“Whatever Works”, de Woody Allen

—Woody Allen voltou í s boas comédias com este “Whatever Works”, traduzido para “Tudo Pode Dar Certo”, que é exactamente o contrário do título original e da filosofia do filme.

“Whatever Works” quer dizer qualquer coisa como “o que for, soará”, ou “seja o que for”, ou “desde que resulte” – nunca “tudo pode dar certo”. Pode e não pode…

O personagem principal é Boris Yelnikoff, um físico reformado que quase ganhou o Nobel e interpretado por Larry David (outro trunfo do filme – já que todos estamos um pouco farto destes personagens interpretados por Allen). Boris está sempre zangado, não suporta os outros seres humanos porque, como tem um QI de 200, todos são imbecis, a seus olhos. Vive sozinho e detesta tudo e todos até que, certo dia, acolhe em sua casa uma jovem sulista (Evan Rachel Wood), ignorante, pouco mais que analfabeta e que, acabada de chegar a Nova Iorque, não tem onde dormir.

A partir daí, a história do Pigmalião, de Bernard Shaw, repete-se, mas com os tiques de Woody Allen. Claro que Boris é um hipocondríaco, tem crises de pânico e, temendo a gripe A, canta o “Happy Birthday” duas vezes, enquanto lava as mãos, tal como a OMS aconselhava.

O filme está cheio de boas piadas e embora seja um déjí  vu das comédias de Allen, vale a pena o tempo e Larry David merece 20 valores.

Aconselho.

“Cheri”, de Stephen Frears

—Chéri é a alcunha do filho de uma prostituta reformada (Kathy Bates) que, aos 19 anos, não faz nada senão perder-se em noitadas de sexo e drogas (ainda não havia rock’n’roll, uma vez que o filme decorre na chamada Belle Époque, em Paris).

A mamã, preocupada, pede í  sua amiga Lea, também prostituta a entrar na casa dos 50, mas ainda com muita meia sola para gastar, que desvie o seu filho daqueles maus caminhos e o seduza. Ela assim o faz acaba por se apaixonar pelo puto.

A tal prostituta cinquentona é interpretada por Michelle Pfeiffer, ainda em muito boa forma física e, pelos vistos, com a sabedoria suficiente para prender e manter um rapazola de 19 anos.

E depois?

Depois, nada.

O que se esperava de um filme baseado num romance de Colette?

Cenários excelentes. í€s tantas, parece que estamos num filme sobre decoração de interiores, mas pouco mais. Se Stephen Frears tentou repetir o êxito de “Strange Liaisons”, falhou.

Um pouco bocejante.

“Up In The Air”, de Jason Reitman

—George Clooney faz de George Clooney, neste filme muito aclamado porque tenta mostrar que, afinal, a teoria da mochila não funciona para sempre.

Clooney é Ryan Bingham, um tipo cuja função é despedir pessoas. Uma vez que muito patrões não têm tomates para tomar essa decisão, acabam por contratar uma empresa que tem especialistas nessa área. Bingham é um desses especialistas e vive em viagem, entre um e outro aeroporto norte-americano, de hotel para hotel. Dá formações onde mostra que é difícil ser-se livre se, na nossa mochila, temos que introduzir a casa, os móveis, os electrodomésticos, o carro, a mulher e os filhos. A nossa mochila deve estar sempre pronta para zarpar e, com todo esse peso, é impossível partir de um momento para o outro.

Só que Bingham acaba por conhecer uma mulher (Vera Farmiga), que fica muito bem, de costas, toda nua, apenas com uma gravata í  cintura. Também ela anda de aeroporto para aeroporto. Os dois acabam na cama mas o desenvolvimento da relação trás uma surpresa desagradável para o teórico da solidão.

Como dizia o meu tio Zé, é bonito e faz chorar, é próprio para mulheres grávidas e pupilos do exército.

No final, Clooney fica a beber o Nespresso sozinho.

“Precious”, de Lee Daniels

—Não bastava í  pobre da Precious ser negra e gorda. Tinha que ser, também, muito feia, mal encarada, analfabeta, pobre e – cereja no topo do bolo – maltratada pela mãe e violada pelo pai.

Sinceramente, não me senti tocado pela personagem; nem incomodado, nem revoltado, nem solidário, nem nada.

Precious não tem substância e por mais verdadeira que possa ser a história, a mim não me convenceu.

A mãe de Precious tem os defeitos todos, o pai só aparece para violar a filha, a professora boazinha que ensina Precious a ler é lésbica, a primeira filha de Precious é mongolóide. Para evitar transformar isto tudo num grande dramalhão, o realizador tentou fazer um filme despojado, para parecer mais verdadeiro.

Comigo não pegou.

Por razões que não compreendo, Mo’Nique, que interpreta o papel de Precious, ganhou o óscar para melhor actriz secundária (quem será a actriz principal neste filme, em que Precious ocupa todo o écran?)

“New York, I Love You”

—E no dia em que se assinalam 9 anos sobre a destruição das Twin Towers, nada melhor que este pequeno filme para homenagear essa cidade fantástica.

New York, I Love You” é um conjunto de pequenas histórias, umas melhores que outras, passadas em Nova Iorque, com gente de Nova Iorque. Os realizadores são 11, todos desconhecidos para mim e a lista de actores é interminável, incluindo Julie Christie, que protagoniza a história mais “europeia”, John Hurt, James Caan, Andy Garcia, Eli Wallach, Natalie Portman, e muitos outros.

Apesar da tagline dizer “a cada momento começa uma nova história de amor”, e apesar das histórias serem todas histórias de amor, nenhuma é piegas.

Duas histórias sobressaem: a da jovem de cadeira de rodas, a quem o pai (James Caan) arranja um par para o baile de finalistas e a do engatatão de esquina e a sua tentativa de conquistar mais uma mulher. Ambas as histórias têm um final surpreendente.

Vale a pena ver.

“What Just Happened”, de Barry Levinson

—Aqui está o exemplo de quem nem sempre um grande elenco consegue fazer um grande filme.

Barry Levinson, realizador de “Rain Man”, “Disclosure”, “Sleepers”, “Good Morning, Vietnam”, “Wag the Dog” e outros bons filmes, dirige um elenco do qual fazem parte Robert DeNiro, Sean Penn, Bruce Willis, Robin Wright Penn, Kristen Stewart, Michael Wincott, Catherine Kenner e Stanley Tucci e, no entanto, o resultado é fraquito.

DeNiro faz o papel de um produtor de Hollywood, Ben, que está na mó de baixo, não só por causa dos seus casamentos falhados, mas também porque está a tentar que o seu novo filme tenha sucesso, tendo de lidar com um realizador excêntrico, uma directora executiva dos estúdios que quer êxitos de bilheteira e um actor armado em super-estrela, que se recusa a rapar a barba, embora isso seja essencial para as filmagens.

Ben está enfadado com a sua vida, pessoal e profissional e nós também ficamos um pouco enfadados porque o filme não anda nem desanda.

Mais uma vez, o título em português (“Pânico em Hollywood”), não faz qualquer sentido.

“Les Invasions Barbares”, de Denys Arcand

—Um sessentão rezingão e mulherengo, Remy, está na fase terminal de um cancro, num quarto de um hospital de Montréal. A sua ex-mulher pede ajuda ao filho de ambos, um jovem homem de negócios com pouco em comum com o pai.

O filho é um tipo ambicioso e rígido, cumpridor das regras do jogo; o pai é um ex-esquerdista, que foi adepto de todas as modas políticas, que bebeu, fumou e fodeu sem grande tino. Aparentemente, pouco têm a dizer um ao outro, mas a aproximação da morte do pai, faz com que ambos acabem por se aproximar também.

Para além de diálogos muito divertidos e inteligentes, o filme mostra-nos o aparente caos em que vivem os hospitais do Canadá. Nunca imaginei que pudesse ser assim tão parecido com os hospitais portugueses. Sempre pensei que o Canadá, como país inventado que é, tivesse um bom serviço de saúde.

O filme faz também uma feroz crítica aos sindicatos, aos quais é preciso subornar para se obter o que se devia ter direito.

Finalmente, o filme faz um apelo indirecto í  eutanásia, já que Remy acaba por morrer com uma overdose de heróina, ministrada por uma das suas amigas.

O filme ganhou o óscar por melhor filme estrangeiro em 2004.

Uma sessão cultural no Império

Quando escrevi sobre as sessões de cinema dos meus 18 anos, esqueci-me que também havia as “sessões culturais”, no Império – aquele cinema enorme que está agora transformado em templo da igreja Maná.

No dia 10 de Março de 1971, fui ver o “Easy Rider” – e não há dúvida que foi uma sessão cultural. Para mim – e para muitos como eu – este filme, realizado por Dennis Hopper em 1969, foi o primeiro a mostrar pessoas sob o efeito de drogas psicadélicas.

Com Dennis Hopper e Peter Fonda, “Easy Rider” é um “road movie”, em que dois amigos, montados nas históricas Harley Davidson, atravessam a América, de Los Angeles a New Orleans, em busca do sentido da vida (?). Lá para o meio do filme, aparece um advogado drogado, que acaba por ser assassinado e cujo papel é interpretado por um Jack Nicholson, em início de carreira.

A banda sonora ainda hoje é bem audível, com “Born to be Wild”, dos Steppenwolf í  cabeça, e ainda “The Pusher”, da mesma banda, “I Wasn’t Born to Follow”, dos Byrds, “The Weight” por The Band, e outras mais “alternativas”, como uns tais “Electric Prunes” e o seu “Kyrie Eleison” (cheguei a comprar o álbum que, entretanto, desapareceu nas brumas da memória…).

Não há dúvida de que foi uma sessão cultural…

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Soirées no Politeama

Eu sou do tempo em que as sessões de cinema eram apenas duas e tinham nomes franceses: a matiné e a soirée. Claro que também havia a sessão da meia-noite, no Politeama, mas era só ao sábado.

O Politeama era a sala preferida da malta, embora também gostássemos do Condes, do Avis, do Tivoli, do Império ou do S. Jorge.

Foi no Politeama que vi muitos westerns-spaghetti, com o Clint Eastwood ou o Giluliano Gemma.

No dia 21 de Janeiro de 1971, fui í  sessão da noite ver “Borsalino“, um filme que Jacques Deray realizara no ano anterior. Alain Delon e Jean-Paul Belmondo formavam um par de actores franceses muito em voga e interpretavam os papéis de dois escroques marselheses dos anos 30.

Deray tinha ficado célebre entre a juventude portuguesa porque, em 1969, tinha realizado “La Piscine“, também com Alain Delon e ainda com a maminhas da Romy Schneider. Vi-as no Tivoli, muito emocionado…

O bilhete de cinema custava, em 1971, 19 escudos (0.09 euros).

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“My Mom’s New Boyfriend”, de George Gallo

—Desta feita – e a contrário de “Zack and Miki Make a Porno” – um título idiota diz mesmo respeito a um filme idiota.

Onde está a Meg Ryan de “When Harry Met Sally?”. Ninguém sabe, nem a própria Meg Ryan, que se entregou nas mãos do mesmo cirurgião plástico que esfaqueou a Moura Guedes. Se não é o mesmo, parece, porque a Ryan tem os mesmos lábios repuxados e as mesmas maçãs do rosto proeminentes que lhes dão (í  Ryan e í  Guedes), aquele ar de Gato Félix que não é capaz de parar de sorrir, embora tenha um olhar triste.

Quanto ao filme, é uma parvoíce pegada, com António Banderas a fazer de ladrão de obras de arte, mas afinal é um agente da CIA bonzinho e Meg Ryan a fazer de cinquentona obesa que, depois de várias plásticas, se transforma numa MILF incorrigível, danada para a brincadeira.

Uma completa perda de tempo.