Pousada da Flor da Rosa

A Pousada fica num mosteiro-fortaleza, no meio de lado nenhum. O mosteiro foi mandado construir entre 1351 e 1356 por frei ílvaro Gonçalves Pereira, pai de D. Nuno ílvares Pereira. í€ primeira vista, a construção faz lembrar um castelo, com as suas torres e as frestas e a sua utilidade seria, em princípio, a segurança das fronteiras de Portugal.

Em 1527, a Ordem dos Hospitalários muda de nome, passando a chamar-se Ordem de Malta e, no ano seguinte, o filho de D. Manuel toma conta do mosteiro, alargando o número de aposentos. Depois, vêm os Filipes, o terramoto de 1755 e um temporal devastador, em 1897. A coisa foi-se arruinando. Em 1910, o mosteiro da Flor da Rosa é declarado monumento nacional e, 30 anos depois, começa a reconstrução. Em 1991, a Enatur adquiriu o mosteiro e encarregou o arquitecto João Luís Carrilho da Graça da recuperação do edifício.

Quando se chega í  Pousada, a visão é bizarra: assim, no meio de lado nenhum, surge este edifício medieval, imponente e austero, rodeado de pequenas courelas, onde autóctones cultivam couves e guardam ovelhas. Os galos a cantar í s 5 da manhã e os canitos a ladrar, impedem a ordem do silêncio, que devia vigorar por aqui.

flordarosa2.jpg

A adaptação do edifício a Pousada é excelente. O arquitecto até parece que não mexeu em nada. Os quartos são sóbrios, a sala do bar é muito bonita e a ala nova quase não se dá por ela.

Ali, a 30 km, fica Marvão. Lindo! Pena que esteja tudo em obras, para remodelar a canalização e acabar com a praga das antenas de televisão.

“O Cego de Sevilha”, de Robert Wilson

cegodesevilha.jpgUma história dentro de outra história. Robert Wilson escreve livros policiais diferentes. O crime não é o cerne da trama, mas sim a história particular do protagonista.

No caso de “O Cego de Sevilha” (2003, D. Quixote), o protagonista é Fálcon, detective sevilhano que se depara com um assassínio particularmente bárbaro: alguém atou firmemente Raul Jimenez a uma cadeira, em frente a um televisor, passou-lhe uma corda pelo pescoço, cortou-lhe as pálpebras e obrigou-o a ver algo de tão horrível, que o pobre homem acabou por cortar as próprias carótidas com a corda que o prendia.

A este assassínio estranho, outro se lhe seguiu e, no decorrer da investigação, Fálcon acabou por perceber que havia uma ligação entre os mortos e o seu pai, também já falecido, que fora um conhecido pintor, cuja grande obra fora produzida enquanto vivia em Tânger. É então que Fálcon decide, finalmente, espiolhar o antigo estúdio do pai e descobre os seus diários.

Os diários de Francisco Fálcon são um livro dentro do livro e a sua narrativa é a parte mais interessante deste livro. Descobrimos que o pai do detective tinha sido membro da Legião espanhola, combatera contra os comunistas na Guerra Civil, instalando-se, depois, em Tânger, vivendo do contrabando, em sociedade com  Jimenez. E descobrimos que, afinal, o grande pintor tinha sido um torcionário, um pedófilo e um assassino.

A história do assassino de Sevilha transforma-se, assim, na história pessoal do detective e na sua descida ao abismo da sua história pessoal.

Um livro interessante, embora eu pense que Wilson se deixou levar pelo material que ele próprio inventou e que acaba por deixar muitas pontas soltas (por exemplo, a psicoterapia a que o detective decide submeter-se, na sequência das suas crises de pânico, desaparece da narrativa, í  medida que ele vai lendo os diários do pai; talvez não tivesse sido má ideia ler aquilo tudo, de seguida…)

A Índia já foi nossa!

cavaco_india.jpg

E tens razão: foi Mário Soares, há uns anos atrás.

Mas o Professor não é homem para dar espectáculo. Nunca o hás-de ver montado num elefante, na Índia, ou numa tartaruga, nas Seychelles.

Aí está uma grande diferença entre o estilo presidencial de Mário e de Aníbal.

Outra grande diferença: a comitiva de Soares, na visita í  Índia, era composta por 135 pessoas, enquanto a de Cavaco tem apenas 130.

“23rd & Stout” – Chuck E. Weiss

chuckweiss.jpgO Sr. Weiss anda nisto há muitos anos, embora não pareça. Começou como baterista, em Denver e acompanhou grandes nomes dos blues e do jazz, durante as décadas de 60 e 70. í€s tantas, foi parar ao Tropicana Motel, em West Hollywood, onde conheceu Tom Waits e gravou um álbum, salvo erro, em 1981.

Depois, deve ter-se distraído com coisas mais importantes, das quais apenas posso suspeitar, olhando para a sua fotografia, no interior do cd.

Cerca de 13 anos depois, lançou outro álbum e, no ano passado, este “23rd & Stout”, que tem uma espécie de subtítulo: “Deranged Detective Mysteries”.

Diz Weiss: “if you ask me why I recorded this album and I would tell you «because it was the wrong thing to do»”.

Permitam-me discordar.

O álbum é óptimo e, embora a influência de Tom Waits seja evidente em algumas faixas, sobretudo a percussão “desorganizada”, Weiss mantém uma performance «cool» e «jazzy», que Waits já perdeu há uns anos. Além disso, os dotes vocais de Weiss são muito mais versáteis, sendo capaz de soar como um “crooner” country, um hispânico bebâdo, um louco rouco ou, até, fazer falsetes credíveis (mais ou menos…)

Aconselho a faixa “No vale nada (porque no m’importa)” para quem, como eu, tem algumas saudades do “velho” Tom Waits, do tempo em que ele não era tão consensual, no que diz respeito í  chamada “crítica intelectual”.

“Gypsy Punks” – Gogol Bordello

gogol.jpgGogol Bordello é um grupo de oito alucinados, que combinam elementos de punk, música cigana e ambiente de cabaret brechtiano.

O líder da banda, Eugene Hutz, é ucraniano e deixou o seu país após o desastre de Chernobyl. Foi refugiado na Polónia, Hungria, íustria e Itália e, desde 1993, em Nova Iorque.

Foi nesta cidade que se juntou a mais uns quantos emigrantes de leste e formou este bizarro Gogol Bordello.

“Gypsy Punks” parece saído da banda sonora de um filme de Kusturika, mas mais arrocalhado. A velocidade é sempre a abrir.

A voz rouca de Hutz canta, na faixa “60 Revolutions”: “I’m gathering New generation/ That’s gonna stand up to it/ Toi this karaoke dictatorship/ Where posers and models with guitars/ Boogie to the shit for beats/ I make a better rock revolution/ Alone with my dick!”

Este é o terceiro disco dos Gogol Bordello e foi editado em 1005. Fiquei com vontade de conhecer os dois anteriores

Embacuar!

Recado escrito por um doente í  sua médica de família:

embacuar.jpg

“pedia o fabor se passava estes medicamentos em nome de meu marido. e para ver se lhe passava um cardencial para fazer restreio aos intestinos porque ele anda com muita deficuldade embacuar, ele diz que vai a casa de vanho mas que só faz muito pouchinho e outras vezes vai a casa de banho mas não faz nada.”

24 – 5ª série

24_5.jpgJack Bauer continua imparável!

A 5ª série de “24” é a melhor de todas. O argumento dá tantas voltas que, no final, já ninguém se lembra muito bem como tudo começou.

Desta vez, o mau da fita é um tal Bierko, talvez tchetcheno, que pretende libertar Sentox, um gás de nervos, sobre Moscovo. Para isso conta com a ajuda de alguns “patriotas” americanos que, para defenderem os interesses das petrolíferas na ísia Menor, são capazes de vender os próprios filhos.

Mas a teoria da conspiração, nesta série do “24”, vai mais longe – tão longe quanto o próprio presidente dos States, um fraco mas ambicioso Logan, que acaba por ser responsável pela morte do ex-presidente Palmer, dos amigos de Bauer, Tony e Michelle, e de mais uns quantos americanos anónimos.

Como se não bastasse o gás de nervos, as reviravoltas do argumento são mais que suficientes para nos causarem várias crises de nervos.

O indestrutível Bauer, desta vez, nem de roupa muda, não come, não bebe e só tem dois registos: ou berra instruções para a sua aliada Chloe, ou pede desculpa, muito baixinho, a quase toda a gente. No entanto, na hora de matar os maus, Bauer não hesita.

Aguardo a 6ª série com ansiedade.

O queque presidencial

Cavaco Silva foi o convidado de honra do almoço comemorativo dos 225 do Martinho da Arcada.

Num singelo improviso, o Presidente de todos os portugueses, relembrou o seu tempo de estudante universitário e fez revelações fantásticas.

Disse Cavaco que, nesses tempos, a meio do mês, já não tinha dinheiro para lanchar. Mas, enquanto o dinheiro ia chegando, passava as tardes a estudar no café Canas, em Campo de Ourique, e lanchava um copo de leite ou um iogurte, acompanhado de um queque.

“E foi assim que me preparei para a quase totalidade dos exames, até ter sido chamado para a tropa. O método, pelos vistos, não foi mau”. – acrescentou Cavaco.

Fica assim comprovada a importância do queque na formação dos Economistas.

Mel Gibson e Francisco Louçã – a mesma luta!

Louçã propí´s – sem se rir – que as escolas portuguesas passem a leccionar nas línguas dos emigrantes. Fez esta proposta durante uma visita a uma escola do concelho da Amadora.

A ministra da Educação terá, agora, que procurar professores que, para além de aceitarem dar aulas de substituição (coisa que eles – e o Bloco de Esquerda – contestam!) ainda arranjem ânimo para falar ucraniano, moldavo, umbundo, quimbundo, quicongo, chokwé-cuanhama, ovambo, makonde, suaíli, shona, ronga-shangana e crioulo, entre outras línguas.

Para preservar a língua das minorias.

A luta de Mel Gibson é idêntica.

Depois de fazer “A Paixão de Cristo”, filmada em aramaico, realizou “Apocalypto”, em língua maia.

O próximo projecto de Gibson poderá ser, com a ajuda inestimável de Louçã, “The Adventures of Joseph of the Roof”, falado em mirandês.