“North Country”, de Niki Caro

—Em 1989, as minas do Minnesota foram obrigadas pelo Supremo Tribunal a contratar mulheres e não é que contrataram logo a Charlize Theron?…

“North Country” é um filme baseado numa história verídica. Charlize faz o papel de Josey Aimes, mãe solteira de dois filhos, um de cada pai, e com fama de ser estouvada e danada para a brincadeira.

Assim, quando decide empregar-se nas minas, é alvo de provocações diárias, por parte dos mineiros todos e nem consegue a solidariedade das restantes mulheres, meia-dúzia de mães de família que não querem perder o emprego. A única que a apoia é uma delegada sindical (Frances McDormand), que acaba vítima de esclerose múltipla.

Afinal, acabamos por descobrir que Josey foi violada por um professor e a única testemunha, o seu primeiro namorado, nada fez para a ajudar e é agora um dos mineiros que mais a provoca.

O assunto é sério mas, sinceramente, ver a Charlize vestida de mineira, com capacete e tudo, tira a seriedade í  coisa e faz com que comecemos, também nós, a mandar umas bocas machistas, armados em mineiros do Minnesota.

E a coisa acaba por saber a soap opera…

“Memoirs of a Geisha”, de Rob Marshall

—Se em “Love in the time of cholera” temos actores espanhóis, italianos e brasileiros a falar inglês com sotaque colombiano, neste filme a coisa ainda é mais complicada: temos actores chineses, a fazer de conta que são japoneses e a falar inglês com sotaque de Osaka (ou será de Hokaido?).

Tirando este “pequeno” pormenor, “Memoirs of a Geisha” é bonito e quase que faz chorar as pedras da calçada. Conta-nos a história de Sayuri, desde que foi vendida pelo pai, um pobre pescador í  beira de ficar viúvo, até se tornar na mais famosa e aclamada gueixa do Japão e arredores, nos tempos da 2ª Guerra Mundial.

Este percurso que, no filme, dura mais de duas horas, está cheio de ódios, invejas, ciúmes e sentimentos correlativos, vividos entre as gueixas, o que nos deixa um pouco perplexos, já que retrata uma realidade que nos é desconhecida. Será que é (era) exactamente assim – ou esta é a visão dos ocidentais, que dificilmente penetram noutras culturas, nomeadamente na japonesa, sempre tão fechada ao exterior.

“Love in Time of the Cholera”, de Mike Newell

—Não sei por que razão ainda não li este livro do Garcia Marquez , publicado em 1985 – e nem sequer o tenho. Mas a história tem, toda ela, a assinatura do escritor colombiano.

O filme, de 2007, é escorreito e Javier Bardem faz um excelente papel, ao contrário da menina Giovanna Mezzogiorno que, para além de ter um par de maminhas interessantes, poucos mais atributos tem, nomeadamente na área da representação.

A pobre da Giovanna é pouco convincente como Fermina Urbino, sobretudo quando a personagem já tem uma idade mais avançada, e as camadas de pó-de-arroz também não ajudam.

Pelo contrário, Bardem faz um Florentino Ariza que nos convence, um sonhador que, na impossibilidade de ter a sua primeira amada, vai coleccionando mulheres e anotando essas experiências com minúcia, ultrapassando as seis centenas.

Outra coisa que faz com que o filme não seja tão interessante como poderia ser é o facto de ser falado em inglês: Bardem é espanhol, Giovanna é italiana, a mãe de Florentino é uma actriz brasileira cujo nome me escapa – e todos eles falam um inglês com sotaque colombiano, o que se torna ridículo.

De qualquer modo, e graças í  história, é um bom entretenimento.

PS – Afinal, encontrei o livro e descobri que o li em 1989… Tenho que começar a tomar as gotas…

“Public Enemies”, de Michael Mann

—Johnny Depp é um actor sui-generis, capaz de encarnar personagens tão estranhas como o Eduardo Mãos-de-Tesoura ou o pirata das Caraíbas e, nos intervalos, vestir-se de John Dillinger e ser um duro clássico, ao estilo dos gangsters de Chicago.

Os norte-americanos, como não têm heróis com mais de 200 anos, do tipo da Deuladeu Martins, Joana d’Arc, D. Quixote ou Ivanhoe – para citar apenas quatro -, fazem filmes sobre bandidos que, nas décadas de 30-40, assombraram as ruas de Chicago.

Michael Mann é um realizador excessivo e gosta dos planos rodopiantes, com a câmara a rodar em volta do actor e, depois, a subir, até se obter um plano aéreo, mas esses truques não substituem a caracterização das personagens. É por isso que não se percebe muito bem que tipo de pessoa era Dillinger, a não ser que desprezava o futuro e que vivia só para o dia-a-dia. Por que se tornou gansgter, por que escolheu assaltar bancos, em vez de ter uma vida honesta, de simples empregado do McDonalds? Dillinger não tem densidade, como personagem.

Mas enfim – se eu quisesse densidade (e chatice!…) – tinha alugado um filme europeu…

“Zack and Miri Make a Porno”, de Kevin Smith

—Quem sabe inspirado no britânico “The Full Monty“, em que seis trabalhadores desempregados resolvem montar um espectáculo de strip-tease para angariar fundos, o argumento desta comédia conta-nos a história de Mark e Miri, que se conhecem desde a escola primária e partilham a mesma casa, embora nunca tenham partilhado a mesma cama.

Sem dinheiro, com a água a luz cortadas, decidem fazer um filme porno para tentar arranjar umas massas.

Esta ideia tão disparatada podia dar origem a um filme completamente idiota, do género das comédias para adolescentes tão ao gosto de alguns norte-americanos.

Mas não. O filme vê-se bem, o tipo que faz de Mark (Seth Rogen) tem graça, as situações são divertidas, sem serem demasiado escatológicas (excepto uma, enfim…) e até se conseguem alguns sorrisos.

Claro que não perderia uma tarde no cinema por causa disto, mas tolera-se.

(Participação especial de Traci Lords – quem se lembra dela?)

“Inglourious Basterds”

—Tarantino está em forma!

Estava um pouco desiludido com ele. Depois do inolvidável “Reservoir Dogs” e do inultrapassável “Pulp Fiction”, o díptico “Kill Bill” não me entusiasmou. As artes marciais não são o meu forte…

Em contrapartida, este “Inglouriou Basterds” é um entretenimento cinco estrelas, contendo todos os tiques geniais de Tarantino: os longos diálogos aparentemente sem sentido, a divisão da narrativa em capítulos, a banda sonora muito especial.

A primeira cena do filme dá logo o tom: Christoph Waltz, que faz um espantoso Coronel Hans Landa, conversa com um produtor de leite francês, í  mesa da sua modesta casa, sabendo que, por baixo, se esconde uma família de judeus. Lá fora, estão alguns soldados alemães, que aguardam a ordem do coronel para chacinarem os judeus, e as três jovens filhas do agricultor, virginais e cândidas. Não lhes acontece nada, mas Tarantino cria o ambiente de tal modo que nós estamos sempreÂ í  espera da maior desgraça.

Brad Pitt faz o papel do sargento Aldo Raine que, com o seu bando de “basterds” (fazendo lembrar “Dirty Dozen”), se entretém a matar nazis e a tirar-lhe os escalpes. Algumas cenas são citações dos westerns de Sérgio Leone, incluindo a banda sonora, a fazer lembrar “The Good, the Bad and the Ugly”.

Na cena final, ou quase, Hitler é metralhado, juntamente com todo o seu Estado-maior, o que fez com que a guerra tenha acabado naquele dia. O facto disso nunca ter acontecido não tem a menor importância.

Destaque para a figura criada por Brad Pitt mas, sobretudo, para a interpretação de Christoph Waltz. O tipo consegue que odiemos o coronel Landa e aprovemos a sua sanguinária morte.

(Eu sei que ele não morre no fim do filme – mas aprovamos, ou não, a sua sanguinária morte?)

“The Wrestler”, de Darren Aronofsky

wrestlerO wrestling não me diz nada, nunca fui capaz de ver um combate até ao fim, acho todo aquele folclore um pouco ridículo e, portanto, a minha expectativa era baixa, em relação a este filme.

No entanto, fiquei agradavelmente surpreendido. Mickey Rourke (nomeado para o óscar de melhor actor) faz um “underacting” de que gostei muito. Aliás, o filme é, todo ele, “low profile”, em contraste com os meios onde a acção se desenvolve: os ringues de wrestling e os bares de strip-tease.

Rourke faz o papel de um velho lutador, que tenta esconder a idade enchendo os músculos de anabolizantes e que tenta enganar a solidão com uma strip-teaser (Marisa Tomei, nomeada para óscar de melhor actriz secundária).

A fotografia mantém-se sombria, ao longo de todo o filme, Rourke nunca eleva a voz e tudo acaba mal, como devia.

Gostei.

“Frost/Nixon”, de Ron Howard

nixonAo contrário de “Milk”, este filme de Ron Howard conseguiu prender a minha atenção do princípio ao fim, apesar de abordar um episódio muito específico da história recente dos EUA, episódio que desconhecia em absoluto.

Já depois de ter resignado, Richard Nixon (Frank Langella) é convidado para uma entrevista por um entertainer de segunda categoria, David Frost (Michael Sheen), conhecido por apresentar programas de entretenimento muito superficiais.

Nixon exigiu 600 mil dólares pela entrevista e Frost tentou, em vão, encontrar quem o patrocinasse. Decidiu, então, avançar sozinho, como produtor independente e vender, depois, a entrevista í s grandes cadeias de televisão.

Com a ajuda de dois ou três assessores, conseguiu o que ninguém conseguira: levar Nixon a admitir que actuara com intenção no caso Watergate.

Com um bom ritmo e diálogos excelentes, este “Frost/Nixon” foi uma agradável surpresa.

“Milk”, de Gus Van Sant

milkSe eu disser que “Milk” não me aqueceu nem arrefeceu, posso ser acusado de homofobia, mas não é o caso.

Por qualquer razão, que não tem a ver com preconceitos, o filme não me tocou, como outros filmes sobre grupos específicos da sociedade, que são marginalizados.

Notável, de facto, a interpretação de Sean Penn, que lhe valeu, este ano, o óscar para melhor actor. O filme ganhou, ainda, o óscar para melhor argumento original e não se percebe bem porquê, uma vez que se “limita” a contar uma história verídica: a luta de Harvey Milk pela igualdade de direitos dos homossexuais.

A luta dos homossexuais norte-americanos pode ter sido (e ainda ser) uma luta digna da nossa solidariedade mas, neste filme, os poderosos inimigos dos gay são de tal modo caricaturados que o filme não conseguiu convencer-me.

“Doubt”, de John Patrick Shanley

duvidaMeryl Streep interpreta o papel de freira chefe, mázona, na Saint Nicholas Church School e foi nomeada pela enésima vez para o óscar de melhor actriz.

Philip Seymour Hoffman é o padre Flynn e foi nomeado para o óscar de melhor actor.

Amy Adams é a freira boazinha, professora de História e Viola Davis é  mãe do único aluno de raça negra – ambas foram nomeadas para o óscar de melhor actriz secundária.

Shanley adaptou para o cinema a peça de teatro que ele próprio escreveu e levou í  cena em 2004 e foi nomeado para o óscar de melhor argumento adaptado.

E apesar destas 5 nomeações, não posso dizer que o filme me tenha tocado.

Será que o padre Flynn é pedófilo, sentou o miúdo negro no colo e o acariciou, enquanto lhe lia a Bíblia?

Who cares?

Claro que a Streep é boa actriz, claro que o Hoffman é capaz de ser bom atrás, mas não chega para prender a minha atenção.