Volta Passos Coelho, estás perdoado!

Tantas saudades!

Saudades de quando os professores davam aulas todos os dias e aceitavam prescindir de 10% dos salários, do subsídio de natal e do subsídio de férias, tudo para agradar à troika, como tu pediste!

Saudades dos comboios sempre a rolar, com os maquinistas felizes por estarem a ajudar o país a sair da bancarrota!

Saudades das urgências hospitalares quase vazias e dos médicos do privado a regressarem ao SNS, trazendo consigo os enfermeiros!

Saudades das casas para alugar a preços acessíveis, sobretudo aquelas casas para jovens, praticamente de graça!

Saudades dos impostos cada vez mais baixos, que nos deixavam margem para gastarmos dinheiro em marisco e outras loucuras!

E saudades do irrevogável Paulo Portas!

Diz-me que voltas, Passos, mas traz o Portas contigo! Mas avisa antes para ter tempo para fazer as malas e raspar-me daqui para fora!

Coisas da democracia

Três notícias na edição de hoje de o Público, fazem-nos pensar um pouco sobre o valor das democracias.

Em Portugal, a nova secretária de estado do Tesouro foi demitida depois de ter recebido meio milhão de euros de indemnização por ter sido despedida da TAP.

Faltavam-lhe dois anos de contrato, tal como a Fernando Santos, o selecionador nacional de futebol que, no entanto, recebeu 3,5 milhões de indemnização.

Percebe-se a diferença: Santos ganhou um campeonato da Europa, enquanto Alexandra Reis, a secretária de Estado, não ganhou coisa nenhuma – a não ser a tal indemnização.

Nos Estados Unidos, o congressista republicano George Santos admitiu que mentiu sobre a sua formação académica e o seu histórico profissional durante a campanha para as eleições intercalares de novembro.

Santos é adepto de Trump e afirmou que não é criminoso; acrescentou: “o meu pecado foi ter enfeitado o meu currículo. Peço desculpa. Fazemos coisas estúpidas na vida”. Mesmo assim, pretende tomar posse como congressista.

Em Israel, o Parlamento aprovou duas leis que poderão permitir que os políticos passem a ter um poder quase absoluto e em que as mulheres, homossexuais, estrangeiros, ou até judeus não ortodoxos, possam perder direitos.

Um dessas alterações torna possível que políticos condenados por crimes graves como corrupção, possam ser ministros.

São coisas da democracia – o pior regime político, mas o único que é aceitável…

Estou a ficar farto do Montenegro e do Toy

Continuo a ter este nefasto hábito de ler jornais e ver telejornais.

É um vício, eu sei.

Está pior desde que deixei de fumar, já lá vão 15 anos!

Agora, aposentado, leio os jornais de fio a pavio (quase leio a necrologia) e vejo os telejornais das 7, das 13 e das 20 horas.

Não tenho desculpa!

Começo, no entanto, a ficar enjoado. Sobretudo dos telejornais.

Sobretudo por causa de duas criaturas que aparecem todos os dias em todos os telejornais.

Falo do novo líder do PSD, Luís Montenegro, e do cantor Toy.

O cantor Toy, responsável por versos tão lindos como “põe a cerveja no congelador e vamos fazer amor”, aparece antes de todos os telejornais, num spot publicitário do Intermaché. Ele canta, toca guitarra, atira-se para uma piscina e diz, sem se rir, “não há nada melhor do que um Intermarché para frequentar”.

Antes do telejornal das 7 da manhã, mal o oiço porque ainda estou a acordar; antes do telejornal das 13, deixa-me mal-disposto; antes do telejornal das 20, já estou disposto a atirar com o chinelo ao écran.

Quanto a Luís Montenegro, a coisa ainda é pior.

As cantigas do Toy, por muito irritantes que sejam, entram por um ouvido e saem por outro – agora, a cantiga do Montecoiso é bem outra.

Todos os dias surge no écran a dizer qualquer coisa, sempre com aquele sorriso safardana. Quem o pode levar a sério?

Por exemplo, em relação aos problemas do SNS, diz Montecoiso que ele só melhorará quando o PS reconhecer desinvestimento histórico. Ora, sabendo que até 2015, com Passos Coelho como 1º ministro, Paulo Macedo como ministro da Saúde e Montecoiso como líder da bancada do PSD, o SNS sofreu um desinvestimento de 825 milhões de euros e que, desde que o Costa é primeiro ministro, e a Marta Temido, ministra da Saúde, o SNS já recebeu mais 3 mil milhões de investimento, só podemos concluir que o homem anda a gozar connosco.

Claro que o SNS está a atravessar um momento difícil, mas ainda se há de fazer a história desta súbita falta de médicos nas urgências. Lembram-se quando as pessoas foram para as janelas aplaudir os profissionais de saúde, felicitando-os pelo modo como estavam a enfrentar a pandemia? Não foi assim há muito tempo. Onde estão agora esses médicos e esses enfermeiros?

Em resumo, com o Toy a abrir os telejornais, com aquela barriguinha a balançar, e o Montenegro a botar faladura, com aquele sorriso sacana, estou a ficar cada vez mais bizarro.

Qualquer dia, qualquer dia…

Parece que,a final, o PS perdeu

Curioso como a generalidade dos comentadores consegue fazer crer que, afinal, o PS não ganhou as eleições ou, no caso de ter ganho, foi por mera sorte.

De todos esses comentadores, destaco um, chamado João Miguel Tavares, mas poderia referir muitos outros que, dias antes das eleições, garantiram que António Costa estava derrotado, cansado, desgastado, perdido.

Depois, o PS conseguiu a maioria absoluta e esses mesmos comentadores, das duas, uma: ou fizeram de conta que nada tinha acontecido, ou desataram a inventar histórias para depreciar essa vitória.

Clara Ferreira Alves foi uma das que, nas vésperas das eleições garantiu que Costa estava nas lonas. Hoje, na primeira edição do Expresso após as eleições, CFA chamou à sua crónica semanal “Um Portugal Triste” – mas não fala nas eleições; ignora-as, falando no envelhecimento do país e na baixa natalidade. Pois…

Quanto a JMT, escreveu esta semana duas crónicas inacreditáveis.

Na primeira, JMT explica que “a forma como esta maioria absoluta foi atingida é mais milagrosa do que a chegada de Costa ao governo em 2015, após perder as eleições”. E acrescenta que esta maioria absoluta “exigiu uma conjugação de factores só ao alcance dos raros políticos que nasceram de rabo virado para a lua”.

Portanto, o PS obteve a maioria absoluta por sorte e por milagre.

Na segunda crónica, JMT diz-nos que estamos enganados se pensamos que Costa “ganhou em toda a linha. Não ganhou. O PS perdeu muitos votos à direita, nomeadamente para Rui Rio.”

E JMT faz umas contas mirabolantes para tentar demonstrar que, afinal, apesar de ter ganho com maioria absoluta, o que é certo é que o PS perdeu muitos votos e que, portanto, é muito capaz de ter perdido as eleições.

JMT tenta torturar os números para que eles confirmem as suas ideias. Pior que isso só o comentário da vice-presidente do PSD, Isabel Meirelles que, quando lhe perguntaram o que falhou na estratégia eleitoral do seu partido, respondeu com esta frase lapidar: “o que falhou foi o povo português”.

Uma campanha alérgica

O chefe do PSD, Rui Rio, a percutir um bombo, perante o sorriso alarve de um apaniguado, que grita PSD! PSD!, conseguindo abafar o ruído do bombo.

A líder do PAN a visitar um canil e a ser lambida por cãezinhos.

O brilhantinas da IL, com uma barriguinha liberal, a jogar futebol de praia.

O futuro ex-primeiro-ministro Costa, a dançar o vira, em Viana do Castelo.

O candidato facho vestido de camuflado a prometer pensões aos ex-combatentes e que vai acabar com todas as portagens.

O rapazito do CDS a beber vinho por uma malga em Ponte de Lima.

O substituto da CDU, qual matraca, a fazer lembrar o Cunhal.

A Caratina, a convidar o Costa para uma reunião, no dia após o Bloco ganhar as eleições.

O esforçado líder do Livre, a caminhar na serra de Carnaxide, com três militantes em fila indiana.

Arruadas, visitas a feiras e mercados, comícios, entrega de panfletos, oferta de canetas.

A campanha eleitoral continua igual, quase 50 anos depois do 25 de abril.

Ninguém faz diferente.

Alguém muda de opinião quando vê passar a caravana deste ou daquele partido, alguém deixa de estar indeciso porque lhe oferecem uma caneta na Feira lá da vila, alguém muda o seu sentido de voto depois de ler o panfleto, alguém vê o tempo de antena na televisão?

Que o PS, o PSD, a CDU, o CDS e até o Bloco mantivessem o figurino das campanhas, ainda se percebia – é difícil mudar. Mas os partidos mais recentes continuam a fazer tudo da mesma maneira.

O meu voto está decidido há muito e não é a campanha que o vai mudar, mas gostaria de assistir a algo de diferente.

Talvez a próxima campanha seja mais inovadora… daqui a dois anos, não?…

Por este Rio abaixo

Rui Rio já deu tantos tiros nos pés que deve ter as meias todas cheias de buracos e os pés em sangue.

Agora, escreveu no Twitter que a detenção do João Rendeiro, na África do Sul, só foi possível porque vai haver eleições e desse modo, o director da Polícia Judiciária favoreceu o PS.

Claro que Rio não disse exactamente isso.

O presidente do PSD esclareceu em bombástica entrevista na RTP que o que ele critica é o facto do director da PJ ter aparecido em todas as televisões a fazer um foguetório, uma vez que não tem o dom da ubiquidade, porque esteve, simultaneamente na RTP e na SIC, é evidente que uma das declarações teve que ser gravada, para além do facto de quem prendeu o Rendeiro foi a polícia sul africana e não a PJ portuguesa e como o director da PJ foi nomeado pelo PS, é evidente que tudo isto favoreceu indirectamente o PS e, portanto, se o PS ganhar as eleições em janeiro, já sabemos que foi por causa destes foguetes que o director da PJ andou a amandar para o ar, e, ao fim e ao cabo, ninguém percebeu a ironia do Rio.

Rui Rio diz que aquilo que escreveu no Twitter é uma ironia.

Ora, sabendo que os dicionários dizem que ironia significa forma de humor que consiste em dizer o contrário daquilo que se pretende dar a entender, parece que, afinal, o líder do PSD queria dizer exactamente o oposto do que disse – ou não?…

Confusos?

O problema é que Rui Rio é um incompreendido. O seu sentido de humor é tão fino, tão fino que a gente passa por ele sem dar por isso…

Que Zeus nos livre de o ter como primeiro-ministro!

As venturas de André

O pasquim Nascer do Sol dedica hoje seis páginas seis a uma entrevista ao líder do Chunga. São 71 perguntas que Vitor Raínho e Joana Mourão Carvalho fazem à criatura, enquanto Bruno Gonçalves é o autor das fotos. Numa delas, o Querido Líder surge de gravata azul e mãozinhas entrelaçadas, com um sorrisinho beatífico.

Longe de mim ler a entrevista – teria pesadelos esta noite, certamente. Li só as gordas. E já chunga!

O título da entrevista é “Se fosse líder do PSD tinha maioria absoluta”, que é como quem diz “Se cá nevasse fazia-se cá ski”.

Como o Querido Líder, recentemente, adoptou o lema “Deus, Pátria, Família e Trabalho”, a conversa descambou para Salazar. Diz ele que “nem Salazar foi tão mau como se diz, nem Soares foi tão bom como dizem”.

Pois claro… se repararmos bem, Salazar até foi bonzinho, embora agora não me lembre de nada em concreto.

Mas o André não quer confusões e diz que “ao contrário do Presidente da República, nunca escrevi nenhuma carta a Salazar quando era pequeno”.

Ora aqui está uma revelação extraordinária. Sabendo que Salazar morreu em 1970 e que o Andrézinho só nasceu 13 anos depois, seria difícil que o tipo conseguisse escrever uma carta ao ditador. O homem até acrescenta que “ele (Salazar) nunca esteve na minha casa.” Ingrato!

Mas a criatura tem algum sentido de humor. Nota-se isso quando diz, por exemplo, “acho que Sá Carneiro hoje seria do Chunga”.

Sobre ele próprio diz: “sou um animal de palco”.

Temos que avisar a Protectora…

Expressamente à direita

Claro que não estou espantado, mas o semanário Expresso, antigamente, disfarçava melhor.

Agora, perdeu a vergonha toda e está totalmente ao serviço da direita.

Começa logo no editorial do seu director João Vieira Pereira que diz, por exemplo, que “esta extrema-esquerda”… “venderam a ideia de que vinham como heróis salvar-nos da troika que nos tinha tornado mais pobres, quando na realidade trabalharam para voltar ao pré-2011, aos anos que nos levaram à estagnação económica e à bancarrota”.

Portanto o primeiro super-avit da democracia e o crescimento acima da média da União Europeia nunca existiram.

Todo o editorial de JVP é um manifesto anti-esquerda. É a opinião do homem, pronto.

Mas o resto do jornal é o que se vê.

Toda a página 5 é ocupada com o habitual despacho do presidente: “Marcelo quer compromisso sólido para pelo menos dois anos”.

Não chega o Marcelo fazer conferências de imprensa praticamente diárias, ainda tem o seu órgão oficial todos os sábados.

As páginas 6 e 7 são ocupadas com a zanga das comadres do PSD.

O título é “Rio e Rangel não baixam armas”. No topo das páginas, uma foto dos dois candidatos a líderes e, para além do texto com o título já citado, há dois outros intitulados “Candidatos sem tempo para detalhar programa” e “Só Cavaco teve sucesso rápido em eleições, mas com mais tempo”.

Parece que estamos a ler um exemplar do Povo Livre, órgão oficial do PSD.

Nas páginas 8 e 9, duas páginas dedicadas à Direita – como se as outras também o não fossem.

Para além de uma ilustração representando os 4 partidos de Direita (PSD, IL, CDS e CH), podemos ler (salvo seja), os seguintes artigos: “A minha legitimidade só se coloca na cabeça de quem nunca a aceitou”, diz Mota Soares, do CDS; “Na prateleira da Direita, quem compra CDS?”; “Chicão: O PP dos que querem subir a pulso”; “Nuno Melo: regenerar para voltar a ser últil”; e “Chega está capturado pelo sistema”, diz um fulano que se vai candidatar contra o Ventura.

Acham que já chega de Direita?

Ainda não.

Mas quem é que falta?

A Iniciativa Liberal, claro.

Vem logo na página seguinte. Toda a página 10 está preenchida com uma entrevista ao Cotrim Figueiredo.

Quanto ao PS, merece apenas um terço da página 12, com o título “PS: ordem para acalmar contra a esquerda”.

Assim vai o jornalismo “independente” do Expresso.

O Coiso há 22 anos na net

Foi no dia 1 de novembro de 1999 que O Coiso penetrou na net.

Nessa altura, era uma página praticamente feita à mão, que pode ser consultada no Velho Coiso.

Com mais de 2400 posts, O Coiso vai resistindo, embora com menos vigor.

Noutra altura, aproveitaria a actual crise política para escrever textos a propósito, mas, sinceramente, falta-me a paciência.

Que dizer, por exemplo, da agonia do CDS?

Quando era jornalista, fui destacado para a conferência de imprensa em que foi feito o anúncio da fundação desse partido centrista, com a presença de Freitas do Amaral. Foi em julho de 1974 e, nessa altura, ninguém era de direita.

Depois, a pouco e pouco, o Centro Democrático Social, foi resvalando para a direita, se é que alguma vez foi do centro.

Já lhe chamaram o partido do táxi, porque todos os seus deputados cabiam num. Qualquer dia, passará a ser o partido da trotinete, com o Chiquinho ao volante.

E que dizer do professor Marcelo que, de tanto querer que o Orçamento fosse aprovado, começou logo a empurrar todos para eleições antecipadas?

Com estupefacção, vimos o presidente sair do Palácio de Belém e dirigir-se a uma caixa multibanco para pagar uma conta, com os jornalistas a correrem atrás dele.

Será que o homem desconhece a página online do seu Banco?

E que dizer do PSD, o habitual saco de gatos que nunca consegue uma liderança estável?

Procurem na net: são 18 presidentes em 47 anos, o que dá uma média de 2,6 anos para cada presidente. Ora, sabendo que Rui Rio é presidente desde fevereiro de 2018, podemos declarar que o homem já ultrapassou a barreira do som, com 3 anos e 9 meses à frente do PSD.

Mas o PSD range por todos os lados, a começar pelo lado do Rangel, que poderá vir a ser o 19º presidente e teremos que levar com a sua voz metálica e absolutamente irritante durante, pelos menos, mais 2 anos e 6 meses, até que apareça outro presidente.

E que dizer dos partidos de esquerda?

Desses ainda me apetece falar menos.

O PS ora é considerado um partido de esquerda, ora é o principal alvo do PCP e do Bloco.

O PCP decidiu voltar às origens.

O Bloco talvez esperasse que o PC se abstivesse.

De qualquer maneira, não se entenderam e, agora, culpam-se uns aos outros, mas, o que é certo, é que a porta ficou escancarada para a direita.

Esperemos que a direita não dê com a porta…

Nota – O Coiso foi um jornal completamente desmiolado que se publicou durante 12 semanas, em 1975; era impresso no velho jornal República e tinha, entre os seus criadores e colaboradores, eu próprio, o Álvaro Belo Marques, o Ruy Lemus, o José António Pinheiro, o Carlos Barradas e o velho Mário-Henrique Leiria.