“O Cego de Sevilha”, de Robert Wilson

cegodesevilha.jpgUma história dentro de outra história. Robert Wilson escreve livros policiais diferentes. O crime não é o cerne da trama, mas sim a história particular do protagonista.

No caso de “O Cego de Sevilha” (2003, D. Quixote), o protagonista é Fálcon, detective sevilhano que se depara com um assassínio particularmente bárbaro: alguém atou firmemente Raul Jimenez a uma cadeira, em frente a um televisor, passou-lhe uma corda pelo pescoço, cortou-lhe as pálpebras e obrigou-o a ver algo de tão horrível, que o pobre homem acabou por cortar as próprias carótidas com a corda que o prendia.

A este assassínio estranho, outro se lhe seguiu e, no decorrer da investigação, Fálcon acabou por perceber que havia uma ligação entre os mortos e o seu pai, também já falecido, que fora um conhecido pintor, cuja grande obra fora produzida enquanto vivia em Tânger. É então que Fálcon decide, finalmente, espiolhar o antigo estúdio do pai e descobre os seus diários.

Os diários de Francisco Fálcon são um livro dentro do livro e a sua narrativa é a parte mais interessante deste livro. Descobrimos que o pai do detective tinha sido membro da Legião espanhola, combatera contra os comunistas na Guerra Civil, instalando-se, depois, em Tânger, vivendo do contrabando, em sociedade com  Jimenez. E descobrimos que, afinal, o grande pintor tinha sido um torcionário, um pedófilo e um assassino.

A história do assassino de Sevilha transforma-se, assim, na história pessoal do detective e na sua descida ao abismo da sua história pessoal.

Um livro interessante, embora eu pense que Wilson se deixou levar pelo material que ele próprio inventou e que acaba por deixar muitas pontas soltas (por exemplo, a psicoterapia a que o detective decide submeter-se, na sequência das suas crises de pânico, desaparece da narrativa, à medida que ele vai lendo os diários do pai; talvez não tivesse sido má ideia ler aquilo tudo, de seguida…)

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