O bom aluno

Na perspectiva da Sra. Merkel e na de Os Mercados, o bom aluno não é só aquele que absorve bem a matéria proposta e passa em todas as avaliações com distinção.

Para Merkel e Os Mercados, o bom aluno é, sobretudo, aquele que nunca questiona a matéria dada, nunca faz perguntas, nunca procura alternativas.

Estamos a ser governados por um bom aluno e estamos tramados!

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“To Rome With Love”, de Woody Allen

Li para aí umas críticas negativas a mais um filme de Woody Allen, dizendo que ele está preguiçoso e que se está a repetir.

—Acho que o grande problema destes críticos reside no facto de sempre terem achado que Allen era um génio, por ter realizado Manhattan e Annie Hall e admirar Bergman e Felinni, e ser intelectual e muito “europeu”.

Na minha opinião, Allen é bom no seu ofício, fez filmes muito bons, alguns menos bons, quase nenhuns medíocres e, ao longo de todos estes anos, proporcionou-me bons momentos de entretenimento e por isso lhe agradeço. Mas não é nenhum génio (e ele próprio reconhece isso).

Desde Take the Money and Run (Inimigo Público nº1), de 1969, que tento não perder um filme de Allen e acho que só não vi três das suas 40 longa-metragens.

Este To Rome With Love junta várias histórias, o que é comum no cinema italiano e a diversão é garantida.

Ao mesmo tempo que vamos revisitando alguns dos lugares emblemáticos da capital italiana, vamos seguindo essas histórias com agrado e ficamos com pena quando o filme acaba.

Das várias histórias, destaco duas: um casal recém-casado de jovens italianos da província, chega a Roma. Ela sai do hotel para ir a um cabeleireiro porque vai ser apresentada í  família do marido. No entanto, perde-se, acaba por ir parar a uma zona onde está a ser feito um filme, é seduzida por um actor pomposo, que a leva para o seu hotel, mas ambos acabam por ser assaltados no quarto e ela vai para a cama com o ladrão. Entretanto, o marido é surpreendido por uma prostituta (Penélope Cruz) que, por engano, entra no seu quarto e ambos são surpreendidos pelos familiares dele, que não tem outro remédio senão apresentar a prostituta como sendo a sua mulher. Uma cena de ópera bufa bem conseguida.

A outra história envolve o próprio Woody Allen, que é um agente de espectáculos reformado; foi sempre incompreendido, devido í s suas produções arrojadas, como a Traviata para personagens todos vestidos de ratos brancos… É casado como uma psiquiatra (Judy Davis), que diz que ele, em vez de ter ego, superego e id, tem três ids. Ambos vão a Roma para conhecer o futuro genro e a sua família. Ao ouvir o seu futuro sogro a cantar no duche, consegue convencê-lo a participar numa ópera, cantando… no duche. Só vendo…

Além destas duas histórias, temos mais uma outra, que envolve arquitectos e outra, em que Roberto Benigni (não gosto dele, mas aqui safa-se…) é um cinzento empregado de escritório que, de repente, se torna famoso.

O curioso é que todas estas histórias, contadas em paralelo, têm tempos diferentes, isto é, enquanto a história do jovem casal decorre ao longo de algumas horas, a do agente operático decorre ao longo de meses. Mas isso não faz mal nenhum – são liberdades narrativas, aceites em cinema.

Tarde bem passada.

O melhor povo do mundo

Gaspar é um ministro sádico.

Primeiro, informa que nos vai ao bolso, com um enorme aumento de impostos; depois, passa-nos a mão pelo pelo, dizendo que somos o melhor povo do mundo.

O seu homónimo rei mago, ofereceu mirra a Jesus; Gaspar, o ministro, oferece-nos uma porra!

Ele quer que fiquemos mais pobres.

Ao ouvi-lo, veio-me í  memória aquela cantiga reaccionária da Amália, que dizia assim: “A alegria da pobreza/ está nesta grande riqueza/ de dar, e ficar contente”.

Pobres mas honrados.

Cheira a Salazar.

Gaspar é sádico.

Fode-nos e depois dá-nos beijinho…

Borges sofre de sindroma de Tourette?

O ministro-que-faz-de-conta-que-não-é-ministro, António Borges, não é capaz de ficar calado.

Ainda bem.

É da maneira que vamos conhecendo o pensamento político de Passos Coelho e percebendo como o “social” está a desaparecer do nome oficial do Partido “Social” Democrata.

Em junho, Borges disse que baixar os salários dos portugueses “era uma urgência“. Todos lhe caíram em cima e até Passos Coelho veio a correr dizer que não era essa a intenção do governo e tal.

Viu-se…

Nem três meses depois, aí estava o mesmo Coelho a propor a baixa dos salários em 7%, com a subida da TSU para os trabalhadores.

Foi graças a Borges que ficámos a saber, em agosto, que Relvas queria acabar com a RTP-2 e dar a concessão da RTP-1 aos privados. Claro que o governo veio dizer que era só uma opinião, mas… vamos ver o que vai acontecer í  RTP e veremos, mais tarde, que papel Relvas desempenhará nessa nova televisão semi-pública e mais ou menos privada…

Já há 5 anos Borges defendeu a privatização da CGD. Nessa altura, ouviu-se um coro de críticas. Mas não é que, agora, não se fala noutra coisa?…

Para terminar, ontem, num Fórum económico, Borges disse que “os empresários que se apresentaram contra a medida (TSU) são completamente ignorantes”.

É incompreensível como uma pessoa tão inteligente como António Borges cai na armadilha de falar em público como se estivesse a falar em privado, com um grupo de amigos.

A menos que…

A menos que António Borges sofra de Sindroma de Tourette  e não consiga manter a boca fechada.

Ou então, é mesmo ele quem governa Portugal e Passos Coelho não passa de um ínhuca – aliás, como eu sempre disse…

Vamos lá aumentar a receita, Paulo!

—O empresário chinês (de Hong Kong), Cecil Chao, decidiu oferecer 50 milhões de euros ao homem – qualquer homem – que consiga seduzir a sua filha, Gigi.

(De repente, lembrei-me daquela canção do Paulo de Carvalho: “Chamava-se Gigi, vestia de organdi…” – e lembrei-me que o Passos Coelho, depois de ter anunciado ao país, através da televisão, que nos ia lixar com a TSU e outras cenas, foi com a esposa a uma “noite cultural”, como disseram os jornalistas; “noite cultural” essa que consistiu em assistir a um show do dito Paulo de Carvalho, autor do hino do PSD, show que contou, também, com a participação do nosso Coelho, que cantou, com a sua voz de tenor, a tal cantiga da Nini, que vestia de organdi…)

Adiante…

Gigi Chao tem 33 anos e é lésbica. Assumidamente lésbica. Terá, até, juntado os trapinhos com a sua companheiro dos últimos sete anos, Sean Eav, em Paris.

Mas Cecil não se dá por vencido e diz que a sua Gigi é “uma muito boa menina, com talento e um bom visual, dedicada aos pais, generosa e que participa em trabalhos voluntários”.

Por isso, o homem – qualquer homem, “não me importo que seja rico ou pobre” – que consiga seduzir a Gigi e casar com ela, receberá 50 milhões de euros.

Ora, considerando que Paulo Portas é solteiro, que tem um bom emprego e que tem o dever patriótico de ajudar Portugal a reduzir o défice, penso que ele deve deslocar-se a Paris – pode ir até num dos nossos Falcon – seduzir a miúda e casar com ela!

Sempre são 50 milhões que entram, caramba!

Ladies and Gentlemen: Meet the Great Mitt!

Se os americanos decidirem eleger Mitt Romney para a Presidência da República, o Progresso dará um salto gigantesco, pelo menos, na área da aviação.

Com efeito – e para evitar que a sua linda barbie-esposa torne a sufocar com fumo no interior de um avião – Mitt vai fazer com que as janelas dos aviões passem a abrir sempre que a malta queira apanhar um pouco de ar!

Se não acreditam, vejam este vídeo, onde o Great Mitt afirma não perceber porque raio as janelas dos aviões não abrem!

http://bcove.me/q1e7bmzk

May God be with the yankees!…

“Lisboa amarga e doce”, fotos de Gageiro

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São apenas duas dúzias de fotos de Eduardo Gajeiro, feitas entre 1975 e 2010, mas valem a pena.

Estão em exposição na galeria dos Paços do Concelho da Câmara Municipal de Lisboa.

Como legenda, excertos de poemas de Pessoa e de Ary dos Santos.

Das fotos, destaco esta, de três idosas em amena cavaqueira. Foi tirada em 1985 e diríamos que a cena se passa numa qualquer aldeia das beiras.

Errado.

A foto foi feita no jardim do Príncipe Real. Passaram pouco mais de 20 anos e será difícil, hoje em dia, “apanharmos” velhotas como estas, nas ruas e jardins de Lisboa.

Preguiça jornalística

Notícia do DN de ontem:

«Uma fila de pessoas carregadas com sacos, sacolas e até caixotes cheio de lixo reciclável era o cenário, ontem de manhã, em Cacilhas, junto ao quiosque da Câmara de Almada que promoveu a campanha “Viagens a troco de lixo”. No âmbito da Semana da Mobilidade, latas, garrafas, papel, óleos alimentares, pilhas usadas, pequenos electrodomésticos avariados, radiografias e até medicamentos foram trocados por viagens gratuitas de autocarro (TST), barco (Transtejo), metro (Sul do Tejo) ou comboio (Fertagus).»

Notícia do Público de ontem:

«Uma fila de pessoas carregadas com sacos, sacolas e até caixotes cheio de lixo reciclável era o cenário, ontem de manhã, em Cacilhas, junto ao quiosque da Câmara de Almada que promoveu a campanha “Viagens a troco de lixo”. No âmbito da Semana da Mobilidade, latas, garrafas, papel, óleos alimentares, pilhas usadas, pequenos electrodomésticos avariados, radiografias e até medicamentos foram trocados por viagens gratuitas de autocarro (TST), barco (Transtejo), metro (Sul do Tejo) ou comboio (Fertagus).»

Será que o jornalista trabalha, simultaneamente, para o DN e para Público?

Certamente que não.

Nos breves anos em que fui jornalista, nos anos 70 do século passado, chamava-se a isto a técnica do “recorta e cola”. O jornalista recebia um telegrama da Reuters, por exemplo, recortava a parte que lhe interessava e colava numa folha A4. Juntava-lhe, depois, um parágrafo final da sua autoria.

Hoje em dia, a técnica deve ter evoluído para “copy/paste”, mas vai dar ao mesmo.

Isto não tem importância nenhuma?

Tem.

Por alguma razão se chama redacção ao conjunto de jornalistas que trabalham num órgão de comunicação. Esses jornalistas são redactores. Fazem redacções.

Não são copistas.

“A Rapariga que Inventou um Sonho”, de Haruki Murakami

—Confesso que resisti muito tempo a ler este livro que me ofereceram, porque sempre desconfiei de unanimidades – e não há dúvida que Murakami tem uma opinião favorável quase unânime, por parte dos jornais e revistas, e cada livro seu que sai é um acontecimento, enchendo-se as livrarias de pilhas de livros, que se vendem a bom ritmo.

E tenho um bocado essa mania de não ir em modas, razão pela qual nunca tinha lido nada de Murakami.

Admito que fiquei agradavelmente surpreendido, embora ainda não esteja completamente rendido.

—“A Rapariga que Inventou um Sonho” é uma colectânea de contos, publicados entre 1981 e 2005. São 24 histórias para todos os gostos, umas realistas, outras surrealistas ou fantásticas, mas todas com uma linguagem tão simples e directa que quase roça a vulgaridade.

Murakami usa e abusa de frases feitas, partindo do princípio que a tradutora (Maria João Lourenço) adapta esses lugares comuns í  língua portuguesa. Com efeito, tropeçamos constantemente em frases como: “nem nada que se pareça”, “tinha perfeita consciência”, “muita água correu debaixo das pontes”, “unha com carne”, “cabeça í  banda”, “trocar galhardetes”, etc, etc.

As histórias de Murakami são simples e, a maior parte das vezes, não têm um final, mas a narrativa tem um “não sei quê” que nos agarra e nos obriga a continuar, í  procura de um desenlace.

Um bom exemplo é o conto intitulado “Onde é mais provável que a encontre”. Uma mulher contrata um suposto detective para encontrar o seu marido, que terá desaparecido, certo dia, entre o 24º e o 26º andar do prédio onde viviam.

O suposto detective vai inspecionar o prédio e fica espantado com a escadaria larga e bem iluminada e começa a passar ali os dias, subindo e descendo e conhecendo alguns inquilinos curiosos do dito prédio, com quem tem diálogos banais. A certa altura, a mulher que o contratou telefona-lhe a dizer que o marido tinha sido encontrado numa cidade distante. E pronto.

Curioso, também, o conto intitulado “O macaco de Shinagwa”, que conta a história de uma mulher que se esquece, de vez em quando, do seu próprio nome.

Claro que já comprei um dos romances do Murakami, para ver se fico mesmo adepto…