“Orphans”, de Tom Waits

tomwaits_orphans.jpgUm triplo álbum de Tom Waits é uma grandíssima prenda de Natal. Tem um subtítulo: “Brawlers, Bawlers, Bastards”, que é como quem diz: vociferadores, amotinadores e bastardos.

O subtítulo está bem aplicado. O primeiro disco (Brawlers) reflecte as últimas tendências de Waits; o homem grita, vocifera, usa e abusa da sua voz rouca, enquanto, ao fundo, os instrumentos, todos com som esquisito, fazem a chinfrineira ordenada do costume. São assobios (da responsabilidade de Anges Amar), sinos de vaca e seixos (Bobby Baloo), baixos (Seth Ford-Young e Larry Taylor), guitarras (Joe Gore e Marc Ribot), harmónica (Charlie Musselwhite), bateria (Casey Waits, o filho do chefe). Tudo misturado, soando como uma banda embriagada e apenas vagamente afinada. Inclui uma raridade – “Sea of Love”, tema do filme interpretado por Al Pacino.

O segundo disco (Bawlers) aproxima-se mais dos tempos mais “calmos” (?) de Tom Waits, tipo “Swordfishtrombones” e “Rain Dogs”. Gosto mais deste Tom Waits. Muitas faixas têm o piano ou a guitarra, como instrumento básico, as percussões são mais discretas, há sopros e acordeão, e a loucura parece controlada. Os condimentos são os habituais: valsinhas, histórias cantadas, temas vagamente country.

O terceiro disco (Bastards) é uma brincadeira. Embora comece com uma outra raridade (“What keeps mankind alive”, do disco de homenagem a Kurt Weill e Bertolt Brecht), continua com historinhas contadas por Waits, que devem ser muito engraçadas, porque o homem dá algumas gargalhadas; o problema é que não consigo perceber metade do que ele diz.

Em resumo: 54 temas de Tom Waits num único álbum! É um fartar vilanagem!

 

Futebolistas em greve

Este Sócrates ainda há-de ser vítima de um atentado!

Então, agora, quer obrigar os jogadores de futebol a pagar os mesmos impostos que as outras pessoas?!

O homem passou-se definitivamente!

Há alguma comparação entre um futebolista e, por exemplo, um médico, um professor, um canalizador, um programador informático ou um pintor da construção civil?

O médico passa o dia, de estetoscópio ao pescoço, a passear a bata e a mandar toda a gente abrir a boca para ver o que está lá dentro; o professor não faz mais do que escrever uns rabiscos no quadro e mandar os miúdos copiar aquilo; o canalizador limita-se a atarraxar os canos, uns nos outros; o programador informático gasta o tempo a escrever coisas imperceptíveis, numa linguagem alienígena; o pintor da construção civil agarra o pincel e anda com ele para cima e para baixo.

Enquanto isto, o jogador de futebol interna-se pela meia direita, cruza com açúcar, cabeceia í  boca da baliza, finta, dribla, remata, chuta, dispara, descai para a esquerda, ludibria o adversário, corta, pensa e lê o jogo, amortece no peito, cola na relva, corre como se fosse um extremo, faz compensações, faz chapéus, usa a meia distância, tem disponibilidade física, sacrifica-se pela equipa, enverga e sua a camisola, dá de calcanhar, e corre, corre muito.

Alguma vez os futebolistas podem ser obrigados a pagar as mesmas taxas de IRS que nós, os comuns mortais, que desempenhamos profissões de merda?

E o exemplo de João Pinto é revelador do modo como o pérfido Sócrates pretende lidar com esta questão.

Vejam bem que o pobre do homem sacou 3 milhões de euros dos direitos desportivos (de quê?!) e queriam que ele pagasse impostos sobre isso! E o desgaste rápido que o J. Pinto tem tido nos últimos anos – vejam como ele passou do Benfica para o Sporting, depois para o Boavista e, agora, já vai no Braga. Com este desgaste tão rápido, em breve veremos o “menino de oiro” a jogar nos Pescadores da Caparica. Claro que ele tinha que se precaver deste desgaste rapidíssimo!

Os futebolistas portugueses estão revoltados e ameaçam fazer greve.

Acho muito bem e apoio incondicionalmente!

Suspeito é que ninguém dê por isso.

Como a maior parte das equipas quase só tem jogadores estrangeiros, se os portugueses não jogarem, não se vai dar por falta deles.

Nomes artísticos, precisam-se

Allen Stewart Konigsberg pensou que o seu nome era uma lástima e, para vingar no mundo do show-bizz, decidiu chamar-se a si próprio, Woody Allen.

O mesmo pensou Issour Daniilovitch Demski. E passou a chamar-se Kirk Douglas.

Quanto a Reginald Kenneth Dwight, todos o conhecem como Elton John.

Até Robert Zimmerman decidiu que seria melhor chamar-se Bob Dylan.

Há nomes que não pegam. Na música, no cinema – até na política.

Por isso, aconselho vivamente os seguintes políticos a adoptarem um pseudónimo rapidamente:

Abel Chivukuvuku, político angolano e Gurbanguli Berdimukhamedov, candidato í  presidência do Turquemenistão.

Mais: ao Sr. Berdimukhamedov aconselho que, depois de eleito, mude também o nome do seu país!

“Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos” – Banda do Casaco

bandadocasaco.jpgFinalmente, um cd da Banda do Casaco! Pelos vistos, os registos originais foram apagados e o cd foi feito a partir do vinil. Será possível que isso tenha acontecido?

Segundo Nuno Rodrigues: “aos desconhecidos e desatentos proprietários desta «Coisa da Cultura» – «Hoje Há Conquilhas, Amanhã Não Sabemos» – editada em 1977 por uma daquelas empresas, e destruída ou mantida em parte incerta durante décadas, informamos que a obra está aqui e agora, recuperada do vinil para cd, com «royalties» reservados e re-edição de Nuno Rodrigues para a CNM – Companhia Nacional de Música”

A Banda do Casaco surgiu na senda da Filarmónica Fraude e muito antes, por exemplo, do Trovante. Constituiu um fenómeno curioso na música de expressão portuguesa, vestindo temas tradicionais com uma roupagem pop-rock; as letras das canções, por seu lado, misturavam um arremedo de mensagem política com alguma iconoclastia (“Beatriz, é por triz que não se diz que és meretriz e merecias, Beatriz” – é um verso que ainda recordo, de uma canção da Banda do Casaco, de outro disco).

O projecto era liderado por Nuno Rodrigues e António Avelar Pinho. Neste disco, a principal voz feminina é de Gabriela Schaff, mas a Banda chegou a utilizar Cândida Branca Flor como vocalista.

Espero que o cd seja um êxito de vendas e que Nuno Rodrigues se disponha a editar os restantes discos da Banda e, já agora, da Filarmónica.

“Love” – Beatles

love.jpgGrande prenda de Natal: um novíssimo disco dos Beatles!

O trabalho de George Martin e do seu filho Giles é espectacular. Pegaram nas centenas de músicas dos Beatles e fizeram uma remistura verdadeiramente extraordinária. A encomenda foi do Cirque du Soleil, para um espectáculo no Mirage, em Las Vegas, que estreou em Junho passado (estive lá em Maio, caraças!). O projecto, claro que era mais antigo e George Harrison ainda o pí´de acompanhar, antes de morrer. Os restantes Beatles vivos, McCartney e Ringo, deram o consentimento e aconselhamento, bem como Yoko Ono.

Salvaguardados os sacrossantos direitos de autor, os Martin, pai e filho, pegaram nas gravações da Apple e construíram um disco dos Beatles completamente novo que, escutado em 5.1, revela coisas que nunca tínhamos ouvido. Há faixas em que escutamos sons que foram gravados para cinco ou seis canções diferentes, tudo muito bem acondicionado, mantendo o estilo dos Beatles. Não existe um único som que não tenha sido produzido pelos quatro de Liverpool.

Por exemplo (e é só um exemplo): depois de “Here comes the sun”, entram sons de “The inner light” e arranca “Come together”, com um som que parece que foi gravado a semana passada. A canção vai-se desenrolando normalmente, até que começa a ficar contaminada por sons de “Dear Prudence”, com um toque de “Cry Baby cry”, criando o ambiente para “Revolution”. E assim sucessivamente: são 26 temas non-stop, com contaminações de muitas outras canções.

Obrigado, George Martin!

Bom Natal!

O que eu gosto mesmo no Natal é das prendas. Das listas de prendas, das compras, dos embrulhos e da Grande Troca de Prendas.

Nos idos anos 70, do século passado, o dia em que se realizava a Grande Troca de Prendas, era sorteado e nunca calhou no dia 24 de Dezembro.

Mas depois – why bother? – por que não fazer coincidir a Grande Troca de Prendas com o dia de Natal?

Claro que coincide com o dia em que se festeja o nascimento de Jesus – mas, em que dia é que nasceu Jesus?

Convenções, portanto.

Portanto, convencionou-se que, nesse dia, a família se reunia, comia í  fartazana, contava umas piadas, dava grandes abraços e beijos, sentia-se feliz por estarmos todos vivos e, durante toda a tarde, trocava presentes entre si.

Este ano, seremos 15.

Espero que, para o ano, sejamos, pelo menos, 16!

Bom Natal para todos!