“Um Artista do Mundo Flutuante”, de Kazuo Ishiguro (1986)

Muito curioso este romance do Prémio Nobel de 2017.

Conhecido, sobretudo, pela obra Os Despojos do Dia, com a qual ganhou o Man Booker Prize de 1989, Kazuo Ishiguro (Nagasaki, Japão, 1954), conta-nos a história de um pintor profissional, especialista em pinturas do chamado mundo flutuante, o mundo das gueixas e dos locais de diversão nocturna, muito em voga no Japão de antes da 2ª Grande Guerra.

Ono é um pintor na reforma, viúvo e com duas filhas adultas; perdeu o filho na guerra e a mulher, num bombardeamento.

Antes da guerra, Ono era um defensor do Japão antigo, imperial, estanque às influências ocidentais. Foi com esse espírito que apoiou a entrada do país na guerra.

No entanto, com a derrota e rendição do Japão, Ono vê o seu país, as suas filhas, os seus genros e até o seu único neto, de 8 anos, cada vez mais adeptos de um novo país, virado para o exterior, adoptando, de certo modo, o american way of life, embora com algumas diferenças. Até o seu neto elege como heróis Popeye e outros personagens da banda desenhada norte-americana.

A filha mais nova está preste a casar-se mas Ono teme que o seu passado possa influenciar as negociações para o casamento – até porque o Japão pode estar a ocidentalizar-se, mas ainda continua com tiques do passado, nomeadamente no que respeita ao modo como os casamentos são negociados entre as famílias dos noivos, com recurso a detectives que pesquisam a existência de “podres” no passado das ditas famílias.

A acção do livro decorre entre 1948 e 1950 e a narrativa é comovente.

Vale a pena ler.

“Memoirs of a Geisha”, de Rob Marshall

Se em “Love in the time of cholera” temos actores espanhóis, italianos e brasileiros a falar inglês com sotaque colombiano, neste filme a coisa ainda é mais complicada: temos actores chineses, a fazer de conta que são japoneses e a falar inglês com sotaque de Osaka (ou será de Hokaido?).

Tirando este “pequeno” pormenor, “Memoirs of a Geisha” é bonito e quase que faz chorar as pedras da calçada. Conta-nos a história de Sayuri, desde que foi vendida pelo pai, um pobre pescador à beira de ficar viúvo, até se tornar na mais famosa e aclamada gueixa do Japão e arredores, nos tempos da 2ª Guerra Mundial.

Este percurso que, no filme, dura mais de duas horas, está cheio de ódios, invejas, ciúmes e sentimentos correlativos, vividos entre as gueixas, o que nos deixa um pouco perplexos, já que retrata uma realidade que nos é desconhecida. Será que é (era) exactamente assim – ou esta é a visão dos ocidentais, que dificilmente penetram noutras culturas, nomeadamente na japonesa, sempre tão fechada ao exterior.