandar para lá mais uma jornalista (em económica?…)

Estes três exemplos mostram bem que, pelos vistos, a crise não chega a todos, da mesma maneira…

“Bad As Me” (2011) – Tom Waits volta a atacar!

Começo por dizer que pode haver conflito de interesses, já que, desde os anos 80 do século passado que Tom Waits é o meu autor-intérprete-performer preferido.

Dito isto, saúdo largamente mais um disco do Tom Waits (dizem que é o 17º, se contarmos só o de originais). Tenho-os todos, claro.

Divido a carreira de Waits em duas fases: antes e depois do seu casamento com Kathleen Brennan.

Antes, Waits era um excelente bluesman, com muita influência do jazz. Atingiu o seu topo, na minha opinião, com a banda sonora de “One From The Heart“, filme de Coppola.

Foi durante as filmagens que Waits conheceu Brennan, que era funcionária da Zoetrope, a empresa produtora de filmes, de Coppola.

A partir da sua união com Brennan, Waits começou a explorar outras sonoridades, enrouqueceu mais a voz, e começou a juntar tangos, valsas, salsas e outras esquisitices ao seu reportório, mantendo, no entanto, os blues como norte. Mais recentemente, o rock acabou por absorvê-lo e até lhe deram um espaço no Hall of Fame.

—Este “Bad As Me” tem 13 novos temas que já ouvi muitas vezes. Quero com isto dizer que, no fundo, Tom Waits está sempre a interpretar os mesmos temas, com os mesmos acordes, mas sempre com novas roupagens.

Quando começamos a ouvir o acordeão de “New Year’s Eve”, ou a percussão e a guitarra de “Get Lost”, dizemos “já ouvi isto em Mule Variations, ou em Raindogs, ou em Swordfishtrombones, ou em Real Gone, etc, etc.” – mas isso é bom! É bom ouvirmos um novo disco do Tom Waits e não ficarmos defraudados.

Tom Waits rodeia-se dos cúmplices do costume: Marc Ribot, na guitarra, Casey Waits, filho de Tom Waits, na percussão, Clint Maedgen, nos saxes, Ben Jaffe, no trombone e clarinete, entre outros.

Mas há dois novos cúmplices, o Flea, dos Red Hot Chili Peppers e Keith Richards. Olha que dois!

Richards e Jagger são citados por Waits no tema “Satisfied”. Richards toca o seu habitual riff de guitarra e Waits vai berrando que está Satisfied, numa alusão ao célebre “Satisfaction”, dos Rolling Stones. Keith Richards toca guitarra em mais algumas faixas e faz coro com a voz de Waits em “Last Leaf”, outra balada típica de Waits, embora também faça lembrar algumas das (poucas) canções que Richards compí´s para os Stones.

“Kiss Me” é uma balada muito jazzy, em que Waits faz o seu habitual número de crooner; “Chicago” é uma espécie de melopeia, com o ritmo de um comboio; “Bad As Me” é mais uma daquelas furiosas interpretações de Waits – e todas as faixas são altamente recomendáveis.

Vai ficar no meu toca-discos durante as próximas semanas.

O presidente actor

Cavaco Silva recebeu ontem as credenciais de seis embaixadores.

Seguindo as regras do protocolo, recebeu-os de fraque e com um esquadrão de cavalaria da Unidade de Segurança e Honras de Estado, composta por 60 militares e respectivos cavalos, e ainda a charanga da GNR.

A Associação de Profissionais da GNR considerou esta pompa “totalmente desmesurada”.

De facto, em tempo de crise, arregimentar 60 militares, 60 cavalos e mais a banda, tudo para receber seis embaixadores, convenhamos que é exagerado.

Quanto terá custado a coisa?

—

Questionado, o porta-voz da Presidência esclareceu que “o Sr. Presidente da República é apenas um actor na cerimónia. É o protocolo que define as regras.”

Não se importa de repetir?

Agora, Cavaco também é actor?

O nosso Presidente tem o dom de não ter a culpa de nada, nem do défice, nem da destruição da agricultura e das pescas, nem das auto-estradas, nem das reformas estruturais que, afinal, não fez – e, neste caso, coitado, a culpa é do protocolo, pois ele não passa de um actor!…

Um actor com um papel de merda…

Injustiça!

Fiquei chocado quando soube que o Dias Loureiro recebe, de subvenção vitalícia, apenas 1700 euros!

É um escândalo!

Enquanto tipos como o Duarte Lima, que se limitou a ser líder parlamentar do PSD, recebem mais de 2 mil euros por mês, Dias Loureiro, que foi ministro, fundador do BPN e membro do conselho de Estado, designado pelo Presidente Cavaco, fica-se pelos 1700!

E há mais injustiças, nesta lista de políticos que recebem pensões suportadas pelos contribuintes.

Por exemplo, como é que Bagão Félix consegue aguentar-se com 1000 euros por mês? Mal dá para pagar o lugar cativo na Luz!…

E Zita Seabra? Não será uma injustiça pagar a uma mulher que conseguiu passar do PCP para o PSD, a miséria de 3 mil euros por mês?

E agora, o governo vai acabar com estas subvenções.

Acho mal… Esta malta vai começar a viver mal!

E seguindo esta onda de cortes, eis que a pressão da comunicação social faz com que alguns membros do governo abdiquem do subsídio de deslocação!

É o caso de Miguel Macedo, que recebia a miséria de 1400 euros por mês por viver a mais de 100 km de Lisboa.

O que é que o homem vai fazer agora?

Estamos a transformar os nossos políticos em sem-abrigo…

O Hospital Garcia de Orta internacionaliza-se

A comunicação social noticiou o caso de um brasileiro, de São Paulo que, depois de comprar uns calções, reparou que, o forro de um dos bolsos tinha o logotipo do Hospital Garcia de Orta.

E parece que ficou muito chocado!

Se fosse o logotipo da Polo Ralph Laurent, mesmo que fabricado no Bangla Desh, e cosido por criancinhas de 10 anos, não tinha protestado, mas como era, eventualmente, um bocado de um antigo lençol do nosso querido Hospital de Almada, o homem ficou zangado.

Se as agências de rating nos classificam como lixo, por que não exportarmos lixo?!

Um dia destes, em Belém…

Maria (M) – Falaste hoje com o Pedro? Correu bem?…

Aníbal (A) – Nem por isso. Disse-me que decidiu cortar os subsídios de Natal e de férias…

M – A nós também?!

A- A todos os funcionários públicos e a todos os reformados!…

M – Que desfaçatez!…E eu que estava a pensar em gastar o subsídio de Natal nuns novelos de lã para fazer umas camisolas para os nossos netos!…

A-Vais ter que te satisfazer com umas techirts da Zara… O tipo está inflexível!…

M – E o subsídio de férias também?!…

A- Hum hum…

M – Lá vamos passar as férias outra vez no Algarve!… Os planos da ilha Canela vão por água abaixo! Bolas! O Sócrates tira-te uma das reformas, o Pedro tira-nos os subsídios – para que serve seres o Presidente?!…

A – É a crise, Maria!…

M – Qual crise! Esse Pedro nunca me enganou! Um tipo que foi casado com uma das galdérias das Doce, não podia ser boa peça!…

A – Eu bem avisei que a situação era explosiva…

M – Tão explosiva que rebentou para o nosso lado!… E tu não fazes nada?!

A – Então, eu tenho escrito umas coisas no Facebook…

M – Não chega, homem! Chega-te í  frente! Mostra-lhe quem manda!

A – E dissolvo a Assembleia? Ainda agora foi eleita!…

M – Quero lá saber! Eu quero é os meus subsídios de volta!

A – Deixa estar que eu vou dizer í  comunicação social que acho injusto e pode ser que o PS pegue na coisa e apresente uma alternativa no Parlamento…

M – O Seguro? Aquele totó?!… Podes esperar sentado!

Neste momento, alguém arrancou o microfone que tínhamos colocado nas flores de plástico que ornamentam a mesa da cozinha do casal presidencial.

“A Sombra do que Fomos”, de Luis Sepúlveda (2009)

—A contra-capa deste pequeno livro diz tudo:

«Num velho armazém de um bairro popular de Santiago do Chile, três sexagenários esperam impacientes pela chegada de um quarto homem. Cacho Salinas, Lolo Garmendia e Lucho Arencibia, antigos militantes de esquerda derrotados pelo golpe de estado de Pinochet e condenados ao exílio, voltam a reunir-se trinta e cinco anos depois, convocados por Pedro Nolasco, um antigo camarada sob cujas ordens vão executar uma arrojada acção revolucionária. Mas quando Nolasco se dirige para o local do encontro é vítima de um golpe cego do destino e morre atingido por um gira-discos que insolitamente é lançado por uma janela, na sequência de uma desavença conjugal.»

É isto. “A Sombra do que fomos” é uma historieta. Tem graça, está bem escrita, mas sabe a pouco.

Algumas passagens fizeram-me recuar aos tempos do PREC. Exemplo:

«Na assembleia, Coco Aravena sentia-se eufórico porque a comissão de agitação e propaganda do Partido Comunista Revolucionário Marxista-Leninista, pensamento Mao-Tsé Tung, tendência Enver Hodxa, bastante diferente da camarilha liquidacionista que se fazia chamar Partido Comunista Revolucionário Marxista-Leninista, pensamento Mao-Tsé Tung, tendência bandeira vermelha, o tinha escolhido para a leitura de uma resolução do Comité Central destinada a mudar a história.»

É o segundo livro de Sepulveda que leio e não me entusiasma.

O que é bom para a tosse

O Sr. Armindo andava com uma tosse que o tirava do sério.

Dizia ele que a malvada era tão intensa que quase lhe apetecia dar um tiro na cabeça.

Não conseguia dormir, urinava-se todo, evitava andar de transportes públicos para não assustar os companheiros de viagem, fugia de salas de espera e até ao pé da mulher e da filha se sentia incomodado por estar sempre a tossir.

Pensei que podia ser efeito secundário do inibidor do enzima de conversão, que muitas vezes provoca tosse e mudei-lhe para outro anti-hipertensor.

Sem resultado.

Claro que não valia a pena experimentar anti-tússicos e anti-histamínicos. Isso já o Sr. Armindo tinha tentado, também sem resultado.

Pensei depois em refluxo gastro-esofágico que, em algumas situações provoca tosse e prescrevi-lhe um inibidor da bomba de protões.

Sem resultado.

Desisti.

Ontem, o Sr. Rodrigues voltou í  consulta.

Sem tosse.

E informou-me que tinha resolvido o problema com uma receita caseira. Um chá.

Exigi que me fornecesse a receita milagrosa.

Palavras dele: «250 gramas de açúcar mascavado, uma cerveja preta, das pequenas, uma laranja e três folhas de í´calitro».

Bastaram duas colheres desse chá ao deitar, durante cinco dias, e a tosse desapareceu.

O segredo, claro, está no í´calitro…

Privilégio

Ontem, estava a brincar com o meu neto Tiago, no quarto dele, quando ele me disse:

“Olha, espera aqui um bocadinho porque eu tenho que ir fazer cocó!”

Depois, hesitou durante dois segundos e acrescentou:

“Não… podes vir comigo porque eu gosto muito de ti…”

E foi assim que tive o privilégio de acompanhar o meu neto durante a sua gloriosa cagada!