“40 Histórias” de Donald Barthelme (1987)

Donald_BarthelmeDonald Barthelme (1931-1989) foi um escritor norte-americano conhecido pelos seus textos curtos a que dificilmente chamaríamos histórias ou contos.

Aqui e ali, fez-me lembrar Boris Vian, embora se consiga encontrar sempre alguma lógica nas narrativas do escritor francês, enquanto a maior parte destes textos de Barthelme tenham tudo menos lógica.

Barthelme está sempre a fornecer-nos pistas falsas. Quando encontramos um pedaço de uma narrativa que parece ir levar a algum lado, logo ele deriva para outro lado qualquer.

Um exemplo, tirado da história “O Palácio í s quatro da madrugada”:

«A nossa economia baseia-se nas trufas, em que as nossas florestas são fenomenalmente ricas, e na electricidade, que já exportávamos quando outros países ainda liam í  luz de candeeiros de petróleo. O nosso exército é o melhor da região, e todos os militares são coronéis – eis o subtil segredo da governação do meu pai, para dizer a verdade. Nesta terra, todos os padres são bispos, todos os advogados de meia-tigela são juízes do Supremo Tribunal, todos os camponeses são latifundiários e todos os palermas que proclamam as suas ideias í  esquina das ruas são Hegel em pessoa.»

40 historiasOra aqui está uma boa ideia para um grande história, não é?

Não é. Barthelme nunca mais pega nesta ideia ao longo da narrativa!

Outro exemplo, com a história “Alguns de nós andavam a ameaçar o nosso amigo Colby”, e que começa assim:

«Alguns de nós andavam a ameaçar o nosso amigo Colby há já muito tempo, por causa do comportamento dele. E agora ele fora longe demais, por isso decidimos enforcá-lo. Colby ripostou que só porque fora longe demais (não negava esse facto), isso não queria dizer que o devêssemos enforcar. Ir longe demais, disse, era uma coisa que toda a gente fazia, uma vez por outra.»

E a história continua neste tom, com argumentos e contra-argumentos, nunca chegamos a saber o que Colby fez para ter ido longe demais e o homem acaba enforcado. Naturalmente.

Confesso que saltei três ou quatro destas 40 histórias porque algumas são mesmo difíceis de seguir.

Um autor curioso e um livro que deve ser lido com moderação…

 

Quando Durão era Durinho

Durão Barroso não pretende ser candidato í  presidência da República mas não faz outra coisa se não aparecer nos telejornais por tudo e por nada.

Há uns dias deu uma entrevista í  SIC, que ocupou quase um telejornal inteiro. Um frete do Balsemão, claro…

Nessa entrevista, entre muitas vulgaridades, disse, com aquele ar de cherne cheio de ovas, que tinha chamado o Vitor Constância por três vezes para tentar perceber se o que se dizia sobre o BPN era verdade.

E o Constâncio, moita, disse o Durão.

E o Durão, pergunto eu, o que fez?

Nada, também nada!

Ontem, Durão esteve não sei onde a entregar um cheque chorudo da Comissão Europeia, a fim de ser distribuído por obras sociais.

Escusava de se ter dado ao trabalho, caramba!

Mandava cá um comissário qualquer.

Mas Durão quer aparecer; não é que pretenda ser candidato í  presidência, não senhor!

E então, na entrega do tal cheque, Durão resolveu recordar os velhos tempos em que era aluno do Camões, ou seja, quando ainda era um puto, um Durinho…

E disse esta coisa espantosa: no tempo do Estado Novo «apesar de algumas liberdades cortadas, havia na escola uma cultura de mérito, exigência, rigor, disciplina e trabalho».

Claro que havia, Durão!

O que não havia era escola para todos, pá!

Os liceus em Lisboa contavam-se pelos dedos de uma mão e na província, nem se fala! A taxa de analfabetismo era brutal e poucos miúdos passavam da quarta classe, a Universidade era só para uma minoria e os programas escolares escamoteavam factos da História que não interessavam ao regime.

O menino Durinho portou-se mal desta vez!

E como gosta de uma cultura de exigência, vou-lhe dar umas valentes reguadas e pí´-lo no canto da sala com orelhas de burro!

durao barroso

Tudo explicado

Segundo um estudo realizado em Portugal e divulgado hoje pelos jornais, 50% dos inquiridos acredita que o HIV pode ser transmitido pela picada de um insecto que previamente tenha picado uma pessoa infectada.

O mesmo estudo diz que 20% dos inquiridos continua a acreditar que o HIV pode ser transmitido através de um beijo, nas piscinas ou nas casas de banho públicas.

Recordo que foi este povo que deu duas maiorias absolutas a Cavaco Silva e que, depois, o elegeu duas vezes para Presidente.

Está tudo explicado!

“Belos Cavalos”, de Cormac McCarthy (1992)

cormac-mccarthyConheci Cormac McCarthy com A Estrada (2006) e fiquei logo adepto da sua escrita.

Logo a seguir, o nome deste escritor norte-americano foi muito badalado graças ao filme dos irmãos Coen Este País Não É Para Velhos.

Li o livro primeiro e confesso que, tanto o livro como o filme me desiludiram um pouco. Já escrevi porquê.

Posteriormente, li Filho de Deus (1973) e Suttree (1979) e o quadro começou a compor-se.

Cormac McCarhty nasceu em 1933, mas vive há muitos anos no Texas, em Santa Fé e os seus livros são, no fundo, livros de cowboys.

Belos CavalosEste Belos Cavalos (All The Pretty Horses) é claramente um western, embora a acção decorra na segunda metade do século 20.

O herói é John Grady Cole, um jovem adolescente que ainda não completou 17 anos mas tem a maturidade de um homem feito, graças í  vida dura que leva.

John Grady passa praticamente todo o livro em cima de um cavalo, excepto durante o período em que está preso numa miserável prisão mexicana.

Grady e um amigo decidem deixar a sua terra natal e cavalgar até ao México, onde arranjam trabalho como domadores de cavalos selvagens. Depois, tudo lhes acontece.

No final, qual poor and lonesome cowboy, John Grady despede-se do amigo e vai-se embora, em direcção ao horizonte.

«Onde fica a tua terra? perguntou

Não sei, disse John Grady. Não sei onde fica. Não sei o que acontece í s terras.

Rawlins não respondeu.

Até í  vista, parceiro, despediu-se John Grady.

Seja, até í  vista.

Ficou ali de pé, a segurar o cavalo enquanto o cavaleiro dava meia volta e viu-o trotar para longe e mergulhar aos poucos na linha do horizonte.»

Gostei.

Espeta-lhe essa alheira no coração!

Fui surpreendido por este título do Diário de Notícias de hoje:

«Passos Coelho não recebeu facas mas sim alheiras»

Mas afinal, o que vem ser esta conversa de objectos cortantes e enchidos?

Em traços largos: um empresário de Lamego, Júlio Marinheira, farto de esperar financiamento para um empreendimento hoteleiro, decidiu escrever uma carta a Passos Coelho, a expor a situação.

Segundo notícia da SIC, essa carta, dirigida ao primeiro-ministro, acabou por chegar ao Ministério da Economia e, dentro do envelope, vinha uma faca!

O DN foi investigar e falou com a segurança de São Bento.

E que lhe disseram?

«Uma dessas fontes conta que “de vez em quando, têm sido recebidas algumas encomendas, mas que não têm nada de ameaçador, como alheiras e alguns produtos de gastronomia regional”».

Ora isto é muito grave!

Uma faca destinada a Passos Coelho, para que ele corte os pulsos, por exemplo, é compreensível… agora, quem são os cabrões que lhe estão a enviar alheiras, pá?

Cambada de vendidos!

 

Volta, Saddam Hussein – estás perdoado!

O Governo iraquiano aprovou uma proposta de lei que merece a nossa atenção.

Essa lei passa a permitir casamento com raparigas a partir dos 9 anos e relações sexuais sem consentimento mútuo!

Convém esclarecer que essa lei só se aplica aos xiitas (que alívio!). Chama-se Lei do Estatuto Pessoal e é baseada na jurisprudência da escola religiosa de Jaafari, fundada pelo sexto imã xiita Jaafar al-Sadiq.

Sadiq, sem dúvida!

A Lei foi apresentada pelo ministro da Justiça iraquiano Hassam al-Shimmari, membro do partido xiita radical Fadhila, que quer dizer virtude.

Virtude?!

A mesma lei, além de aprovar também a poligamia, estabelece o modo como homem deve tratar as suas mulheres, no que respeita a quecas.

Assim, se a esposa for jovem e nunca tiver sido casada antes, pode dormir com o marido sete noites seguidas. No entanto, se a esposa já não for assim tão jovem ou já tiver sido casada, só tem direito a três noites seguidas com o marido.

No que respeita ao divórcio, continua a ser aceite, mas será difícil para as mulheres.

Estas só poderão divorciar-se se o marido for impotente ou se o seu pénis tiver sido amputado.

De que é que elas estão í  espera?

Aquilo corta-se mais facilmente do que se pensa!

Quanto aos homens, poderão divorciar-se das mulheres por inúmeras razões e uma delas está relacionada com o aparecimento de erupções cutâneas na esposa.

Quer dizer: se um xiita se pode casar com uma miúda de 9 anos, arrisca-se a ter que se divorciar quando a miúda apanhar varicela!

Que saudades do Saddam Hussein, não?

Intolerância ao leite

O secretário de Estado da Administração Pública, José Leite Martins, convocou alguns órgãos de comunicação social para lhes dizer, informalmente, quais as ideias do Governo no que respeita ao futuro dos salários e  pensões dos trabalhadores do Estado.

Informalmente quer dizer, tipo, é pá, o Governo vai transformar os cortes transitórios em definitivos e tal e a Contribuição Especial de Solidariedade passa a ser para sempre e tal, mas isto é tudo off the record e tal.

Os jornalistas publicaram isto tudo e o Governo ficou indignadíssimo!

Passos espumou, Portas berrou!

Hoje, no Parlamento, Portas disse que “o que aconteceu foi um erro, não devia ter acontecido”, desmentido, assim, o secretário de Estado Leite.

Não é a primeira vez que Portas se dá mal com um Leite.

Já há uns anos fiou famoso um homem misterioso que teria financiado a campanha eleitoral do CDS e que se chamava Jacinto Leite Capelo Rego…

Definitivamente, Portas tem intolerância ao leite…

Com tutano e tudo!

Fiquei a saber, graças í  revista Tabu, que o chefe Dieter Koschina (chefe de quê?!) só vai estar í  frente da cozinha do Vila Joya, em Seteais, até ao fim deste mês.

Depois, regressará ao seu restaurante, no Algarve.

Quer dizer que só temos 5 dias para degustar as «papadas de porco ibérico com alcachofras de Jerusalém e shitake, a corça com tutano, caju e cherivia ou o bacalhau fresco com cevada pérola, rábano e cidra» – tudo por 95 euros por pessoa (menu de três pratos) ou 165 euros (seis pratos).

Corça com tutano!

É pena eu andar com falta de apetite…

Putin, escuta…

Vi o Cavaco Silva, de luvas, dar umas marteladas numa grade de ferro, em volta de um sobreiro, na Companhia das Lezírias, enquanto dizia umas patacoadas sobre o aumento das taxas da ADSE, sob o olhar interessado da Assunção Cristas, e desejei que o Presidente acertasse com o martelo num dedo.

Talvez deixasse aquele sorriso falso e soltasse, finalmente, um porra!

Vi o Paulo Portas, em imagens de arquivo, a cumprimentar um empresário indiano, que foi o primeiro visto Gold atribuído, enquanto davam a notícia de que um chinês, também visto Gold, tinha sido preso pela PJ, a mando da Interpol, por burla, e pensei: se um Gold é atribuído a um burlão, o que daremos a um assassino? Um Silver?

Li a notícia de uma freira italiana, que espantou toda a gente quando, num concurso televisivo, interpretou uma canção pop muito em voga e encolhi os ombros…

Ainda se a freira tivesse feito striptease…

Vi, na primeira página do DN, uma foto da Madonna e, por baixo, a legenda, que dizia que a cantora exibiu as axilas cheias de pelos, contrariando, assim, os ditames estéticos da moda e pensei que também seria engraçado ver as axilas de Cavaco Silva, as do chinês que foi preso e até as da freira italiana.

Vi o António José Seguro assegurar que, se for eleito, vai repor os salários que o actual governo tem cortado e pensei que era boa ideia demitir já o líder do PS; poupávamos o trabalho de o eleger e, depois, ter que o deitar abaixo.

Li notícias sobre a prescrição do caso Jardim Gonçalves, da possível prescrição do Rendeiro, da possibilidade do caso Face Oculta ter que ser todo repetido, do Oliveira e Costa afirmar que não tem dinheiro para pagar as multas e não me ocorreu nada, a não ser dizer vão-se foder!

Finalmente, vi o Putin, com um sorriso sacana, dizer que ia abrir uma conta no Banco Rossyia, o tal que Obama disse que ia ser alvo de sanções e pensei que podíamos pedir ajuda ao líder russo.

Se o gajo anexou a Crimeia, não estaria, também, interessado em anexar Portugal?

Pior não podíamos ficar…