Dias Loureiro – um herói do nosso tempo

Finalmente, a justiça foi feita!

Dias Loureiro, esse grande símbolo da transparência nos negócios, nomeadamente no que respeita ao BPN, foi reabilitado perante a opinião pública, pela voz do nosso formidável primeiro-ministro.

Quando visitava Aguiar da Beira, terra natal do Sr. Dias, Coelho disse:

“(Dias Loureiro) conheceu mundo, é um empresário bem-sucedido, viu muitas coisas por este mundo fora e sabe, como algumas pessoas em Portugal sabem também, que se nós queremos vencer na vida, se queremos ter uma economia desenvolvida, pujante, temos de ser exigentes, metódicos”

dias loureiroPortanto, se queremos vencer na vida, o que temos que fazer é, em primeiro lugar, estar no Partido certo, depois, conseguir ser ministro, cultivar as amizades certas e, depois de sair do Governo, continuar a ser tratado por “monsieur, le ministre”, nomeadamente em Marrocos, onde conseguiremos, desse modo, um grande negócio de fornecimento de água, graças ao qual poderemos ganhar o nosso primeiro milhão.

Depois, é só comprar acções de um banco, tipo BPN, a um preço muito em conta, e, quando rebenta a bernarda, não ter mais do que 5 mil euros na nossa conta.

Temos que ser metódicos, como diz o Coelho.

E por isso, os imóveis e outros bens estarão, sempre, em nome de familiares – mas isso é crime?

Não, é exigência.

Dias Loureiro, segundo Passos Coelho, viu mundo.

Nós, quando muito, vemos Braga por um canudo.

As perguntas do PSD (e as respostas do PS)

Factos: o PS apresentou um cenário macroeconómico para os próximos 10 anos, da autoria de uma equipa de economistas chefiada por um tipo chamado Centeno.

O PSD não acreditou no cenário e decidiu fazer algumas perguntas ao PS, no sentido de esclarecer as coisas.

Eis algumas dessas perguntas e respectivas respostas.

PSD – Há alguma relação entre Centeno e Milenium?

PS – O Centeno é 1/10 avos do milénio; estudem as fracções porra!

PSD – Onde é que a Maria de Belém compra a roupa? Na secção infantil da Zara?

PS – Não: no mesmo sítio onde o Marco António Costa compra os óculos.

PSD – O Mário Soares toma comprimidos para a memória?

PS – Começou a tomar há 6 meses; foram-lhe aconselhados pelo Cavaco, que já os toma há 5 anos.

PSD – Como compensam os milhões que perdem ao repor a sobretaxa do IRS?

PS – Pedimos dinheiro emprestado ao Sócrates e ao grupo LENA.

PSD – O António Galamba usa piercing na orelha porquê?

PS – É uma promessa: retira-o quando aquele deputado gordo do PSD deixar de usar brilhantina.

PSD – Podem garantir que não vão cortar nas pensões?

PS – Somos um partido de esquerda! Vocês cortaram nas pensões; nós, se tiver que ser, cortamos nos hotéis!

 

PSD – Fizeram um plano para 10 anos: estão a pensar governar durante esse tempo todo?

PS – Não: estimamos que 10 anos seja o tempo que resta a Portugal.

PSD – Por que razão o Ferro Rodrigues usa aquele cabelo que parece uma boina?

PS – Porque, por baixo, é completamente careca.

PSD – O Guterres deu-vos com os pés; o Sampaio da Nóvoa é uma segunda escolha?

PS – Não, a nossa segunda escolha era a Angelina Jolie…

PSD – Como raio vão vocês conseguir criar 15 mil postos de trabalho?

PS – Despedimos todos os gajos do PSD da Administração Pública.

PSD – Precisaram de uma equipa de 12 economistas para elaborar essa merda?

PS – Sim: um escreveu e os outros 11 fizeram força.

 

Portugal, 24 de Abril

* Miguel Macedo foi ministro da Administração Interna e demitiu-se porque era amigo de um alto funcionário que foi preso, acusado de corrupção.

Rumores correm, segundo os quais Macedo também está envolvido, pelo que ele, que é deputado, pede o levantamento da imunidade.

A Comissão de Ética do Parlamento recusa o seu pedido, por unanimidade.

Decisão corporativa ou medicina preventiva?

Sem imunidade, quem livraria Macedo de ser infectado mais cedo?

* O PSD, CDS e PS querem fazer renascer o chamado “exame prévio”, eufemismo para censura.

Cada órgão de comunicação social deveria, então, apresentar um plano de cobertura jornalística do período eleitoral, que seria apreciado por um novo órgão, uma espécie de comissão mista composta por elementos da Comissão Nacional de Eleições e pela Entidade Reguladora da Comunicação Social.

Teríamos assim mais um órgão, como se o pâncreas, o fígado, a próstata e os testículos já não fossem suficientes!

Depois, se esse órgão achasse que o plano não era, digamos, adequado, o órgão não poderia fazer a cobertura.

Ora, um órgão sem cobertura apanha pó e está sujeito a emperrar.

Voltaríamos ao exame prévio.

Abrir as pernas antes de ser comida.

* Uma investigação da Universidade da Beira Interior, na Covilhã, indica que o consumo moderado de cafeína – 3 a 4 cafés por dia – pode ajudar í  produção de espermatozóides.

Ora aqui está uma boa notícia, para compensar.

Hoje é sexta-feira e, esta semana, já bebi, pelas minhas contas, 24 cafés.

Portanto, cuidado comigo!

* Diz o Correio da Manhã que a Linha de Saúde 24 atendeu, em 2014, 526 mil chamadas telefónicas.

No que respeita í  doença, os portugueses seguem a máxima: não vá, telefone?

Não – preferem a máxima: telefone e vá na mesma!

* O relatório das Nações Unidas sobre a felicidade dos países, coloca-nos no 88º lugar do ranking, 15 lugares abaixo do que estávamos há 3 anos!

O Governo Passos-Portas tornou-nos mais infelizes!

Ainda mais infelizes!

O país mais feliz do mundo é a Suíça e nós ficamos abaixo da China, da Sérvia e até da Zâmbia, país onde a esperança média de vida é de 57 anos, enquanto que nós, vivemos, em média, 80 anos.

Quer dizer, vivemos mais 23 anos fodidos da vida dos que os zambianos (ou será zambenses?).

Numa escala de felicidade de 0 a 10, ficamo-nos por 5,1.

Somos uns meias-tintas da merda!

O que vale é que, amanhã, é 25 de Abril…

Ora baixe lá as calças, por favor…

Duas enfermeiras de hospitais do Porto, dizem que, na consulta de Saúde Ocupacional, tiveram que espremer as mamas para provar que ainda tinham leite e, desse modo, conseguir a prorrogação da sua licença de amamentação, com a qual têm direito a duas horas diárias a menos no horário de trabalho.

Acho um boa ideia.

A partir de amanhã, sempre que algum doente se queixar de diarreia, vou solicitar-lhe que baixe as calças e prove, ali mesmo, que não está a tentar aldrabar-me!

“A Morte do Pai”, de Karl Ove Knausgard (2009)

Knausgard nasceu em 1968 em Oslo, capital da Noruega, e vive actualmente em Malmo (Suécia).

knausgardEstes dois factos simples talvez ajudem a perceber uma obra como esta. Talvez o facto de ser originário do norte da Europa, possa ajudar a explicar a frieza com que este escritor se expõe neste projecto, que envolve seis livros autobiográficos, sob o título genérico e provocatório de “A Minha Luta”.

O primeiro livro, “A Morte do Pai”, é sobre isso mesmo, a morte do pai de Knausgard; a relação entre ambos não terá sido a melhor e isso nota-se na amargura com que o autor descreve o seu pai, um professor de província, que se tornou alcoólico no fim da vida.

morte do paiNestas primeiras 377 páginas (parece que os seis livros somam 3500 páginas…), Knausgard conta-nos diversos episódios da sua infância e juventude, a sua relação com uma mãe, que me pareceu ausente, e com o irmão mais velho, que lhe serviu de modelo durante algum tempo. A certa altura, o livro centra-se na morte do pai e Knausgard descreve minuciosamente, os dias que passou com o irmão a limpar a casa onde o pai vivia e que se tinha transformado num armazém de lixo e garrafas vazias – e, nesses dias, reencontra a avó paterna, já um pouco demente e, também ela, dependente do álcool.

Minucioso é o termo.

Knausgard preenche páginas e páginas com a descrição minuciosa de coisas banais.

Um exemplo, na página 275:

«Tirei um saco plástico da gaveta, esvaziei os dois cinzeiros que estavam na mesa, fechei-o e deitei-o no saco de lixo preto meio cheio que estava no canto, arranjei um pano, limpei o tabaco e as migalhas da mesa, pus o pacote de tabaco e a máquina de enrolar a um canto, sob o parapeito da janela, abri a janela e prendia-a com o ferrolho.»

Ou este outro, na página 320:

«Na cozinha, despejei a água, torci o pano e pousei-o na borda do balde, e a minha avó sentou-se no seu lugar de sempre. Quando tirei o cinzeiro da mesa, ela levantou a cortina e olhou para fora. Esvaziei o cinzeiro, voltei, peguei nas chávenas, pu-las no lava-louça, humedeci o pano da cozinha, espalhei detergente na mesa e estava a limpá-la quando Yngve entrou com um saco em cada mão. Pousou os sacos e começou a tirar coisas. Primeiro aquilo que iríamos comer e que ele pousou na bancada, quatro filetes de salmão embalados a vácuo, um saco de batatas com vestígios de terra, uma couve-flor e um pacote de ervilhas congeladas, e depois todas as outras coisas, algumas que enfiou no frigorífico e outras no armário ao lado».

De salientar o pormenor dos filetes de salmão embalados no vácuo e das batatas com vestígios de terra…

E descrições destas abundam no livro.

Mas é assim a vida, não é?… feita de rotinas, de gestos mecânicos de coisas comezinhas.

Um dos livros mais marcantes dos últimos tempos.

Rio de aço

Aqueles que pensavam que Rui Rio era de ferro, foram agora desenganados por um psiquiatra.

Se Rio fosse de ferro, enferrujava.

Rio é de aço.

Pelo menos é o que diz Carlos Mota Cardoso, psiquiatra e amigo do ex-presidente da Câmara do Porto.

E como deve ter achado que dizê-lo era pouco, o psiquiatra escreveu um livro, a que deu o título elucidativo de “Raízes d’Aço”, assim mesmo, com apóstrofo e tudo!

Segundo o Expresso, “ao longo de 300 páginas, Mota Cardoso traça um perfil psicológico do ex-autarca e potencial candidato presidencial, pessoa de quem é amigo há muitos anos e de quem se propí´s traçar «um retrato intimista»”

A primeira coisa que nos espanta é logo esta: como é possível escrever 300 páginas sobre Rui Rio?

A segunda coisa espantosa é o psiquiatra querer traçar um «retrato intimista» do amigo. Porquê? Que força interior o impeliu a tamanho acto? Que tem RR de especial que mereça que alguém, mesmo um psiquiatra, perca tempo a traçar-lhe seja o que for?

Diz o psi: «recebi o convite de uma editora, falei com o dr. Rui Rio, ele confia em mim, sabe que eu o conheço, não no plano médico mas como amigo, e não se opí´s».

í“ senhor doutor: o senhor quer que a gente acredite que há uma editora que, de repente, se lembrou de lhe pedir para escrever um livro sobre o Rui Rio?

O editor estava em casa, preocupado porque a sua editora há muito tempo que não tinha um êxito editorial. Em carteira, nenhum grande título, nenhum autor famoso: nada de J. K. Rowling, nenhuma obra nova de E. L. James – que raio havia ele de lançar, de modo a abanar o mercado? Claro: um livro sobre Rui Rio!

E quem o haveria de escrever senão o psiquiatra de Rui Rio, perdão, o amigo de Rui Rio que, por acaso, é psiquiatra – a profissão não tem nada a ver com a amizade, até porque RR não precisa de psiquiatra para nada!

A notícia do Expresso acrescenta ainda este naco delicioso: “ao rever episódios da vida do ex-autarca, o livro vai definindo características de carácter e personalidade do político e isso tem a vantagem de mostrar «a parte da árvore que não se vê»”.

Passando por cima do português da notícia (“características de carácter”…), percebemos a razão do título do livro, “Raízes de Aço”: Rui afinal não é um rio, é um árvore – um árvore com raízes bem fortes, de aço, mas o que a gente vê é o tronco; se quisermos ver a outra parte, as tais raízes de aço, teremos que ler o livro, ou, melhor ainda, votar em RR para a presidência da República.

Mal posso esperar por ler este livro! Estou desejoso de conhecer “episódios da vida” de Rui Rio, caramba!

 

Quem é Sampaio da Nóvoa?

Andam os socialistas muito preocupados com a candidatura í  presidência da República de Sampaio da Nóvoa.

Quem é, afinal, este homem?

Será ele o D. Sebastião que regressa entre o nevoeiro?

Da Nóvoa ou da Névoa?

Um Presidente Sampaio não será suficiente para um país pequeno como o nosso – embora o outro fosse Jorge e este seja da Nóvoa?

Sampaio diz que “não quer nada mas está disposto a tudo”.

A tudo? Mesmo a tudo?

Isso não pode ser perigoso para um homem de 60 anos?

E no entanto, tem bons padrinhos.

Alegre e Soares, esses jovens e promissores quadros do PS, já disseram que apoiam da Nóvoa.

Marcelo Rebelo de Sousa, outro protocandidato, diz que Sampaio “cobre toda a esquerda”.

Toda a esquerda?

Cobre o PCP, os Verdes, o Agir, o Bloco, o MAS, o LIVRE, mesmo o MRPP?

E cobre como?

Em sentido figurado ou cobre mesmo?

Não será esforço de mais para um homem de 60 anos?

Mas ficamos na dúvida: alguém conseguirá ultrapassar o nosso grande e brilhante Cavaco?

Acho que nem paio, nem nóvoa!

No lixo, mas a crescer!

A ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque anuncia que temos os cofres cheios.

O primeiro-ministro, Passos Coelho, em visita ao Japão, garante que Portugal poderá vir a ser “uma das nações mais competitivas do mundo”.

O presidente Cavaco não se cansa de “difundir a evolução positiva da economia portuguesa”, que, segundo ele, poderá crescer 2%.

E, no entanto, a agência Fitch continua a classificar a nossa dívida como lixo.

Ora, não é possível que uma ministra. um primeiro-ministro e um presidente estejam – todos! -enganados.

Conclui-se, portanto, que é a Fitch que não percebe nada de economia.

Sugiro que a Maria Luís pegue na massa que acumulou nos cofres e compre a agência Ficth.

Depois, pode deitá-la no lixo…

“Nove Histórias”, de J. D. Salinger (1948-53)

salingerJ. D. Salinger (1919-2010) é conhecido pelo romance The Catcher in the Rye (Uma Agulha no Palheiro), publicado em 1951 e que foi um êxito instantâneo e que, ainda hoje, continua a vender cerca de 250 mil cópias por ano.

Talvez amedrontado com tal sucesso, Salinger pouco mais obras publicou, deixou mesmo de publicar em 1965 e deu a última entrevista em 1980.

9 historiasEstas 9 histórias, que a Quetzal editou no ano passado, com tradução de José Lima, surpreendem, sobretudo pelos diálogos, tão bem escritos que parecem transcrições de conversas reais.

As histórias são estranhas, tão estranhas como alguns dos seus títulos: Um dia ideal para o peixe-banana, Pai torcido no Conneticut ou Pouco antes da guerra com os esquimós.

Não é, de facto, uma leitura fácil, as histórias não têm um final feliz, aliás, muitas vezes, nem final têm, mas a escrita é soberba.