Com aquele ar sério de quem nunca se engana e raramente tem dúvidas, fartou-se de falar na importância do mar para a economia de Portugal.
A Noruega é o país líder na aquacultura e o sector das pescas mantém-se como um dos mais importantes do país, ao contrário do que acontece por cá, muito graças ao primeiro-ministro Cavaco Silva, que negociou com a União Europeia a destruição das nossas pescas.
Mas Cavaco Silva, presidente da República desconhece o que fez Cavaco Silva primeiro-ministro, e propõe que o próximo governo tenha mesmo uma Ministério do Mar.
E é aqui que entra o bacalhau: tão seco como o nosso Presidente…
Knausgard nasceu em 1968 em Oslo, capital da Noruega, e vive actualmente em Malmo (Suécia).
Estes dois factos simples talvez ajudem a perceber uma obra como esta. Talvez o facto de ser originário do norte da Europa, possa ajudar a explicar a frieza com que este escritor se expõe neste projecto, que envolve seis livros autobiográficos, sob o título genérico e provocatório de “A Minha Luta”.
O primeiro livro, “A Morte do Pai”, é sobre isso mesmo, a morte do pai de Knausgard; a relação entre ambos não terá sido a melhor e isso nota-se na amargura com que o autor descreve o seu pai, um professor de província, que se tornou alcoólico no fim da vida.
Nestas primeiras 377 páginas (parece que os seis livros somam 3500 páginas…), Knausgard conta-nos diversos episódios da sua infância e juventude, a sua relação com uma mãe, que me pareceu ausente, e com o irmão mais velho, que lhe serviu de modelo durante algum tempo. A certa altura, o livro centra-se na morte do pai e Knausgard descreve minuciosamente, os dias que passou com o irmão a limpar a casa onde o pai vivia e que se tinha transformado num armazém de lixo e garrafas vazias – e, nesses dias, reencontra a avó paterna, já um pouco demente e, também ela, dependente do álcool.
Minucioso é o termo.
Knausgard preenche páginas e páginas com a descrição minuciosa de coisas banais.
Um exemplo, na página 275:
«Tirei um saco plástico da gaveta, esvaziei os dois cinzeiros que estavam na mesa, fechei-o e deitei-o no saco de lixo preto meio cheio que estava no canto, arranjei um pano, limpei o tabaco e as migalhas da mesa, pus o pacote de tabaco e a máquina de enrolar a um canto, sob o parapeito da janela, abri a janela e prendia-a com o ferrolho.»
Ou este outro, na página 320:
«Na cozinha, despejei a água, torci o pano e pousei-o na borda do balde, e a minha avó sentou-se no seu lugar de sempre. Quando tirei o cinzeiro da mesa, ela levantou a cortina e olhou para fora. Esvaziei o cinzeiro, voltei, peguei nas chávenas, pu-las no lava-louça, humedeci o pano da cozinha, espalhei detergente na mesa e estava a limpá-la quando Yngve entrou com um saco em cada mão. Pousou os sacos e começou a tirar coisas. Primeiro aquilo que iríamos comer e que ele pousou na bancada, quatro filetes de salmão embalados a vácuo, um saco de batatas com vestígios de terra, uma couve-flor e um pacote de ervilhas congeladas, e depois todas as outras coisas, algumas que enfiou no frigorífico e outras no armário ao lado».
De salientar o pormenor dos filetes de salmão embalados no vácuo e das batatas com vestígios de terra…
E descrições destas abundam no livro.
Mas é assim a vida, não é?… feita de rotinas, de gestos mecânicos de coisas comezinhas.
O primeiro-ministro norueguês, Jens Stoltenberg, decidiu fazer-se passar por taxista e andou um dia inteiro pelas ruas de Oslo, aproveitando para ouvir as opiniões dos clientes sobre o estado do país.
Stoltenberg colocou câmaras no táxi e publicou um vídeo na sua página do Facebook – vídeo que mostra algumas das reacções dos passageiros. (ver aqui: https://www.facebook.com/jensstoltenberg).
Com esta experiência curiosa, o primeiro-ministro norueguês que, em muitos casos, não foi reconhecido, ouviu as opiniões verdadeiras dos seus concidadãos.
Ora aqui está uma ideia que podia ser seguida pelos nosso primeiro-ministro.
Imaginemos Passos Coelho fazendo-se passar por barbeiro para poder ouvir as opiniões dos clientes.
Os Prémios Nobel são sempre objecto de polémica, sobretudo os da literatura e da paz porque são coisas mais terra-a-terra. Pôr em causa o Nobel da Química, atribuído a um cientista que descobriu os “não-cristais”, não nos passa pela cabeça, porque não fazemos a mais pequena ideia do que são “não-cristais”.
Agora, conceder o Nobel da Literatura a um poeta sueco que só o Vasco Graça Moura sabe quem é, em vez de premiar Bob Dylan (?), ou mesmo, Lobo Antunes!…
E quanto ao Nobel da Paz, basta recordar que ele já foi atribuído a Anwsar Sadat e Menachem Begin, Henry Kissinger, Barak Obama, Ximenes Belo e Ramos Horta, Shimon Peres e Arafat e até a um obscuro sindicalista católico e polaco, de grandes bigodes, chamado Lech Walesa – basta recordar estes nomes para desconfiar da isenção do comité que escolhe os laureados. Claro que a escolha tem uma forte componente política.
Este ano, escolheram três mulheres e só podem ser aplaudidos por isso.
Deve ser preciso muitos tomates para ser mulher e presidente de um país como a Libéria.
Nota: o Prémio Nobel da Paz é atribuído pela Academia Norueguesa (enquanto os outros são da responsabilidade da Academia Sueca). A decisão é tomada aqui e o prémio é entregue aqui.
O duplo atentado ocorrido ontem, em Oslo, surpreendeu-me tanto como a destruição das Twin Towers, em Nova Iorque.
Estive na Noruega no mês passado e encontrei um país belo e tranquilo.
Oslo é uma pequena cidade, com pouco mais de meio milhão de habitantes, à beira de um fiorde.
Estive lá num domingo e num dia feriado. Vi famílias inteiras a apanhar sol nos jardins públicos e a molhar os pés nas fontes. Vi muitos emigrantes, nomeadamente muçulmanos, passeando nas ruas, aparentemente bem integrados.
Elevado nível de vida, Estado social bem organizado, tranquilidade – um bom país para se viver.
Disseram-me que a Noruega abre as suas portas a emigrantes que peçam asilo político e que os subsidia, até que se integrem e arranjem emprego.
A extrema-direita não gostará desta política, certamente. E parece que foi um tipo pertencente a um grupo de fundamentalistas cristãos que matou mais de 80 jovens, numa ilha perto de Oslo.
A palavra ateu é muitas vezes usada como insulto.
Talvez seja preciso rever o significado da palavra “cristão”…