“A Praia de Manhattan”, de Jennifer Egan (2017)

—Jennifer Egan (Chicago, 1962) ganhou o Prémio Pulitzer de 2011 com o romance A Visita do Brutamontes (está ali na prateleira para ler) e com este A Praia de Manhattan parece ter-se afirmado como uma das mais importantes escritoras norte-americanas da actualidade.

A acção deste novo livro de Egan passa-se nos anos 40 do século passado, durante a Segunda Grande Guerra e a protagonista, Anna, percorre todo o livro, desde os tempos em que, ainda criança, acompanha o pai nas suas visitas a dirigentes sindicais do Porto de Nova Iorque mais ou menos relacionados com as máfias irlandesa e italiana, até í  sua mudança para a Califórnia, por motivos de força maior, que só a leitura deste excelente livro revelará.

—O pai de Anna vai desaparecer de cena, assim como a sua irmã deficiente, e até a sua mãe, ex-bailarina, e Anna, sozinha, acaba por arranjar trabalho no Porto, como soldadora e, pouco depois, torna-se uma das primeiras mulheres a mergulhar com escafandro.

Para além de uma história muito rica de peripécias, em que as personagens são consistentes e credíveis, o principal destaque deste livro vai para a narrativa verdadeiramente cinematográfica. Com efeito, ao lermos o livro, estamos a “ver” as cenas num écran.

Não me admira nada que este livro seja, em breve, adaptado ao cinema, como já aconteceu com outro romance de Jennifer Egan, O Circo Invisível (2014).

Recomendo.

Edição Quetzal, tradução de Vasco Teles de Menezes.

Defeitos e virtudes

Bill de Blasio, o candidato democrata derrotou e esmagou o seu adversário republicano e vai ser, a partir de janeiro, o novo mayor de Nova Iorque.

O DN esclarece-nos, na primeira página, «quem é o homem que vai mandar em Nova Iorque: tem 52 anos, 1,95 m, uma mulher negra e ex-lésbica e dois filhos mulatos».

Se a mulher, além de negra e ex-lésbica, fosse também coxa e invisual, Bill de Blasio poderia ser Presidente dos EUA!…

“Netherland”, de Joseph O’Neill

Joseph O’Neill nasceu na Irlanda em 1964, tem ascendência irlandesa e turca, cresceu na Holanda e vive em Nova Iorque, onde é professor.

netherlandNetherland, que ganhou o Prémio Pen/Faulkner em 2009, é um livro triste que, no entanto, termina com uma nota de esperança.

O narrador é um holandês, Hans van den Borek, que vive em Nova Iorque com a sua mulher inglesa, Sara, e o filho Jake. A acção do romance começa pouco depois da destruição das Twin Towers. O apartamento onde esta família vivia, na zona da Tribeca, ficou danificado e eles vivem, agora, provisoriamente, no conhecido Chelsea Hotel.

O medo de mais ataques terroristas fazem com que Sara queira ir viver para Londres, que pensa ser uma cidade mais segura. Hans quer continuar em Nova Iorque. A relação entre o casal deteriora-se.

Hans é um entusiasta de criquet e conhece um imigrante de Trinidade, Chuck, também ele amante daquele desporto. Os dois desenvolvem uma amizade com alguns contornos estranhos.

No final da história, Hans vai para Londres e reconcilia-se com Sara.

O’ Neill não perde tempo com palavras inúteis. O tom do livro é limpo e seco, mas não desprovido de sensibilidade, pelo contrário. Hans chora, tem saudades, por vezes raiva, mas tudo muito comedido, diria, muito “holandês”.

Como diz o crítico do New Yor Times, Dwight Garner, Netherland é “the wittiest, angriest, most exacting and most desolate work of fiction we”™ve yet had about life in New York and London after the World Trade Center fell.”

Gostei.

“Palácio da Lua”, de Paul Auster (1989)

—Se este tivesse sido o meu primeiro romance de Auster, de certeza que teria ficado agradavelmente surpreendido. Acontece que Moon Palace é o meu 16º romance de Paul Auster e só agora o li porque esteve fora da circulação alguns anos.

Como é habitual nos romances de Auster, o acaso impera.

Marco Stanley Fogg, que chega a Nova Iorque em 1965, com 18 anos, procura trabalho para custear os seus estudos universitários. Respondendo a um anúncio, torna-se acompanhante de um intelectual idoso, que se desloca em cadeira de rodas e que tem um temperamento irascível. Fogg vai descobri mais tarde que esse homem é, afinal, o seu aví´ e, no decurso dessa descoberta, acaba por descobrir também o seu pai.

Pelo meio, Auster conta-nos inúmeras histórias e ficamos com a sensação que a mente do escritor fervilha de episódios, acontecimentos, casos, vidas e que ele próprio tem dificuldade em filtrar o que é importante e é acessório e a trama central fica de tal modo enredada nas histórias laterais que, no final, não és capaz de fazer um resumo coerente do livro.

Esse “defeito” das histórias de Auster parece-me exacerbado neste livro e, embora eu goste, em geral, das obras dele, esta história não me entusiasmou muito.

“Sunset Park”, de Paul Auster

—Auster já tem uma legião de seguidores em Portugal, o que lhe permite ter todos os seus livros traduzidos e editados por cá, mal saem nos EUA. O mesmo não acontece com Philip Roth, que tem um novo romance que só será editado por cá no próximo ano…

Claro que Auster merece. É um notável contador de histórias e, ainda por cima, é simpático, dá entrevistas a toda a gente, gosta da Europa e é pouco americano.

Este “Sunset Park”, no entanto, é mais do mesmo. Como este, já Auster escreveu vários romances.

A história gira í  volta de quatro jovens adultos que ocupam uma casa abandonada em Sunset Park, Nova Iorque. São dois homens e duas mulheres mas não são dois casais. Cada um tem a sua história, o seu drama pessoal, as suas dúvidas existenciais e Auster vai-nos dissecando as suas dúvidas e angústias; cada capítulo é dedicado a uma das quatro personagens principais e mais duas ou três acessórias.

Como também já é habitual nas narrativas de Auster, a história acaba abruptamente, sem um fim “como deve ser”.

Já li coisas muito melhores escritas por ele.

“New York, I Love You”

—E no dia em que se assinalam 9 anos sobre a destruição das Twin Towers, nada melhor que este pequeno filme para homenagear essa cidade fantástica.

New York, I Love You” é um conjunto de pequenas histórias, umas melhores que outras, passadas em Nova Iorque, com gente de Nova Iorque. Os realizadores são 11, todos desconhecidos para mim e a lista de actores é interminável, incluindo Julie Christie, que protagoniza a história mais “europeia”, John Hurt, James Caan, Andy Garcia, Eli Wallach, Natalie Portman, e muitos outros.

Apesar da tagline dizer “a cada momento começa uma nova história de amor”, e apesar das histórias serem todas histórias de amor, nenhuma é piegas.

Duas histórias sobressaem: a da jovem de cadeira de rodas, a quem o pai (James Caan) arranja um par para o baile de finalistas e a do engatatão de esquina e a sua tentativa de conquistar mais uma mulher. Ambas as histórias têm um final surpreendente.

Vale a pena ver.

Mad Men – 1ª temporada

—Mad Men pode ter duplo sentido: homens loucos e homens de Madison Avenue.

Loucos, nem por isso. Não há sequer um alcoólico, para amostra, nem tampouco um cocainómano e, apesar do protagonista, Draper, ter duas namoradas, para além da esposa, também não há nenhum mulherengo.

Quanto í  Madison Avenue, lá está, em Nova Iorque – e só tenho pena de não ir lá há 8 anos. E a série nem para isso serve, isto é, não me mata as saudades de Nova Iorque, porque, embora a acção se passe, pretensamente, na Madison Avenue, raramente (ou nunca), vemos uma cena no exterior.

Apesar do aplauso unânime da crítica, esta série televisiva não conseguiu agarrar-me. Concordo que a reconstituição da época, do final dos anos 50 e princípio dos anos 60, é quase perfeita, mas a trama da série é muito superficial e não fiquei com vontade de ver a 2ª temporada.

CSI – New York – série 3

csiny3A grande vantagem deste tipo de séries pode ser também a sua grande desvantagem: a rotina.

A 3ª temporada do CSI-New York traz pouco de novo, em relação í s temporadas anteriores e isso pode não ser mau, porque a produção continua excelente, os actores são convincentes, as imagens de Nova Iorque são espectaculares e as histórias são mais ou menos imaginativas.

No entanto, também não fazia mal inovar um pouco e apresentar alguns episodios com um pouco mais de acção, como é o caso do último desta série, que até inclui terroristas do IRA…

CSI – New York, 2ª série

csiny2A diferença entre o CSI de Nova Iorque e os outros está, fundamentalmente, no conteúdo das histórias. Pelos vistos, na dita Big Apple, os crimes são mais bizarros: tipos que se entretêm a fazer surf no tejadilho do metro; um jantar anual com iguarias exóticas, no Waldorf Astoria, que inclui centopeias e escaravelhos; um alpinista que escala o Empire State, e que morre, mas não da queda; adolescentes despejam todas as caixas de comprimidos que encontram em casa, e fazem uma festa em que misturam os medicamentos, aleatoriamente, com álcool; loiras com boob jobs, fazem corridas de patins, em que se agridem até í  morte, perante uma multidão frenética.

Estranhos hábitos e estranhos crimes numa grande cidade. A claridade do CSI-Miami contrata com o cinzentismo deste CSI-New York.

O par principal é formado por um sorumbático e formal Marc Taylor (Gary Sinise) e pela mais atrevidota, mas pouco, Stella Bonasera (Melina Kanakaredes).

Por enquanto, a fórmula vai resultando…