“A Morte do Comendador”, Volume III, de Haruki Murakami (2017)

Quando terminei a leitura do primeiro volume de A Morte do Comendador, fiquei de pé atrás e escrevi: vou ler o segundo volume e depois digo alguma coisa…

Acabei ontem o segundo volume e posso dizer que não fiquei com o pé atrás – fiquei com os dois.

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Murakami, o aclamado escritor, é mesmo um escritor da moda e consegue publicar dois volumes de uma história inverosímil, que mistura realidade com o submundo da fantasia, só tolerável porque, sendo japonês, é assim uma espécie de “realismo fantástico” asiático.

Para além da banalidade das frases feitas, que já tinha notado, destaque para três tiques insuportáveis: a descrição minuciosa de coisas do dia-a-dia que, se no caso do norueguês Knausgard pode ser novidade, no caso deste japonês, é enfadonho; a igualmente minuciosa descrição das fatiotas que os personagens usam; e, finalmente, a obsessão pelos seios da Marie, a personagem de 13 anos, que tem o peito “liso como uma tábua”, mas que tem esperança que as mamas possam crescer e caber numa copa 3C (verídico!).

Um exemplo na página 184:

“Menshiki chegou í s onze e vinte. assim que ouvi o Jaguar, vesti o blusão de cabedal e fui ao seu encontro. ele saiu do carro com um corta-vento azul-escuro acolchoado, calças de ganga pretas justas e sapatos desportivos de pele. Tinha um lenço leve em volta do pescoço.”

Outro exemplo, na página 414:

“Já no fim da chamada, Marie confidenciou-me que o peito se tinha desenvolvido (…)
‘Ainda não estão completamente crescidos, mas para lá caminham – murmurou ela em jeito de confidência.”

Para já não falar nas personagens de cerca de 60 centímetros que saem de um quadro pintado a óleo e surgem como Ideias, arrastando o protagonista para o submundo, onde é preciso atravessar uma espécie de rio das Metáforas e para não falar sequer na possibilidade de o mesmo protagonista ter engravidado a ex-esposa durante um sonho.

Não há pachorra para estas japonisices

“Em Busca do Carneiro Selvagem”, de Haruki Murakami (1982)

transferirDefinitivamente, este aclamado escritor japonês não me consegue encher as medidas, para usar uma frase feita, como ele gosta tanto de usar.

Já tinha lido Kafka í  Beira-Mar e tinha ficado decepcionado, pelo que deixei esta história do carneiro para mais tarde. Agora, achei que talvez já estivesse preparado para mais um livro de Murakami, mas confesso que me custou ir até ao fim!

A história do carneiro é uma patetice pegada, na minha modesta opinião e dizer, como dizem algumas críticas, que Murakami mistura realidade com fantasia e que a narrativa tem um toque de romance policial, vou ali e já venho (mais outra frase feita…)

E esta adoração por frases feitas não pode ser só defeito da tradução. Em meia dúzia de páginas encontramos as seguintes: não podia com uma gata pelo rabo, por que carga de água, a dar para o torto, pormenores de lana-caprina, a ponta de um corno, enquanto o diabo esfrega um olho, etc, etc.

No que respeita í  história propriamente dita, só vos digo que é tão entediante que nem me apetece resumi-la.

Arruma-se o Murakami definitivamente na prateleira e não se fala mais no assunto.

“Kafka í  Beira-Mar”, de Haruki Murakami (2002)

Afinal, Murakami não me convenceu.

—Depois de ter lido a colectânea de contos A Rapariga Que Inventou Um Sonho, fiquei curioso em relação a este autor japonês tão na moda; os livros dele vendem-se aos milhões e fala-se dele para Prémio Nobel.

Mas…

Mas este Kafka í  Beira-Mar começou por me agarrar e acabou por me enfastiar.

O romance conta duas histórias principais: a de Kafka Tamura, um jovem de 15 anos que foge de casa, onde vive com o pai e a do velho Nakata que, quando jovem, foi vítima de um acidente provocado por um OVNI (?), tendo ficado um pouco tolo mas capaz de falar com gatos.

Kafka vai ter a uma localidade com uma biblioteca privada, dirigida por um trangénero, de nome Oshima e cuja proprietária, uma senhora de cerca de 50 anos, talvez seja a mãe desaparecida de Kafka. Nunca o saberemos e isso seria importante porque eles acabam por dar umas quecas, quanto mais não seja imaginárias (para já não falar numa outra personagem, que poderá ser a irmã mais velha de Kafka, e com quem ele também vai para a cama).

Entretanto, Nakata mata o pai de Kafka, um arquitecto pérfido que matava gatos para fazer flautas e que talvez se chamasse Jack Daniels, como o whisky… e parte em busca de uma Pedra de Entrada, com a ajuda de um camionista bronco. A certa altura, somos levados a pensar que Kafka é que matou o pai e foi para a cama com a irmã e, depois, com a mãe, o que seria o delírio de qualquer freudiano de pacotilha…

Depois de muitas peripécias, que envolvem um coronel Saunders que é igual ao velhote do Kentucky Fried Chicken, uma prostituta que cita filósofos e outras cenas, Nakata e o camionista vão ter í  cidade onde está Kafka, encontram-se com a suposta mãe do rapaz e, a seu pedido, queimam-lhe todas as recordações, após o que ela falece. Nakata morre também e o camionista fica com a incumbência de matar uma coisa horrível que sai de dentro do velhote e, ao mesmo tempo, começa a conseguir falar com gatos.

Entretanto, Kafka foi para a montanha, interna-se na floresta, encontra-se com dois soldados da 2ª Guerra Mundial que continuam parados no tempo e vai ter a uma pequena localidade onde o tempo não tem importância. É lá que reencontra aquela que talvez seja a sua mãe.

E chega.

Se quiserem saber mais, leiam o calhamaço.

Para mim, chega!

Confesso que fui avançando no livro com curiosidade. Murakami tem uma escrita fluida e fácil, que nos prende. No entanto, a partir de uma certa altura, a coisa começou a parecer-me demasiado disparatada.

Não sei se terei pachorra para ler outro livro de Murakami…

“A Rapariga que Inventou um Sonho”, de Haruki Murakami

—Confesso que resisti muito tempo a ler este livro que me ofereceram, porque sempre desconfiei de unanimidades – e não há dúvida que Murakami tem uma opinião favorável quase unânime, por parte dos jornais e revistas, e cada livro seu que sai é um acontecimento, enchendo-se as livrarias de pilhas de livros, que se vendem a bom ritmo.

E tenho um bocado essa mania de não ir em modas, razão pela qual nunca tinha lido nada de Murakami.

Admito que fiquei agradavelmente surpreendido, embora ainda não esteja completamente rendido.

—“A Rapariga que Inventou um Sonho” é uma colectânea de contos, publicados entre 1981 e 2005. São 24 histórias para todos os gostos, umas realistas, outras surrealistas ou fantásticas, mas todas com uma linguagem tão simples e directa que quase roça a vulgaridade.

Murakami usa e abusa de frases feitas, partindo do princípio que a tradutora (Maria João Lourenço) adapta esses lugares comuns í  língua portuguesa. Com efeito, tropeçamos constantemente em frases como: “nem nada que se pareça”, “tinha perfeita consciência”, “muita água correu debaixo das pontes”, “unha com carne”, “cabeça í  banda”, “trocar galhardetes”, etc, etc.

As histórias de Murakami são simples e, a maior parte das vezes, não têm um final, mas a narrativa tem um “não sei quê” que nos agarra e nos obriga a continuar, í  procura de um desenlace.

Um bom exemplo é o conto intitulado “Onde é mais provável que a encontre”. Uma mulher contrata um suposto detective para encontrar o seu marido, que terá desaparecido, certo dia, entre o 24º e o 26º andar do prédio onde viviam.

O suposto detective vai inspecionar o prédio e fica espantado com a escadaria larga e bem iluminada e começa a passar ali os dias, subindo e descendo e conhecendo alguns inquilinos curiosos do dito prédio, com quem tem diálogos banais. A certa altura, a mulher que o contratou telefona-lhe a dizer que o marido tinha sido encontrado numa cidade distante. E pronto.

Curioso, também, o conto intitulado “O macaco de Shinagwa”, que conta a história de uma mulher que se esquece, de vez em quando, do seu próprio nome.

Claro que já comprei um dos romances do Murakami, para ver se fico mesmo adepto…