Champí´ de polvo

O inefável Diário de Notícias informa que começou ontem, no Porto, o julgamento do século.

Trata-se do caso do facínora que, em fevereiro do ano passado, teve a ousadia de entrar, de rompante, no Pingo Doce, da Praça Afonso V, na Invicta, e tentar roubar uma embalagem de champí´ e outra de polvo.

Felizmente, o sevandija não conseguiu efectivar o seu hediondo crime, graças í  rápida e eficaz actuação do segurança, que conseguiu apanhá-lo em flagrante.

Por esse motivo, o benemérito holandês Alexandre Soares do Santos, pí´de reaver uma embalagem de champí´ e outra de polvo, evitando um desfalque de 25 euros e 66 centimos.

A notícia não explica que estranhas e sórdidas cenas o miserável pretenderia executar com polvo e champí´, mas podemos imaginar algo de sexualmente sinistro…

O palerma do advogado do criminoso, ainda teve a ousadia de dizer que os tribunais portugueses estão atulhados com processos destes, verdadeiras bagatelas, e protestou pelo facto do Pingo Doce não ter desistido do processo.

Vê-se mesmo que este advogado não faz compras no Pingo Doce e não percebe que é graças a esta atitude que eles têm “os preços sempre baixos”…

 

O caso da ré fofinha

Esta história é tão inacreditável que me sinto obrigado a fazer uma declaração solene.

E essa declaração é: o que eu vou contar é verdade!

O Conselho Superior de Magistratura decidiu aposentar compulsivamente um juiz da Covilhã que, para além de ter centenas de processos em atraso, ainda tinha o desplante de usar termos menos próprios, em pleno tribunal.

Por exemplo, segundo o Boletim do Conselho, o juiz teria dito, no final de um julgamento, “está absolvida a ré fofinha”.

Ora, não é aceitável que um juiz classifique de “fofinha” qualquer ré, por mais jeitosa que seja.

Se a ré for feiosa, malpronta, desajeitada, será que o juiz diria: “está absolvida o estafermo da ré”?

Ou ainda: será que o juiz absolveu a ré por ela ser fofinha?

Em resumo: fez muito bem, o Conselho Superior de Magistratura, em reformar compulsivamente o dito juiz.

Ou não?

O Público hoje revela que, afinal, o que o juiz disse foi: “foi absolvida a ré Fofinha”.

E, neste caso, o éfe capital, é importantíssimo.

É que a ré era, com efeito, uma empresa – Fofinha – Fios e Tecidos, Ld.

Portugal no seu melhor!…

Milagres

Telejornal da Sic:

Um homem, numa igreja, em Espanha, deu um tiro na cabeça de uma mulher grávida em fim de tempo. Inopinadamente. A seguir, meteu o cano da pistola na boca e suicidou-se.

A emergência médica chegou, confirmou o óbito da grávida, fez uma cesariana e o bebé nasceu, saudável.

A jornalista, dando voz aos crentes que estavam na igreja e que assistiram í  cena, diz que todos concordaram que se tratou de um milagre.

O que foi milagre – a morte da mãe ou o nascimento do filho?

Deus estava distraído, no momento em que o homem deu o tiro na cabeça da grávida e depois, para compensar, ajudou os médicos a salvarem a criança?

Notícia seguinte:

Na Austrália, um ultra-leve chocou contra uma roda gigante de um feira. Os dois ocupantes da aeronave e duas crianças de 9 e 11 anos ficaram encarcerados e o salvamento de todos demorou horas.

Novamente, a jornalista (não posso afirmar se foi a mesma), diz que houve milagre.

Se calhar, Deus estava ocupado a salvar estas quatro pessoas na Austrália, distraiu-se e, quando deu por isso, já o louco tinha morto a grávida e Nosso Senhor só foi a tempo de salvar a criança…

Mas milagre a sério é esta outra notícia:

Em Portugal, cerca de 500 médicos já mortos, continuam a figurar nos registos oficiais e alguns deles ainda passam receitas!

Isto sim, é um milagre do caraças!

Wright under our beards

O simpático sr. Jorge dos Santos, de 68 anos e um sotaque engraçado, era afinal um foragido procurado pelo FBI há 40 anos.

Vivendo tranquilamente numa pequena localidade de Sintra, o sr. Jorge, isto é, George Wright, não era apenas o vizinho prestável, mas sim um tipo condenado a 30 anos de cadeia,nos EUA, nos anos 70 do século passado, depois de ter assaltado um banco, morto um homem, desviado um avião que ia de Miami para Detroit, sequestrado os seus passageiros, conseguindo um resgate de um milhão de dólares.

Mascarado de padre, e com uma arma escondida na Bíblia, Wright conseguiu desviar o avião para a Argélia. Os seus cúmplices fugiram para Paris, onde acabaram por ser presos, mas ele decidiu ir para a Guiné-Bissau. Aí, casou com uma portuguesa e acabou por vir viver para Portugal.

Qual o espanto?

Depois do BPN e do buraco da Madeira, como é possível que ainda nos espantemos por termos bandidos a viver tranquilamente, mesmo debaixo das nossas barbas?

Programas da manhã

Programas da manhã das televisões.

Não vejo, felizmente.

Diariamente, no restaurante onde almoçamos, fico sentado de frente para a televisão muda e leio os rodapés: “grávida dormia com o tio da prima”, “tentou salvar a tia e ficou queimado”, “foi violada por um marreco de raça negra”, “comeu fruta estragada e teve trigémeos”.

Sorrio, encolho os ombros e dedico-me ao almoço, sempre saboroso. Obrigado, Tucha!

Mas há um personagem que me deixa ficar sempre incomodado. Não me lembrava do nome da criatura, mas fui procurar no site da Sic e descobri que se chama Hernani Carvalho.

Diz que é jornalista, penso que já trabalhou na TVI, mas agora está na Sic… e é um especialista!…

Caramba, que especialista do caraças!

Enquanto devoro o almoço, vou deitando o rabo do olho para o televisor e vejo o homem a gesticular, sempre de cenho cerrado. Ele parece ser assertivo, ter a certeza de tudo e ter uma palavra definitiva para dizer sobre tudo, desde o caso da moça violada quando regressava a casa, até ao tipo que disparou a espingarda sem querer e matou o amigo.

Hoje, de férias, “apanhei” o tal Hernani ao vivo, isto é, com som, cá em casa, mais uma vez, enquanto almoçava, um excelente curry de frango, preparado pela Mila, em honra de um outro que comemos em Tromso, em Junho.

Pois lá estava o Hernani a cagar sentenças, desta vez, sobre a Sónia Frazão, personagem que eu só passei a conhecer depois da dita ter feito explodir o seu próprio apartamento.

Apanhei a coisa a meio, mas o especialista criminal (!) dizia qualquer coisa sobre doença celíaca e neuro-transmissores e tinha um careca ao seu lado, que parece que também era especialista (eles são todos especialistas!…)

Gritei um palavrão e mudei para a RTP-1 e dei com o bispo Manuel Martins, um velhinho muito bem conservado, com as unhas arranjadinhas, o anelinho na mão direita, os ésses sibilantes, perorando sobre o mundo e os seus pecados!

O velhinho estava contra as telenovelas e dizia que não percebia como é que as famílias não faziam uma revolução contra as telenovelas!

Porra!

O Hernani na 3, o bispo na 1… nem fui ver a 4!

Com programas da manhã destes, não admira que a malta continue um pouco estúpida…

Morrer no caminho

Mais um SAP que vai fechar durante a noite, em Vendas Novas .

A população protesta. Faz uma vigília í  porta do Centro de Saúde.

Dizem que Montemor-o-Novo fica muito longe. “Vamos morrer no caminho!”, lamentam.

(Note-se que são cerca de 26 km de distância entre as duas localidades).

Preferiam morrer na sua terra, o que é natural… Sim, porque um venda-novense com um enfarto que vá ao SAP de Venda Nova tem muitas probabilidades de morrer ali mesmo…

Morrer no caminho… é este o destino dos portugueses…

Afinal, não somos um país de merda?

Todos os dias há uma surpresa.

Ontem, descobri que era rico.

Hoje descobri que, afinal, Portugal não é um país de merda!

Soube-se hoje que Sílvio Berlusconi, falando ao telefone com um amigo, disse:

«Daqui a uns meses vou-me embora… Vou-me embora deste país de merda que me dá náuseas!»

Portanto, afinal, Itália é que é um país de merda!

Portugal… nem isso…

“Os Portugueses”, de Barry Hatton

—Barry Haton nasceu em Inglaterra, em 1963, mudou-se para Portugal em 1986, tornou-se correspondente da United Press Internacional, em Lisboa, em 1992 e é correspondente da Associated Press, desde 1997, cobrindo toda a actualidade portuguesa.

Trata-se, portanto, de um jornalista estrangeiro que decidiu estudar Portugal e os portugueses e relatar as suas conclusões neste livro, que não deixa de ser curioso.

Achei, sobretudo, que Haton conseguiu fazer um resumo muito bem feito da História do nosso país e que poderia ajudar muitos dos meus compatriotas a conhecer e perceber os acontecimentos históricos que nos marcaram.

Pena é que, aqui e ali, a língua portuguesa traia o jornalista britânico. Pena, também, que ninguém da editora tenha reparado nesses pequenos erros.

Só dois exemplos.

Na página 131: «(Antero de Quental) iniciou uma brilhante digressão que permaneceria como um dos mais famosos discursos da história portuguesa» – não será “dissertação”, em vez de “digressão”?

Na página 171: «dezenas de milhar de pessoas (…) saíram para o aclamar (a Humberto Delgado) num electrificante comício de campanha no Porto» – não será “electrizante” em vez de “electrificante”?

Passando por cima dessas minudências, o livro lê-se muito bem e é um retrato certeiro de nós todos, com recurso a abundantes citações, desde Mark Twain a Fernando Pessoa.

De Balocas até Valpaços

O telejornal da Sic está a transformar-se, a pouco e pouco, num excelente programa humorístico.

Depois da história do roubo do Pilinhas, hoje tivemos direito a uma excelente reportagem sobre dois padres.

O primeiro padre é de Balocas, uma localidade do concelho de Seia.

Pois o senhor prior recusou-se a dizer missa durante as festas da aldeia, porque as mesmas eram abrilhantadas por um artista pimba, chamado Gabriel (?), acompanhado por duas bailarinas, “duas putas”, na opinião do pároco.

O segundo padre é o de Valpaços, que se recusou a dar a hóstia a uma menina, porque ela usava um decote que ele considerou indecoroso.

A repórter entrevista a menina í  porta da igreja. A moça, com ar cândido, responde com os olhos postos no chão e exibe o tal decote, que deixa entrever dois milímetros dos seus seios púberes.

E, com os ésses sibilantes da beira, explica:

“O xenhor prior levantou a hóstia ainda maij alta e eu, como não chegava lá, voltei para o banco!”.

Coitadinha!…

Com a hóstia tão alta, como podia ela abocanhá-la?!

Xenhor! Por que obrigaich ach mí´chas a tão durach provachões?…

E a moça acrescentou que, depois, ao ver que ela olhava para ele, o eclesiástico exclamou, alto e bom som:

“Não me olhech com eches olhoch!”

Impagável!

Estas reportagens da Sic fazem mais mal í  nossa dívida soberana do que o governo de Passos Coelho!

O revólver e o pilinhas

De palito na mão, franze o sobrolho, com ar entendido e explica que o homem estava sentado na esplanada quando o outro apareceu e deu-lhe um tiro de raspão na cabeça. E não lhe deu logo outro tiro porque a arma se encravou.

“Não sei se era uma pistola ou era um revólver, mas parece-me que era uma pistola, porque um revólver não encrava!” concluiu, triunfante.

Tudo se passou em Mação. Um agente da GNR, de folga, estava sentado numa esplanada, com amigos, quando outro homem, com cerca de 80 anos, ex-agente da autoridade, surgiu e disparou três tiros, atingindo o GNR.

O corajoso repórter, explicou-nos que os dois homens tinham problemas antigos por resolver e que o baleado, depois do segundo tiro, fugiu e, quando levou o terceiro tiro, caiu num descampado (a imagem mostra-nos um baldio com tranquilas ovelhas pastando…). Foi aí que foi assistido.

Claro que este acontecimento em Mação, não se compara com a catástrofe ocorrida em Oliveira de Azeméis: roubaram o Pilinhas!

O Pilinhas é uma estátua de bronze, de 1930, representando uma criança, de pilinha alçada, no cimo de um paralelepípedo, que é uma fonte. Estava há 80 anos num jardim de Oliveira de Azeméis. Estava, mas já não está, por alguém roubou o Pilinhas.

Como disse o Presidente da Câmara, as autoridades têm que fazer alguma coisa, caso contrário, começará a desaparecer o nosso património.

Hoje, o Pilinhas de Oliveira de Azeméis, amanhã, o Mosteiro dos Jerónimos!

Estas foram duas intrépidas reportagens que passaram no telejornal da Sic de hoje.

I rest my case!