Com a verdade me enganas

Sócrates foi í  China. Conseguiu grandes contratos, novos investimentos, melhores relações comerciais, acordos bilaterais?

Não sabemos.

O que sabemos é que o ministro da Economia, Manuel Pinho, disse, perante empresários chineses, que um dos atractivos de investir em Portugal, era o facto de, por cá, os salários serem baixos.

Os indígenas revoltaram-se.

Toda a Oposição quis linchar o ministro.

Até os sindicatos, que há décadas reclamam melhores salários, que convocam greves para reivindicar aumentos salariais, que criticam a política de miséria do Governo – até os sindicatos vilipendiaram o ministro por ele ter dito que, em Portugal, os salários são baixos.

Mas afinal: os nossos salários são baixos ou são altos?

Vejam lá se decidem!

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Lapidar

Afirmação de Fernando Ribeiro, líder dos Moonspel, í  revista NS:

“Podes tirar um homem da Brandoa, mas não podes tirar a Brandoa de um homem”.

Do mesmo modo, Georgina da Silva poderia dizer: “Podes tirar uma mulher da Picheleira, mas não podes tirar a Picheleira de uma mulher”.

Borgaparques

Um construtor civil tentou aliciar o vereador do Bloco de Esquerda da Câmara Municipal de Lisboa para votar favoravelmente um negócio de permuta de terrenos.

O construtor era da Bragaparques.

A conversa foi gravada e a gravação entregue na Polícia Judiciária.

Uma vereadora do PSD demitiu-se, Carmona Rodrigues diz que não sabia de nada, Santana Lopes afirma que o negócio sempre lhe cheirou a esturro.

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Sabem-se as verdades, zangam-se as comadres – Brigaparques.

Pelos vistos, a empresa de construção civil, já construiu parques de estacionamento de norte a sul do país.

Será que usou o mesmo estratagema – Borgaparques?

Sá Fernandes, o tal vereador do BE, devia era ter recebido a massa e ficar caladinho – Burkaparques?

Uma reportagem gripada

Eu sou do tempo em que a malta ia í  janela ver como estava o tempo. Confiávamos pouco no boletim mentirológico.

Agora, temos a Protecção Civil.

Graças a ela, e ao eco da comunicação social, os portugueses ficam a saber que devem andar pela sombra quando está muito calor e que precisam de vestir camisolasde lã quando está frio.

Passámos í  fase das vagas. Nunca mais tivemos um calor do camandro, nem um frio do caraças.

Em vez disso, temos uma vaga de frio ou uma vaga de calor.

E passámos a ter um país muito mais colorido, graças aos alertas amarelos e laranjas.

Hoje, estamos num daqueles dias em que o mapa de Portugal está todo amarelinho ou laranjinha.

É mais fashion, sem dúvida.

Ontem, no telejornal da RTP-1, alguém se lembrou que a gripe devia estar a chegar.

Eu sou do tempo em que a gripe era uma coisa habitual. Todos os invernos, havia uma. E a malta sabia como tratar dela: umas aspirinas, umas colheres de mel, uns abafos, um ou dois dias de cama. E a gripe ia-se embora.

Agora, não.

A gripe passou a ser mais uma ameaça.

A repórter da RTP-1 foi ao Banco de urgência de um hospital do Porto, para ver a gripe in loco.

As urgências estavam calmas.

A gripe ignorava, olimpicamente, a comunicação social.

Mas a reportagem tinha que ser feita.

Então, a jovem repórter perguntou í  chefe da equipa médica: “como tem sido a adesão í s urgências?”

E a minha colega, talvez nervosa por “estar na televisão”, respondeu: “a assiduidade í s urgências tem sido a habitual”

Adesão e assiduidade?

Mas afinal, hoje em dia, os doentes aderem í s urgências ou são assíduos nas urgências?

Nenhuma das senhoras se lembrou da palavra “afluência”, por exemplo.

Não há dúvida que estamos em época de eufemismos.

Por que não: “tem tido mais doentes nas urgências”?

Por que não: “está um briol dos antigos” ou “está um frio do caraças”? Ou, simplesmente, “está frio” – o que é habitual, em Janeiro.

E fico por aqui, porque tenho que ir ao site da Protecção Civil, para saber quantas camisolas devo vestir para enfrentar este barbeiro!

“Lost” – 1ª série

lost1.jpgA ideia é boa: um avião despenha-se, algures numa ilha do Pacífico, entre Sydney e Los Angeles. Sobrevivem cerca de 40 passageiros: um cirurgião atormentado pela morte do pai, alcoólico, uma foragida da justiça, gira demais para ser assassina, um ex-soldado do exército do Iraque, que seguia em busca da sua amada, um paraplégico que gostaria de ser super-herói e que, depois do acidente, começa a andar, um membro de uma banda pop, viciado em heroína, um casal de coreanos, uma jovem grávida em fim de tempo, um gordo que ganhou a lotaria, dois falsos irmãos, um cowboy í  procura do assassino dos seus pais, um negro e o seu filho.

Com todo este material, era só entrançar as histórias e dar, í  ilha, um toque de mistério: estará deserta? quem poderá viver para lá da selva que bordeja a praia?

Misturando uma espécie de Robinson Crusoe da era moderna com a ideia de um “reality show”, os criadores de “Lost” conseguem prender a atenção dos espectadores, de episódio para episódio, embora o nível de cada um seja muito variável. Por vezes, a narrativa, em “flash back”, das histórias de cada uma das personagens é um pouco lamecha e recheada de estereótipos.

Da nova vaga de séries televisivas norte-americanas, esta não é, certamente, a minha preferida, mas não deixa de ser um bom entretenimento.

Aguardo pela 2ª série, esperando que os argumentistas tenham uma boa e racional explicação para todos os mistérios da ilha.

Calem estes abortos!

É por estas e por outras que os referendos podem ser uma má ideia.

As coisas que por aí se têm dito sobre o aborto – quer os movimentos pelo “sim”, quer os pelo “não” – são tão bárbaras que, por vezes, apetece que as mães dos tipos que as dizem, tivessem abortado.

Já ouvi dizer que, com a aprovação da lei, o aborto passará a ser tão comum como os telemóveis, que as mulheres que abortam incorrem na pena capital, que o aborto é como o enforcamento de Saddam, que as classes trabalhadores não têm outro remédio senão recorrer aos vãos de escada, para abortar, que o Estado vai gastar cerca de 10 milhões de euros com os abortos, etc, etc.

E depois, como é que os movimentos de cidadãos pelo “sim” e pelo “não” já conseguiram cerca de 200 mil assinaturas para se legalizarem? Não me espantaria que muitas assinaturas fossem repetidas. Aliás, a Comissão Eleitoral já disse que só vai verificar as assinaturas por amostragem, portanto, nunca iremos saber se todas aquelas assinaturas são verdadeiras.

Tal como no outro referendo, vou votar afirmativamente, porque me parece ridículo que, em 2007, ainda seja possível condenar uma mulher por interromper a sua gravidez.

No entanto, não sou capaz de fazer afirmações tão definitivas como a maior parte dos tipos dos diversos movimentos.

Eu sei lá se a mulher que decide abortar tinha alternativas, eu sei lá se ela aborta com o mesmo espírito com que deita fora uma camisola velha, eu sei lá se aquela gravidez iria desgraçar-lhe a vida, eu sei lá se a boa opção seria continuar ou interromper a gravidez.

Sendo médico há 30 anos, já contactei de perto com tantas mulheres que fizeram uma ou outra opção e cada caso foi um caso.

Quem sou eu, portanto, para decidir em nome de cada uma dessas mulheres?

E quem é o bispo de Viseu, o Patriarca de Lisboa, o Paulo Portas, o líder da Intersindical, a Maria José Morgado, o José Sócrates, ou quem quer que seja, para darem sentenças sobre um assunto tão íntimo, tão pessoal, como este?

E, no entanto, é vê-los falar de cátedra!

Quando oiço alguns tipos do “sim”, tão afirmativos, a defenderem o aborto, quase que me apetece votar “não”.

Quando oiço alguns tipos do “não”, tão peremptórios, a condenarem o aborto, mais vontade tenho de votar “sim”.

Porque lido com pessoas reais, com problemas reais, votarei “sim” – mas com imensa vontade de me abster…

Tau-tau por causa da CIA

Ai, ai, que vem aí a União Europeia dar tau-tau ao Governo português, por causa dos voos da CIA!

Que medo!

Vejam bem que o Governo português sabia que a CIA andava a transportar prisioneiros de avião, fazendo escala em aeroportos nacionais, e não fez nada!

Podia, por exemplo, atacar os aviões da CIA e libertar os prisioneiros, oferecendo-lhes asilo político.

Podia, por exemplo, não autorizar a escala dos aviões da CIA, mesmo sabendo que, depois, em vez de apanhar tau-tau da União Europeia, apanhava tau-tau do Sr. Bush.

Podia, por exemplo, deixar os aviões da CIA aterrarem e, depois, quando eles estivessem já com os motores parados, prender os agentes secretos e apresentá-los, como troféus, í s televisões de todo o mundo.

O governo português podia ter feito todas estas coisas – mas não! Ficou caladinho, sendo cúmplice dessa coisa horrorosa que é transportar eventuais terroristas para Guantanamo.

Felizmente que temos mulheres como Ana Gomes!

Ela denunciou tudo! Ela foi aos sítios e falou com pessoas que viram os prisioneiros agrilhoados! Ela não se deixou enganar por esse personagem sinistro, chamado Amado, que, além de ser ministro dos Negócios Estrangeiros deve ser, no mínimo, um agente da CIA encapotado!

E agora, meus senhores, vamos ver os burocratas da União Europeia a vir por aí fora, chegar ao Palácio de S. Bento, baixar as calças ao Sócrates e dar-lhe uns quantos açoites, que é para ele ficar a saber que, para a próxima, não pode deixar os aviões da CIA sequer voarem sobre o nosso querido e amado Portugal!

Ora! Deixem-se mas é de lérias!